Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Jackson Erpen
‘A Igreja de Santo Anselmo no Aventino, em Roma, sediou em setembro
o Congressus OSB 2024, que reuniu por duas semanas
aproximadamente 215 abades, priores e superiores da Confederação Beneditina
mundial para seu congresso quadrienal. A eles se uniram 22 representantes da Communio
Internationalis Benedictinarum, que representam os mosteiros e institutos
beneditinos. Na ocasião foi eleito o novo Abade Primaz, o alemão dom
Jeremias Schröder, que sucede o estadunidense dom Gregory Polan.
Entre os participantes, dom Cristiano de Oliveira Souza OSB, prior
do Mosteiro de Fonte Avellana, aqui na Itália. Em visita à Rádio
Vaticano, o religioso natural de Guaratinguetá, interior de São Paulo, falou de
diversos temas, desde a descoberta e o amadurecimento de sua vocação (‘decidi
por Aquele que decidiu por mim’), passando pela Regra de São Bento e a
espiritualidade beneditina, o Congresso dos Abades, o encontro com o Papa
Francisco na Audiência Geral, que pediu que ‘os monges fossem promotores de
paz, segundo a própria vocação monástica’ e na conclusão da entrevista ,um
pedido de oração : ‘Reze também pela vida monástica, reze por aqueles que
escolheram esse caminho, nós precisamos muito do apoio e do apoio espiritual de
tantos leigos e leigas, para que possamos ser fiéis à nossa promessa, ao nosso
chamado’.
Uma vocação
cultivada, elaborada, trabalhada
O Cristiano é filho de uma história de amor, história de amor de um
homem e de uma mulher, meu pai e minha mãe, o Gui e a Graça como são conhecidos
lá em Guaratinguetá e que cultivaram dentro de mim desde o início a fé cristã,
bem autêntica, e já quando era menino, já manifestei o desejo de ser sacerdote.
Mas o meu pai foi muito sábio, muito iluminado. Até o bispo que me ordenou, dom
Darci Nicioli – ele veio do Brasil para me ordenar aqui na Itália - ele
recordou na homilia isso, essas palavras do meu pai foram importantes para mim.
Eu tinha mais ou menos 8 anos quando ele disse : ‘Tudo bem, você quer ser
padre, mas agora não! Primeiro você vai crescer, você vai ser homem, vai
trabalhar, e só depois você vai decidir’. E ele tinha razão! Porque somos muito
católicos, aquela região do Vale do Paraíba é muito católica e na nossa casa
havia uma frequência muito grande dos padres. E eu fui crescendo, e passei pelas etapas normais da
adolescência e da juventude, com suas crises e conquistas, com seus amores e dissabores, também no mundo do trabalho, dos estudos e das
paixões, do amor bem vivido. Mas essa chama permaneceu. Ela foi cultivada, ela
foi trabalhada, mesmo namorando ela foi cultivada, trabalhada, elaborada. E
assim, com 29 anos, eu deixei tudo e decidi por Aquele que decidiu por mim. Escolhi
aquele que já tinha me escolhido, e não foi fácil! Eu escutava agora, vindo
para cá, um podcast de um padre muito conhecido no Brasil, um padre do Opus Dei,
ele dizia que o Céu é para aqueles que sabem sofrer, o Céu é habitado por
pessoas que sabem sofrer, o sofrimento de toda espécie, e o sofrimento de um
amor, que precisa ser renunciado por um Amor maior, é importante, e eu sou
muito feliz e hoje estou aqui na Itália, eu fiz os meus votos perpétuos no
Mosteiro de Camaldoli em 2017, durante a Solenidade de São Bento, fiz meu no
viciado em 2010, no Eremitério de Camaldoli, fiz meus estudos de Teologia e me
especializei em Teologia Sacramentária e Teologia Espiritual Monástica e depois
eu estudei Psicologia aqui em Roma, e em 2020 eu fui para o Mosteiro de Fonte
Avellana. Não esperava que depois de 2 anos ali, depois de três anos, eu seria
eleito Prior do Mosteiro de Fonte Avellana. Depois de mil anos de história, o
primeiro estrangeiro, o primeiro não italiano a ser o pior daquele mosteiro,
que é importante não só para Itália, não só para Igreja, mas para civilização
ocidental, para a Europa.
