(Ir. Ma. Silvia - obl.osb-sp)
" Mysterium Crucis"
Henri de Lubac
Qualquer que seja o dom[inio aonde a sua reflexão o levou, o cristão é sempre reconduzido, como por um peso natural, à contemplação da Cruz.
Todo o mistério do Cristo é um mistério de ressurreiçào, mas taambém um mistério de morte. Um não vai sem o outro, e uma mesma palavra os exprime: Páscoa. Páscoa é a "passagem". Alquimia de todo ser, separação de alguém consigo mesmo, a qual ninguém pode ter a pretensão de escapar, Negação de todos os valores naturais em seu ser natural, renúncia àquilo mesmo pelo qual o indivíduo se tinha ultrapassado.
Por mais autêntica e pura que seja a visão de unidade que inspira e orienta a atividade do homem, ela deve, portanto, começar por desaparecer, se quiser tornar-se realidade. A grande sombra da cruz deve recobrí-la
A humanidade não se unirá, senão renunciando a tornar-se a si mesmo como fim. No fundo, o homem não quer e não ama a humanidade, senão segundo o mesmo movimento natural em que ele se quer e se ama a si mesmo. Ora, Deus é essencialmente Aquele que não admite partilha. Aquele que devemos amar unicamente, sob pena de não o amar E se é verdade que ninguém amará a humanidade por ela mesma, e não com amor ainda egoísta, senão à medida em que a ama em Deus unicamente amado, esta verdade não nos aparece de início tão evidente, que ela possa suprimir a realidade do sacrifício. O humanismo cristão dever ser um humanismo convertido. De nenhum amor natural passamos, sem mais nem menos, ao amor sobre natural. é preciso que a gente se perca para se reencontrar. Dialética espiritual cujo rigor se impõe à humanidade e a cada indivíduo, isto é, ao meu amor do homem e dos homens e ao meu amor por mim mesmo. Lei do "êxodo", lei do "êxtase". Se ninguém deve evadir-se da humanidade, a humanidade inteira deve morrer a si mesma em cada um dos seus membros, para, assim, viver, transfigurada em Deus. Não há fraternidade definitiva, senão numa comum Adoração. "A glória de Deus é o homem vivo"- mas o homem não tem acesso à Vida na única sociedade total capaz de existir, senão pelo "só a Deus a glória". Tal é a Páscoa universal, que prepara a Cidade de Deus. Pelo Cristo mortoo na Cruz, a humanidade que ele trazia inteira em si, se renuncia e morre.
Mas este mistério é mais profundo ainda. Aquele que carregava em si todos os homens, estava abandonado de todos. O Homem universal morreu só. Plenitude da Kênose, isto é, do "aniquilamento", e perfeição do sacrifício. Era necessário esse abandono - e até esse abandono do Pai - para realizar a reunião.
Mistério de solidão e mistério de dilaceramento, sinal único da reunião e da unidade. Espada sagrada, que vai até a separar a alma do espírito, mas para aí fazer penetrar a Vida Universal: "Ó Tu, que és só entre os sós, e que és tudo em todos". "Pelo madeiro da Cruz, conclui S. Irineu, a obra do Verbo de Deus se tornou manifesta a todos, suas mãos ali se estenderam para reunir todos os homens. Duas mãos estendias porque há dois povos disperso sobre a terra. Uma só Cabeça no centro, porque há um só Deus acima de todos, no meio de todos e em todos".
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