quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Pecados Mortais e Veniais: o que você precisa saber?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo do diácono Alexandre Varela e Viviane Varela


‘Muitos protestantes dizem que ‘não existe pecadinho e pecadão : todos os pecados são equivalentes e tornam a pessoa igualmente culpada’. Essa ideia é totalmente sem lógica e vem de uma interpretação errada desta passagem da Bíblia : ‘Pois quem guardar os preceitos da Lei, mas faltar em um só ponto, se tornará culpado de toda ela’ (Tg 2, 10).

Alguém em sã consciência pode mesmo acreditar que uma criança ou que um mendigo que roubou uma maçã porque estava passando fome é tão culpável diante de Deus quanto um homicida que planejou a morte de alguém para ficar com a sua herança?

A Igreja Católica ensina que, basicamente, há dois tipos de pecados

  • os pecados MORTAIS (graves), que separam a alma da amizade com Deus. Se não houver arrependimento, conduzem ao Inferno, ou seja, à morte da alma;
  • os pecados VENIAIS (leves), que diminuem a graça na alma, mas não condenam ao Inferno.

São João revelou que há pecados que conduzem à morte da alma, e há outros que não : ‘Se alguém vê seu irmão cometer um pecado que não o conduza à morte, reze, e Deus lhe dará a vida; isso para aqueles que não pecam para a morte. Há pecado que é para morte; não digo que se reze por esse. Toda iniquidade é pecado, mas há pecado que não leva à morte.’ (1 Jo 5, 16-17).

Diante de Pilatos, Jesus também ensinou que há uma hierarquia de gravidade entre os pecados : ‘quem me entregou a ti tem pecado maior’ (Jo 19, 11b). E, no ato do lava-pés, Pedro pede que Jesus lave suas mãos e também a cabeça, mas Jesus diz que aquilo não era necessário, pois ‘Aquele que tomou banho não tem necessidade de lavar-se; está inteiramente puro’ (Jo 13,10a). Ou seja, Pedro só precisava ser purificado de seus pecados veniais, que são como a poeira nos pés.

O Catecismo da Igreja Católica esclarece que um pecado pode ser mortal ou venial, dependendo da intenção e da dimensão do dano gerado (Catecismo, n. 2484). Quando um fiel tem a consciência de que está em pecado grave, ele não deve se aproximar da Eucaristia para comungar. Para que um pecado seja mortal (grave), é preciso que esteja de acordo com os três pontos abaixo. Se faltar apenas um ou mais desses elementos, o pecado é venial :

  • é matéria grave
  • o pecador sabia que era pecado
  • fez porque quis, com total liberdade

Nos Evangelhos, Jesus delineia claramente a grande diferença de culpabilidade entre uma pessoa que faz coisas más por falta de conhecimento do que era o certo, e outra, que faz o que é mau com plena consciência do erro : 

O servo que, apesar de conhecer a vontade de seu senhor, nada preparou e lhe desobedeceu será açoitado com numerosos golpes. Mas aquele que, ignorando a vontade de seu senhor, fizer coisas repreensíveis, será açoitado com poucos golpes. Porque, a quem muito se deu, muito se exigirá. (Lc 12, 47-48).’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/pecados-mortais-e-veniais-o-que-voce-precisa-saber.html 

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

De não católica à fundadora do primeiro convento católico da Etiópia

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
Emahoy Haregeweine com o cardeal Berhaneyesus durante a bênção da Capela em Holeta, Etiópia 


*Artigo de Bezawit Bogale

 

‘Quero ser uma freira católica etíope’. Com essa declaração audaz, Emahoy Haregeweine, uma religiosa pioneira na Etiópia, fundou o primeiro convento local no interior da Igreja católica do país : o convento beneditino da Santíssima Trindade. Aos membros é dado o título ‘Emahoy’, uma palavra amárica que significa ‘Minha Mãe’ e reflete a convicção de que todas as mulheres são mães : algumas tornam-se mães biológicas, enquanto outras, como as religiosas, dedicam a sua vida para se tornar mães espirituais de todos.

Da inspiração litúrgica à líder monástica

Emahoy, nascida em Addis Abeba, na Etiópia, estudou na Lycée Gebremariam French School, onde conheceu diversas culturas e línguas. Aos 16 anos, depois de ter participado da sua primeira missa na Paróquia de São Francisco com um amigo católico, ficou profundamente comovida com a liturgia, que suscitou nela o desejo de reforçar a sua relação com Cristo.

Apesar do seu background ortodoxo, sentia-se atraída pelo catolicismo, começou a ir regularmente à missa e aspirava tornar-se uma religiosa. A sua fé fortaleceu-se depois de ver uma imagem de São Francisco, que consolidou o compromisso pela sua vocação.

Guiada pela oração e pelo acompanhamento espiritual, Emahoy Haregeweine superou os desafios e uniu-se às Pequenas Irmãs de Jesus (fundadas por São Carlos de Foucauld). Fez formação religiosa em diversos países, entre os quais Nigéria, Quênia, Egito, França e Itália, enquanto procurava continuamente respostas para as suas questões espirituais.

Em 2007, enquanto frequentava um seminário sobre as tradições monásticas etíopes, sentiu ter encontrado as respostas que procurava. Esse momento marcou o início da sua missão de fundar um convento católico que refletisse a identidade espiritual e cultural única da Etiópia.

 O convento beneditino da Santíssima Trindade

Em 2018, concretizou o seu sonho ao fundar o primeiro convento católico da Etiópia, o ‘convento beneditino da Santíssima Trindade’. Durante a sua estadia na França, com o apoio dos beneditinos, utilizou o seu tempo livre para angariar fundos vendendo lembranças feitas à mão. Com isso, conseguiu comprar uma pequena casa em Addis Abeba.

Mais tarde, com o apoio dos beneditinos franceses, comprou um terreno em Holeta, a 40 km da capital. Com a bênção e a aprovação do cardeal Berhaneyesus Souraphiel, arcebispo de Addis Abeba e presidente da Conferência Episcopal Católica da Etiópia, foi-lhe concedido o privilégio de fundar o convento. Vestida com o seu novo hábito monástico e oferecendo orações na língua local, sentiu que tinha finalmente descoberto as respostas para as lacunas do seu percurso religioso.

