terça-feira, 11 de março de 2025

Santa Macrina “Toda a sua vida foi liturgia” [1]

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo da  Irmã Véronique Dupont, OSB

Abadia Notre-Dame de Venière (França) 

 

A vida de Santa Macrina

‘Gregório de Nissa escreveu a vida de Macrina (VSM) [2] talvez em 380, ou mais tarde em 383 no auge de sua carreira, no melhor momento de sua irradiação espiritual. Este texto, contemporâneo da Grande Catequese [3] é o lado espiritual das verdades da fé; é sua ilustração. A ocasião imediata que deu origem à redação deste texto, é conhecida : quando da viagem que fez à Arábia, para dar conta das decisões do primeiro concílio de Constantinopla (381), Gregório encontrou um monge, Olímpio, a quem falou, emocionado, da morte de sua irmã. Muito tocado, Olímpio pediu a Gregório que escrevesse sobre ela, para servir de exemplo para os monges e monjas.

Uma liturgia eucarística

Gregório apresenta a vida de Macrina como uma liturgia eucarística : Macrina prepara o pão, unge as mãos para as coisas sagradas, oferece outras, ela mesma faz memória das magnalia Dei, pede que venha a santificação (epiclese), e morre durante a eucaristia lucernária. Este tipo de morte, no final da oração e no fim da vida, é um lugar comum, habitual, nos relatos cristãos da época [4].

Macrina ‘punha suas mãos a serviço litúrgico’ (ver VSM 5, pág 159) que é que isso quer dizer? Talvez preparava o pão eucarístico, como muitas virgens do seu tempo, como o diz o Padre Daniélou [5]. Ela recebia esse pão nas suas mãos, que por isso eram ungidas (Cristo) e portanto consagradas para todas as ocupações do dia.

Quais eram as ocupações de Macrina durante o dia? ‘Meditar sobre as realidades divinas, rezar sem cessar, cantar hinos dia e noite, realizar as tarefas indispensáveis da vida. Ela não deixava para os escravos, ou as servas o cuidado das coisas materiais’ (VSM 11).

O Primado da Escritura

Macrina tinha sido treinada, desde sua juventude, a meditar as realidades divinas. Aprendeu a ler com as Escrituras. Foi instruída pelas Escrituras. Tudo o que na Escritura inspirada por Deus, era considerado apto para uma criança, era visto como programa de vida, sobretudo na Sabedoria de Salomão, e neste livro, o que contribuía para a vida moral. Também não ignorava nada do saltério, e recitava salmos em determinados momentos do dia; ao sair do leito, ao começar ou terminar o trabalho, no começo das refeições, ao sair da mesa, ao deitar, ou ao levantar-se para rezar, em toda a parte tinha com ela a salmodia, como companheira fiel de cada momento. Toda a educação de Macrina foi feita com a Sagrada Escritura. Por sua vez, o seu irmão mais novo, Basílio, será também inicialmente formado pela Escritura. Daí as abundantes citações e as referências aos textos sapienciais nos escritos de Basílio. Pedro, o último (que virá a ser bispo de Sebaste) também será formado assim. Macrina o educou e o fez aceder à mais alta cultura, exercitando-o nas ciências sagradas desde a infância (VSM 12). Para os Antigos a Escritura era uma porta de entrada para o conhecimento universal. Com a Escritura pode-se aprender a ler, a escrever, a compreender, a descobrir a história, as ciências naturais, a cosmologia, a matemática, a medicina, o simbolismo dos números e, sobretudo, a Sabedoria que é o Cristo. A educação de Macrina e de seus irmãos começou, portanto, quando eram pequenos, pelo estudo dos livros sapienciais e do saltério. Macrina dizia o saltério completo todos os dias : ‘Nem um só momento falhava’ [6] isto quer dizer que o sabia de cor (memorização pelo coração). Achamos o mesmo na Carta 107 de São Jerónimo sobre a pequena Paula : ‘Que sua língua ainda infantil seja impregnada com a doçura dos salmos… que aprenda em primeiro lugar o Saltério’ [7]. Também na Regra, São Bento dá como primeiro trabalho para os jovens estudarem o saltério [8]. Mas o uso escriturístico de Macrina não se resumia ao Antigo Testamento. Macrina vive a vida filosófica, ora o Filósofo é o Cristo. Esta vida de filósofos vivida em Annesia [9] é a vida evangélica vivida como absoluto. Leva em conta os apelos de São Paulo na carta aos Colossenses : ‘abandonai tudo isto : ira, exaltação, maldade, blasfémia, conversa indecente’ (Col 3, 8) e de São Pedro aos cristãos : ‘ Revesti-vos todos de humildade nas relações mútuas, de uns para com os outros, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes’ (1 P 5, 5). A Vida de Macrina faz referência a numerosas outras citações de textos semelhantes do Novo Testamento. A descrição feita por Gregório, é, no seu estilo próprio, característica dessa época, sinal da passagem do homem velho para a o homem novo (ver Col 3, 9-10). Alguns episódios da vida em Annesia são apresentados por Gregório como evangélicos, provavelmente para fazer a ligação entre a vida monástica e o seguimento de Cristo, a imitação do Cristo. Num dia de fome, Pedro, o irmão de Macrina, conseguiu tantas provisões que a multidão dos visitantes – atraída pela reputação das boas obras do mosteiro – ‘que o deserto parecia uma cidade’; [10] isto evoca as multidões que seguiam Jesus, por exemplo em São Marcos 1, 45, ou quando da multiplicação dos pães (Mar. 6, 31-34) ou quando das curas. Macrina fazia muitos milagres (CSM 36). Gregório quer assim mostrar que o ideal da filosofia, é a perfeição da vida cristã, e que seguir esse ideal não é o seguimento de uma abstração, mas de uma pessoa : Cristo. Rezar sem cessar, cantar os louvores de Deus é para Macrina e seus companheiros, o seu trabalho e o seu repouso depois do trabalho (VSM 11).

