sábado, 1 de fevereiro de 2020

Apresentação do Senhor no Templo

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

‘Na narração que nos deixou a peregrina Etéria sobre a estada dela em Jerusalém (séc. IV), há uma referência também a respeito da festa do dia 2 de fevereiro. Ela não diz o nome, mas nos informa que no quadragésimo dia após a manifestação do Senhor sobre a terra se celebra uma grande solenidade. Fazem uma grande procissão até ao Anástasis (que os latinos chamam de Santo Sepulcro) e tudo acontece numa grande alegria, como na Páscoa. Acrescenta ainda que, em seguida, o bispo faz a leitura e o comentário do Evangelho de Lucas (2:21-39) que ainda hoje é lido nas Igrejas do Oriente e do Ocidente no dia 2 de fevereiro.

Por essa descrição podemos entender quão antiga e solene (significativa a alusão de Etéria à Páscoa) seja a festa que o Missal Romano atual intitula de ‘Apresentação do Senhor’ ao passo que o Oriente bizantino chama de Hypapántê, que significa ‘Encontro’ Com efeito, na adoração dos Reis Magos tudo tinha acontecido na intimidade da Sagrada Família, ao passo que em 2 de fevereiro se festeja o primeiro encontro público, no Templo de Jerusalém, do Verbo de Deus com o seu povo, bem representado pelo justo Simeão e pela profetisa Ana. Encontramos o nome Hypapántê também em antigos calendários romanos e é rico de interpretações, porque há também um encontro entre o Antigo e o Novo Testamento.

Desde a sua origem, a festa é cristológica, mas, no decorrer dos séculos, assumiu um colorido mariano : na Igreja romana a festa era chamada também de ‘Purificação da Virgem Maria’...

O ícone da festa do Encontro nos apresenta todas as personagens de quem fala a liturgia; a reevocação plástica da cena tem sempre um andamento processional. Simeão está sobre um estrado que evidencia a sua dignidade, mas, quase na mesma linha, vemos José com as duas pombinhas e Maria. Do lado oposto vemos Ana. Às vezes o pequeno Jesus está nos braços de Maria Santíssima num gesto de entregá-lo ao velho Simeão, mas não é incomum o caso em que é o mesmo Simeão que segura o Menino Jesus nos braços e inclina-se para ele numa atitude de profunda adoração, tendo sido iluminado pelo Espírito sobre a misteriosa identidade daquele menino. A tenda, no fundo, indica que a cena se desenvolve num interior, no Templo.

A ‘procissão’ que se fazia em Jerusalém por ocasião dessa festa e da qual a peregrina Etéria, no séc. IV, nos deixou o testemunho, até hoje se conserva no Ocidente onde, um pouco mais tarde, foi acrescentada a bênção das velas. Alguns estudiosos (entre os quais Baumstark) acham que ela se originou de uma procissão lustral praticada na antiga Roma (a ‘amburbale’), embora se trate apenas de uma conjectura, não é de todo infundada. No Oriente bizantino não se faz a procissão nem se abençoam as velas, mas a riqueza de textos próprios (mais de sessenta), tão cheios de referências bíblicas e de poesia orante, permite aos fiéis penetrar o significado profundo e perene da festa do Encontro. Também para nós deve ser um novo encontro com ‘Aquele que, após ter dado a Moisés o livro da Lei, se submete à Lei, tendo-se feito semelhante a nós no seu amor para com os homens’ (das Vésperas). Um encontro novo com a Mãe de Jesus e nossa, para a qual os hinógrafos têm expressões belíssimas :

Ó Sião, acolhe Maria, a porta do céu :
ela é semelhante ao trono dos Querubins
e sustenta o Rei da glória.
A Virgem é uma nuvem de luz que traz o Filho feito carne,
nascido antes da estrela da manhã...

Simeão abençoando a Virgem Maria, Mãe de Deus,
viu profeticamente nela os sinais da paixão.

Na alegria, como no sofrimento, Maria permanece a primeira colaboradora na obra da redenção.


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