quarta-feira, 29 de outubro de 2014

A origem do Halloween, véspera do Dia de Todos os Santos

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


Uma festa que perdeu o seu original significado 
religioso e se paganizou

‘Na Espanha e em muitos países latino-americanos, a noite de Halloween se tornou uma data importante no calendário nacional, mas as pessoas não sabem muito sobre a sua origem. Halloween significa ‘All Hallow’s eve’, palavra que vem do Inglês Antigo e que significa ‘véspera de todos os santos’. A festividade tinha sua origem na tradição celta, e ao longo dos séculos e a expansão do cristianismo na Europa, a vigília do 1 de novembro adquiriu um significado religioso.

Entre os celtas, antigos habitantes da Europa Oriental, Ocidental e parte da Ásia Menor, habitavam os druidas, sacerdotes pagãos adoradores das árvores, especialmente do carvalho. Eles acreditavam na imortalidade da alma, da qual diziam que entrava em outro indivíduo ao abandonar o corpo; mas, no dia 31 de outubro voltava ao seu antigo lar para pedir comida aos seus moradores, que estavam obrigados a armazenar para ela.

O ano celta terminava nesta data que coincide com o outono, cuja característica principal é a queda das folhas. Para eles significava o fim da morte ou o início de uma nova vida. Este ensinamento se propagou através dos anos junto com a adoração ao seu deus, o ‘senhor da morte’ ou ‘Samagin’, ao qual neste mesmo dia invocavam para consulta-lo sobre o futuro, a saúde, a prosperidade, a morte...

Quando os povos celtas foram cristianizados, nem todos renunciaram aos costumes pagãos. Ou seja, a conversão não foi completa. A coincidência cronológica da festa pagã com a festa cristã de Todos os Santos e a dos mortos, no dia seguinte, fez com que se misturassem as celebrações. Em vez de recordar os bons exemplos dos santos e orar pelos antepassados, nestes dias se enchiam de medo por causa das antigas superstições sobre a morte e os defuntos.

Alguns imigrantes irlandeses introduziram a festa de Halloween nos EUA, onde forma uma parte importante do folclore popular. Neste país acrescentaram vários elementos pagãos, tirados dos diferentes grupos de imigrantes, até chegar a incluir as bruxas, fantasmas, duendes, vampiros, abóboras e monstros de todos os tipos.

Hoje em dia, o fundo espiritual se perdeu completamente e a festa se secularizou. Baseando-se na magia dos dólares e da necessidade de vender, Halloween transformou-se em uma noite de festa pagã, na qual imperam os sustos, o terror e os disfarces e ornamentos por acima do sentido original da festividade. A partir do Novo Continente, esta celebração mundana se propagou por todo o mundo, transformando a alegria cristã no medo à morte.

Então, mais uma vez, na véspera do Dia de Todos os Santos, em muitas cidades ao redor do mundo a noite estará cheia de monstros, múmias e fantasmas, de inquietantes espectros com vontade de farrear até o esqueleto cair.

Também de gangues de garotos, que com a cobertura da escuridão e de um traje mais ou menos original, baterão nas portas dos seus vizinhos para encher os seus bolsos de guloseimas e de alguma ou outra moeda.

Para quem é cristão, não se pode esquecer do que realmente se comemora na solenidade de Todos os Santos e, no dia seguinte, na dos Fiéis Defuntos. Por isso, a igreja convida a visitar os cemitérios, arrumar os túmulos com flores, recordar os familiares defuntos e rezar por eles. E nos lares é uma oportunidade para falar do dom da vida e do verdadeiro sentido da morte, e se gostam dos doces, apreciar os bolinhos e outros doces tradicionais.’


Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.zenit.org/pt/articles/a-origem-do-halloween-vespera-do-dia-de-todos-os-santos?utm_campaign=diarioportughtml&utm_medium=email&utm_source=dispatch


terça-feira, 28 de outubro de 2014

Uma abóbora, mesmo que de moda, será sempre uma abóbora

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)




Nesta reportagem da ZENIT, o cardeal Mauro Piacenza, 
Penitenciário-Mor do Tribunal da Penitenciaria Apostólica
explica o significado litúrgico e religioso da 
Festa de Todos os Santos e a Comemoração dos Finados.


ZENIT : Eminência, nos próximos dias, vamos celebrar a Festa de Todos os Santos e a Comemoração dos Finados. O Povo de Deus sente muito esses dias, que são também ocasião para refletir e rezar. Ainda é válida a prática das indulgências para os defuntos?

Cardeal Mauro Piacenza : Claro que sim! No dia 02 de novembro, visitando um cemitério e tendo cumprido as condições habituais (confissão, comunhão, recitar o Credo e rezar pelas intenções do Santo Padre) é possível obter a indulgência plenária, aplicável a um fiel defunto.


ZENIT : Só naquele dia é possível conseguir?

Cardeal Mauro Piacenza : Não. Naquele dia é possível fazê-lo de uma maneira particular e visitando um cemitério, mas em qualquer outro dia do ano é possível obter a indulgência plenária em conformidade com as várias obras de piedade contidas no Enchiridion Indulgentiarium (a coleção das modalidades em que é possível obter o cancelamento das penas devidas pelos pecados), e optar por aplicá-la a si mesmo, ou a um fiel defunto. A única ‘limitação’ a esta prática piedosa é que só pode ser adquirida uma vez por dia; ou seja, só é possível obter uma só indulgência plenária por dia, aplicável a si mesmo ou a um fiel defunto.