Trabalho / repouso; trabalho / descanso;

Vacare Deum, férias em Deus, repouso em Deus

O labor da salmodia e do canto dos hinos é fonte de energia, alimento. Neste sentido a vida em Annesia é uma vida ‘angélica’, pois os anjos louvam a Deus sem cessar (VSM 12 e 15). Primazia é sempre dada ao Ofício Divino. Macrina, doente, embora sabendo que é a última vez que conversa com seu irmão, interrompe esse diálogo espiritual (que no fundo é uma anamnese das Magnalia Dei) (VSM 20) assim que ouviu o começo do Lucernário. Imediatamente mandou seu irmão para a Igreja, enquanto ela se refugia, junto de Deus, na oração (VSM 22). No final de sua oração fez o sinal da cruz e ‘deixou de rezar e de viver’ [11].

Três celebrações

Mais do que sublinhar todos os traços de ‘liturgia’ na vida de Macrina, olhemos três celebrações litúrgicas : O acolhimento de um hóspede, a morte em Cristo, a liturgia do funeral.

O acolhimento de um hóspede

Quando Gregório, bispo, chega a Annesia para ver sua irmã doente, o grupo dos homens (monges instalados num lugar mais afastado na sua imensa propriedade familiar) vai ao seu encontro, enquanto que o grupo das virgens, alinhado em boa ordem, junto da igreja espera aí a chegada de Gregório. Gregório entra, reza, dá a bênção às virgens que se inclinam (VSM 16). Do mesmo modo, quando um hóspede chega ao mosteiro, ou a uma fraternidade basiliana, começa-se por rezar [12]. É um costume já muito bem atestado no quarto século, no Oriente. Encontramos isso também na Regra de São Bento (RB 53). Este costume se tornou universal no mundo monástico.

Morrer em Cristo

Quanto mais Macrina sente que sua morte biológica está próxima (no final do dia, o que é também um símbolo), mais pressa tem de ir para o seu Bem-Amado (VSM 23). Seu leito está virado para o Oriente. É no oriente que os primeiros cristãos colocavam o paraíso; é do Oriente que esperam a volta do Cristo, e também a vinda dos anjos que acolhem a alma dos justos e a conduzem ao paraíso de Deus. Pacômio vê no oriente a alma de um irmão levada pelos anjos. Macrina contempla a beleza do Esposo, no lado do Oriente, com os olhos fixos nele. Rezando, Macrina faz o sinal da cruz na sua boca, nos seus olhos e no seu coração : forma de proteção de todo o seu ser contra os demonios. Depois manifesta o desejo de dizer a oração da eucaristia do Lucernário, quer dizer a grande oração da tarde. Fá-lo com gestos e no seu coração, pois a febre não a deixa mais falar. Esta oração termina com um grande sinal da cruz, e com um profundo suspiro deixa de rezar e de viver (VSM 25). Este modo de nos apresentar a morte de Macrina quer dizer que toda a sua vida era oração, se tinha tornado uma liturgia. Isto não significa que tudo o que realizamos na vida monástica seja um ritual, nem por sombras, mas sim que nada está excluído da nossa vida cristã : ‘Tudo é vosso, vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus’ (1 Cor 3, 22-23).