Uma missão em sintonia com as iniciativas agrícolas

Emahoy Haregeweine apoia a integração da fé na cultura local, promovendo simultaneamente a autossuficiência financeira no seu convento. Lançou iniciativas agrícolas, como a criação de galinhas para a produção de ovos, e a de bovinos para garantir a sustentabilidade a longo prazo.

Inspirada no apelo do Papa Francisco para o cuidado do ambiente, adotou práticas eco-compatíveis, entre as quais, a agricultura biológica, em benefício quer do convento quer da comunidade.

A sua visão vai para além do convento e iniciou um programa de jardim de infância que liga a sua comunidade aos habitantes das aldeias locais. Através dos seus projetos educativos e agrícolas, Emahoy promove laços fortes com os habitantes das aldeias, fornecendo orientação sobre parentalidade e sobre a preparação de alimentos biológicos. Considera esse programa uma oportunidade divina para abrir caminho a futuras escolas na área e salienta a importância da autossuficiência local, encorajando as comunidades a financiar autonomamente as atividades pastorais em vez de dependerem exclusivamente do apoio externo.

A vida monástica e o chamado à santidade

Emahoy vê o convento como um santuário pacífico onde os fiéis podem se unir às religiosas em oração, em reflexão e para consultas espirituais nas suas línguas locais. Visa criar um espaço onde a fé e a comunidade floresçam em conjunto, promovendo uma ligação profunda com Deus e entre eles.

Encoraja os casais a terem mais filhos e a cultivar famílias orantes, exortando os que discernem as suas vocações a passar tempo em oração e a ouvir as indicações de Deus.

À luz da evangelização mediática, espera instituir um website para o convento para difundir mensagens vocacionais. Para ela, a santidade não está confinada à vida religiosa, mas é um apelo universal, sublinhando que a Igreja só subsistirá se estivermos dispostos a nos sacrificar por amor a Jesus Cristo.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2024-11/sisters-project-etiopia-irmas-emahoy-haregeweine-vocacao-convent.html

sábado, 16 de novembro de 2024

O Dom da Inteligência

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre José Alem, CMF

  

‘Os dons do Espírito Santo refletem o amor, o grande e único dom, com cada um representando diferentes aspectos desse amor como um objeto visto de diversos ângulos. Para viver plenamente esses dons é necessário seguir o caminho de Jesus, acreditando no amor, cumprindo os mandamentos e praticando as bem-aventuranças. Assim, desenvolvemos os dons do Espírito e crescemos em sabedoria e graça. Esse processo envolve meditação, oração e uma vivência concreta da presença de Deus em nossas vidas e na Igreja. 

Falaremos agora sobre o dom da inteligência. Esse dom é dado para conhecer a linguagem de Deus, para compreendê-lo e segui-lo. A inteligência faz com que o cristão possa entender o Evangelho assim como é, faz com que se acolha a Palavra de Jesus sem medo da verdade. Por exemplo, quando se lê o mandamento de Jesus ‘Ama o próximo como a ti mesmo’ se entende que aquele ‘como’ quer dizer da mesma maneira que Jesus ama. Nem sempre se entende bem essa frase de Jesus. Muitos colocam limites no amor e fazendo assim não amam de modo algum. 

O dom da inteligência não é mera capacidade intelectual. Trata-se da inteligência que envolve todas as linguagens de compreensão, sobretudo da linguagem de Deus. Mesmo uma pessoa não estudada pode ter essa inteligência e entender a mensagem além das palavras, por isso, é um dom que nasce da fé e do amor. Quem tem fé verdadeira e ama sinceramente tem essa inteligência e pode surpreender a muitos. 

Quantas pessoas na história da Igreja, modelos de santidade, nem eram alfabetizadas e, no entanto, foram doutoras pela inteligência vivida como dom do Espírito Santo. O importante é ser inteligente como Jesus, que compreendia o que os outros não entendiam. O amor é também inteligência.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/o-dom-da-inteligencia.html

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Pecados que agridem o nome de Deus

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre Luiz Antônio de Araújo Guimarães 


‘Para que fique bem claro, o segundo mandamento da lei divina é ‘Não pronunciarás o nome do Senhor teu Deus em vão!’ (Ex 20,7) e isso requer uma atenção redobrada porque, em muitos casos, as pessoas podem cometer pecados sem que saibam que era pecado. 

Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 2144, recorda : ‘A deferência para com o nome de Deus exprime o respeito que é devido ao mistério do próprio Deus e a toda a realidade sagrada que ele evoca’. Tendo essa compreensão é necessário que, para manter esse respeito, a pessoa saiba distinguir o que fere o nome santo do Senhor. Dentre os pecados que vão ao encontro do segundo Mandamento, observe-se blasfêmia, autossuficiência e mentira. 

A blasfêmia é o pecado que mais fere a dignidade do nome de Deus : ‘A blasfêmia opõe-se diretamente ao segundo mandamento. Ela consiste em proferir contra Deus – interior ou exteriormente – palavras de ódio, de ofensa, de desafio, em falar mal de Deus, faltar-lhe deliberadamente com o respeito, abusar do nome de Deus’ (Catecismo da Igreja Católica, 2148). O blasfemador desse nome é uma pessoa que não reconhece a soberania e a santidade de Deus e acha que pode dizer o que quer sem que lhe traga algum prejuízo. Engana-se! O maior prejuízo será para ela perder o Céu caso não se arrependa e mude de conduta. Vale lembrar que ‘(…) a proibição da blasfêmia se estende às palavras contra a Igreja de Cristo, os santos, as coisas sagradas. É também blasfemo recorrer ao nome de Deus para encobrir práticas criminosas, reduzir povos à servidão, torturar ou matar. O abuso do nome de Deus para cometer um crime provoca a rejeição da religião’ (Catecismo da Igreja Católica, 2148). 