ZENIT : Às vezes, em alguns santinhos, há orações com o título: 100 dias de indulgência, 300 dias de indulgência. Como se deve interpretar isso?

Cardeal Mauro Piacenza : Até a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II era possível encontrar essas reivindicações. O correto aprofundamento teológico nos leva a crer que, estando a eternidade fora do tempo e não sendo um ‘tempo prolongado’, não seja propriamente oportuna a indicação específica da pena temporal e da relativa indulgência. Portanto, hoje se fala unicamente de dois tipos de indulgência: plenária, quando todas as penas devidas aos pecados foram canceladas, ou parciais, quando só em parte são perdoadas.


ZENIT : Mas não basta só a absolvição sacramental? Não basta ir à confissão?

Cardeal Mauro Piacenza : É claro que a primeira grande Reconciliação é o acontecimento da morte e ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo! Em Cristo, todas as promessas do Pai se tornaram um ‘sim’ (2 Cor 1,20). Ele é a fonte da misericórdia, o propósito da misericórdia e a própria misericórdia. O Papa Francisco nunca deixa de lembrar à Igreja como esta realidade da misericórdia seja crucial para o anúncio e para o discipulado cristão. Em retrospectiva, o aviso: ‘Não tenham medo’ de São João Paulo II está na mesma linha da misericórdia. Também porque, como poderia o homem não ter medo, se houvesse a possibilidade da misericórdia? E como a misericórdia poderia ser real experiência vivida, e não somente palavra proclamada, se não determinasse, na concreta existência de cada um, a efetiva possibilidade de vencer todo medo graças à certeza da verdade, da serenidade do bem e, ultimamente, da vitória de Cristo sobre todas as feiúras da história humana? Como todo ato humano, até os pecados têm conseqüências. O Sacramento da Reconciliação absolve os pecados, mas não elimina todas as suas consequências. Através das indulgências, a Igreja mãe alcança generosamente o tesouro da divina misericórdia, dando aos fiéis a possibilidade da remissão não só das culpas, mas também das penas anexas. Por exemplo, se um homem bate em outro homem, os dois podem se reconciliar, mas nada poderá apagar a dor e a marca da bofetada no rosto. As indulgências apagam também esta marca. Assim se entende bem como o tesouro do qual a Igreja se alimenta constitua a sua mais verdadeira e preciosa riqueza. Esse é o banco mais seguro e consolador que existe e os seus acionistas são realmente de sorte!


ZENIT : Eminência, você disse que as indulgências podem ser aplicadas a si mesmos, ou a um fiel defunto. Por que não a um outro fiel vivo, por quem se reza? Por exemplo, pelo próprio marido, esposa, filhos?

Cardeal Mauro Piacenza : Isso não é possível por causa do grande mistério da liberdade, que nos faz imagem e semelhança de Deus e que Deus mesmo respeita profundamente. Cada um, enquanto está vivo, ou seja, enquanto está no tempo, pode mudar as próprias escolhas existenciais, pode decidir pessoalmente converter-se e nisso ninguém pode substituir-se à liberdade do outro. Portanto, cada um pode lucrar as indulgências e aplica-las a si mesmo. Certamente é possível orar pela conversão dos irmãos, pela conversão dos pecadores, mas a indulgência, pela sua natureza, já é um exercício, e para cumprí-la são necessários verdadeiros atos de conversão, primeiro de todos a Reconciliação sacramental. No que diz respeito os defuntos, eles, com a morte saíram do tempo e o dom da liberdade acabou para eles. Por esta razão, é sempre importante que a nossa liberdade esteja orientada ao bem e não é nem um pouco prudente permanecer por muito tempo em estado de pecado mortal. Não podendo as almas dos defuntos fazer nada mais pela própria purificação, em força da comunhão dos santos, ou seja, da unidade profunda de todos os batizados em Cristo, nós, que ainda estamos a caminho, podemos fazer a extraordinária obra da misericórdia espiritual em sufrágio das almas, e isso em benefício delas, e ao mesmo, também em benefício nosso.


ZENIT : Esta é a razão pela qual a Solenidade de Todos os Santos e a Comemoração de todos os fiéis defuntos estão tão próximas, n0s dias 1 e 2 de novembro?

Cardeal Mauro Piacenza : Certamente, a Igreja, desde o início, orou pelos fieis defuntos pertencentes às primeiras comunidades cristãs. Que eles fossem mártires, ou fieis comuns mortos de morte natural, a comunidade entendeu rapidamente o sufrágio pelos defuntos como uma dimensão estrutural da própria vida, da própria oração e, especialmente, da celebração Eucarística. Como forma de significar a unidade profunda com Cristo e em Cristo, criadas com o Batismo, e a partilha da mesma Eucaristia, vivida na comunidade cristã, não podia ser rompida nem mesmo com a morte. Por outro lado, pensando bem, se a morte foi vencida por Cristo, quem renasceu em Cristo não pode mais ser separado de nada, nem sequer daquela morte que Cristo já venceu! A Solenidade de todos os Santos evidencia a verdade da comunhão dos santos, da união de todos os batizados. Como nos lembrou em várias ocasiões o Papa Francisco: ‘o tempo prevalece sobre o espaço’. Portanto, a união no tempo de todos os batizados, desde os primeiros cristãos, até aqueles que amanhã de manhã receberão o Batismo e até o fim dos tempos, é uma união que nada poderá jamais arranhar e que determina a caminhada da Igreja no tempo que é real antecipação, aqui na terra, do Reino dos Céus. Nós pertencemos ao único Corpo eclesial que, sem interrupção, desde Jesus Cristo, da Virgem Maria e dos Apóstolos, chegou a nós, e é por esta razão que a Igreja celeste é muito mais numerosa, muito mais interessante, muito mais douta e muito mais ‘influente’ do que a Igreja na Terra.


