Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
Comunidade de Shanti Nilayam (India)
‘Antes de mais nada, gostaria de dizer que escutei a voz do Senhor
quando estava bem feliz com meus amigos e bem engajada nas coisas do mundo. Um
dia, quando ia para a igreja da paróquia, vi um um folder no caminho, peguei-o
e li. Falava de um mosteiro de beneditinas e, logo, gostei do que falava o
papel e quis entrar no mosteiro.
Comecei por refletir sobre o sentido real da vida. Senti que esse
acontecimento era um sinal vindo de Deus. Decidi seguir o Senhor no caminho
monástico, e senti o desejo de estar mais próxima de Deus. No mundo tinha
muitas distrações que me afastavam do Senhor. Finalmente entrei no mosteiro,
embora meus pais não tivessem ficado muito satisfeitos. Mas devo reconhecer que
não foi fácil deixar meus pais, meus irmãos e minhas irmãs e meus amigos.
No mosteiro logo me senti em casa. As irmãs foram muito acolhedoras e
fizeram tudo para que eu me sentisse à vontade. O mosteiro parece a primeira
comunidade cristã onde os membros partilham todas as coisas, vivendo unidos,
apesar das línguas e das culturas diferentes. Meu coração estava cheio de
alegria; encontrei um bom espírito de família na comunidade. Esta experiência
fez-me esquecer os prazeres das redes sociais e do celular… O uso destes meios
dá uma alegria passageira mas no mosteiro encontrei a verdadeira alegria,
amando o Senhor e todas as irmãs da comunidade. Depois de ter feito a
experiência calorosa da fraternidade, esqueci os prazeres do mundo. E agora
posso apreciar o mundo e o que ele oferece, de um modo diferente : todas as
coisas são boas, se forem usadas para o bem de todos.
No entanto, mesmo se o começo foi maravilhoso, chegou o momento em que
encontrei dificuldades. A natureza humana tem, espontaneamente, desejo de
prazeres e de facilidades, mas toda forma de vida tem suas dificuldades.
Todavía na vida monástica experimento uma alegria interior profunda.
Exemplo : tudo é comum a todas e usamos o celular e internet etc só em
caso de verdadeira necessidade; não é fácil adaptar-se a bases culturais
diferentes, mas entrando na vida comunitária senti-me cheia de paz e alegre,
apesar dos obstáculos. A atmosfera de silêncio e de calma no mosteiro ajuda-nos
a escutar o grito do pobre e da pessoa que têm falta de tudo no mundo, e
podemos ajudar com nossa oração e por tudo a que renunciamos.
A vida de comunidade ajuda-me a viver em harmonia com todos e a servir
cada um. Isso me permite sair de mim mesma, sentir e partilhar com cada um seus
problemas e suas dificuldades. Assim estou menos centrada em mim mesma e mais
voltada para o outro.
Também estou muito à vontade com a Regra de São Bento, em particular
pelo que diz a respeito da hospitalidade e do amor pelos pobres. Como jovem
religiosa não tenho muito contato com o exterior, mas carrego o mundo todo na
minha oração e na oferenda que faço de minha vida ao Senhor.
A comunhão no interior da comunidade e o amor fraterno são um sinal para
o mundo : é possível viver e amar os outros apesar das diferenças. Gosto sempre
mais da vida monástica à medida que os anos passam. São Bento diz no Prólogo de
sua Regra :
‘À medida que se avança na vida religiosa e na fé, o coração se dilata e
corre-se no caminho dos mandamentos de Deus, com inefável doçura de amor’.
Com tudo isto aprendi, pouco a pouco, como a vida monástica é fácil e
feliz se damos ao Senhor cada situação da nossa vida. Só é possível viver esta
vida com a ajuda do Senhor e numa relação íntima com Ele. Seu jugo é fácil e seu
fardo leve quando lhe entrego todas as minhas preocupações. As pessoas não
entendem sempre a vida monástica, mas eu amo-a cada dia mais. Minha oração
ardente é que muitos respondam ao chamado de Senhor e o sigam mais de perto na
vida religiosa.’
Fonte : *Artigo na íntegra