Por Eliana Maria
(Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo do Padre Françoá Costa
‘Jesus afirma
categoricamente : ‘Cuidado! Ficai
atentos!’ (Mc 13,33). Esta exortação de Jesus Cristo deveria impactar a nossa
alma, porque, do contrário, poderíamos passar a vida inteira como almas
retardadas ou atrasadas ou tíbias. Quais são essas almas? São pobres pecadores
batizados que nunca se decidem pelo caminho da salvação de verdade.
Habitualmente, conservando uma vida de pecados mortais, vêm à Missa, mas nem
sempre; rezam, mas não de maneira decidida; fazem o bem, porém de maneira
morna. São pessoas que não fazem o mínimo para irem para o céu. Esse tipo de
gente de alma retardada pode encontar-se inclusive entre os padres, quanto mais
entre os leigos.
O bispo Santo Afonso
teve que corrigir, num determinado dia, um padre que tinha uma vida má. Para
recebê-lo, Santo Afonso colocou uma imagem de Jesus Crucificado bem na porta da
entrada, de tal maneira que seria impossível passar lá sem pisar na imagem de
Jesus. Quando o padre chegou, vendo que não podia atravessar a porta, disse : –
como vou passar aqui, sem pisar na Cruz’. O santo bispo disse-lhe : – Pisa,
pisa, pois a sua vida já está massacrando Jesus Cristo.
Assim como Deus
desceu e as montanhas se derreteram diante dele (Is 64,2), de maneira
semelhante queremos que os pecadores, inclusive os mais endurecidos, se
desmancham diante de Deus. Esta é a primeira conversão, na qual o pecador diz,
juntamente com outros que também se derreteram : ‘nós pecamos; é nos caminhos
de outrora que seremos salvos’ (Is 64,4). Finalmente, o pecador reconhece que
não dá para ficar longe de Deus, que precisa voltar ao caminho dos seus
antigos, dos seus pais, dos seus avós. Quebrados, derretidos, despedaçados como
estamos, dizemos ao Senhor: ‘Nós somos barro; tu, nosso oleiro, e nós todos,
obra de tuas mãos’ (Is 64,7).
É neste momento de
conversão inicial que o pobre pecador percebe a majestade de Deus, vem-lhe o
santo temor, dá-se conta da ação poderosa de Deus, reconhece as doutrinas de
Jesus Cristo e suas leis santíssimas. O pecador acaba de entrar, pela
arrependimento e pela confissão, no castelo onde Deus mora. Inicia-se,
portanto, uma busca pela sala do trono, onde se encontra a Majestade Divina.
Mas, até chegar lá, a pobre alma terá que percorrer um caminho de desejos
santos, percebendo, ao mesmo tempo, que suas ações nem sempre estão à altura
daquilo que deseja.
A comparação da
conversão inicial com a entrada em um castelo é muito oportuna porque quando
Isaías escreveu os capítulos 63 e 64, a cidade de Jerusalém, depois da invasão
dos babilônios, estava sendo construída, suas muralhas, suas casas, seu
palácio, o Templo. Parece-se muito à alma do cristão, que, depois de arrasada
pelos Babilônios espirituais, os demônios, agora se transformará numa bela
cidade, mas isso acontece no castelo do Rei Jesus, que é tão grande a tal ponto
de caber a nossa cidade interior. Assim como Jerusalém voltará ao seu antigo
esplendor, também a alma voltará a ser embelezada pela união transformante com
o Senhor.
O pobre pecador está
na casa do Senhor, mas ele não sabe quando aparecerá o dono dessa casa, desse
magnífico castelo real : ‘à tarde, à meia-noite, ao canto do galo, ou de manhã’
(Mc 13,35). O cristão, nesse momento, sente-se como uma criancinha, mas que, ao
mesmo tempo, tem que algo grande : vigiar, procurando a sala do trono, ao mesmo
tempo, é consciente de que o dono do castelo pode se manifestar a qualquer
momento, mesmo fora da sala do trono. Aplica-se a ele as palavras do Apóstolo :
‘vós que aguardamos a revelação do Senhor nosso, Jesus Cristo’ (1 Cor 1,7).
Nesse contexto, no
qual a alma está decidida a permanecer dentro do castelo, isto é, abandonando o
pecado mortal e em busca incessante do Senhor do castelo, faz-se necessário
algum sábio ancião que o guie com sábias orientações. Os sacerdotes de Jesus
Cristo são os anciãos do castelo, são eles que recebem os pecadores no batismo
e na confissão, alimenta-as com a Palavra e com a Eucaristia, dá-lhes doutrina
espiritual segura para que sigam rumo à sala do trono, ao mesmo tempo que as
faz vigilantes, já que o Senhor do castelo pode chegar a qualquer momento e
manifestar-se.
Como se pode
perceber, a pessoa que abandonou o pecado mortal acaba de começar sua
verdadeira vida espiritual. Antes de abandonar o pecado, não existia vida
espiritual, mas morte. A pessoa não estava numa escala ascendente, mas abaixo
de zero. Quando Deus lhe deu a graça de tomar a decisão de abandonar os pecados
mortais, ficou no zero; ao confessar-se, Deus lhe deu uma nova ajuda :
encontra-se no número 1, agora positivo. Começa o caminho ascendente. Neste
momento, esse cristão é apenas uma criança e deve aprender as orações da sua
família espiritual, as orações vocais : Pai-Nosso, Ave-Maria, Glória, Credo,
Salve Rainha, os Mandamentos etc. Digo, deve aprender, isto é, valorizar as
orações vocais, dizendo-as conscientemente. Pode até ser que antes essa pessoa
rezava algo, mas agora as orações vocais são o seu apoio inicial para que reze
mais profundamente e, por isso, as valoriza tanto.