Quanto ao pecado da autossuficiência é o ser humano achar que tudo lhe é possível e que ele não depende do nome de Deus para nada. Por exemplo : pais que não batizam o filho ou pessoas que não querem ser batizadas e acham que a vida segue normalmente sem a necessidade de ser batizado ‘em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo’ pecam por autossuficiência. Receber o Batismo é, por sua vez, acolher o nome do Deus, que é Pai e Filho e Espírito Santo e, por meio desse nome, receber a sua divina proteção. ‘No começo do dia, de uma oração e também de tarefas importantes, o cristão coloca-se sob o ‘sinal da cruz’ e inicia a sua ação em ‘nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo’. A invocação nominal do Deus trino, por quem estamos cercados de todos os lados, santifica as coisas que empreendemos; ela concede-nos a bênção e fortalece-nos nas dificuldades e nas tentações.’ (Catecismo Jovem da Igreja Católica – Youcat, 360) 

Já o pecado da mentira é ferir a plena verdade que o nome de Deus traz consigo : ‘Dizer a alguém o seu nome é um sinal de confiança. Se Deus nos disse o seu nome, é porque Ele se dá a conhecer e porque nos permite o acesso a Ele mediante esse mesmo nome. Deus é todo verdade; por isso, peca gravemente quem invoca a verdade e o nome de Deus para testemunhar uma mentira’ (Catecismo Jovem da Igreja Católica – Youcat, 359). A mentira em si já é pecado e mentir usando o nome Deus o é mais ainda, porque é querer reduzir a plena verdade que é Deus a um fato ilusório, falso. Condutas como essas não convêm, de forma alguma, a um cristão que busca viver em Deus e para Deus. 

Diante de tais constatações que ferem o santíssimo nome do Senhor, que não falte no coração e na mente de toda pessoa, e particularmente dos jovens, o espírito de reflexão interior para ter o máximo cuidado de não tomar o nome de Deus em vão. 

Se assim o fizer, sua vida não somente estará em perfeita comunhão com Deus, mas terá credibilidade diante dos irmãos e irmãs. Boa reflexão interior!

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/pecados-que-agridem-o-nome-de-deus.html


terça-feira, 12 de novembro de 2024

Idan Landau: o plano dos generais por trás das bombas no norte de Gaza

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Roberto Cetera

 

‘Enquanto a atenção da mídia estava voltada para o Líbano e para o confronto com o Irã, nos últimos dias o Exército israelense retomou os bombardeios maciços no norte da Faixa de Gaza, causando muitas vítimas civis. Alguns observadores acreditam que esse é o início do Generals’Plan (Plano dos Generais), um plano de cerco e evacuação forçada do norte da Faixa, proposto em suas linhas gerais pelo ex-general israelense Giora Eiland, numa entrevista ao ‘The Times of Israel’, desde abril passado. O plano foi comunicado ao comitê de relações exteriores e defesa do parlamento pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em setembro passado. Sobre esse assunto, o jornal da Santa Sé ‘L'Osservatore Romano’ questionou o professor Idan Landau, da Universidade de Tel Aviv, que cuidadosamente pesquisou e escreveu sobre o assunto em várias revistas israelenses.

Professor Landau pode explicar brevemente o que significa o Plano dos Generais?

Plano dos Generais foi lançado em setembro passado. Seu objetivo é esvaziar a parte norte da Faixa de Gaza de sua população, ou seja, cerca de um terço do total da Faixa de Gaza, isto é, cerca de 300 mil habitantes. Numa primeira fase, o Exército israelense informaria a todas essas pessoas que elas teriam uma semana para evacuar para o sul por meio de dois corredores humanitários. Numa segunda fase, no final daquela semana, toda a área seria declarada uma ‘área militar fechada’. Os que permanecessem seriam considerados inimigos a serem combatidos e mortos se não se rendessem. Um cerco total seria então imposto a todo o território, intensificando, por meio do isolamento, a crise alimentar e de saúde.

Professor, o plano proposto pelo General Eiland foi apresentado ao governo em abril passado, e não foi totalmente aprovado. Por que o senhor acha que ele está agora em fase de realização? Quais operações militares atuais provariam isso?

A minha impressão é que, apesar das negações oficiais, os militares israelenses estão implementando uma versão não muito longe da original. E os próprios soldados em campo confirmam isso aos jornalistas. Muitos civis foram mortos nos últimos dias e o cerco no norte da Faixa também continua. Dezenas de testemunhas das cidades de Jabalia, Beit Hanoun e Beit Lahia relatam níveis de destruição sem precedentes, a demolição de bairros inteiros e até mesmo ataques a abrigos para expulsar aqueles que ali procuram proteção. Os massacres são diários : em 29 de outubro, a força aérea israelense bombardeou massivamente edifícios densamente povoados em Beit Lahia, matando 250 pessoas (metade das quais ainda estão sob os escombros). Por conseguinte, não creio que haja nenhuma dúvida de que o plano se tornou operacional. Paralelamente à destruição, as Forças de Defesa Israelenses (Idf) estão empurrando os deslocados para o Sul, embora muitos resistam em querer permanecer no enclave e não atravessar o corredor de Netzarim, porque temem nunca mais poder regressar.

Quantas pessoas são afetadas pelo plano de evacuação forçada?

Antes de 5 de outubro de 2024 – data estimada para o início da operação – viviam no enclave entre 300 e 400 mil pessoas. Agora, restam cerca de 100 mil. Mas as Idf estão determinadas a não deixar nenhuma. É bastante claro que tudo isto nada tem a ver com a intenção declarada de capturar os restantes líderes do Hamas e destruir as suas bases. O direito humanitário internacional não permite este tipo de operação militar.

Além da pressão militar, o plano incluiria também a suspensão do fornecimento de alimentos, combustível, energia e água. Isto também entraria em conflito com o direito humanitário internacional?

Deixe-me dizer que me oponho ao uso do verbo condicional. Não ‘iria prever’, mas ‘prevê’; não 'seria', mas 'é'. Há um mês não entram alimentos e água no enclave norte de Gaza, com exceção de fornecimentos limitados para o hospital Kamal Adwan. Todas as agências das Nações Unidas e organizações humanitárias relatam todos os dias que a situação humanitária é agora catastrófica. Acredito que não pode haver dúvidas sobre a natureza desta operação no que diz respeito ao direito humanitário internacional e é esta a razão pela qual o governo israelense tende a esconder o seu real significado.

