Por Eliana Maria
(Ir. Gabriela, Obl. OSB)
17 de março – O apóstolo da ilha verde (385-461)
*Artigo da redação da revista Ave Maria
‘Patrício não nasceu na Irlanda;
pelo contrário, o primeiro encontro com aquela belíssima terra foi para ele
muito desagradável. Tinha apenas 16 anos quando os piratas o levaram da
Grã-Bretanha, sua terra, e o venderam como escravo nas costas nórdicas da Ilha
Verde a um desconhecido, talvez um chefe de tribo.
Um sonho desfeito
Foi o período mais duro de sua vida. O seu pensamento retornava
continuamente à casa paterna, à mãe, uma cristã autêntica, e ao pai, diácono da
comunidade de Bannhaven Taberniae, onde Patrício nasceu em 385 e onde tinha
recebido uma educação muito esmerada.
Talvez naquele período tivesse pensado em dirigir uma comunidade cristã
como o pai ou de se tornar monge para difundir o Evangelho, mas então o tempo
dos sonhos tinha tragicamente acabado! Sim, encontrava-se em terra estrangeira,
no meio de um povo que até o momento não era cristão, do qual não entendia uma
palavra e passava o dia todo cuidando dos animais, coisa que jamais tinha feito
em toda a sua vida.
Por duas vezes tentou fugir, mas, inutilmente. Terá duvidado de que
talvez Deus o quisesse naquelas terras e no meio daquele povo? À medida que se
adaptava aos costumes de seus patrões e aprendia sua língua, descobria com
surpresa que não eram assim tão rudes como lhe parecera no início. Também a
organização tribal revelava qualquer coisa de nobre e os relacionamentos entre
as famílias e entre as tribos eram fundamentados no respeito recíproco.
Certamente que lhes faltava a fé cristã, adoravam ainda os ídolos, mas o
que ele poderia ter feito sozinho e sem nenhuma experiência nesse campo? E ele
não era sempre um pobre escravo? Que sentido tinha a sua permanência nesse país
estrangeiro? Precisava fugir a todo custo.
Organizou pela terceira vez um plano de fuga e dessa vez conseguiu
perfeitamente. Havia seis anos que estava longe de casa.
À escola de São Germano
Não sabemos se o navio o repatriou ou se o deixou nas costas francesas.
Sabe-se com certeza que em determinado momento Patrício apareceu em Auxerre,
junto ao bispo São Germano (†448), homem de profundo conhecimento de ciência e
de grande santidade que, por sua vez, estivera na Inglaterra para restabelecer
a paz naquela Igreja perturbada pela heresia pelagiana.
São Germano acolheu com muita satisfação o jovem britânico e ouviu com
interesse a descrição das suas peripécias. Ali descobriu o dedo da providência.
Quem melhor do que ele, que conhecia por experiência pessoal a língua e os
costumes dos celtas e dos escoceses – como eram chamados os irlandeses –,
poderia levá-los à fé cristã? É verdade que o Papa Celestino já tinha mandado
um bispo para a Irlanda, mas este não tinha conseguido entrar no coração
daquela gente.
A ideia não desgostou a Patrício, que, depois de ter completado em
Auxerre a sua formação cristã e cultural sob a direção do santo bispo, esteve
por um tempo em Lérins, centro monástico de fama europeia, defronte à Provença,
onde mergulhou com todas as suas forças na vida monástica, convencido de que só
com esse carisma poderia plantar a Igreja de maneira duradoura entre os povos
da Irlanda.
Tendo vivido com eles por seis anos, tinha notado que havia uma grande
diferença entre a psicologia dos habitantes das ilhas juntos em uma mesma
cultura mais familiar e mais estática e a dos habitantes do continente,
continuamente imersos em acontecimentos históricos e mais movimentados e com
mais fôlego, por isso quis visitar os numerosos pequenos mosteiros das ilhas do
mar Tirreno, em frente à atual Toscana, e ver com os próprios olhos o método
adotado pelos monges para cristianizar os habitantes das ilhas.
