Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘Em Jerusalém, os ritos pascais começam na
sexta-feira que precede o Domingo de Ramos, recordando as Sete Dores de Maria
Santíssima. Cada pedra da Cidade Santa lembra a paixão e a morte de Nosso
Senhor : o percurso da Via Dolorosa é marcado pela presença viva de Cristo,
pelo sofrimento de sua mãe, dos apóstolos e de todos os que o seguiram com
confiança, enfrentando perseguições e opressões. A festa do povo que aclama com
‘hosanas’ está cada vez mais interditada aos cristãos locais, que não podem se
reunir nos lugares santos em comunhão de fé. Inicia-se a semana que faz memória
de eventos dolorosos, porém salvíficos : a decepção da traição e de um
julgamento injusto, a paixão atroz, a morte na cruz entre dois ladrões, diante
de uma mãe que perde o filho amado e acolhe outro para continuar a difundir a
mensagem de amor. Sob aquela cruz, e a partir dela, nasce a missão da Igreja :
de um pão partido e partilhado, do sofrimento e da morte de Cristo, recebemos a
salvação.
Imersos no mistério pascal
Estamos imersos no mistério pascal e não é
fácil compreender o que acontece a menos de cem quilômetros da Cidade Santa,
que é santa para todos os que habitam esta terra. Não se pode justificar a
agressividade e a opressão que levam à violência, quando deveria prevalecer a
lógica do amor, que exclui o ódio : não são palavras de momento, são as ‘leis’
às quais os crentes de todas as religiões deveriam aderir por fé e com a única
interpretação possível : o bem. Há mais de dezoito meses o mundo vê o que
acontece em Gaza, mas não olha, e não encontra meios de deter a morte e o
sofrimento de mais de dois milhões de pessoas.
Ações desumanas
Há tempo demais assistimos, impotentes, a
ações desumanas, na indiferença de quem vê os lucros da guerra e permite o fogo
que destrói pessoas e hospitais, mas não vê — ou finge não ver — e tolera
formas desumanas de morte que superam, em número e atrocidade, a irracional
lógica da vingança. Quem justifica a violência, quem provoca a morte, quem
elabora planos de guerra, quem não protege a vida e impede ajuda e socorro,
pode ainda se considerar responsável e capaz de governar e transformar, para o
bem, a história da humanidade? Vimos imagens e ouvimos relatos dolorosos. Vimos
pessoas sendo lançadas aos ares por instrumentos de morte criados e
comercializados por outras pessoas. Vimos pessoas morrerem de fome, de sede,
por falta de cuidados, de calor, de frio — porque outras pessoas assim o
permitiram. Esta é a consciência da nova humanidade? Esta é a comunidade humana
que chega à lua, mas não salva o seu semelhante?
Como Maria
São tempos longos e sombrios, marcados por
morte e desespero: não se reparam os erros do passado anulando as lógicas do
poder. Não se derrota o silêncio que envolve o ódio, não se clama por justiça
com a voz da verdade. Muitas mães e muitos pais sofrem como Maria pela perda de
seus filhos; filhos demais perderam o amor e a proteção de suas mães e pais,
sobrevivendo na dor. Nesta Semana Santa, percorramos com o coração os caminhos
dolorosos de Gaza, percorramo-los com a esperança da paz e com a certeza do
Cristo Ressuscitado. Vencemos o medo e a escuridão com a luz da ressurreição,
para podermos viver plenamente a santa Páscoa proclamando diante do túmulo
vazio : «Ele não está aqui! Já não está
mais aqui, Cristo foi a Gaza!». O Ressuscitado é esperança de vida para os
cristãos de Gaza : rezemos para que possam permanecer como testemunhas da fé
pelas vias dolorosas de sua terra.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2025-04/padre-faltas-as-vias-dolorosas-de-gaza.html
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