Até à data de hoje, o governo israelense não expressou uma posição clara e definitiva sobre os futuros acordos de Gaza. Você acha que esta operação constitui uma ordem futura pelo menos para o Norte da Faixa?

Sim. Penso que o objetivo final é o reassentamento dos colonos. Um regresso após a remoção ordenada em 2005 pelo então primeiro-ministro Sharon. A extrema direita da coligação que apoia o governo de Netanyahu não esconde isto. Começando pelo Ministro do Tesouro, Smotrich. Obviamente este é um projeto que será implementado em etapas. Através da permanência dos militares no perímetro da Faixa e nas chamadas zonas de ‘segurança’. Depois começarão pequenos assentamentos, justificados como uma necessidade de controle militar do território, que crescerão então para se tornarem grandes comunidades como as existentes na Cisjordânia. No entanto, não creio que esta solução de reassentamento de colonos possa alguma vez funcionar, mesmo ao sul do corredor Netzarim, porque dois milhões de palestinos, amontoados naquele gueto ao ar livre, não podem ir para outro lugar. E com o tempo acabarão por constituir uma bomba-relógio de pobreza, de doenças e até de um extremismo perigoso e crescente.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2024-11/bombardeios-gaza-plano-generais-entrevista-idan-landau.html

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Os pequenos detalhes do amor

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Rita Valadas,

Presidente da Cáritas Portuguesa

 

‘Estes tempos são naturalmente inspirados pelo desafio do Dia Mundial dos Pobres. Dar significado a este dia e tentar que possa ainda ser alerta, estímulo de reflexão e inspiração de ação foi o que me trouxe hoje a estas linhas. Nestes dias cruzam-se desafios múltiplos e angústias desesperançadas, que me fazem sempre pensar como poderemos «recompor» este mundo, que muda tanto quanto gira, e cada vez mais rápido.  São tantos os desafios, que o tempo de reflexão se prejudica e se desmerece a necessidade do cuidar, do proteger e do rezar.

O VIII Dia Mundial dos Pobres celebra-se a 17 deste mês de Novembro, jornada que merece uma mensagem do Santo Padre. No texto, o papa lembra que o Dia Mundial dos Pobres se tornou «um compromisso na agenda de cada comunidade eclesial. [...] Desafia cada fiel a escutar a oração dos pobres, tomando consciência da sua presença e das suas necessidades. É uma ocasião propícia para realizar iniciativas que ajudem concretamente os pobres, e também para reconhecer e apoiar os numerosos voluntários que se dedicam com paixão aos mais necessitados». Todavia, o papa reforça a convicção «de que os pobres têm um lugar privilegiado no coração de Deus, que está atento e próximo de todos e cada um deles».

Sob o lema A oração do pobre eleva-se até Deus, somos convocados a preparar o nosso olhar e o nosso coração com vista ao Jubileu Ordinário de 2025, também com a certeza de que a oração do pobre chega à presença de Deus como meio e veículo de comunhão e que devemos refletir para que a oração se construa como «aproximador» e meio de comunhão. Um grande desafio.

O pobre é muito mais do que um produto de baixo rendimento.
A pobreza é muito mais do que a falta de condições de subsistência ou de recursos. Manifesta-se pela fome, pela malnutrição, mas também pelo acesso limitado a meios, serviços prioritários, saúde, educação, e até à falta de participação. A tudo isto acrescem os muitos fatores de exclusão social.

Neste ambiente, os mais frágeis são os que mais precisam de atenção, de olhares atentos às dificuldades e ao papel que todos podem ter na sua proximidade e na construção de soluções de vida que considerem cada um em toda a sua plenitude com vista a um mundo de esperança. A esperança constrói-se com todos os dons e todos os bens, a experiência e a energia de cada um.

Ficam-me as palavras do Papa Francisco : «No caminho para o Ano Santo, exorto todos a fazerem-se peregrinos da esperança, dando sinais concretos de um futuro melhor. Não nos esqueçamos de guardar ‘os pequenos detalhes do amor’ (exortação apostólica Gaudete et Exsultate, 145) : parar, aproximar-se, dar um pouco de atenção, um sorriso, uma carícia, uma palavra de conforto.»

Uma última palavra de esperança. Cada um de nós transporta tesouros únicos e dons especiais. Muitas vezes desmerecemos isso e uma palavra que nos aconselhe ou inspire pode fazer toda a diferença, para nós e os que nos rodeiem. É preciso acreditar nos «pequenos detalhes do amor».

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.combonianos.pt/alem-mar/opiniao/4/1270/os-pequenos-detalhes-do-amor/

domingo, 10 de novembro de 2024

Inteligência artificial e Catequese

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre Gil


‘É possível verificar e acompanhar a grande transformação do ambiente catequético, para a educação da fé em nossas paróquias e comunidades. Nos últimos anos, ou décadas, atravessamos um longo período de renovação na catequese. Dentre tantas novidades, a Catequese precisou se atualizar e apresentar uma proposta ainda mais atraente, criativa e empolgante. Falar de Jesus e Falar com Jesus não deixaram de ser a principal tarefa da catequese.

Hoje, a questão é como falar com Jesus e como falar dele aos catequizandos? 

Claro que não podemos nos limitar ao conceito de um único espaço e horário, para realizarmos um encontro catequético. A catequese vai além da sala e do horário estabelecido para o encontro com o grupo de catequizandos, que foi confiado a nós, pela Igreja. 

Falar com Jesus é fundamental para sabermos caminhar com : crianças, adolescentes, jovens e adultos, de hoje. Falar com Ele ajuda no reconhecimento das verdades e dos ensinamentos que podemos e devemos compartilhar, para favorecer o acolhimento da urgência de uma restauração do relacionamento humano e social. Jesus nos deixou grandes ensinamentos, para fortalecermos o nosso modo de viver e o nosso modo de nos relacionarmos com as pessoas, crescendo no acolhimento, respeito e valorização do outro, para uma conexão estável e saudável.