ZENIT : Na noite que precede a Solenidade dos Santos, há uma década mais ou menos, se difundiu também na Europa a moda do Halloween. Qual a causa desse fenômeno? Qual a sua opinião?

Cardeal Mauro Piacenza : Como você bem disse, trata-se de uma moda que, no entanto, tem sérias implicações não apenas no âmbito consumístico. Acredito que posso deduzir que a grande maioria dos jovens, que organizam festas a fantasia naquela ocasião, são vítimas inconscientes tanto da moda quanto daqueles que, a todo custo, devem vender produtos comerciais manipulando realidades espirituais. Vejo que o fenômeno é tão irracional que se torna a real cifra da sociedade contemporânea: quen não acredita na verdade termina por acreditar em alguma coisa, até mesmo nas abóboras! Estou ciente, no entanto, que em alguns casos estes tipos de manifestações tenham origens espíritas e até mesmo satânicas e, portanto, alimentá-las e não corrigí-las pode transformar-nos em inconscientes alimentadores daquela ‘fumaça de satanás’, que já intoxica muito o mundo. Todos devemos ter cuidado para não respirar fumaças tóxicas; as vezes isso acontece quase inadvertidamente. Lembremos que uma abóbora, ainda que abençoada, sempre será uma abóbora. Aquelas do dia das Bruxas nem sequer são abençoadas!’


Fonte :
  

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

São Simão e São Judas, Apóstolos

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


São Simão

Simão é, talvez, o mais desconhecido dos apóstolos. Aliás, na Bíblia mesmo, recebeu apelidos para ser diferenciado de Simão Pedro. Ele é chamado de Simão, ‘o cananeu’, pelos apóstolos Mateus e Marcos. Alguns estudiosos cristãos entendem que este ‘cananeu’ pode ser uma referência a Canaã, a terra de Israel.

Mas quando Lucas, no seu Evangelho, o chama de ‘o zelote’, parece querer indicar que Simão pertencera ao partido judeu radical que tinha o mesmo nome. Os radicais zelotes pregavam a luta armada contra os dominadores. Como se vê, Jesus queria, mesmo, um colegiado de doze apóstolos que representassem todas as correntes políticas e religiosas da época.

Sabe-se que Simão, como todos os outros apóstolos dos primeiros tempos do cristianismo, depois do Pentecostes percorreu caminhos pregando o Evangelho sem nada levar consigo. Operou muitos milagres, curou enfermos, limpou leprosos e expulsou espíritos maus.

Conta uma antiga tradição que Simão encontrou-se com o apostolo Judas Tadeu na Pérsia e, desde então, viajaram juntos. Percorreram as doze províncias do Império Persa, deixando o conhecimento histórico e religioso como foi encontrado num antigo livro da época chamado ‘Atos de Simão e Judas’, de autor desconhecido. Nele consta que, no dia 28 de outubro do ano 70, houve o assassinato dos dois apóstolos a mando dos sacerdotes pagãos, preocupados com a eloqüência das pregações que convertiam multidões inteiras.

Outras fontes falam da pregação de Simão também no Egito, Líbia e Mauritânia. Segundo Eusébio, idôneo e célebre historiador, Simão teria sido o sucessor de Tiago na cátedra de Jerusalém, nos anos da trágica destruição da cidade santa.

Conforme um antigo registro atribuído ao famoso historiador Egesipo, Simão teria sido martirizado no ano 107, durante o governo do imperador Trajano, com cento e vinte anos de idade.


São Judas Tadeu

Judas, apóstolo que celebramos hoje, para não ser confundido com Judas Iscariotes, ‘apóstolo da perdição’, o traidor de Jesus, foi chamado nos evangelhos de Judas Tadeu. O nome Judas vem de Judá e significa festejado. Tadeu quer dizer peito aberto, destemido, melhor ainda, magnânimo.

Era natural de Caná da Galiléia, na Palestina, filho de Alfeu, também chamado Cléofas, e de Maria Cléofas, ambos parentes de Jesus. O pai era irmão de São José; a mãe, prima-irmã de Maria Santíssima. Portanto Judas era primo-irmão de Jesus e irmão de Tiago, chamado o Menor, também discípulo de Jesus.

Os escritos cristãos dessa época revelam mesmo esse parentesco, uma vez que Judas Tadeu seria um dos noivos do episódio que relata as bodas de Caná, por isso Jesus, Maria e os apóstolos estariam lá.

Na Bíblia, ele é citado pouco, mas de maneira importante. No evangelho de Mateus, vemos que Judas Tadeu foi escolhido por Jesus. Enquanto nas escrituras de João ele é narrado mais claramente. Na ceia, Judas Tadeu perguntou a Jesus : ‘Mestre, por que razão deves manifestar-te a nós e não ao mundo?’ Jesus respondeu-lhe que a verdadeira manifestação de Deus está reservada para aqueles que o amam e guardam a sua palavra. Também faz parte do Novo Testamento a pequena Carta de São Judas, a qual traz os fundamentos para perseverar no amor de Jesus e adverte contra os falsos mestres.

