quinta-feira, 31 de outubro de 2024

A celebração da Festa de Todos os Santos

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Felipe Aquino,

professor


‘No dia 1º de novembro, a Igreja celebra a Festa de Todos os Santos. Segundo a tradição, ela foi colocada neste dia, logo após 31 de outubro, porque os celtas ingleses (pagãos) celebravam as bruxas e os espíritos que vinham se alimentar e assustar as pessoas nesta noite (Halloween).

Nesse dia, a Igreja militante (que luta na Terra) honra a Igreja triunfante do Céu, ‘celebrando, numa única solenidade, todos os Santos’ – como diz o sacerdote na oração da Missa –, para render homenagem àquela multidão de santos que povoam o Reino dos Céus, que São João viu no Apocalipse : ‘Ouvi, então, o número dos assinalados : 144 mil assinalados, de toda tribo dos filhos de Israel. Depois disso, vi uma grande multidão que ninguém podia contar, de toda nação, tribo, povo e língua : conservavam-se em pé diante do trono e diante do Cordeiro, de vestes brancas e palmas na mão’. ‘Esses são os sobreviventes da grande tribulação; lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro.’ (Ap 7,4-14)

Essa imensa multidão de 144 mil, que está diante do Cordeiro, compreende todos os servos de Deus, aos quais a Igreja canonizou por meio da decisão infalível de algum Papa, e todos aqueles, incontáveis, que conseguiram a salvação, e que desfrutam da visão beatífica de Deus. Lá, ‘eles intercedem por nós sem cessar’, diz uma de nossas orações eucarísticas. Por isso, a Igreja recomenda que os pais ponham nomes de santos em seus filhos.

Esses 144 mil significam uma grande multidão (12 x 12 x 1000). O número doze e o número mil significavam para os judeus antigos plenitude, perfeição e abundância; não é um valor meramente aritmético, mas simbólico. A Igreja já canonizou mais de 20 mil santos, mas há muito mais que isso no Céu. No livro ‘Relação dos Santos e Beatos da Igreja’, eu pude relacionar, de várias fontes, quase 5 mil dos mais importantes; e os coloquei em ordem alfabética.

Todos os santos se tornam intercessores no Céu

A Lumen Gentium do Vaticano II lembra: ‘Pelo fato de os habitantes do Céu estarem unidos mais intimamente com Cristo, consolidam com mais firmeza na santidade toda a Igreja. Eles não deixam de interceder por nós junto ao Pai, apresentando os méritos que alcançaram na terra pelo único mediador de Deus e dos homens, Cristo Jesus. Por seguinte, pela fraterna solicitude deles, a nossa fraqueza recebe o mais valioso auxílio’ (LG 49) (§956).

Na hora da morte, São Domingos de Gusmão dizia a seus frades : ‘Não choreis! Ser-vos-ei mais útil após a minha morte e ajudar-vos-ei mais eficazmente do que durante a minha vida’. E Santa Teresinha confirmava esse ensino dizendo : ‘Passarei meu céu fazendo bem na terra’.

O nosso Catecismo diz : ‘Na oração, a Igreja peregrina é associada à dos santos, cuja intercessão solicita’ (§2692).

A marca dos santos são as bem-aventuranças que Jesus proclamou no Sermão da Montanha; por isso, esse trecho do Evangelho de São Mateus (5,1ss) é lido nesta Missa. Os santos viveram todas as virtudes e, por isso, são exemplos de como seguir Jesus Cristo. Deus prometeu dar a eterna bem-aventurança aos pobres no espírito, aos mansos, aos que sofrem e aos que têm fome e sede de justiça, aos misericordiosos, aos puros de coração, aos pacíficos, aos perseguidos por causa da justiça e a todos os que recebem o ultraje da calúnia, da maledicência, da ofensa pública e da humilhação.

Somos chamados a ser santos

Essa ‘Solenidade de Todos os Santos’ vem do século IV. Em Antioquia, celebrava-se uma festa por todos os mártires no primeiro domingo depois de Pentecostes. A celebração foi introduzida em Roma, na mesma data, no século VI, e cem anos após era fixada no dia 13 de maio pelo Papa Bonifácio IV, em concomitância com o dia da dedicação do ‘Panteon’ dos deuses romanos a Nossa Senhora e a todos os mártires. No ano de 835, essa celebração foi transferida pelo Papa Gregório IV para 1º de novembro.