Falar de Jesus é um caminho que trilhamos para aproximarmos as pessoas entre si e elas com o Senhor, amigo fiel que permanece junto de nós. O fato de fazermos da catequese uma ocasião para falar dele, contribuímos na interação do grupo, pois, com uma conversa aberta e espontânea, vamos apresentando a pessoa e a mensagem do Bom Pastor.

São muitos os recursos que podemos utilizar para apresentação de quem é Jesus! Na era digital, não podemos ficar distantes das novas linguagens e dos novos métodos de comunicação na catequese.

O Papa Francisco nos convida para uma reflexão sobre a relação entre a evolução dos sistemas de inteligência artificial e de comunicação humana por meio de máquinas. Ele fala de uma inovação, uma linguagem produzida por uma máquina, mas gerada pelos seres humanos. 

A questão que o Papa Francisco propõe é :

Como utilizar as inteligências artificiais para o serviço da Igreja de evangelização? Como a Igreja pode utilizar esses meios e esses recursos para anunciar o Evangelho, para comunicar-se com a cultura de hoje?

Quantas novidades já fazem parte do nosso dia a dia : Internet, Waze, Alexa, plataformas digitais de músicas e vídeos e o celular tão presente na vida dos brasileiros.

Embora o Papa Francisco tenha chamado a atenção para os riscos de uma nova tecnologia, que traz um impacto negativo na sociedade quando desconectada de valores humanos e de seus princípios morais e éticos, também ressalta a importância de uma consciência responsável no uso das diferentes formas de comunicação : “A comunicação deve ser orientada para uma vida mais plena da pessoa humana” (Francisco, 2024).

A catequese pode se apoiar no potencial e na contribuição benéfica dos recursos para evangelizar, para falar de Jesus.

Inteligência Artificial está cada vez mais presente na vida cotidiana, tanto pessoal como social, mas o encontro pessoal com Jesus Cristo nunca será artificial, ao contrário, será de encantamento, de comprometimento, de conversão e de adesão ao seu projeto de vida. 

A catequese pode recorrer aos novos meios de comunicação e enriquecer a experiência pedagógica e catequética no processo de iniciação à vida cristã. O importante é saber como fazer. 

O caminho é prosseguir na busca :

  • De uma eficiente iniciação bíblica, litúrgica e comunitária; em unidade com a liturgia e com a prática da caridade; 
  • Da superação de uma catequese intimista ou alienante; sacramentalista e infantilizada.

E assim, avançarmos no empenho de formação de novos discípulos missionários que :

  • Vivam e testemunhem a fé cristã;
  • Anunciem com alegria a Boa Nova de Jesus;
  • Tenham nas mãos e no coração a Sagrada Escritura.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.combonianos.pt/alem-mar/opiniao/4/1268/palavras-accoes-e-omissoes/


sábado, 9 de novembro de 2024

Palavras, ações e omissões

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo d0 Padre Manuel Augusto Lopes Ferreira,

Missionário Comboniano

 

Escrevo este texto quando em Roma, onde me encontro, decorre a segunda sessão da XVI Assembleia do Sínodo dos Bispos, sob o tema Como ser uma Igreja sinodal: Comunhão, Participação, Missão. Sinto que as palavras que escrevo se devem inserir neste contexto eclesial para ajudar os leitores a sintonizarem com esta importante assembleia e a interessarem-se pelo que dela sair.

Curiosamente é difícil perceber bem o que os membros desta assembleia estão a dizer uns aos outros, numa dinâmica que concede tudo à partilha de reflexões e à escuta de Deus e dos outros (com o método da conversação no Espírito); as conferências de imprensa organizadas pela sala de imprensa filtram e resumem naturalmente os conteúdos. Restam os testemunhos e reflexões de alguns participantes e teólogos/as nos fóruns que estão a ser organizados, numa tarde cada semana. Talvez sejam estes últimos as instâncias de maior interesse para quem deseja escrever sobre o sínodo.

A partilha de reflexões entre os participantes está a ser guiada pelo Instrumento de Trabalho. O foco parece estar na Parte Segunda, que propõe os Percursos a fazer para se realizar a desejada transformação missionária da Igreja; esta sessão do sínodo deveria acentuar o como, os percursos concretos a percorrer, nas várias dimensões do viver eclesial. Mas, neste âmbito, as expectativas são muito contidas. Por um lado, os intervenientes nos fóruns continuam a fazer chover sobre o molhado; isto é, a propor reflexões sobre questões adquiridas e sobre as quais há um consenso eclesial alargado (como a afirmação que a missão é de todos na Igreja). Por outro lado, o Papa Francisco pediu a várias comissões de teólogos uma reflexão sobre algumas questões (mais fraturantes na Igreja hoje, como o lugar da mulher e a identidade e modelos dos ministérios ordenados, etc.); ora, este trabalho só estará concluído em Maio próximo, o que esvazia a eventual reflexão sinodal sobre estes temas.

A perspectiva continua a ser a de aprofundar a sinodalidade para se chegar a uma compreensão mais articulada das três grandes dimensões da vida da Igreja: a do Um (o Primado do Papa), a de alguns (a Colegialidade dos Bispos) e a Co-responsabilidade de todos (da comunidade dos fiéis). Neste sentido, a colegialidade, mais do que um princípio canónico a aplicar, é uma dinâmica de vida eclesial que integra sempre o Primado do papa, a Colegialidade dos bispos, e a Co-responsabilidade e Dignidade dos fiéis. Compreendemos que é necessário aprofundar as questões e estamos com o Papa Francisco quando diz que «a Igreja é obra de Deus e não a construímos nós com as reformas da moda». Mas também temos de assumir que a transformação da Igreja requer uma passagem das palavras aos atos; e que aqui podemos pecar por omissão, demorando nas decisões que levam a uma reforma, ou confundindo reforma da Igreja com alguma decisão pontual (por muito significativa que possa ser, como a nomeação de mulheres para postos de responsabilidade no Vaticano). O coração e centro da Igreja (não é o Vaticano) é a comunidade dos fiéis que guiada por um presbítero celebra a memória de Jesus, a Igreja local que guiada por um bispo (ubi episcopus, ibi ecclesia = onde está o bispo, aí está a Igreja!) celebra a Fé e testemunha o Evangelho de Cristo e o seu poder de transformação.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.combonianos.pt/alem-mar/opiniao/4/1268/palavras-accoes-e-omissoes/

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Perdoai-nos como perdoamos

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre Rivelino Nogueira


‘‘Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido’ é uma frase da oração do Pai-Nosso, que se encontra em Mateus 6,12. 