Uma leitura
sobre a presença de brasileiros à frente de Congregações e Ordens religiosas
Olha eu vou responder com uma forma muito simples de uma de uma decisão que tivemos que tomar durante o Congresso dos Abades e dali surgiu uma pergunta feita por um abade colombiano. Houve uma discussão sobre o Jubileu de 2029, que será o Jubileu dos 1.500 anos da Abadia de Monte Cassino. E foi feita a proposta de transferir o próximo Congresso dos Abades, que será em 2028. E surgiu uma grande discussão. Sabe, monge estuda muito e por isso complica tudo, né? Aí começaram muitas discussões. Vamos fazer assim, assim, até que se chegou a uma conclusão de antecipar o início do Jubileu. Fazemos sempre no mês de setembro, e o início do Jubileu de Monte Cassino será em setembro de 2028, iniciando com Congresso dos Abades. Mas antes de terminar essa discussão, levantou-se com muita simplicidade dom Guillermo e fez a seguinte colocação : tudo bem, discutimos os pormenores, discutimos os monumentos, discutimos a história, mas temos que pensar no conteúdo desse Jubileu, porque Monte Cassino tem sete monges, metade deles são velhos. Em 2029, ainda teremos monges lá? Então, nós estamos vivendo uma situação de queda demográfica muito grande na Itália e na Europa. Papa Francisco insiste em dizer que a periferia está iluminando o centro - baseado na experiência da Assembleia de Aparecida, e é verdade - mas só isso não é suficiente. Nós brasileiros, nós latino-americanos, estamos assumindo lugares, não porque está faltando europeus, mas é porque a Igreja está se abrindo à sua universalidade. Com a eleição de Papa Francisco, se percebeu que a Igreja ela não é italiana, e nem europeia. Então as duas coisas estão juntas. Temos o problema demográfico, uma queda do número de jovens, de pessoas com uma idade para a resposta a determinados serviços e ministérios na Igreja europeia. Mas por outro lado, isso está fazendo ver, enxergar, que a igreja é muito mais ampla, ela saiu do centro, que é a Europa, e sobretudo o Vaticano, né? Então isso tá sendo bastante positivo.
Na Audiência
Geral da quarta-feira, 18 de setembro o Papa saiu do texto escrito e falando de
forma espontânea, observou que a Igreja é muito eurocêntrica, ao constatar toda
a vivacidadade e dinamismo que encontrou na Igreja na Oceania e Ásia durante
sua recente Viagem Apostólica. E já falou em diversas outras ocasiões que se vê
melhor a realidade a partir da periferia do que do centro
Exatamente! A Igreja aqui ainda está muito estruturada, e também no Brasil - está se correndo o risco de retornar a esta eurocentricidade - nem sei se existe essa palavra -, ao passo que, por exemplo, a Igreja brasileira deu passos importantes na inculturação da liturgia, na inculturação da fé, na inculturação até mesmo da doutrina, porém, nós temos agora o risco de um rosto dos novos presbíteros e de novas comunidades que, dizendo-se retornar à fidelidade da fé, à pureza da fé, não estão fazendo outra coisa que retornar à centralidade da Europa! O Evangelho é muito mais amplo, o Evangelho é experiência. Então o Papa Francisco tem sido genial nesse ponto de mostrar que a periferia está iluminando o centro e o centro está espantado. Sabe, me fez recordar um evento - eu não sei se você já estava presente aqui naquele período - foi na segunda vez que o Papa celebrou Nossa Senhora de Guadalupe. Não a primeira Missa, a segunda Missa. Naqueles dias, quatro cardeais escreveram uma carta muito mal criada ao Papa, e em resposta - achei tão bonito aquilo - em resposta aquela Missa de Guadalupe, 12 de dezembro, teve quase 300 concelebrantes latino-americanos. E nós, latino-americanos, estavamos todos ali cantando felizes, alegres, com a alegria latino-americana. Terminada a Missa, os padres não foram para a Sacristia tirar os paramentos, os padres continuaram na igreja se abraçando, abraçando os outros, conversando, e aquela alegria contagiou a todos nós. Diante de mim, havia um grupo de europeus e perguntava : ‘Mas vocês são assim?’. ‘Sim, nós somos assim’. É por isso que a igreja é viva na América Latina. Então eles começaram a perceber que esse modo de ser latino-americano, ele é iluminador, e a gente tá ali tentando ser brasileiro, tentando ser latino-americano, dentro de uma história de mil anos, que a gente também não pode agredir, tentando com a ajuda da graça de Deus iluminar, não só a comunidade monástica, mas aquela comunidade mais ampliada.