Cada um de nós é chamado a ser santo. Disse o Concílio Vaticano II : ‘Todos os fiéis cristãos, de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade’ (Lg 40). Todos são chamados à santidade : ‘Deveis ser perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito’ (Mt 5,48) : ‘Com o fim de conseguir essa perfeição, façam os fiéis uso das forças recebidas (…) cumprindo em tudo a vontade do Pai, se dediquem inteiramente à glória de Deus e ao serviço do próximo. Assim, a santidade do povo de Deus se expandirá em abundantes frutos, como se demonstra, luminosamente, na história da Igreja pela vida de tantos santos’ (LG 40).

O caminho da perfeição passa pela cruz. Não existe santidade sem renúncia e sem combate espiritual (cf. 2Tm 4). O progresso espiritual da oração, mortificação, vida sacramental, meditação, luta contra si mesmo, é isso que nos leva, gradualmente, a viver na paz e na alegria das bem-aventuranças. Disse São Gregório de Nissa (340) : ‘Aquele que vai subindo jamais cessa de ir progredindo, de começo em começo, por começos que não têm fim. Aquele que sobe jamais cessa de desejar aquilo que já conhece’ (Hom. in Cant. 8).

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://formacao.cancaonova.com/igreja/santos/a-celebracao-da-festa-de-todos-os-santos/

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Crise humanitária no Sudão segue gerando deslocamentos forçados e sem perspectiva de resolução

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
Sudão é palco de uma das maiores crises humanitárias da atualidade, gerando deslocados internos e refugiados. (Foto: Aymen Alfadil/ACNUR)

*Artigo de Julia Santos

 

‘Desde abril de 2023, o Sudão sofre com a maior crise humanitária de sua história. Como consequência de uma guerra civil entre grupos paramilitares e facções vinculadas ao governo, o país enfrenta episódios contínuos de violência e negligência. O conflito está entre os mais violentos do continente africano – que é palco de oito das dez piores crises humanitárias da atualidade – e já causou o deslocamento forçado de mais de 7 milhões de pessoas. O Sudão, inclusive, aparece no topo dessa lista, elaborada pela ONG International Rescue Comitee (IRC).

Além das questões geradas pelos embates militares e seus desdobramentos, o país do norte da África ainda lida com fatores climáticos e sanitários que potencializam a crise humanitária. Desde junho, fortes chuvas e enchentes já afetaram cerca de 317 mil pessoas e deslocaram 118 mil, gerando inclusive o rompimento de uma barragem próxima ao Mar Vermelho. Estima-se que 27 mil casas foram destruídas e acima de 31 mil sofreram danos antes do rompimento da barragem. O Sudão ainda enfrenta uma onda de casos de cólera, que infectou 658 pessoas e matou 28 no espaço de um mês, segundo informações da ONU.

Origens e efeitos do conflito

Após o golpe militar conjunto executado em 2021 por Abdel Fattah al-Burhan, líder das Forças Armadas Sudanesas (SAF), e Mohamed Hamdan Daglo, comandante das Forças de Apoio Rápido (RSF), a guerra civil no Sudão transformou o país em um campo de batalha. As tensões se intensificaram em 2023, quando disputas pelo controle do governo e pelas estratégias de reforma militar se agravaram. O que começou como uma crise política se transformou em uma guerra total e, há mais de um ano, resulta em combates urbanos na capital Cartum e em outras grandes cidades, além de ataques a vilarejos em áreas rurais.

Desde seu início, a guerra tem sido caracterizada por ataques indiscriminados, massacres de civis e uma escassez preocupante de alimentos e medicamentos em todo o território sudanês. Além das áreas urbanas em ruínas, a infraestrutura básica do país, que inclui hospitais e escolas, também foi destruída. Como consequência desses danos, o país conta com milhões de pessoas em necessidade urgente de assistência.

No momento, a maioria dos afetados têm buscado abrigo em campos improvisados nas regiões fronteiriças, onde o apoio é escasso e as condições de vida são extremamente precárias. A falta de acesso a alimentos, água potável e cuidados médicos básicos vem sendo o principal motivo responsável por provocar uma crise de saúde pública entre os refugiados e migrantes sudaneses.