A frase significa que a oferta de perdão de Deus está relacionada com a vontade de perdoar os outros. Para os cristãos, perdoar os outros não é uma opção, mas um mandamento. 

‘Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta.’ (Mt 5,23.24)

O perdão brota do amor de Deus e a necessidade de perdoar vem do amor de dele e não do merecimento humano.

A falta de perdão é uma prisão

Quem não perdoa está preso. A falta de perdão tem sido forte motivo de paralisia espiritual, imaturidade emocional e desenvolvimento de doenças físicas e emocionais. Existem pessoas que ficam presas no cativeiro da falta de perdão, sendo atormentadas em suas vidas durante anos.

Muita gente tem sofrido com a falta de perdão. Outro dia, ouvi alguém dizendo que o ressentimento é o mesmo que você tomar diariamente um pouco de veneno, esperando que quem o magoou venha a morrer. A falta de perdão produz dano maior em quem está ferido do que naquele que feriu. 

A ausência do perdão está diretamente ligada à saúde física, mental e emocional. A Sociedade de Cardiologia de São Paulo recentemente levantou essa questão, apresentando uma pesquisa com 65 pacientes sem histórico de doença cardiovascular e 65 que infartaram. Foi mostrado que existe uma relação entre não perdoar e a ocorrência de infarto agudo do miocárdio. Foram dois quesitos, ‘quebra de confiança’ e ‘rejeição/desprezo’. No primeiro, a maioria, 65% dos que tiveram infarto, não estavam dispostos a perdoar. Esse número foi de 35% no outro grupo. No segundo quesito, 54% dos que infartaram perdoariam, já entre os que não tiveram infarto o percentual subia para 72%.

Carregar consigo ressentimentos e dores que as relações humanas nos expõem pode gerar um peso paralisador.

A partir das últimas décadas, as pesquisas sobre o perdão e seu impacto na saúde das pessoas vêm se ampliando; há, inclusive, relação entre os ressentimentos e o aparecimento de doenças físicas e mentais. As amarguras e a presença do rancor podem gerar efeitos psicossomáticos no corpo, traduzindo essas dores emocionais em patologias como depressão, ansiedade, gastrite nervosa, hipertensão, obesidade, entre outras.

Por meio do perdão é possível deixar para trás a dor e o ressentimento provocados por uma mágoa.

É uma maneira de se libertar da lembrança de um acontecimento ruim para que ela não afete mais a sua vida.

O perdão é necessário para muitos processos de cura de traumas e desapego do passado.

O que a falta de perdão pode provocar?

Amargura, tristeza, raiva e baixa autoestima. Com o tempo, você pode passar a deixar ressentidas todas as pessoas à sua volta e não apenas quem lhe causou mal.

Problemas de saúde mental como ansiedade e depressão.

O medo, a amargura, os conflitos internos e o ressentimento podem dificultar a manutenção de relacionamentos saudáveis.

Apego ao passado. 

Resiliência

Aprender a perdoar ajuda a desenvolver a resiliência. Essa competência emocional está relacionada à capacidade de passar por situações estressantes sem sucumbir a seus efeitos negativos.

Quando não sabe lidar com uma adversidade, a pessoa resiliente procura ferramentas para ajudá-la a passar por isso, como, por exemplo, a psicoterapia. 

Empatia

O ato de perdoar também desenvolve a empatia, a competência emocional que envolve a compreensão das perspectivas e emoções do outro. Quando você se dispõe a perdoar alguém, precisa se colocar no lugar dessa pessoa primeiro.

Como praticar o perdão?

Praticar o perdão envolve uma série de passos que, muitas vezes, são desconfortáveis. Dependendo da situação, pode ser muito doloroso revisitar lembranças e tentar encontrar razões para perdoar quem lhe causou mal. Acima de tudo, tenha compaixão por você ao iniciar essa jornada.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/perdoai-nos-como-perdoamos.html

terça-feira, 5 de novembro de 2024

Musicalidade do Espírito Santo

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Ricardo Abrahão 

 

‘Musicalidade e espiritualidade andam juntas. Nosso espírito, nosso mundo psíquico, nossa mente não se organizam sem uma escuta equilibrada e disposta. Para escutar é necessário disposição, ou melhor, colocar-se em posição – interna e externa – de realização da escuta. Do contrário, o risco de viver num mundo idealizado, imaginário e muitas vezes alucinado é muito grande. O que adiante ter ideias lindas sem nenhuma realização, isto é, sem transformá-las em realidade? A escuta só é verdadeira quando é viva! Ela vem de dentro ao encontro do outro e, dessa forma, ‘(…) onde dois ou mais estiverem reunidos, eu estarei no meio deles’ (Mt 18,20).

Musicalidade é também o encontro da música interior com a música e os sons externos, ou seja, a presença do outro, do diálogo, daquele que diversifica e nos convida a sair, ir ao encontro. A música é para ser ouvida, escutada, contemplada. Quem toca, toca porque ouve e toca para o outro ouvir. Em seu livro O poder do silêncio, Eckhart Tolle escreve : ‘A verdadeira inteligência atua silenciosamente. A calma é o lugar onde a criatividade e a solução dos problemas são encontradas’. Na liturgia só pode haver espaço para amor, calma e beleza!