A presença na
Audiência Geral por ocasião do Congresso dos Abades da Congregação beneditina e
o encontro com o Papa Francisco
Então, a praxi é sempre uma audiência privada, com o grupo dos abades, mas como o Papa estava no meio de duas viagens e chegou dessa viagem cansativa da Ásia e Oceania, acharam por bem, pela sua saúde, de não ter essa audiência privada. Porém, nós tivemos aquele lugar privilegiado e a primeira coisa que ele fez, quando passou por nós, ele olhou e disse : ‘Nunca estive no meio de tantos abades. Ai que medo!’. Depois ele fez uma brincadeira com o novo abade, dom Jeremias, na saudação olhou assim, deu uma risadinha e disse : ‘E é jovem, hein!’. E depois ele fez uma foto conosco, estávamos todos ali, e nos disse dom Jeremias, quando foram saudá-lo, ele, o abade de Monte Cassino e o abade emérito, abade primaz emérito, dom Gregory Polan, que ele insistiu muito em sermos homens de paz e promotores da paz, já que é o lema da ordem de São Bento, é a Pax. E estava muito preocupado com a cultura de guerra porque, a guerra está em todo lugar. Até ontem eu falava no jantar com os meus confrades monges, que comentavam somente sobre a Rússia e Ucrânia. Eu disse : ‘Vocês não fazem ideia do que tá acontecendo na América Latina, não fazem ideia do que acontece na África, vocês são por demais europeus’. Veja, nós brasileiros podemos dizer : o Rio de Janeiro e a periferia de São Paulo, o número de mortes por tiros não é diferente da Faixa de Gaza, se fizermos uma estatística, uma contagem, né? Então a coisa é muito grave. Por isso o Santo Padre solicitou que rezássemos muito pela paz e que ele estava muito preocupado, que os monges fossem promotores de paz, segundo a própria vocação monástica.
Ao final da
Audiência, em sua saudação aos beneditinos, o Papa Francisco disse : ‘Encorajo
todos a se empenharem com zelo caritativo e missionário para tornar o espírito
beneditino sempre mais atual no mundo’. Na mesma linha do lema Pax e
desta exortação do Santo Padre, como tornar esse espírito beneditino atual no
mundo de hoje?
Sabe, se fizemos uma leitura da vida de São Bento, escrita por São
Gregório Magno, podemos ver duas coisas muito interessantes. O primeiro
elemento do espírito beneditino é a unificação do homem. Bento nos deixou uma
Regra com mais de 70 capítulos, que não é uma Regra religiosa. Ela se tornou a
Regra dos Mosteiros do Ocidente por causa de Carlos Magno. Mas no fundo, no
fundo, é uma indicação que aponta para um tipo de homem. É verdadeiramente uma
escola antropológica. Quem é este homem? É o homem que está à procura de si
mesmo, o homem unificado. Até na história de São Bento, e que está aqui muito
próximo de nós, se nós andarmos aqui uns dois, três quilômetros, temos a
pequenina Basílica de San Benedetto in Piscinula, lá onde ele morou. Ele sai
dali, porque Roma se tornou muito rumorosa, promíscua - ele era jovem – e sai
dali e vai em direção ao silêncio, porque a promiscuidade, o rumor, o barulho,
a distração, tudo isso divide o homem, tudo isso divide o ser humano - eu falo
homem no sentido de ser humano. E é muito interessante que
ele vai em direção e faz uma pequena parada na cidade de Enfield e leva
consigo a sua empregada e um dia ela quebra uma vasilha que custava muito cara.