Após ter recebido o dom do Espírito Santo, Judas Tadeu iniciou sua pregação na Galiléia. Realizou inúmeros milagres em sua caminhada pelo Evangelho. Depois, foi para a Samaria e, próximo do ano 50, tomou parte no primeiro Concílio, em Jerusalém. Em seguida, continuou a evangelizar na Mesopotâmia, Síria, Armênia e Pérsia, onde encontrou Simão, e passaram a viajar juntos.

Conta a tradição que percorreram juntos as doze províncias do Império Persa, nas quais converteram muitos pagãos. Ainda segundo essa fonte, os dois apóstolos foram torturados e mortos no mesmo dia, por pagãos perseguidores. Por isso a Igreja manteve a mesma data para as duas homenagens.

Ao certo, o que sabemos é que o apóstolo Judas Tadeu tornou-se um mártir da fé, isto é, morreu por amor a Jesus Cristo. A sua pregação e o seu testemunho eram tão intensos que os pagãos se convertiam. Os sacerdotes pagãos, furiosos, mandaram assassinar o apóstolo, a golpes de bastões, lanças e machados. Tudo teria acontecido no dia 28 de outubro de 70.

Os restos mortais, guardados primeiro no Oriente Médio e depois na França, agora são venerados em Roma, na Basílica de São Pedro. Considerado pelos cristãos o santo intercessor das causas impossíveis, foi a partir da devoção de santa Gertrudes que essa fama ganhou força no mundo católico. Ela, em sua biografia, relatou que Jesus lhe aconselhou invocar São Judas Tadeu até nos ‘casos mais desesperados’. Depois disso, aumentou o número de devotos do seu poder de resolver as causas que parecem sem solução. Diz a tradição que não há um devoto que tenha pedido sua ajuda e não tenha sido atendido.

A festa de São Judas Tadeu é celebrada no dia 28 de outubro, tanto na Igreja ocidental como na oriental. No Brasil, é um evento que altera toda a rotina do país, pois são multidões de católicos que querem agradecer e celebrar o querido santo padroeiro nas igrejas.


Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.santuariodesaojudas.org.br/index.php/2810-sao-simao-e-sao-judas-tadeu/


sábado, 25 de outubro de 2014

Não basta vencer

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


 *Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte
  
Não basta vencer as eleições do domingo, pois a verdadeira conquista é muito mais difícil de alcançar. Trata-se da vitória que é o bem do povo, particularmente dos mais pobres e sofredores, enjaulados em condições indignas de vida, privados de direitos fundamentais. Os analistas, com diferentes pontos de vista, indicam a complexidade do momento. Diante de todos está o desafio do crescimento econômico, de se atender demandas de infraestrutura e de libertação da máquina pública das garras ferozes dos que dela se apossam, nos diversos níveis, instâncias e lugares, pelo Brasil afora, incapacitando-a no atendimento de sua finalidade - o zelo e a garantia do bem comum.

Ao considerar esse horizonte de exigências e desafios, compreende-se ainda mais que a ida às urnas exige responsabilidade de cada cidadão eleitor. Uma constatação evidente, mas que merece sempre reflexões. Quando se observa a atual tendência do eleitorado na sua escolha, percebe-se o peso da interrogação no ar. Este momento eleitoral tem revelado a indecisão de muitos, a divisão equiparada das opiniões, ora para um lado, ora para outro. Talvez isso seja sinal de certo amadurecimento da democracia. Um gesto aparentemente simples, apertar teclas da urna eletrônica, revela um processo da mais alta complexidade.

A candidatura escolhida vai nortear rumos, ou desconsertá-los, no quadriênio subsequente. Discernir e fazer a escolha, algo que precede o gesto simples e rápido de teclar, é agora o grande desafio cidadão. Há uma avalanche de elementos a serem avaliados, um caminho a ser bem trilhado rumo à definição mais apropriada possível, que colabore com o desenvolvimento da sociedade brasileira. A velocidade das mudanças e o aumento das necessidades reais do povo não admitem senão inovações, busca de novas respostas e a garantia de avanços. Conquistas são possíveis, embora difíceis. Particularmente, o eleitor deve buscar quem é capaz de superar a famigerada desigualdade social que ainda rege violentamente a sociedade brasileira.

Buscar o caminho novo inclui a verificação de um check list com incontáveis tópicos. Cada cidadão tem o direito, e até o dever, de tomar conhecimento destes itens todos para viver seu discernimento e alcançar uma amadurecida escolha. Também é importante conhecê-los para exercer o direito de acompanhar a efetivação dos compromissos assumidos por quem se elegeu e, portanto, tornou-se servidor do povo. Dois aspectos, entre tantos, merecem alguma consideração neste momento decisivo. Um deles se refere à qualidade do processo de escolha. Eleitores não podem deixar-se influenciar apenas pelos resultados de pesquisas de intenção de voto, até porque elas têm revelado muitas fragilidades e limitações. Também é inadmissível aceitar que, a esta altura do terceiro milênio, ainda exista o antigo ‘voto de cabresto’, com os ‘currais eleitorais’, onde se define uma escolha pelos esquemas de dependência e se estimula a apatia em detrimento da participação popular.