A liturgia do funeral

Um fato contado por Gregório mostra que a liturgia impregna toda a vida monástica. Quando Macrina morreu, entoou-se cantos fúnebres. Ela tinha fixado um tempo para as lágrimas (VSM 27), prescrevendo que se chorasse no tempo da oração, mas dizia que essas lágrimas não deviam ser gemidos, nem lamentos. Quer dizer há um tempo para tudo, um tempo para chorar e um tempo para dar graças. Mas, se há um tempo para tudo, isso não significa que se pode fazer as coisas de qualquer forma. Pode-se expressar a dor na liturgia (cf o canto dos salmos por exemplo). Jesus também chorou. Chora-se, mas não com gemidos. Sob a direção de Lampadion, a mestra de coro, as virgens salmodiam ‘pois os salmos acalmam os lamentos’ diz Gregório de Nazianzo [13] Passa-se a noite a cantar hinos, como para os mártires. Isto não significa que a morte de Macrina seja igual à de um mártir, mas sim porque ela foi fiel até ao fim! É por isso que a celebração de um jubileu, de um funeral de uma monja é uma celebração maior do que a da profissão monástica : a profissão é grave, mas é uma promessa para o futuro; a morte de uma monja é a promessa realizada. A salmodia canta-se em dois coros. Um coro feminino : as monjas de Annesia e as outras mulheres (pois veio uma grande multidão, não sem às vezes perturbar a salmodia), e um coro masculino : os monges e os outros homens. Estes coros alternam, ou cantam juntos, mas formam um coro ‘perfeitamente homogéneo graças à melodia comum’ [14]. O cortejo fúnebre põe-se a caminho para a capela, situada a um km e meio, e dedicada aos 40 mártires de Sebaste. Aí já repousam os pais da defunta. O cortejo é liderado pelo bispo Araxios, a quem Gregório mostra o caminho. Sabe-se que esse cortejo, por causa da multidão, demorou o dia todo. Foi uma verdadeira procissão litúrgica (VSM 34) com diáconos, clérigos menores, turiferários e outros. Durante todo o trajeto salmodiou-se, como os três jovens na sarça ardente, a uma só voz (ver Dan. 3, 51). No momento da abertura do túmulo, uma das virgens começou a chorar em voz alta, seguida de outras e gerou-se uma confusão. Gregório, finalmente, pediu silêncio, o cantor convidou para a oração e o povo acalmou-se. Como as virgens sábias (Mat 25), o cortejo vai ao encontro do Esposo, o rosto de Macrina iluminou-se. Para o baixar do corpo (VSM 35) note-se um costume bíblico praticado nesse tempo : para não ver a nudez dos pais (mortos há muito tempo) – os gregos não aguentavam tal espetáculo – cobria-se o corpo deles (o que restava do esqueleto) com um lençol novo [15] e se colocou Macrina junto de sua mãe, conforme a vontade das duas. A vida de Macrina é uma ascensão mística para o Cristo. Encontramos os mesmos graus espirituais na ‘Vida de Moisés’ [16] ainda que apresentados de uma outra maneira.

Os milagres de Macrina

No epílogo (VSM 39) São Gregório faz alusão a numerosos milagres feitos por Macrina, milagres de diversos tipos : Curas de doentes, expulsão de demónios, alusão a um milagre feito em tempo de fome : mas não conta muitos detalhes, pois pensa que a santidade de sua irmã é bem conhecida sem que seja preciso acrescentar esses detalhes. Assim, durante o texto da vida de Macrina, só são contados dois milagres, um diz respeito a Macrina mesmo, o outro é sobre um menino, e este segundo milagre dá ocasião a Gregório para fazer um ensinamento filosófico (quer dizer monástico). Estes milagres não foram escolhidos ao acaso. Lembremos que os milagres contados em vidas de santos são para mostrar a semelhança entre o santo, ou a santa, e o Cristo. Os milagres são escolhidos com um critério rigoroso de referência escriturística; aqui a cura de um cego e a unção na fé.