Essa vasilha é quebrada no meio, em duas partes, e ele quando volta para casa
encontra ela chorando. Essa parte feminina está ferida. E Bento, que coisa ele
faz? Ele se debruça sobre aquela vasilha, no gesto de oração, e essa vasilha é unificada
novamente. Então esse é o primeiro, o primeiro elemento do espírito
beneditino, a unificação do homem, sermos homens unificados.
Um dos grandes problemas que temos hoje é de relacionamentos entre casais,
relacionamentos entre pai e filho, relacionamentos de diversos tipos, é porque
o homem estava por demais fragmentado, o homem não suporta mais viver dividido
dentro de si. As guerras que estão acontecendo fora, elas acontecem primeiro
dentro do homem. Então o primeiro ponto do espírito beneditino que precisa ser
atualizado é o caminho de unificação, buscar juntar esses pedaços,
reconciliar-se consigo mesmo. Esse é o caminho.
E o segundo é a hospitalidade. Bento é um
homem da hospitalidade. É comum os Mosteiros da nossa Ordem ter sempre uma
hospedaria. Receber o outro, porque aquele que que está no caminho de
unificação, ele propõe para o outro também essa mesma estrada. Carl Gustav
Jung, diz que o homem, quando se permite ser curado, cura também o outro. Então
a hospedaria de um mosteiro é a oportunidade de que o outro possa ser recebido
na mesma estrada, de cura, de unificação. Então essa hospitalidade também pode
ser pensada e atualizada numa forma de olhar o outro. Esse mundo hoje tão
egoísta, egocêntrico, narcisista, não é? Parece que estamos numa cultura onde o
narcisismo, não só ele é cultuado, mas ele é o centro de tudo, e se você não
olha para si mesmo, não cultua a si mesmo, você não é ninguém na sociedade. São
Bento, fala da hospitalidade, ele diz na Regra que todos os hóspedes devem ser
recebidos como Cristo. É interessante que na nossa Regra São Bento não fala dos
Sacramentos. Para ele, o sacramento é o hóspede, é o Cristo que chega, que deve
ser recebido, devem ser lavados os pés. Sacramento é o monge velhinho que
precisa ser cuidado, precisa curar as feridas, dar atenção. Sacramento é cuidar
das ferramentas do mosteiro, da vassoura para que o recinto seja limpo, porque
o outro passa pelo corredor. Então veja que para Bento o outro, isso é, a
hospitalidade, é o sacramento. Então eu diria que esses dois elementos são
importantes para ser atualizado o espírito beneditino hoje, e é urgente isso.
O Jubileu, a
Ordem Beneditina, a Regra de 529, que foi feita para a Abadia de Monte Cassino.
Qual a perspectiva futura para a espiritualidade de uma Ordem tão antiga?