Outro aspecto que agrava o cenário eleitoral é a carência de lideranças com perfis mais enriquecidos. Infelizmente, a poluição partidária, formada pelo excessivo número de legendas e, sobretudo, pela parcialidade e interesse cartorial, tem refletido na falta de pessoas qualificadas para o exercício do cargo público. Consequentemente, torna-se cada vez mais comum encontrar nas instituições públicas pessoas que não se comprometem com o bem da sociedade e com a superação do sofrimento dos mais pobres. O interesse cada vez mais hegemônico é a busca de ganhos para classes e grupos. No segundo plano, fica o gosto cidadão de representar o povo, servindo-o acima de tudo, trabalhando por suas necessidades.

A corrupção e os escândalos do uso inapropriado dos recursos do erário público emolduram a política brasileira. Essa grave crise na representatividade favorece mediocridades e, até mesmo, a escolha de quem não consegue inovar, ousar, de quem prefere a conservação que, por sua vez, alimenta o atual cenário. Diante de tantas necessidades de mudança, é certo que ao cidadão não basta apenas votar, e aos escolhidos nas urnas, não basta vencer as eleições. Há um íngreme caminho a ser percorrido.’


Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.news.va/pt/news/nao-basta-vencer
  

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Santo Antônio de Sant'Ana Galvão, Presbítero

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)



O brasileiro Antônio de Sant'Anna Galvão nasceu em 1739, em Guaratinguetá, São Paulo. Seu pai era Antônio Galvão de França, capitão-mor da província e terciário franciscano. Sua mãe era Isabel Leite de Barros, filha de fazendeiros de Pindamonhangaba. O casal teve onze filhos. Eram cristãos caridosos, exemplares e transmitiram esse legado ao filho.

Quando tinha treze anos, Antônio foi enviado para estudar com os jesuítas, ao lado do irmão José, que já estava no Seminário de Belém, na Bahia. Desse modo, na sua alma estava plantada a semente da vocação religiosa. Aos vinte e um anos, Antônio decidiu ingressar na Ordem franciscana, no Rio de Janeiro. Sua educação no seminário tinha sido tão esmerada que, após um ano, recebeu as ordens sacerdotais, em 1762. Uma deferência especial do papa, porque ele ainda não tinha completado a idade exigida.

Em 1768, foi nomeado pregador e confessor do Convento das Recolhidas de Santa Teresa, ouvindo e aconselhando a todos. Entre suas penitentes encontrou irmã Helena Maria do Sacramento, figura que exerceu papel muito importante em sua obra posterior.

Irmã Helena era uma mulher de muita oração e de virtudes notáveis. Ela relatava suas visões ao frei Galvão. Nelas, Jesus lhe pedia que fundasse um novo Recolhimento para jovens religiosas, o que era uma tarefa difícil devido à proibição imposta pelo marquês de Pombal em sua perseguição à Ordem dos jesuítas. Apesar disso, contrariando essa lei, frei Galvão, auxiliado pela irmã Helena, fundou, em fevereiro de 1774, o Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição da Divina Providência.

No ano seguinte, morreu irmã Helena. E os problemas com a lei de Pombal não tardaram a aparecer. O convento foi fechado, mas frei Galvão manteve-se firme na decisão, mesmo desafiando a autoridade do marquês. Finalmente, devido à pressão popular, o convento foi reaberto e o frei ficou livre para continuar sua obra. Os seguintes quatorze anos foram dedicados à construção e ampliação do convento e também de sua igreja, inaugurada em 1802. Quase um século depois, essa obra tornar-se-ia um ‘patrimônio cultural da humanidade’, por decisão da UNESCO.

Em 1811, a pedido do bispo de São Paulo, fundou o Recolhimento de Santa Clara, em Sorocaba. Lá, permaneceu onze meses para organizar a comunidade e dirigir os trabalhos da construção da Casa. Nesse meio tempo, ele recebeu diversas nomeações, até a de guardião do Convento de São Francisco, em São Paulo.

Com a saúde enfraquecida, recebeu autorização especial para residir no Recolhimento da Luz. Durante sua última enfermidade, frei Galvão foi morar num pequeno quarto, ajudado pelas religiosas que lhe prestavam algum alívio e conforto. Ele faleceu com fama de santidade em 23 de dezembro de 1822. Frei Galvão, a pedido das religiosas e do povo, foi sepultado na igreja do Recolhimento da Luz, que ele mesmo construíra.

Depois, o Recolhimento do frei Galvão tornou-se o conhecido Mosteiro da Luz, local de constantes peregrinações dos fiéis, que pedem e agradecem graças por sua intercessão. Frei Galvão foi beatificado pelo papa João Paulo II em 25 de outubro de 1998, e canonizado em 11 de maio de 2007 pelo papa Bento XVI, em São Paulo, Brasil.’


Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.paulinas.org.br/diafeliz/?system=santo&id=583


Redimensionamento da Abadia de Monte Cassino

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)



O Papa Francisco nomeou Abade Ordinário da Abadia de Monte Cassino o Padre Beneditino Donato Ogliari, até então Abade do Mosteiro de ‘Santa Maria della Scala’, em Noci, Província de Bari.