Nessa primeira etapa
da vida interior ou primeira conversão, a alma tem uma fé viva, porém inicial.
Esta fé, ainda que formada pela caridade, não se encontra, todavia, na
perfeição da caridade, mas anima-se mais pelo santo temor. Esse cristão ainda
não é um sábio informado pela fé saborosa do dom da sabedoria, mas pela fé
inicial do dom do santo temor de Deus. Há muito ainda para chegar à união com
Deus, contudo a pessoa está viva, é uma criancinha diante de Deus e pode
prosseguir, graças à bondade divina.
A alma precisa
descobrir o valor das pequenas coisas, pois nesta primeira conversão, a alma
sente um desejo muito grande de fazer penitência que acompanhem o fervor de
suas orações vocais. É como se a penitência fosse a oração do corpo e as
orações vocais fossem a oração da alma. Nesse sentido, a pessoa inteira, corpo
e alma, empenha-se para chegar à sala do trono, no ritmo que Deus lhe for
marcando. Porém, mais que colocar a atenção nas grandes penitências, a alma
precisa saber que Deus lhe pede a penitência do cotidiano, das pequenas coisas
bem feitas por amor.
Já que estamos
valorizando as pequenas coisas, é bom voltar a ressaltar a importância de serem
ditas muitas vezes as palavras ‘obrigado’, ‘desculpa’, ‘com licença’. De fato,
com essas palavras, as famílias funcionam. Uma pessoa, falando-me das
maravilhas dos Estados Unidos, referiu-se precisamente a isto : aqui, dizia
ele, sempre se fala ‘thank you’, ‘sorry’, ‘excuse me’. Isto é fantástico quando
vivido especialmente com os nossos.
Conta-se que havia um
missionário na África escreveu uma carta que dizia que lá era muito selvagem,
com leões e tigres, que a casa onde ele morava era meio na roça e que ela não
tinha nenhuma proteção especial, as janelas eram muito comuns. Mas, dizia ele :
ainda bem que na casa existe mosqueteiro, porque aqui o mais perigoso são os
mosquitos.
É preciso proteger-se
dos pequenos mosquitos que causam grandes doenças. Em meio a essa necessidade,
o cristão encontra-se num tempo oportuno para fazer mortificações e viver a
purificação ativa dos sentidos. Desta forma, será protegido de outros males.
Assim como a cidade de Corinto, que recebe a mensagem apostólica, era uma
cidade devassa, cheia de prazeres e de poderes (1 Cor 1,3-9), assim também a
alma, dada aos seus desvarios, agora quer alcançar a ordem e a beleza divina. O
cristão então faz penitências que mortificam seu paladar, sua gula e ebriedade;
seu tato, sua comodidade e luxúria; seu olfato, sua vaidade e concupiscência
desordenada; sua vista, sua falta de modéstia, sua curiosidade; sua audição,
sua falta de controle, sua atenção esmerada à vida alheia.
Além dessa
purificação ativa dos sentidos externos, a alma também mortifica seus sentidos
internos : a imaginação, a memória, a fantasia, a cogitativa e o senso comum.
De fato, a imaginação pode levar muitas pessoas a construírem muitos monstros
sobre os outros e outras situações, é preciso controlar a imaginação antes que
ela nos domine. A memória, por sua vez, se não for posta em penitência,
recorda-nos pecados passados, fazendo-nos demorar neles e, desta forma,
aproximando-nos do pecado : é preciso estar atentos e cortar os dados
pecaminosos da memória. A imaginação, auxiliada pela memória, gera fantasias
assaz tresloucadas; também por isso deve ser posta no seu lugar, domesticada
para que sirva aos projetos de Deus.
A cogitativa é um
sentido interno que nos ajuda a perceber aquelas coisas que os sentidos
externos não percebem imediatamente : se uma coisa é nociva, se fulano de tal
está com uma atitude amigável ou não. Se o cristão não estiver atento a esse
sentido interno, poderia pecar por juízos temerários, ou seja, julgamentos nos
quais não há fundamento para se pensar tal coisa. Perceber essa realidade nos
ajuda a realizar a mortificação de colocar a nossa mente em seu lugar, evitando
as curiosidades e os juízos precipitados. Finalmente, o senso comum reúne todas
as informações formando uma ‘fantasminha’ que fica como que depositado no nosso
intelecto passivo, esperando a luz do intelecto ativo para que se forme um
conceito. A mortificação, neste caso, nos leva a purificar as nossas informações,
a não sermos precipitados, agindo segundo as normas da prudência e do santo
temor de Deus.
A nossa certeza é que
o Senhor veio para nos converter, ele vem a qualquer momento para estar
conosco, ele chama-nos para a sala do trono onde ele está assentado juntamente
com o Pai e o Espírito Santo. Este tempo do Advento nos ajude a pensar no nosso
progresso espiritual : como devemos estar atentos à graça de Deus que nos
seguir adiante. Queira Deus que o façamos decididamente pela intercessão de
Santa Maria, a senhora do castelo.
Uma última
historinha. Uma mãe tinha um filho que estava nas drogas. A pobre mulher, para
conseguir a conversão no seu filho, oferecia orações e penitências a Deus :
dormia no chão todos os dias, jejuava três vezes por semana, rezava muitos
terços. E não estava contente. Pergunto-me : como estará Nossa Senhora com a fé
e o comportamento dos católicos, seus filhos queridíssimos? Você é tão cruel
que ousará continuar a ofender o coração da mãe de Deus e sua mãe?’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://pt.aleteia.org/2023/12/05/a-primeira-idade-da-vida-interior/
Nenhum comentário:
Postar um comentário