Veja bem, a Ordem de São Bento tem uma característica muito
interessante. Nós somos 19 Congregações, isto é, 19 Ordens. Cada uma delas é
independente, tem o seu Superior Geral, o Superior Maior, como diz o Direito
Canônico, que é o Abade Presidente ou Prior Geral ou Abade Geral, cada um tem
lá o seu título, e desses 19, temos como cabeça o Abade Primaz, que não tem
poder de governo, mas só de representação, que nós elegemos um novo, dom
Jeremias Schröder. Então, a perspectiva principal que nós temos, é cultivar a
paz e atualizar a Regra dentro da característica e do carisma de cada
Congregação. Porque nós não somos uniformes, isso é o que faz o diferencial da
Ordem de São Bento. Já começamos pelo uso do hábito. Então se você estivesse
ali no Congresso, você ia ver uma um mosaico de várias cores. Por exemplo, eu
que pertenço à Congregação de Camaldole (Ordem dos Camaldulenses, ndr) uso
branco com o cinto por fora. Tinha os Olivetanos que usam branco, mas o cinto
por dentro; tinha a Congregação inglesa, que usa um capuz que parecia - eles
brincam - orelha de elefante, é um capuz enorme; a Congregação austríaca, que
não usa capuz. Então tem vários, e começa por aí a diferença. Também tem os
mosteiros autônomos, que usam o rito tridentino. A Congregação de Solesmes, que
é uma das maiores, boa parte conserva o rito anterior ao Concílio, é a forma
extraordinária. O importante para nós é conservar essa unidade, em torno da
Regra de nosso pai São Bento, cujo Jubileu vamos celebrar. Essa é a grande
perspectiva, cultivar esta fraternidade, esta unidade, e ser para o mundo essa
luz de paz. Essa é a perspectiva, no caminho de conversão, porque nós monges,
não fazemos os votos religiosos em si, fazemos o voto de estabilidade, ser estável no mosteiro, mas sobretudo ser estável consigo mesmo, no coração de
Deus - se o homem não tem essa estabilidade não pode ser monge -. O segundo
voto é o voto de obediência ao Abade que é o pai e o terceiro voto que é o mais
importante, o da conversão dos costumes. O monge entra na comunidade monástica,
entra porque essa comunidade teve misericórdia dele e o acolheu, para seguir
essa estrada de conversão dos costumes. E todos nós, segundo o carisma próprio
de cada Congregação, dessas 19 Congregações, segundo os costumes próprios de
cada mosteiro, segundo a interpretação que se dá à localidade - porque cada
mosteiro vai ter a sua a sua interpretação local -, vivemos essa conversão dos
costumes, e damos testemunhos no mundo, promovendo a paz, e atualizando este
espírito de São Bento, que é a unificação do homem, e a hospitalidade, saber
olhar o outro, ter essa capacidade de olhar o outro.
O Congresso
dos Abades da Confederação Beneditina realizado em setembro de 2024
A Confederação Beneditina nasce já há muitos anos, há mais de 100 anos,
com o Papa Leão XIII, porque precisava representar a Ordem de São Bento perante
a Santa Sé. Agora, como ela é articulada, ela tem como cabeça o Abade Primaz,
que é eleito entre nós. Nós éramos 226 votantes. Todos são candidatos. E uma vez eleito, se aceito, deixa o seu próprio mosteiro para
se dedicar durante aquele período ao cuidado da Confederação e ele passa a residir aqui em Roma na Abadia Primacial de Santo
Anselmo. O Abade Primaz faz a ligação da Ordem de São Bento com as suas - é uma
Ordem de 19 Ordens, uma Ordem de 19 Congregações - faz esta ligação com a
Igreja e com o Papa, e faz a ligação do Papa e da igreja com os mosteiros.
Muitas vezes ele recebe a incumbência de fazer visitas, seja da parte da Santa
Sé - quando existe uma situação conflituosa, uma situação delicada em um
mosteiro, a Santa Sé recorre primeiramente a ele -, ou muitas vezes ele vai a
convite para visitar determinados mosteiros, e isso é contínuo. Eu mesmo já o
convidei, ele vai durante o período Pascal a Fonte Avellana e ele vai encontrar
monges e monjas da região das Marcas e da Úmbria, faremos o encontro, para nos
confirmar no caminho de São Bento, caminho da fé. Ele tem a tarefa de supervisionar todas as entidades que estão ligadas à Ordem de
São Bento. Então nós temos entidades de diálogo ecumênico, a área da educação,
escolas de mosteiros. Tudo isso forma um ente, e que está sob a sua
jurisdição de supervisão. Embora tenham presidentes próprios, mas ele é aquele
que está ‘à frente e sobre’, então ele tem que articular, tem que estar sabendo
de tudo, é um homem de governo em nível geral. Ele mora em uma Abadia, nessa Abadia reside um colégio, de monges
que vem do mundo todo para estudar em Roma, tem um Ateneu com Mestrado e
Doutorado, embora pertença à Ordem de São Bento, mas tem um reitor que cuida.