O Papa aplicou à Abadia territorial de Monte Cassino o Motu Proprio ‘Catholica Ecclesia’, com conseqüente redução do território da mesma, dispondo em particular que: à nova configuração territorial da circunscrição eclesiástica ‘Abadia territorial de Monte Cassino’, faça parte o território no qual está a Igreja Abadial e o Mosteiro, com as imediatas pertinências; à Diocese de Sora-Aquino-Pontecorvo passem as 53 paróquias com os fiéis, o clero secular e religioso, as comunidades religiosas, os seminaristas; a Diocese de Sora-Aquino-Pontecorvo mude o próprio nome para Diocese de Sora-Cassino-Aquino-Pontecorvo.

Padre Donato Ogliari nasceu em Erba, Província de Como, em 10 de dezembro de 1956. Entrou jovem no Instituto Missões Consolata num percurso formativo que o conduziu ao sacerdócio. Após o Liceu Clássico, freqüentou dois anos de Filosofia em Turim e três de Teologia em Londres, onde obteve o Bacharelado em Teologia e Diploma de ‘Master of Arts’ em Ciências Religiosas.

Fez a primeira profissão como membro dos Missionários do Instituto da Consolata em Turim, em 3 de setembro de 1978 e foi ordenado sacerdote em 3 de julho de 1982. Após a Ordenação sacerdotal realizou uma breve experiência no campo formativo, prosseguindo a seguir os estudos na ‘Katholieke Universiteit’ de Lovanio, Bélgica, onde obteve o Bacharelado em Filosofia, o Diploma e o Doutorado em Teologia Sacra.

Em 1988 pediu para entrar na Abadia de Praglia (Pádua) para iniciar a vida monástica, sendo após, enviado à Abadia Nossa Senhora 'della Scala', de Noci, Bari, onde entrou em 1989 e emitiu os votos solenes em 1992. Lá foi Diretor Editorial da Revista ‘La Scala’ de 1990 até hoje, mestre de Noviços de 1993 a 1999 e Prior Administrador de 2004 a 2006. Em 2006 foi eleito Abade pela comunidade pugliesa, recebendo a Bênção Abadial em 7 de outubro de 2006.

Sobre a reorganização da Abadia de Monte Cassino e da Diocese de Sora-Cassino-Aquino-Pontecorvo, o Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Padre Federico Lombardi deu a seguinte nota explicativa :

1. A Igreja sempre teve particular solicitude pela vida monástica e por isto o Concílio Vaticano II insistiu na necessidade de consolidar o papel de Abade como pai da comunidade religiosa, cujo ministério é dedicar a própria vida ao Mosteiro, sem estar preocupado pelas atividades próprias dos Ordinários de Circunscrições eclesiásticas, que devem desenvolver o seu ministério com plena disponibilidade para o bem dos fiéis confiados aos seus cuidados pastorais.

2. O Papa Paulo VI, no Motu Proprio ‘Catholica Ecclesia’, de 1976, havia recolhido indicações formuladas pelos Padres do Concílio Ecumênico Vaticano II, estabelecendo que as Abadias territoriais não seriam eretas no futuro e que as existentes ‘ou sejam idoneamente definidas quanto ao território ou sejam transformadas em outras circunscrições eclesiásticas’. Com esta disposição se desejava, por um lado, favorecer uma mais específica identidade e um quadro jurídico mais consoante à vida monástica, e por outro, assegurar aos fiéis que vivem nos territórios abadiais um cuidado pastoral com melhores respostas às dinâmicas e às exigências do mundo moderno.

3. Para promover tal perspectiva, realizando-a em harmonia com os Acordos concordatários com o Estado Italiano, e respeitando a grande herança histórica e cultural representada pelas Abadias territoriais, foi disposto que na Itália não se procedesse à supressão do instituto das Abadias territoriais, mas se limitasse a restringir ao mínimo indispensável a extensão do território, isto é, das áreas de interesse imediato para a comunidade monástica : o cenóbio próprio com as suas pertinências.

4. A Santa Sé, portanto, após prolongada e cuidadosa reflexão e apuradas consultas, considerou os tempos maduros para poder aplicar também à Abadia territorial de Monte Cassino o Motu Próprio ‘Catholica Ecclesia’, após tê-lo já aplicado nos anos passados à Abadia de Subiaco (2002), à Abadia de Montevergine (2005) e à Abadia de Cava di Tirreni (2013). Ela permanece uma circunscrição eclesiástica equiparada à Diocese, com um território consideravelmente redimensionado.

Após esta decisão, a Diocese de Sora-Cassino-Aquino-Pontecorvo passar de uma superfície de 1.426 km2 à 2016; de uma população de 155 mil habitantes para 235 mil; de 40 cidades à 60; de 91 paróquias à 144; de 83 sacerdotes diocesanos para 120; de 131 religiosas para 181.’


Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.news.va/pt/news/nota-do-padre-lombardi-sobre-o-redimensionamento-d


quarta-feira, 22 de outubro de 2014

A adoção corre o risco de desaparecer se não contar com um forte testemunho

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)



As estatísticas sobre as adoções na Itália no primeiro semestre de 2014 são alarmantes : forte queda de 30% no número de processos concluídos. São números que denunciam a situação de abandono do desejo da missão adotiva por parte das famílias.

Neste contexto, é quase natural a pergunta : por que a fertilização homóloga, a fertilização heteróloga e a barriga de aluguel parecem exercer mais fascínio do que a opção pela adoção de crianças que já existem e que precisam de pais?

