segunda-feira, 22 de abril de 2019

Paixão de Cristo em Imagens: a história da Via Sacra


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 As representações da Via Crucis são presentes em todas as Igrejas do mundo.
*Artigo de Josette Saint-Martin
Tradução : Ramón Lara


A origem da Via Sacra funde-se com a peregrinação dos primeiros cristãos a Jerusalém. O mais antigo testemunho conhecido é o de Éteria (1), um nobre da Galícia, Espanha, que, no século IV, visitou os lugares santos e participou de liturgias locais. Quatro períodos marcaram a evolução dessa devoção.



O século XV marca o início da iconografia da 'Via Sacra'

A partir do século XV, um ponto de viragem surgiu com o desenvolvimento da devoção às ‘quedas da paixão’ ou, na Alemanha e nos Países Baixos, ‘quedas sob a cruz’. Além disso, na Alemanha e em Roma, as ‘quedas de Cristo’ são veneradas, às vezes, seguindo um caminho marcado de colunas erguidas e levando a uma Igreja.

Muitos Calvários florescem na Europa, caminhos devocionais que constituem a forma primitiva da Via Sacra. Se há uma queda, há uma parada e ao mesmo tempo aparece a devoção às Estações de Cristo cujo número varia de seis a dezoito em certos casos. A diversidade também prevalece também no caminho proposto, que pode começar com a despedida de Jesus de sua mãe, no Jardim das Oliveiras ou, em outros casos, com a aparição de Jesus diante de Pilatos. A iconografia da Via Sacra começa a tomar forma neste momento. Adam Kraft erigiu entre 1477 e 1508, em Nuremberg, a pedido de um burguês em retorno de Jerusalém, sete estações terminando com uma dedicada à Nossa Senhora da Piedade. Por outro lado, em sua peregrinação espiritual, a carmelita flamenga Jan Pascha(2) menciona catorze estações.

No século XVI, o comerciante de tecidos Romanet Boffin, que morava em parte do que era o Império Romano, descobriu a Via Sacra de sete estações de Freiburg e decidiu erguer um similar em sua cidade. No século XVII, na França, por outro lado, encontramos um dos lugares com mais devoção às estações da Via Sacra, Mont-Valérien, com suas capelas marcando 11 estações.


Enquanto as Estações da Cruz ainda existem em uma estrutura de doze paradas, uma nova proposta com catorze começou a ganhar terreno no século XVIII. O trabalho do cientista holandês Andrichomius(3), baseado na Terra Santa, contribuiu grandemente para a harmonização do número delas. Com o apoio de Clemente XII, que em 1731 fixou o número de catorze, esta fórmula das Estações da Cruz foi difundida nas igrejas paroquiais e os conventos franciscanos a adotaram. Um dos seus grandes promotores foi São Leonardo de Port Maurice, falecido em 1751, que estabeleceu uma estação em cada lugar onde pregava em missão, sendo a mais famosa as Estações da Cruz do Coliseu, abençoada em 1750.

Uma prática que se espalha na França no século XIX

No século XIX, a prática se espalhou sob a Restauração, quando os missionários investem no campo da pastoral em uma população muito descristianizada após a Revolução Francesa. É neste momento que o caminho que começa com o julgamento e termina com a sepultura de Cristo, é introduzido na França, através de padres, imigrantes da Itália na época da Revolução, e que depois voltaram para a França.


As representações figurativas se cruzam na história e são o resultante, por um lado, de peregrinações à Terra Santa e, por outro lado, de imitações popular destas peregrinações, mas também da harmonização e equilíbrio realizado por estudiosos. Os Mistérios rezados no coro da igreja como o Mysterium resurrectionnis de Jesus Cristo, também contribuíram para familiarizar as pessoas e artistas nessas imagens que catequizavam visualmente os espectadores da Idade Média sobre a paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo.

Assim, a evolução das representações de cenas da Paixão de Cristo seguiu a sensibilidade cristã e a Cruz permanece hoje como uma apresentação estruturada em torno de dois polos : A meditação sobre a Paixão e os passos de Jesus acompanhado por um meio visual diretamente acessível que joga com a sensibilidade e a fé, a memória e a consciência, do povo fiel ao amor de Cristo.’


(1) - Hervé Savon, « Égérie, Journal de voyage (Itinéraire) », Introduction, texte critique, traduction, notes, index et cartes par Maraval (Pierre) in Revue belge de philologie et d'histoire, tome 65, fasc. 1, 1987.
(2) - Jan Pascha, Pérégrination spirituelle, Louvain, Vincent et Abel, 1563, p.630.
(3) - Adrichem (van) Christiaan ou Andrichomius, Theatrum Terrae Sanctae et biblicarum historiarum cum tabulis geographicis aere expressis, Cologne, In Officina Birckmannica, 1613.


Fonte :

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