Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Solène Tadié
‘O encolhimento da Igreja na
França parece ter relativamente poupado a vida monástica. Melhor ainda, o país
parece estar vendo um retorno gradual de monges-construtores, a ponto de
reviver memórias nostálgicas dos dias do rei são Luís IX (1214-1270).
A abadia beneditina de Sainte-Marie de la Garde, comunidade filha de
Sainte-Madeleine du Barroux na diocese de Agen, no sudoeste da França, embarcou
num vasto e audacioso projeto de ampliação.
A iniciativa dos monges beneditinos é um esforço de reconstrução
civilizacional, seguindo um modelo arquitetônico clássico de inspiração
românica e cluniacense, destinado a resistir ao teste do tempo.
A primeira fase do chamado Projeto Grande Esperança, lançado em maio de
2023, inclui a construção de um claustro, campanário e alojamentos para os
monges. Depois virá a construção de uma igreja e uma cripta abaciais, um
complexo hoteleiro, uma sala de conferências e uma enfermaria. O projeto
implica em um grande desafio financeiro.
Cresce o
número de fiéis e vocações
Ao contrário de muitas comunidades no resto da Europa, os monges de Le
Barroux e sua comunidade afiliada de Sainte-Marie de la Garde parecem resistir
à tempestade da descristianização do continente.
Em 2001, o número crescente de monges na abadia de Le Barroux (na região
de Var, no sudeste da França) levou parte da comunidade a se mudar para a
diocese de Agen para acomodar novas vocações e o número crescente de fiéis.
Fundada em 1970 por dom Gérard Calvet, a abadia de Saint-Madeleine du
Barroux celebra a missa tradicional em latim anterior à reforma do Concílio
Vaticano II. Os serviços litúrgicos, cantados inteiramente em canto gregoriano,
foram recentemente postos à disposição do público por meio do aplicativo Neumz.
‘Éramos cerca de 65 em Le Barroux na época, e assim como quando as
abelhas em uma colmeia são muito numerosas, e a rainha voa para fundar uma nova
colmeia, oito irmãos foram enviados para estabelecer uma nova fundação em outro
lugar’, disse o irmão Ambroise, prior da comunidade de Saint-Marie de la Garde,
ao jornal National Catholic Register, da EWTN.
Para ele, a mudança foi providencial, já que o bispo de Agen na época,
dom Jean-Charles Descubes, estava ansioso para ter uma comunidade contemplativa
na diocese e fez tudo o ao seu alcance para facilitar a vinda dos monges. Sem
nenhuma abadia ou priorado antigo disponível na região, os irmãos tiveram que
adquirir uma propriedade, restaurar as instalações que já existiam, e
transformar um velho redil de ovelhas em capela.
O priorado se tornou uma abadia em 2021, com a eleição do primeiro
abade, dom Marc Guillot.
A estrutura, que até agora pode acomodar entre 20 e 25 monges, em breve
ficará pequena, pois a comunidade já conta com 19 membros, com idade média de
47 anos, e uma ou duas vocações por ano.
‘Mas nossa primeira prioridade é acolher os fiéis na missa, pois a
capela comportar um pouco menos de cem pessoas, o que é insuficiente aos
domingos e dias festivos, especialmente nos meses de verão, quando somos
obrigados a instalar uma tela do lado de fora para que todos possam acompanhar’,
disse o irmão Ambroise. ‘Sabíamos desde o início que um dia teríamos que
construir nossa própria abadia, mas não víamos isso como um obstáculo’.
As obras, que começaram em maio de 2023, atualmente lidam com as três
alas principais do grande claustro, o refeitório, o campanário, a biblioteca, a
sala capitular e as celas. Uma quarta ala será construída na segunda fase,
prevista para começar em 2027, que incluirá a igreja da abadia e a cripta.
Depois, na década de 2030, virão o hotel, a cozinha, as salas de visita, a
portaria e, por fim, a enfermaria.
O projeto inteiro, que depende totalmente de patrocínio privado — a lei
secular francesa de 1905 proíbe o financiamento público de projetos religiosos
— está atualmente estimado em cerca de € 157,9 milhões (cerca de R$ 25 milhões).
A comunidade agora estima que faltam pouco menos de €5,8 milhões (cerca de R$
37 milhões) para os quase €9,6 milhões (cerca de R$ 61,2) milhões necessários
para concluir a primeira fase.
Embora várias plataformas de arrecadação de fundos já tenham se
mobilizado para apoiar a iniciativa, os monges contam com a experiência e a
rede internacional de seu diretor de patrocínio, o general Stéphane Abrial,
ex-chefe do Estado-Maior da Força Aérea Francesa e ex-comandante de um dos dois
comandos estratégicos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
‘É certamente um projeto ambicioso, mas que continua razoável, porque
sabemos que os mosteiros serão chamados a desempenhar um papel cada vez maior
nos tempos futuros, e cabe a nós mostrar uma ousadia profundamente cristã para
reacender a esperança nos corações’, disse o irmão Ambroise. ‘Não temos
pretensões, mas imensa convicção’.
Reconstruindo
uma Civilização
Para o prior, o aspecto fundamental desse projeto de construção é o
desejo de sua comunidade de lembrar ao mundo a primazia de Deus sobre todas as
dimensões efêmeras da vida humana, ancorando-a numa herança atemporal.
E para garantir que essa herança seja passada para as gerações futuras,
como testemunho silencioso da grandeza e beleza de Deus, todo o complexo será
construído no espírito milenar da arquitetura monástica europeia, em pedra de
cantaria com fundações de granito, numa abordagem sustentável e ecologicamente
correta.
Ao mesmo tempo, a comunidade considera desenvolver uma série de
atividades e iniciativas sociais, particularmente na área de treinamento, para
apoiar populações locais que, longe dos grandes centros urbanos, sofrem com
condições econômicas precárias e lutam para dar um futuro sustentável às suas famílias.
Essa é a receita perfeita para transformar o local em um ‘oásis
espiritual’, segundo uma expressão de Bento XVI. Famílias já se aglomeram para
comprar casas na área ao redor, confiantes de que o alcance da abadia será
sentido em todo o bairro.
É também uma oportunidade para eles de alcançar os que estão longe da
fé, tocados por essa iniciativa que dá testemunho da longa tradição francesa de
monges construtores, que culminou com Cluny, a abadia mais poderosa da
cristandade medieval, e de uma grande confiança no futuro.
Sobre a possibilidade do colapso moral do Ocidente dar origem a um
retorno à era de ouro monástica iniciada por São Bento e que contrabalançava a
decadência do Império Romano, o irmão Ambroise diz que os cristãos já deveriam
agir como se esse fosse o caso.
‘Num momento em que tudo está desmoronando, em que tudo está sendo
questionado, em que estamos cedendo ao pessimismo ao nos contentarmos com uma
liturgia ruim sob o pretexto de não nos pormos em destaque, uma abadia saindo
do chão envia a forte mensagem de que tudo ainda é possível’, concluiu o prior.
‘Neste sentido, nosso projeto faz parte de uma abordagem profundamente
civilizacional’.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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