O que parece estar em questão não é apenas um tipo de acolhimento, mas a própria maneira de se pensar sobre o sentido da vida.

A família que escolhe a missão adotiva passa da aceitação da esterilidade biológica ao maduro desejo de fecundidade espiritual. A família adotiva entendeu que a paternidade e a maternidade podem existir sem a concepção. É possível ser mãe ou pai sem ter procriado. Os pais adotivos se sentem chamados a cuidar de uma vida nascente abandonada a si mesma.

E parece ser exatamente este o aspecto que desencoraja muitos casais. A idade das crianças adotáveis ​​está ficando cada vez mais alta. Muitos têm medo de ser rejeitados ou de ter que suportar muitas rebeliões das crianças. A incorporação dos filhos adotivos à família requer dos pais uma santa paciência que é continuamente testada pelos desafios contínuos das crianças, que, desta forma, expõem os seus próprios medos e procuram constantes reafirmações de afeto.

O filho adotivo vive uma contradição : por um lado, ele quer mostrar a sua identidade com as atitudes típicas da fase adolescente; por outro, ele procura as proteções e reafirmações características da infância.

Mas todas essas situações estão presentes, talvez em menor grau, também nas crianças que vivem com a família biológica.

Então por que é descartada, com frequência cada vez maior, a escolha da adoção por parte das famílias que descobrem a sua esterilidade biológica?

Talvez a questão mais profunda diga respeito à visão da vida e à fé. As histórias bíblicas de duas pessoas adotadas, como Moisés e Ester, mostram que a adoção é um chamado de salvação não apenas pessoal, mas também para os próprios pais adotivos e para toda a nação a que se pertence.

Ester salvou não só o seu pai, Mardoqueu, mas todo o povo de Israel que estava disperso pelo vasto reino do rei Assuero. Antes de tudo, porém, não devemos nos esquecer de que Ester também foi salva, através da adoção, pelo pai adotivo Mardoqueu. Este é um luminoso exemplo da reciprocidade de salvações que existe na adoção.

Por estas razões, a esterilidade de um homem e de uma mulher encontra a resposta mais humana e mais natural na adoção, porque a alegria vem do serviço generoso e altruísta de cuidar dos mais vulneráveis, as crianças abandonadas.

Em conclusão, o remédio para fazer a adoção sobreviver é convidar ao testemunho as poucas famílias que foram chamadas a proclamar que é possível viver bem mesmo quando os filhos nasceram em outro continente; é possível compreender-se e amar-se mesmo quando não se viveu uma vida longa juntos; é possível chamar de mãe e de pai também aqueles que não deram à luz essas criaturas humanas a quem, porém, eles nunca abandonaram.

A missionariedade de uma família adotiva não está apenas em aceitar um ao outro e em procurar a harmonia e a partilha em família, mas também em dialogar com todos os que rejeitam a adoção a priori.

O diálogo deve servir principalmente para destacar os vários aspectos de alegria e de esperança que brilham numa família adotiva. O testemunho é eficaz quando não esconde as dificuldades, mas, ao mesmo tempo, exalta as muitas vantagens e os muitos aspectos positivos que tornam a adoção um projeto de acolhimento, amor e salvação.

A adoção é realmente convincente quando torna visível aquele renascimento interior testemunhado pelos rostos de pais e filhos, curados espiritualmente graças ao enriquecimento mútuo proporcionado pelas suas feridas.

Este é o milagre da adoção : a dor da esterilidade dos pais curada pela chegada de um filho, e a dor do abandono curada pela proximidade, pela compaixão e pela esperança dos pais adotivos.


Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.zenit.org/pt/articles/a-adocao-corre-o-risco-de-desaparecer-se-nao-contar-com-um-forte-testemunho


terça-feira, 21 de outubro de 2014

Mais 3 mil cristãos em fuga do Iraque

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

  
São já 3 mil os refugiados cristãos iraquianos que fugiram da ofensiva dos jihadistas de Mosul e da planície de Nínive, e que encontraram refúgio na Jordânia; nos próximos dias é anunciada a chegada de outros milhares. Foi o que confirmou à agência Fides, o Arcebispo Maroun Laham, Vigário patriarcal para a Jordânia do Patriarcado Latino de Jerusalém.

Grande parte dos refugiados cristãos - na maioria católicos – está distribuída em 10 paróquias latinas, greco-católicos, sírio-católicas e armênias. Para 2 mil deles a assistência é fornecida diretamente pela Caritas da Jordânia, enquanto outros são ajudados por uma rede de associações humanitárias e de voluntariado.

Além de pedir ajuda para as necessidades básicas de sobrevivência, as famílias de refugiados procuram também obter a inclusão de seus filhos nas escolas, enquanto os estudantes universitários pedem poder acompanhar os cursos e fazer exames nas universidades da Jordânia.

Dois traços - refere à agência Fides o Arcebispo Laham – acomunam a grande maioria dos refugiados cristãos : ninguém quer mais volta para o Iraque e todos buscam obter um visto para a Austrália ou Estados Unidos. Neste sentido, as escolhas das embaixadas e consulados ocidentais correm o risco, por sua vez, de contribuem fortemente para o desaparecimento da presença cristã no Oriente Médio.