Migração de crise e desafios humanitários

A guerra civil tem forçado milhões de sudaneses a abandonar suas casas. De acordo com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), mais de 6 milhões de sudaneses foram deslocados internamente desde o início do conflito em abril de 2023. Além disso, cerca de 1,6 milhão de pessoas buscaram refúgio em países vizinhos, incluindo Egito, Chade, Etiópia e Sudão do Sul.

O número crescente de refugiados tem pressionado os governos locais e as organizações internacionais que atuam na região. Atualmente, esses organismos enfrentam dificuldades para atender às necessidades das comunidades afetadas pelo conflito, mas as contribuições ainda são limitadas. As áreas de combate intenso e a insegurança generalizada dificultam o acesso às populações necessitadas, impedindo a distribuição eficiente de alimentos, água potável e medicamentos.

Outro fator que prejudica ações no local é a destruição de infraestruturas essenciais, como estradas e instalações de saúde. A fragmentação do território controlado por diferentes facções e os bloqueios impostos pelos grupos armados complicam a logística da ajuda humanitária, resultando em uma resposta frequentemente inadequada para as necessidades urgentes de milhões de sudaneses deslocados.

Por meio de nota, o ACNUR ainda citou preocupação com uma potencial surto de cólera – que já afeta o país – nas áreas que hospedam refugiados. Além de receber cidadãos de outros países, os estados sudaneses de Kassala, Gedaref e Jazirah abrigam milhares deslocados forçados internos.

Apesar das dificuldades enfrentadas por aqueles que decidem deixar o Sudão, as motivações por trás dos deslocamentos são claras. Além de toda a destruição causada pela guerra, um exemplo da violência praticada na região foi divulgado no relatório ‘Cartum não é segura para as mulheres’, publicado pela Human Rights Watch em julho de 2024. De acordo com o documento, desde o início do conflito, mulheres e meninas que ainda vivem na capital sudanesa têm sido submetidas a casamentos forçados, escravidão sexual e violações coletivas, entre outros crimes que antecedem o feminicídio.

Resposta internacional e perspectivas para o conflito

Buscando amenizar os danos causados pelo conflito, a comunidade internacional tem respondido à guerra civil no Sudão com uma série de iniciativas humanitárias e diplomáticas. A resposta é liderada por várias organizações e agências, incluindo a Oficina de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA), que tem coordenado a assistência humanitária responsável por ajudar cerca de 19 milhões de pessoas no país.

A Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho estão na linha de frente, fornecendo suprimentos essenciais e apoio médico aos deslocados. Outros organismos como UNICEF, Programa Mundial de Alimentos (PMA) e Organização Mundial da Saúde (OMS) também vem oferecendo apoio contínuo à população sudanesa.

Além das organizações internacionais, países e blocos têm contribuído para a manutenção da crise. A União Europeia, por exemplo, destinou mais de 200 milhões de euros em ajuda humanitária até agosto de 2024. Os Estados Unidos e outros governos, como Reino Unido, Canadá e Noruega, também têm prestado apoio financeiro.

No campo das sanções e medidas diplomáticas, o Conselho de Segurança da ONU impôs sanções direcionadas a indivíduos e entidades envolvidas na violência, com a Resolução 2664 (2022) limitando o financiamento do conflito e pressionando por negociações. Os EUA e a UE também adotaram sanções para restringir o comércio de armas e recursos financeiros. Enquanto isso, a União Africana desempenha um papel crucial na mediação das conversações de paz e na promoção de acordos de cessar-fogo.

Apesar das mobilizações, o conflito no Sudão segue sem perspectiva de resolução. Como resultado, a população civil do país continua sendo submetida a um processo de migração forçada.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://migramundo.com/crise-humanitaria-no-sudao-segue-gerando-deslocamentos-forcados-e-sem-perspectiva-de-resolucao/

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Dez salmos que podem animar em tempos difíceis

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo da redação central da ACI Digital

 

‘Na sociedade de hoje, é cada vez mais comum sentir-se sobrecarregado pelos problemas e, por isso, temeroso e desanimado. Permanecer com esse sentimento de angústia por muito tempo pode fazer com que a preocupação tome conta de nós e nos deixe adormecidos e impotentes, a ponto de fazer com que nossa vida de oração decline. Embora possa ser difícil, é nestes momentos que devemos rezar mais e os salmos podem nos ajudar nesta tarefa, diz Marge Fenelon, jornalista católica e autora de vários livros sobre a devoção mariana e a vida familiar.

