quinta-feira, 17 de outubro de 2019

O que é o sucesso na vida religiosa?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Irmãs do Quênia cuidam de galinhas enquanto aprendem sobre as oportunidades de empreendimentos sociais em uma fazenda de aves. 
Irmãs do Quênia cuidam de galinhas enquanto aprendem sobre as oportunidades de empreendimentos sociais em uma fazenda de aves.
(Santa Clara University)

*Artigo de Margaret Susan Thompson,
professora e pesquisadora da história da vida religiosa de mulheres


‘Em várias ocasiões, ao falar com grupos de irmãs religiosas, cheguei ao final de minhas observações fazendo duas perguntas : Qual você considera o momento de maior sucesso na história da sua comunidade? E, qual você considera o momento mais inspirador?

As respostas à pergunta sobre o sucesso na vida religiosa são tipicamente algo assim : ‘Tivemos muitas pessoas entrando’; ‘Abrimos duas ou três novas missões a cada ano.’; ou ‘Construímos uma nova ala na casa mãe (ou no hospital ou na faculdade) – tão bonita!’. O segundo tipo de respostas, por outro lado, gera outro tipo de comentários : ‘Oh, havia apenas um punhado de irmãs – pobres, e em uma habitação sem aquecimento (ou sótão ou porão). Elas tiveram que quebrar uma camada de gelo para conseguir começar os trabalhos pela manhã, e muitas vezes careciam de comida ou lenha suficientes. Mas elas tinham fé – muita fé – e alegria, esperança e otimismo quanto à missão e seus empreendimentos’.

O que é aparente é que os comentários sobre o ‘sucesso’ são quase sempre quantitativos, enquanto os outros são invariavelmente qualitativos. Isso é interessante, costumo comentar. Por que a diferença? E por que a era inspiradora – geralmente a época da fundação – também não é vista como bem – sucedida?

Parece-me que esse contraste suscita algumas coisas importantes a serem consideradas, pois o número das pessoas que entram na vida religiosa é considerável e inegavelmente menor do que no tempo chamado de a ‘era de ouro’, que foi um quarto de século antes do Vaticano II. Enquanto as congregações planejam o futuro, algumas entram intencionalmente em processos de conclusão e encerramento. Outras se preocupam com o envelhecimento de associações e com as propriedades grandes demais para as necessidades e que são difíceis de gerenciar ou muito isoladas para a venda. Algumas tiveram poucas ou nenhuma vocação por mais de uma década e decidiram não receber os potenciais membros.

Enquanto isso, até as comunidades que estão ansiosas celebram as mulheres que entram por si mesmas e que geralmente são jovens na vocação, mas não necessariamente em anos. Enquanto isso, poucas comunidades se orgulham de atrair um número incomum de candidatos nos dias de hoje – elas e seus apoiadores costumam dizer ou declarar abertamente que o ‘sucesso’ desses representantes da vida religiosa ‘autêntica’ demonstra as falhas de uma compreensão mais renovada do compromisso vocacional.

Mas algo parece estar faltando nessa visão. Apenas algumas semanas atrás, participei da assembleia de verão da comunidade à qual pertenço como associada. Dois painéis foram destaques da semana para mim. Um era o diálogo entre uma ‘freira’ e uma ‘leiga’ : mulheres que demonstravam afeto e admiração uma pela outra, apesar das diferenças de idade, fundamentadas na espiritualidade e na esperança de seu futuro. Mas elas compartilhavam uma paixão cheia de fé pela justiça social, e a ‘leiga’ repetidamente (durante a sessão e ao longo dos dias que se seguiram) expressou quanto se sentia inspirada – essa palavra novamente! – pelo voto religioso que conhecia na freira e pela amizade.

O outro painel memorável envolveu membros ‘mais novos’ da congregação : alguns jovens em anos, alguns na vida religiosa e outras pessoas, todos os quais falaram poderosamente sobre sua esperança pelo futuro e como acolheram o caminho à frente, mesmo que não fosse totalmente claro sobre aonde pode nos levar. Estas não eram pessoas ingênuas, mas mulheres que esperavam com fé tanto em Deus quanto naqueles com quem haviam decidido arriscar suas vidas. Ao olhar para o rosto delas e ouvir a sabedoria de suas palavras, não pude deixar de me lembrar da ‘história profunda’ da fundação da congregação. Além disso, vi claramente que esse legado não só foi incorporado nos primeiros tempos da congregação, mas também continuou a se aprofundar ao longo do tempo.

Meu feed de mídia social nas últimas semanas ficou repleto de anúncios de profissões religiosas (tanto de primeiros votos, como de últimos votos), além de novas postulantes e noviças. As fotos daqueles que tomam medidas tão importantes estavam cheias de alegria, risos e otimismo. Eu assisti a profissão de votos, ‘gostei’ de expressões intercongregacionais de boas-vindas e orei junto com mulheres atraídas mais pela esperança e pelo desejo espiritual do que pela segurança e certeza.

Assim, quando olharmos adiante para onde a vida religiosa está indo, podemos superar uma obsessão infeliz e talvez até inconsciente com o tamanho e o número e, em vez disso, focar na inspiração que deve ser central para a nossa compreensão do ‘sucesso’, mesmo – ou especialmente – na vida religiosa. Podemos pensar em termos mais qualitativos do que quantitativos quando avaliarmos o quanto é inspiradora e o quanto é importante a vida religiosa no mundo?’

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