*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo
Metropolitano de Belo Horizonte, MG
‘‘A esperança
é a última que morre’, diz a sabedoria popular. Na verdade, a esperança não
pode morrer, pois é chama que ilumina horizontes sombrios e permite enxergar
rumos novos. Esse entendimento deve inspirar a sociedade brasileira neste ano
eleitoral, quando todos são convocados a investir nos ‘brotos’ de uma nova política. Afinal, não é possível pensar em
avanços, consertos e novas respostas sem a reconfiguração do universo político.
E trata-se de uma obviedade dizer que graves problemas - corrupção, depredação
e apropriação indevida do bem comum, entre tantos outros males - são
alimentados pela velha política brasileira, que enterra a sociedade em um
verdadeiro lamaçal. Então, como poderão surgir os brotos de uma nova política?
Essa é uma pergunta que não pode ser respondida com facilidade, mas que deve
orientar a participação cidadã de todos.
Pode-se pensar em nomes que ainda não disputaram
eleições, acreditar que tantos outros, já veteranos, corrigirão suas posturas.
De todas as formas, constata-se que a lista das boas opções não é grande, pois
a vaidade toma conta dos corações dos candidatos e não deixa espaço para
valores humanísticos, prevalecendo interesses partidários pouco nobres. O
contexto brasileiro requer verdadeira conversão política. Isso exige que os
candidatos não se limitem a apresentar-se apenas como ‘inocentes’ e ‘honestos’. Também são dispensáveis os discursos
vazios, que objetivam passar falsa imagem ao eleitor. O desafio é reconhecer o
autêntico sentido da política : lutar e contribuir para promover o bem
comum.
Ora, a finalidade da atividade política é o bem do
Estado, nunca a sua depredação. A apropriação do erário por pequenos grupos e
oligarquias, para o atendimento de interesses que são distantes dos anseios da
coletividade, é inaceitável. A política deve se fundamentar na ordem moral e
ter por objetivo a promoção do bem comum. Cada cidadão precisa trabalhar para que o universo político alinhe-se a
essa perspectiva. Na Bíblia, o profeta Isaías evoca a imagem de um pano sujo
para se referir ao que é podre e corrupto. Pode-se dizer que fizeram da
política um ‘pano sujo’. E a tarefa
de todos é recuperar o sentido genuíno do exercício do poder. Para isso, antes
de observar interesses partidários ou princípios ideológicos, a consciência
cidadã precisa enxergar e buscar o que promove o bem de todos.
Consciente do sentido genuíno da política, o eleitor
será capaz de questionar aqueles que exercem o poder e os que desejam ser
representantes do povo. Sem esse questionamento, não se pode esperar que ocorram
as necessárias mudanças no país. A
eleição de pessoas capazes de conduzir a sociedade rumo a novas direções
depende, sobretudo, do compromisso cidadão de transformar o contexto político.
Somente com o qualificado exercício da cidadania, será possível gerar os brotos
de uma nova política. Nesse sentido, sejam combatidos discursos demagógicos,
debates sem propostas, que se limitam ao ataque de concorrentes, procurando
esconder as próprias limitações.
Gerar e cultivar o broto de uma nova política é
contribuir para ultrapassar a velha dinâmica que prioriza a busca egoísta pela
satisfação de interesses pessoais ou de pequenos grupos, a partir do sacrifício
de muitos. É vencer processos com burocratizações estéreis que levam a perdas
significativas e revelam a incapacidade para urgentes discernimentos. Mais
importante : o passo primeiro para qualificar as instâncias do poder é
reconhecer o real objetivo da política - estar a serviço da vida.
Para ser
autêntica, a política não pode ser identificada como conjunto de trapaças e
outras atitudes que revelam mesquinhez. O bem comum precisa ser a meta de todos
- eleitores e candidatos. O ano
eleitoral convoca todos para redobrar a atenção e buscar, esperançosamente, os
brotos da nova política. Não é tarefa fácil, mas ‘a esperança é a última que morre’. A esperança não pode morrer.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://domtotal.com/artigo/7603/2018/08/brotos-de-nova-politica/
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