Geralmente na Abadia de Santo Anselmo, são às vezes mais de 100 monges
estudantes só em Roma né? Nesses dias, nós
discutimos tudo que envolve a nossa a nossa Ordem de São Bento, discutimos a
parte educativa, discutimos a parte econômica, a solidariedade com os mosteiros
mais pobres, escutamos também as dores e feridas. Por exemplo a mim, me tocou
muito escutar alguns mosteiros, alguns abades falando das realidades em alguns
lugares de conflitos da África, terríveis, abades da Terra Santa contando
coisas inimagináveis. Depois também a presença das mulheres, que elas formam
uma sociedade a parte, mas participam conosco, e de como criar, e assim também
discutimos outras questões mais jurídicas, porque recentemente o Papa Francisco
fez um Rescrito que permite que monges não sacerdotes possam ser abades ou
priores ou até mesmo Abade-presidente. Só que o Rescrito é só uma permissão. Aí
tem uma série de situações canônicas que precisam ser resolvidas. Então tudo
isso é colocado ali para nós conversarmos, temos um canonista, e depois temos
que votar, autorizando o Abade a vir a Santa Sé, nos dicastérios responsáveis
por isso, para tentar resolver essas questões. Tudo é em forma sinodal,
colegial. Eu penso que uma das riquezas da Ordem de São Bento é a sinodalidade.
Um
mosteiro beneditino é sempre um laboratório de sinodalidade. São Bento coloca
na Regra que toda decisão deve partir de uma escuta, inclusive escutar
os mais novos, aqueles que chegam, porque o Espírito Santo pode falar por meio
dele também. É lógico que nós temos o Capítulo, com os professos solenes, mas devem ser ouvidos os mais novos, não podem ser desprezados e o
Congresso dos Abades também aproveita para escutar essas situações, essas
feridas, mas também tomar essas decisões. E nesse Capítulo a parte principal
foi a eleição do novo Abade e a partir disso, esses outros por menores
jurídicos, questões internas, que precisa ter, aproveitar que estamos todos
ali, e também escutar as experiências de outras comunidades que ajudam muito a
gente.
Da Abadia
Primacial de Santo Anselmo parte a Procissão na Quarta-feira de Cinzas, início
da Quaresma, que se se dirige até a Basílica Santa Sabina
A Quaresma aqui na cidade de Roma, na Diocese de Roma, ela começa
justamente ali em Santo Anselmo. O penitenciero-mor impõe a Cinza sobre o Papa
na Basílica de Santa Anselmo e depois segue um pequeno trajeto, mas muito
simbólico, com monges e com os padres dominicanos, iniciando esse período de
preparação para a Páscoa. São Bento, diz que que a vida do monge deve ser uma
eterna Quaresma. Não porque deve ser uma dimensão negativa de fazer penitência,
mas uma contínua Quaresma quer dizer um contínuo caminho verso a Páscoa, em
direção à Páscoa. Então só para rebater aqueles dois pontos do espírito
beneditino, da unificação e da hospitalidade, isso não é outra coisa, senão
pascalização da vida. O monge é um homem que busca a unificação e a unificação
só é possível quando a minha vida ela é pascalizada em todas as suas dimensões,
em todas as suas áreas, sem nenhuma cisão sem nenhuma separação de corpo e de
alma, porque tudo foi redimido. Então o monge é aquele que vai absorver na
Páscoa em tudo, na sua vida.
Um pedido :
rezar pela vida monástica
Olha, eu só peço aos ouvintes que rezem também pelos monges, né? Porque
as pessoas têm aquela ideia do monge é aquele que fica trancado no mosteiro e
reza pelos outros, né? É uma coisa coletiva, mas eu acho que nós precisamos vivermos em comunhão dos Santos, então reze também pela vida monástica, reze por
aqueles que escolheram esse caminho, nós precisamos muito do apoio e do apoio
espiritual de tantos leigos e leigas, para que possamos ser fiéis à nossa
promessa, ao nosso chamado. É isso que eu gostaria de pedir.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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