Em artigo publicado no jornal National Catholic Register, Fenelon lembrou que são Francisco de Sales encorajou os católicos a confiar em Deus, como resposta ao medo e à preocupação humanos.

‘Não se preocupe com o que pode acontecer amanhã; o mesmo Pai eterno que cuida de você hoje, se encarrega de você amanhã e todos os dias. Ou Ele protegerá você do sofrimento, ou lhe dará a força infalível para suportá-lo. Esteja em paz, pois, e afaste todos os pensamentos de angústia’, disse o santo.

Como as palavras dos santos, que geralmente se baseiam em mensagens bíblicas, ‘os salmos são um tesouro espiritual e literário de poesia, louvor a Deus, conselho, conforto e, às vezes, arrependimento’, disse Fenelon. Hoje, continuam sendo proclamados na missa e também são úteis para os fiéis que recorrem a eles em sua oração.

‘O salmista clama a Deus com sinceridade, e podemos nos ver refletidos em suas expressões muito humanas de petição e amor’, disse. Quando a preocupação torna nossa oração difícil, ‘rezar por meio dos salmos pode nos ajudar a sair de nós mesmos e alcançar Deus’. Sempre que lutamos para encontrar nossas próprias palavras, os salmos ‘têm as palavras certas’, disse Fenelon.

A escritora recomendou que, embora se possa rezar através da leitura de todos os salmos em um único momento de oração, você também pode rezar apenas um ou dois salmos por dia.

‘Você os achará especialmente úteis quando se sentir angustiado. Rezo para que sejam uma fonte de ânimo para vocês, enquanto meditam no Pai amoroso que os protegerá do sofrimento ou dará a força inesgotável para suportá-lo’, concluiu.

A seguir, compartilhamos 10 salmos que podem ajudar a aliviar as preocupações destes tempos :

1. Não temerá notícias funestas, porque seu coração está firme e confiante no Senhor (Salmo 111, 7).

2. Confia ao Senhor a tua sorte, espera nele, e ele agirá (Salmo 36, 5).

3. Fazei-me sentir, logo, vossa bondade, porque ponho em vós a minha confiança. Mostrai-me o caminho que devo seguir, porque é para vós que se eleva a minha alma (Salmo 142, 8).

4. Meus inimigos continuamente me espezinham, são numerosos os que me fazem guerra. Ó Altíssimo, quando o terror me assalta, é em vós que eu ponho a minha confiança (Salmo 55, 3-4).

5. Ele não permitirá que teus pés resvalem; não dormirá aquele que te guarda (Salmo 120, 3).

6. Os que confiam no Senhor são como o monte Sião, eternamente firme (Salmo 124, 1).

7. O Senhor se aproxima dos que o invocam, daqueles que o invocam com sinceridade (Salmo 144, 18).

8. São muitos os sofrimentos do ímpio. Mas quem espera no Senhor, sua misericórdia o envolve (Salmo 31, 10).

9. Só em Deus repousa a minha alma, é dele que me vem o que eu espero. Só ele é meu rochedo e minha salvação; minha fortaleza : jamais vacilarei (Salmo 61, 6-7).

10. O Senhor torna-se refúgio para o oprimido, uma defesa oportuna para os tempos de perigo (Salmo 9, 10).

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.acidigital.com/noticia/50119/dez-salmos-que-podem-animar-em-tempos-dificeis

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

O caminho do Jubileu dentro de Roma: Basílica de Santa Maria Maior

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo da redação da revista Ave Maria


A Basílica Papal de Santa Maria Maior é o mais antigo e importante santuário mariano do Ocidente, preservando intacto seu aspecto cristão primitivo, apesar dos enriquecimentos posteriores. Todas as intervenções respeitaram o plano original, que era tradicionalmente considerado fruto de um desígnio divino. Segundo a tradição, a Virgem Maria apareceu em sonho ao patrício João e ao Papa Libério, instruindo-os a construir uma igreja dedicada a ela no local onde nevasse. Milagrosamente, em 5 de agosto de 358, em pleno verão, a neve delineou o perímetro da igreja no monte Esquilino, o mais alto de Roma. Até hoje, esse milagre é celebrado com pétalas brancas que caem do teto da basílica durante a liturgia.