O patriarca caldeu – sublinha Dom Laham - reconheceu que cada cristão deve decidir de acordo com sua consciência sobre o que fazer e como olhar para o seu futuro e de sua família. Mas, se as portas da acolhida se abrem para os cristãos nos países avançados do Ocidente, de uma forma mais privilegiada do que para o resto da população árabe, acaba-se fomentando a partida daqueles que poderiam permanecer. Assim todos os dicursos sobre a necessidade de proteger as comunidades cristãs enraizadas há séculos no Oriente Médio, são palavras ao vento’.


Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.news.va/pt/news/mais-3-mil-cristaos-em-fuga-do-iraque


domingo, 19 de outubro de 2014

Paulo VI : O homem de uma grande fé

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

  
Neste domingo foi elevado às honras dos altares o Servo de Deus, Giovanni Battista Enrico Antonio Maria Montini, Papa Paulo VI. Um homem tão amado e ao mesmo tempo não tão reconhecido e valorizado. Sim porque o destino da Igreja, do corpo místico de Cristo, foi guiado por esse Santo homem durante 15 anos. Período em que se realizou e se implementou o Concílio Vaticano II. De fato, ele sucedeu João XXIII, hoje São João XXIII que inaugurou os trabalhos do Concílio. Paulo VI os concluiu.

A sua beatificação se realiza precisamente no encerramento da III Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, dedicada aos desafios que a família enfrenta nos dias de hoje. Pensando na beatificação de Paulo VI, não podemos deixar de recordar o Concílio e aquele momento vivido pela Igreja. Montini guiou a Igreja em época de transição entre o durante e o pós-Vaticano II. Naquele período a Igreja viveu uma profunda transformação com a revisão da liturgia eucarística, com as mudanças no que diz respeito ao sacerdócio, com a abertura a temas da modernidade em um mundo que registrava constantes mudanças de valores.

Sim, os temas quentes da época diziam respeito a índices crescentes de divórcio, de uniões de fato, à liberdade sexual, à legalização do aborto, às técnicas anticoncepcionais. Temas esses que também hoje os padres sinodais enfrentaram nos últimos dias durante a Assembleia sinodal.

Montini escolheu o nome Paulo, para indicar que tinha uma renovada missão universal de propagar a mensagem de Cristo. Após ter concluído os trabalhos do Concílio, Paulo VI assumiu a interpretação e implementação de seus mandatos, frequentemente andando sobre uma linha entre as expectativas conflitantes de vários grupos da própria Igreja. A magnitude e a profundidade das reformas, que afetaram todas as áreas da vida da Igreja durante o seu pontificado, são hoje bem conhecidas.

Homem culto, de fina inteligência, foi um Papa sensível às exigências do seu tempo e se esforçou para interpretar os sinais dos tempos. Escreveu sete encíclicas, 12 exortações apostólicas e inúmeras cartas e constituições apostólicas. A ele se devem três dos documentos que ainda hoje são referência para a doutrina e ação da Igreja : a ‘Populorum Progressio’, sobre a justiça social no mundo; a ‘Evangeli Nuntiandi’, sobre as condições para a evangelização; e a ‘Humanae Vitae’, sobre a dignidade da vida humana, muitas vezes reduzida a uma mera proibição de métodos contraceptivos.

Quando olhamos para este grande homem da Igreja, nos é difícil sintetizar o legado que ele deixou com seus escritos, discursos, e ações. O seu ‘testamento espiritual’ foi lido por mais de uma vez por João Paulo II nos ‘exercícios espirituais’que fazia, e deles tirou ideias, propósitos e pontos de reflexão para a sua vida e pontificado.

Paulo VI foi também um devoto mariano; visitou santuários marianos e três de suas encíclicas são marianas. Montini procurou o diálogo com o mundo, com outros cristãos, religiosos e não, sem excluir ninguém. Viu-se como um humilde servo de uma humanidade sofredora e pediu mudanças significativas dos ricos nos países desenvolvidos, quer no continente americano quer na Europa, em favor dos pobres do então chamado Terceiro Mundo.

Ele não parou, não foi um homem que se acomodou, sempre quis mais, sempre quis ser o peregrino da mensagem de Cristo. Paulo VI foi o primeiro Papa a visitar os cinco continentes. Em 1970 sobreviveu a uma tentativa de assassinato nas Filipinas.

O Papa Francisco promulgou, no dia 6 de maio deste ano, o decreto que reconhece o milagre atribuído à sua intercessão. O milagre está relacionado à cura de uma criança, ocorrida em 2001 nos Estados Unidos. A mãe do bebê, durante a gravidez, descobriu um grave problema cerebral. Os médicos lhe aconselharam o aborto, fato rejeitado pela mãe que optou em continuar a gravidez e pediu a intercessão de Paulo VI. A criança nasceu sem problemas e os médicos consideraram seu nascimento ‘um feito verdadeiramente extraordinário e sobrenatural’.

Montini, Paulo VI, cumpriu a tarefa de levar à Igreja e ao Mundo as novidades que o Concílio Vaticano II tinha introduzido. Conduziu os tempos difíceis do pós-Concílio, em que a sua serenidade foi capaz de levar a bom porto, a nave de Cristo, em uma das épocas mais complicadas da história da Igreja Católica. Um homem de fé que confirmou os irmãos e defendeu o princípio do ‘fidei depositum’, uma vez que lhe foi confiado. Faleceu em 6 de agosto de 1978, em Castel Gandolfo, na Festa da Transfiguração.


Fonte :