A música sacra deve ser trabalhada como a arqueologia, que descobre o objeto de origem com paciência, inteligência e cuidado. O Espírito Santo está pronto dentro de cada ser humano desde a origem da criação até a eternidade. O Espírito Santo é inteligência. O trabalho do coração é descobrir esse espírito por meio da beleza e do amor. Maurício Meschler, no livro O dom do Pentecostes, diz que ‘a Eucaristia é a obra magnífica do amor de Deus’ e ‘mais íntima ainda é a relação que com o Espírito Santo têm os efeitos da Eucaristia’ e ainda diz que ‘o Espírito Santo que habita em nós quer voltar à sua origem’. Meu grande amigo, Cláudio Pastro, ensinou a mim muitas coisas sobre a beleza do Espírito Santo e escreveu em seu livro O Deus da beleza : ‘A beleza não é um produto do ser humano; está tão acima dele! Ela o atrai, o seduz e, assim, o ser humano não vive sem ela’. 

Como viver o cristianismo sem a musicalidade do Espírito Santo? ‘Quem tem ouvidos para ouvir, ouça’. (Mt 8,8)

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/musicalidade-do-espirito-santo.html

domingo, 3 de novembro de 2024

De Jesus a Pedro: a sucessão apostólica se renova na partilha e na alegria do testemunho

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Karla Maria


‘Quando os onze estavam reunidos em Jerusalém para a escolha daquele que iria substituir Judas – o traidor –, o medo e a confusão já tinham sido apascentados pela presença do Espírito Santo. Depois de orarem, escolheram Matias e ali os doze iniciavam um movimento de seguidores de Jesus Cristo, uma Igreja primitiva que herdava a missão de testemunhar a experiência vivida com Jesus crucificado e ressuscitado. Assim nos conta o livro de Atos dos Apóstolos (cf. 1,23-26) sobre a primeira comunidade que começa a expandir-se a partir do chamado, do testemunho dos apóstolos. ‘A fé, a experiência no Ressuscitado é que vai dando a essa primeira comunidade a certeza de que a vida e a morte de Jesus não fora sem sentido (…). O escândalo da morte é superado pela experiência do ressuscitado, com o ressuscitado’, explica Alzirinha Souza, doutora em Teologia pela Université Catholique de Louvain, na Bélgica.

Para ela, essa experiência se renova hoje na Eucaristia e na Palavra, permitindo-nos afirmar que Jesus está entre nós, que vive entre nós e onde dois ou mais estiverem reunidos em seu nome. 

À medida que as comunidades cristãs eram constituídas pelos apóstolos, eles constituíram bispos, isto é, pastores que os sucederam na missão de conduzir o rebanho, transmitindo o dom recebido do Espírito Santo de geração em geração até os dias atuais.

Para a teóloga, a sucessão apostólica ‘significa manter o segmento de Jesus atualizado na história em seus diferentes períodos. Isso é tradição que vai se renovando e por isso essa origem apostólica é importante, não pela pessoa que está conduzindo, mas por aquilo que ela traz consigo : as diferentes formas de ser Igreja nos diferentes tempos históricos’. 

A concepção de bispo autônomo e responsável por sua Igreja local, bem como as concepções de hierarquia na Igreja Católica como as concebemos hoje, vai se desenvolver por volta do século IV, todavia, sua gênese está ligada aos apóstolos. ‘Nossa Igreja vem de Jesus Cristo por meio dos apóstolos. Nossa fé liga-se a Jesus Cristo por meio deles. Isso é uma perene e firme nota de autenticidade da fé da Igreja, afirmada e reafirmada sempre de novo. Nós não inventamos a Igreja, mas participamos dela pela graça de Deus’, explicou o Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo (SP) em sua coluna ‘Encontro com o Pastor’.

Edmílson Schinelo, teólogo e biblista do Centro de Estudos Bíblicos (CEBI), ressalva, contudo, que Jesus não fundou nenhuma instituição, nenhuma religião : ‘Nasceu, viveu e morreu como judeu. Os primeiros seguidores foram judeus. O movimento é o judaísmo. A partir do processo de ruptura que vai acontecendo gradativamente depois dos anos 70, 80 há necessidade de uma instituição e a partir de Constantino [imperador romano], nos séculos III e IV é que você pode falar mesmo nessa instituição romana que existe hoje’.

A obra Ascensão do cristianismo no Ocidente, de Peter Brown, registra que a expansão da fé cristã dentro do mundo romano e a institucionalização da Igreja Católica Apostólica Romana se deu respectivamente em 313, quando Constantino assinou o Édito de Milão, estabelecendo a liberdade de culto aos cristãos e décadas depois, em 380, quando o então imperador Teodósio assinoua o Édito de Tessalônica, oficializando o cristianismo como a fé dos romanos e incorporando a Igreja como uma instituição do Estado. 

‘Então Teodósio e Constantino, principalmente o primeiro, perceberam que esse povo é um povo que pode ajudar a unificar o império que começava a se desmantelar. Ele fez essa associação e esse reconhecimento do cristianismo como religião oficial do Estado, não porque se converteu à pessoa de Jesus, tratava-se de uma razão política e de uma razão econômica’, ensina Alzirinha. A partir daí, a Igreja ganhou uma estrutura de Estado, provocando uma grande transformação das comunidades originárias ‘para aquilo que nós temos hoje e vai se perdendo essa característica comunitária porque passa a ser institucional’, continua a teóloga. 

Para Raylson Araújo, mestrando em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), não fosse a sucessão apostólica e a Igreja como instituição, nós não teríamos Palavra de Deus : ‘Isso é fato. Não teríamos a Palavra de Deus não fosse a Igreja enquanto instituição. Qual é a ordem que Jesus entrega ali para os onze? Vocês devem ir a todas as nações, batizar e ensinar. Ensinar o quê? Tudo aquilo que Jesus prescreveu. Então, essa é a missão da Igreja. Essa é a missão apostólica, ir a todas as nações, batizar e ensinar e o batizar deve ser lido de maneira ampliada. O batizar não é só o Sacramento do Batismo no sentido estrito da coisa, deve ser entendido com toda a dimensão litúrgico sacramental. Então é celebrar, reunir-se em torno do nome do Senhor, de sua memória’, concluiu Araújo.