O milagre acontecido em Macrina

Este milagre foi conhecido depois da morte de Macrina, quando Gregório e Vetiana, uma das virgens de Annesia, foram cobrir o corpo de Macrina. De fato, Vetiana contou então a Gregório, que sua irmã tinha tido outrora um grave tumor no seio e tinha recusado tratar-se, apesar da insistência sua mãe. Quando Macrina rezava com lágrimas, no santuário, fez lama com suas lágrimas e colocou a lama no seu seio. Sua mãe convidou-a a fazer o sinal da cruz sobre o seu mal, o que ela fez. O tumor desapareceu, ficou só uma pequena marca para ser ‘um memorial da intervenção divina, assunto e motivo incessante de ação de graças a Deus’ [17]. Este texto mostra a profundidade da fé de Macrina. A própria estrutura do texto lembra as curas evangélicas feitas por Jesus : ‘Vai, tua fé te salvou’. (Mat 9, 22)

O milagre da menina, filha de um militar

O relato deste milagre é maravilhoso (VSM 37-38), pois há um vai e vem contínuo entre a vida filosófica e a doença da menina filha de um militar. Este militar e sua esposa foram a Annesia para ver Macrina e visitar o mosteiro. Levaram a filha pequena que sofria de um mal num olho, consequência de uma doença infeciosa. O militar visitou o mosteiro dos homens, (dirigido por Pedro, o irmão de Macrina e de Gregório) e sua esposa o das mulheres, dirigido por Macrina. No momento da partida, em sinal de amizade, receberam o convite de partilhar ‘a mesa filosófica’. A menina estava com sua mãe. Macrina pegou-a no colo, viu o seu mal, e prometeu à mãe uma recompensa por terem vindo à mesa filosófica. Deu-lhe um colírio para curar as doenças dos olhos. Depois da refeição o casal foi embora, e ao longo do caminho perceberam que tinham esquecido o colírio; mas no mesmo instante viram que sua filha estava curada. A mãe percebeu que o verdadeiro colírio tinha sido a oração, remédio divino. O militar pegou a menina nos seus braços e lembrou-se de todos os milagres do evangelho : sua fé os salvou. Estes dois milagres são muito evangélicos. A base comum é a fé. São contados num estilo que imita voluntariamente os sinóticos (ver Luc 4, 40; 7, 21).

A vida de Macrina é uma corrida para o Cristo e com Ele

Lembra o De instituto Christiano atribuído a Gregório de Nissa [18]. Gregório compara sua irmã a um atleta de corrida, e isto diz tudo sobre o caráter de Macrina, que chega quase no fim, tendo ultrapassado seu adversário e anunciando já a vitória, vendo a coroa do vencedor, e fixando o olhar no prémio, que vem do chamado do alto. Macrina vive como um atleta de Cristo. A sua procura do Cristo é libertação progressiva, para o ver. (VSM 23) O Cristo é o seu Amado. Macrina sentia um amor puro e divino por Cristo, seu esposo invisível. Alimentava este amor no mais íntimo do seu ser. Seu coração estava animado pelo desejo de se apressar para o seu Bem Amado, para estar com ele o mais depressa possível, uma vez liberta do seu corpo : ‘Em verdade era para o seu Amado que se dirigia sua corrida, sem que nenhum prazer da vida a afastasse de sua atenção’ [19]. (Não é certo que esta frase seja de Gregório de Nissa)

Fascinada pelo Cristo, ela contempla nele a beleza do Esposo e tem os olhos sempre fixos nele. Morre, como viveu, ‘vestida como uma noiva’ ornada para o seu esposo [20]. Resplandecente de luz, mesmo quando vestida com roupa pobre, Macrina está revestida pela Luz, como Adão e Eva na origem, antes da aventura das túnicas de pele. Como o Cristo, Macrina vive para Deus (Rom. 6, 10) Macrina tornou-se Luz, como seu Criador. Sua vida foi uma ascensão para o Cristo, o final da corrida era um rosto : o do seu Bem Amado.

Felizes os puros de coração, porque verão a Deus!

Para concluir, digamos que a vida de Santa Macrina foi um progresso constante, uma celebração permanente. A busca do ideal filosófico é uma ascensão mística : Libertar-se das paixões, quer dizer dominá-las, é ser crucificado com Cristo, pregar sua carne por meio do temor de Cristo; é purificar sua alma para ser encontrada sem mancha diante de Deus (VSM 24) e ser acolhida por ele. Os valores postos em evidência pela vida filosófica são : a virgindade, a pobreza (a pobreza é a ama da filosofia [21] dirá São Basílio), pobreza que é renúncia a uma carreira, aos hábitos de luxo, e vontade deliberada para se tornar igual aos pobres, daí o sentido profundo do trabalho; todos estes valores não eram um fim em si. O fim é o Cristo. Assim, caminha-se para ele na vida ‘imaterial’ chamada também de vida angélica. Que é que isso quer dizer? Os anjos veem sem cessar a face de Deus; pela contemplação Macrina vive no sociedade dos anjos, ‘caminhando nas alturas com as forças celestes’ [22]. Desde que Cristo se sentou à direita do Pai, com sua humanidade ressuscitada, os homens tornaram-se cidadãos dos céus : subiram ao céu com o Cristo, nasceram para a vida nova. Isto é uma verdade ontológica, não moral. O batismo faz-nos habitantes do céu : ‘Deus nos ressuscitou e nos fez assentar nos céus em Cristo Jesus’ (Ef. 2, 6). Já estamos aí, somos concidadãos dos anjos, temos a cidadania no céu. Nossa pertença à cidade celeste liberta-nos ontologicamente do domínio da cidade terrestre, e nos coloca sob outra jurisdição, num corpo político. Mas estamos ainda na terra! Sim, é verdade, mas não estamos mais na terra, ‘somos estrangeiros e peregrinos nesta terra’ (Heb 11, 13). Pelo sacramento, mysterium, as realidades do céu vêm comunicar sensivelmente, entrar no tempo, e graças a isso não somos transportados para o céu, em êxtase, como Plotino, mas ontologicamente.

