O que o coelho tem a ver com a Páscoa?!

Artigo de Dom João Batista, monge da Ordem de São Bento no Mosteiro de São Bento de São Paulo 

Nas semanas que antecedem a Páscoa lojas, escritórios, hospitais e diversos outros ambientes se apresentam com símbolos referentes a este período tão especial do ano. Dos elementos sempre presentes nas decorações estão ovos de chocolate e coelhos de pelúcia ou de qualquer outro material.

A Páscoa é a principal comemoração cristã que tem sua origem no judaísmo. O Povo de Deus desde a antiguidade a celebra para lembrar a libertação do Egito segundo o relato bíblico do Êxodo. No caso cristão comemora-se a ressurreição de Jesus Cristo três dias depois de sua morte no alto da cruz. É uma celebração que segue o calendário lunar, por isso não tem uma data fixa. Celebra-se no primeiro domingo depois da primeira lua cheia após o equinócio da primavera (no hemisfério norte).

O Ocidente ao ser pouco a pouco cristianizado foi propagando esta comemoração. A Igreja soube se aproximar das diversas culturas. Assim, alguns elementos regionais foram também incorporados à tradição, e muitas histórias foram sendo ressignificadas. É assim que entra em cena o coelho e o ovo.

Ouvi muitas vezes de alguns católicos com repulsa contra a figura do coelho dizendo ser ele contra o real significado da Páscoa, afirmando assim ter ele roubado o lugar de Jesus, algo semelhante à figura do Papai Noel no Natal. Falta-lhes, no entanto, conhecimento quanto à figura do coelho da Páscoa.

O coelho indica a fecundidade. Seguindo esta representação sua presença pode ser percebida na arte religiosa, nas cenas da Anunciação do Arcanjo Gabriel de que Maria seria a Mãe do Salvador. Algumas vezes o coelho pode participar da cena na visitação de Maria à sua prima Isabel, indicando a gravidez de ambas, como na representação do altar-mor da Catedral de Friburgo, Suíça.

Ao animal são associados outros significados, como sua vida curta e rápida, lembrada por seu tamanho e velocidade. É também um dos símbolos da ressurreição, devido à renovação de seus pelos. Presente na arte cristã desde os primórdios podendo ser encontrado nas catacumbas antigas, algumas vezes o coelho está comendo de um cacho de uvas. As uvas fazem referência ao alimento dos cristãos, a Eucaristia. O coelho é assim o cristão que tem uma vida curta, mas que se alimenta de Cristo.

Os detalhes na arte são muito importantes e podem indicar o sentido de toda uma obra e apontar para o futuro daquilo que se está representando. Assim, em algumas representações do presépio, o coelho também está presente, lembrando a vida curta de Jesus e sua ressurreição futura.

Com relação ao ovo, é também um dos símbolos da ressurreição de Cristo, que quebra por si só a casca e sai para vida. Em países do Leste Europeu são muito comuns a troca de ovos de galinha decorados à mão (Pêssancas, na Ucrânia/Margučiai, na Lituânia) para celebrar a Páscoa. Associado ao coelho, embora este não nasça do ovo nem o coloque, quer lembrar a fecundidade e a vida guardada e protegida. Os ovos de chocolates revestidos com belas embalagens coloridas querem representar que a alegria da ressurreição é doce.

Portanto, nem o coelho, nem o ovo de Páscoa devem ser combatidos como símbolos contrários ao cristianismo, muito pelo contrário, são sinais da espiritualidade cristã. O que falta é transmitir estas verdades, principalmente às crianças. A falta de conhecimento muitas vezes atrapalha, e a propagação daquilo que se não conhece atrapalha ainda mais.