Apóstolo é quem serve

Durante a audiência geral de 5 de novembro de 2014, ao refletir sobre o ministério episcopal, o Papa Francisco sublinhou que o episcopado não é uma honorificência, mas um serviço. ‘Não deve haver lugar na Igreja para a mentalidade mundana que diz assim : ‘Este homem fez a carreira eclesiástica e tornou-se bispo’. Não, não, na Igreja não deve haver lugar para essa mentalidade, o episcopado é um serviço, não uma distinção para vangloriar-se’, afirmou.

Dom Neri José Tondello, bispo da Diocese de Juína, no Mato Grosso, desde 2009 falou à reportagem sobre ser sucessor apostólico : ‘A partir do Evangelho, quando Jesus envia os apóstolos – ‘Ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho a toda criatura’ [Mc 16.15] – entendemos que a essência do enviado é o serviço, nas palavras do próprio mestre Jesus, que disse que não veio para ser servido, mas para servi [cf. Mt 20,28]’, 

Membro permanente do conselho da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e atuando em uma realidade de conflitos fundiários que ameaçam a existência dos povos indígenas, Dom Neri é bispo que caminha com seu povo : ’Existimos para o serviço e exatamente onde mais somos necessários, isto é, onde as pessoas estão gritando por socorro, por sofrimentos que enfrentam, ameaças, ações de reintegração de tantos assentados. A invasão das terras indígenas são situações radicais extremas em que somos chamados a servir como intermediação para que o Estado democrático de direito contemple a todos os cidadãos diante das oportunidades e que haja uma distribuição [de terra] equitativa e justa para todos os que nela vivem e trabalham’, pontuou.

O testemunho do bispo de Juína nos recorda os tempos e conflitos vividos pelos primeiros apóstolos em suas comunidades perseguidas por sua fé. Em sua Carta aos Coríntios 2,4.8-9, o apóstolo Paulo escreve ‘De todos os lados somos pressionados, mas não desanimados; ficamos perplexos, mas não desesperados; somos perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não destruídos’.

O número de bispos no país é 482, dos quais 316 estão no exercício do governo pastoral de uma Igreja particular (dioceses e arquidioceses) e têm, portanto, a missão de manter a porção da Igreja que lhe é confiada na comunhão de fé e doutrina da Igreja e no testemunho da vida cristã. Outros 166 são bispos eméritos.

‘Todos os bispos juntos, em comunhão com o Papa, também respondem pelo bem de toda a Igreja. Eles constituem o ‘colégio episcopal’, que expressa a participação na sucessão apostólica e na missão confiada aos apóstolos por Jesus Cristo. Em força da ‘colegialidade episcopal’, os bispos cultivam a comunhão entre eles e na Igreja e com o Papa, que é o chefe do colégio episcopal. A expressão máxima da colegialidade episcopal e da corresponsabilidade dos bispos por toda a Igreja acontece na celebração dos concílios ecumênicos’, definiu o Cardeal Scherer.

Conduzir o povo

Animar a fé no Ressuscitado e conduzir a comunidade cristã era a missão dos primeiros apóstolos e segue sendo a de seus sucessores apostólicos em cenários políticos, econômicos e sociais diversos e desafiadores. Assim sempre foi, como registram os livros sagrados, e assim ainda é, como nos revelam os acontecimentos diários. 

Dessa maneira, Pedro assume a condução da comunidade, mas não só, ele a conduz com o sopro do Espírito Santo. ‘Há dois textos que são bons para esse ponto. No primeiro texto Jesus disse que ia, mas deixava o Espírito, enviava o Espírito, e também o texto de Pentecostes, que diz que o Espírito desceu sobre eles como se fossem línguas de fogo’, disse a teóloga Alzirinha Souza, lembrando que não é possível falar de sucessão apostólica sem falar da Pneumatologia, o estudo da pessoa do Espírito Santo e como Ele age no mundo.

‘Ele [Espírito Santo] move o mundo, porque ele move pessoas. (…) Nós olhamos para Jesus para saber aquilo que fazemos ou que deveríamos fazer para irmos nos humanizando e temos a mão do Espírito, que nos ajuda no discernimento e que nos empurra para frente, impulsiona-nos a fazer efetivamente essa vivência, desde queiramos, naturalmente. Logo, a ação humana e a práxis cristã, ela sempre de quem está’, afirmou Alzirinha.

Práxis é um conceito filosófico da atividade teórico-prática do ser humano em todas as áreas da sociedade e aos apóstolos coube e cabe realizar muitas coisas, como explica Raylson Araújo : ‘A eleição de Matias se dá depois que Jesus volta para o Pai, após a ascensão. Então, qual é a ordem que Jesus entrega ali para os onze? Vocês devem ir a todas as nações, batizar e ensinar. Ensinar o quê? Tudo aquilo que Jesus prescreveu. Essa é a missão da Igreja, é a missão apostólica, ir a todas as nações, batizar e ensinar. O batizar deve ser lido de maneira ampliada, não é só o Sacramento do Batismo no sentido estrito da coisa, deve ser entendido com toda a dimensão litúrgico-sacramental. É celebrar. Celebrar a Missa e o Batismo e os demais sacramentos. É se reunir em torno do meu nome, da minha memória’.

O teólogo Alexandre Ferreira dos Santos, especialista em Pensamento Religioso pela Pontifícia Universidade Lateranense, na Itália, lembra, portanto, que a sucessão apostólica garante a continuidade e a autenticidade para aqueles que creem na igreja. Esse ‘na’ significa ‘desde dentro’, ou seja, a Igreja é um grupo de pessoas formado a partir do chamado que Jesus Cristo faz a alguns homens e mulheres.

O chamado se atualiza e corresponde às demandas dos nossos tempos, isso é o que o Papa Francisco vem propondo à reflexão. Em outubro de 2023, durante a primeira sessão do Sínodo dos Bispos em Roma, ele disse que, na conversa no Espírito’ encontramos um caminho de participação voltado para a comunhão e renovação da missão que acolhe em unidade as diferenças na Igreja, encontrando o caminho sempre à luz do que inspira o Espírito.

É preciso ouvir e acolher o que sopra o Espírito.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/de-jesus-a-pedro-a-sucessao-apostolica-se-renova-na-partilha-e-na-alegria-do-testemunho.html