*Artigo
de Jennifer Goodyer,
escritora e artista
‘Algum tempo atrás, ouvi um sermão
sobre dizer ‘sim’ ao chamado de Deus,
no qual o pastor nos perguntou como reagiríamos se tivéssemos um momento como o
de Moisés com a sarça ardente. Teríamos a coragem de dizer ‘sim’ ou nós, como Moisés, pediríamos
desculpas e sugeriríamos educadamente que Deus perguntasse a outra pessoa?
Foi um bom sermão, encorajando a
oração reflexiva sobre onde Deus poderia estar nos chamando. Infelizmente para
mim, veio em um momento em que estava fervorosamente orando por orientação
vocacional, buscando desesperadamente respostas para perguntas que não iam
embora. Eu sentia um chamado para algo, sabia que estava à beira de algo novo,
mas não sabia o que, não tinha ainda consistência. Quando rezei, houve um
silêncio ensurdecedor. Tudo o que eu conseguia pensar era em como Moisés foi
afortunado por receber um momento em que seu chamado se tornasse absolutamente
inequívoco. Naquela noite, orei para que Deus falasse comigo, para que pedisse
qualquer coisa para mim, para que me desse clareza.
Eu gostaria de dizer que imediatamente
ouvi uma voz estrondosa ou que alguma das minhas plantas de casa pegou fogo
espontaneamente. Infelizmente, não foi assim. Em vez disso, houve mais
silêncio. Inscrevi-me para a direção espiritual e durante o meu primeiro
encontro disse à minha diretora sobre o meu sentimento de um chamado ainda sem
consistência e expus toda a extensão da minha angústia. Ela ouviu com
paciência, compreensão e compaixão. No final, ela fez uma reflexão em resposta
para o que eu tinha partilhado, eu estava claramente sendo levada a algum
lugar, mas me sentia em uma luta constante para não perder a paciência enquanto
o 'para onde' se tornava claro.
Inicialmente fiquei desapontada; eu já sabia disso e estava secretamente
esperando que ela, a minha acompanhante espiritual, tivesse algum tipo de
mensagem profética para mim. Mas então percebi o quanto ela estava certa.
Lembrei-me de uma citação de um dos meus heróis espirituais, Henri Nouwen : ‘Você não pode ver todo o caminho à frente,
mas geralmente há luz suficiente para dar o próximo passo’.
Eu tinha esquecido que deste lado do
céu andamos à luz de tochas. Eu estava esperando a luz do dia. Como nos diz São
Paulo, ‘agora, pois, vemos apenas um
reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos face a face’ (1 Cor
13,12).
Esse limite colocado em nossa visão
pode às vezes parecer mal-intencionado e talvez, em tempos sombrios, até cruel,
mas na verdade é o oposto : um presente para nosso próprio bem. Se fôssemos ver
todo o caminho, provavelmente nos afastaríamos com medo ou cairíamos no
conformismo. Ambos seriam más notícias para o nosso desenvolvimento espiritual.
Em vez disso, Deus graciosamente nos dá o que precisamos para dar o próximo
passo ao longo da jornada, assim como um pai amoroso gradualmente revela
gentilmente as verdades sobre os caminhos do mundo.
Mas mesmo quando aceitamos que devemos
andar à luz de tochas, é provável que na maioria das vezes ainda fiquemos
lutando contra essa realidade. Essa luta tem dois lados. Às vezes, ficamos para
trás, onde a luz está brilhando, com medo ou sem vontade de dar o próximo
passo, dizendo ‘sim’ para uma nova
oportunidade, um relacionamento mais profundo ou um pedido de ajuda. Como diz
Brené Brown, recusamo-nos a aparecer e ser vistos. Esta foi a luta de Moisés e
muitas vezes é a nossa também. Nesses momentos, podemos até chegar ao ponto de
evitar a oração porque já sabemos o que essa voz ainda pequena nos sussurra em
nossos corações.
Em outras ocasiões, nos recusamos a
permanecer no umbral da luz das tochas porque estamos ansiosos para avançar.
Queremos ver todo o caminho, não apenas o próximo passo. Sentimos que Deus está
aprontando alguma coisa e queremos saber o que. Abrimos nossas Bíblias, lemos
livros, perguntamos a amigos, Google. Nestes momentos, nossa vida de oração
está provavelmente mais fervorosa e exigente. Até certo ponto, tudo isso é bom.
Jesus encoraja a persistência na oração, e se nós sentimos um chamado sem
consistência ainda, devemos estar inclinados a isso e nos abrir para ouvir o
que Deus está nos dizendo.
Como Nouwen explica em seu livro sobre
discernimento, Deus está nos falando o tempo todo, convidando-nos a um
conhecimento mais profundo dele e de nós mesmos; tudo o que nos resta é
aprender a ler os sinais da vida cotidiana. Mas às vezes nosso desejo por
respostas torna-se ansioso e egoísta e nos tornamos frustrados e incapazes de
estar presentes. Nesses momentos, precisamos desacelerar, esperar e voltar para
a luz da tocha, onde apenas o próximo passo é claro.
Inicialmente, isso pode parecer
decepcionante : estamos prontos para agir e esperar é improdutivo e entediante.
Contudo, se perdermos nossa disposição de esperar, também perderemos nossa
capacidade de sermos liderados. Em vez de permitir que a luz nos guie,
começamos a tentar controlá-la. Se estamos constantemente nos esforçando para ir
além da luz, esquecemos de nos deliciar com a luz. E prazer que devemos, porque
a luz que nos guia é a Luz do mundo.
É o próprio Jesus quem segura a tocha que guia nosso caminho.
Quer estejamos lutando para permanecer
na luz, porque estamos com medo ou porque somos impacientes, podemos estar
confiantes de que a luz nunca nos deixará. Ele sempre brilha na escuridão da
nossa incerteza e nos lembra que ele é o Emanuel, o Deus conosco.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://domtotal.com/noticia/1286121/2018/08/qual-e-o-meu-chamado-como-discernir-sem-uma-sarca-ardente/
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