O evangelizador da ilha
Naquele período, teria visitado Roma e falado com o Papa? É possível,
mas, não o sabemos com certeza; ao contrário, sabemos com segurança que no ano
de 432, com a morte de Palladio, o primeiro bispo da Irlanda, Patrício foi
nomeado seu sucessor e partiu o mais rápido possível com um grupo de monges
rumo à sua missão. Estabelecendo-se em Armagh, começou a preparar seus planos.
A Irlanda, de modo diverso da Inglaterra, não tinha conhecido o domínio romano
e, portanto, não havia naquela ilha nenhuma estrutura social sobre a qual
basear-se para iniciar a evangelização. Seus habitantes eram subdivididos em
clãs, bem unidos internamente e bem diferentes entre si. Tinham cultura e
organização tribal próprias, às quais eram muito apegados.
Patrício aproximou pessoalmente os chefes dos clãs, favorecido pelo fato
de que conhecia bem sua língua e costumes. Mostrou-lhes a sua primeira abadia e
propôs-lhes construir outras para servir sua gente. Fez-se ajudar por eles na
construção e os fez corresponsáveis também pela manutenção. Não lhe foi difícil
enchê-las de jovens irlandeses, educando-os com a ajuda de seus monges.
Os chefes, respeitados nos seus cargos, foram os primeiros a abraçar a
fé, arrastando consigo os próprios clãs. As abadias se multiplicavam e ao redor
surgiam as habitações dos chefes e do povo, embriões das futuras cidades. Os
monges, sob a sábia direção de Patrício, conseguiram englobar na fé cristã tudo
o que a religiosidade anterior continha de positivo, deixando de lado o que por
sua vez era inconciliável. Essa capacidade genial de Patrício de se identificar
com a alma irlandesa e de compreendê-la até o fundo explica por que a pregação
da nova fé não teve nenhum mártir naquela terra, mesmo que seus habitantes
fossem um povo de guerreiros e frequentemente em luta entre si. Assim, a cultura
monástica conseguiu encarnar-se na vida daquele povo generoso e altivo sem
provocar traumas com o seu passado.
Patrício escolhia entre os jovens do lugar seus monges e padres. Entre
eles não havia muita diferença, pois os monges sacerdotes exerciam com empenho
o ministério pastoral e os padres diocesanos viviam com prazer com os monges ao
redor do seu bispo que, por sua vez, ou era o abade ou o monge escolhido pelo
mesmo abade e, portanto, entregue à sua responsabilidade. Sobre todos estava a
figura paterna e carismática de Patrício. Ele percorria a ilha em todas as
direções para visitar os mosteiros e as dioceses sob sua responsabilidade e
para que fossem sempre o centro da vida evangélica à altura de seu carisma e
missão.
Nos últimos dias de sua vida, contemplando a obra que Deus tinha
realizado na ilha, exclamava comovido : ‘De onde me veio essa sabedoria que
antes eu não tinha? Eu não sabia nem mesmo contar os dias, nem era capaz de
amar a Deus. Como então me foi dado um dom assim tão grande e salutar como este
de conhecer a Deus e de amá-lo? Quem me deu forças para abandonar a pátria e os
meus pais e rejeitar as honras que me foram oferecidas e vir a pregar o
Evangelho para o povo da Irlanda, suportando os ultrajes dos incrédulos e a
infâmia do exílio, sem contar as numerosas perseguições e até mesmo as
correntes da prisão e o cárcere? Assim, eu sacrifiquei minha liberdade pela
salvação dos outros. Se não sou digno estou pronto também para oferecer, sem
hesitar e com muito prazer, minha vida pelo seu nome. Se o Senhor me der a
graça, desejo consagrar as minhas forças a essa causa’.
Patrício terminou sua vida em paz em Ulster em 461, em Down, cidade que
se chamaria Downpatrick (cidade de Patrício). Sua missão já se podia dizer
cumprida, pois ninguém até hoje conseguiu arrancar o cristianismo do coração
dos habitantes da Ilha Verde.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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