Concidadãos dos anjos quer dizer confronto com o demônio, o anjo caído, o anjo que exerce sua inveja sobre os que se tornaram concidadãos dos anjos, daí o combate espiritual, que é uma realidade que devemos olhar de frente. Enquanto houver monges e monjas eles lutarão contra os demônios, qualquer que seja a forma que esses demônios tomam, conforme as épocas. A vida monástica não é um simples retorno ao paraíso, é entrada na cidade dos anjos, no reino do Cristo, aonde tudo foi restaurado, e a ordem reestabelecida. Pouco a pouco todo o ser do monge, da monja, é deificado, como aconteceu com Macrina. Enquanto estamos ainda na terra, participamos da cruz do Cristo e ao mesmo tempo exultamos com os anjos. Vivemos nos dois mundos ao mesmo tempo. A missão do monaquismo na Igreja é manter aberta a porta da comunicação entre o céu e a terra, porta por onde os anjos entram e saem, porta por onde a Igreja assiste e participa na liturgia e na vida da cidade celeste.’

[1]  Este artigo apareceu, sob uma forma diferente, na revista Liturgie nº 124, em Março de 2004, pág. 23-35. Está reproduzido aqui com a licença amável da redação dessa revista e da comunidade de Venière. Esta conferência foi dada em Koubri, na festa de Todos os Santos, no dia 1º de Novembro de 2003; em memória da Madre Marie Hamel e de Ir. Josefina Balma. 

[2]  Gregório de Nissa, Vida de Santa Macrina, ‘Sources Chrétiennes’ 178, Cerf, Paris, 1971. 

[3]   Gregório de Nissa, Discurso Catequético, ’Sources Chrétiennes’ 453, Cerf, Paris, 2000. 

[4]   Ver Gregório de Nazianzo, quando da morte de seu pai, da sua mãe e da sua irmã Gorgonia. 

[5]   Jean Daniélou, ‘O ministério das mulheres na Igreja antiga’. La Maison-Dieu 61 (1960), pag. 88, www.patristique,org, pág 2. 

[6]   Gregório de Nissa, Vida de Santa Macrina, 3. 

[7]   Gregório de Nissa, Ibidem. 8, São Jerónimo, Carta 107.

[8]   Annesia é o npome da propriedade rural da família, próxima de Neocesareia, aonde Macrina fundou um convento em 341, www.patristique.org, pág 3

[9]  Grégoire de Nysse, Vie de sainte Macrine, 12, p. 185. 

[10]  Gregório de Nissa, Vida de Santa Macrina, 12. 

[11]  Gregório de Nissa, Vida de Santa Macrina, 25.

[12]  Basílio de Cesareia, Regras Monásticas, PR 312.

[13]  Gregório de Nazianzo, Discurso fúnegre por seu irmão Casário, 7, 15, Sources Chrétiennes  405.

[14]  Gregório de Nissa, Vida de Santa Macrina, 33.

[15]  Ver Gen. 9, 25; Lev. 18,7.

[16]  Gregório de Nissa, Vida de Moisés, Sources Chrétiennes 1.

[17]  Gregório de Nissa, Vida de Santa Macrina, 31.

[18]  Gregório de Nissa, Escritos espirituais.

[19]  Gregório de Nissa, Vida de Santa Macrina, 22.

[20]  Gregório de Nissa, Vida de Santa Macrina, 32.

[21]  Basílio de Cesareia, Cartas I, 4.

[22]  Gregório de Nissa, Vida de Santa Macrina, 11.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.aimintl.org/pt/communication/report/125

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