Santa Maria Maior também abriga o ícone mariano mais venerado, a Salus Populi Romani, tradicionalmente atribuído a São Lucas, evangelista e padroeiro dos pintores. O Papa Francisco frequentemente visita o ícone antes de suas viagens apostólicas e ao retornar.

Outra relíquia importante é o Sagrado Berço, a manjedoura onde o menino Jesus foi colocado, destacando a basílica como a ‘Belém do Ocidente’. A primeira missa de Natal foi celebrada ali e por séculos os papas mantiveram essa tradição.

Além disso, a basílica guarda os restos mortais de São Matias e São Jerônimo. Foi também em Santa Maria Maior que, em 867, o Papa Adriano II recebeu os santos Cirilo e Metódio e aprovou o uso do eslavo na liturgia. Sete papas estão sepultados nesse santuário sagrado.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/o-caminho-do-jubileu-dentro-de-roma-basilica-de-santa-maria-maior.html

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Dons do Espírito Santo

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre José Alem, CMF

 

Quando falamos dos dons do Espírito Santo nos referimos ao amor que é o grande e único dom. Os sete dons mostram as características do amor como Deus ama e quer que nos amemos.

Cada dom é um aspecto da mesma realidade. Assim como um simples objeto pode ser visto sob ângulos diferentes, sendo sempre o mesmo objeto, podemos ter uma visão diversa. Pegue um livro, por exemplo. Você pode olhá-lo de frente, de lado, aberto, fechado, de cima, de baixo e de tantos outros modos, mas é o mesmo livro, não outro, só que é visto de ângulos diferentes. 

Assim é o amor expresso nos dons do Espírito Santo. Para viver esse amor assim tão rico e pleno de surpreendentes dons é preciso percorrer o caminho de Jesus. À medida que acreditamos no amor e vivemos os mandamentos, que encontramos nas bem-aventuranças o ideal de um modo de viver o amor na sua mais pura expressão, vamos desenvolvendo em nós os dons do Espírito Santo e vamos cada vez mais ‘crescendo em idade, sabedoria e graça diante de Deus e dos homens’ (Lc 2,52).

Esse é o caminho a percorrer. Que cada dom do Espírito Santo seja uma profunda experiência da sua presença em nós e na Igreja. Vamos meditar, analisar nossas vidas, orar e assumir vivê-los concretamente.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/dons-do-espirito-santo.html

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Sete conselhos que te ajudarão a aperfeiçoar a oração do terço

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo da redação da ACIDIGITAL

 

Outubro é o mês dedicado ao terço e muitos católicos redescobrem na oração predileta da Virgem Maria sua força espiritual. Para seguir aperfeiçoando o hábito desta oração, apresentamos sete conselhos práticos tirados do livro ‘O Rosário : Teologia de joelhos’, do sacerdote, escritor e funcionário da Secretaria de Estado do Vaticano, monsenhor Florian Kolfhaus :

1. Dedicar tempo

Nossos calendários estão cheios de compromissos. Entretanto, é bom reservar de 20 a 30 minutos por dia para a oração do terço. Este encontro com Jesus e Maria é muito mais importante que as demais atividades agendadas.

Este tempo de oração é reservado para nós mesmos, porque é um tempo no qual devemos nos dedicar somente para amar.

É possível reservar dois ou três dias da semana para a oração do terço e, desta forma, será cada vez mais fácil fazer esta oração, até finalmente poder rezá-la todos os dias.

2. Saber que reza para alguém

Uma boa oração está baseada em orientar completamente à vontade a agradar o nosso querido amigo, Cristo, e não a nós mesmos.

3. Fazer pausas

Santo Ignácio de Loyola recomenda a chamada ‘terceira forma de rezar’ para adaptar as palavras ao ritmo da própria respiração.

Normalmente, é suficiente interromper um mistério do terço para voltar a ser consciente de que Jesus e Maria nos olham cheios de alegria e amor. Para isto, pode ser útil respirar duas ou três vezes, antes de voltar a retomar a oração.

4. Dirigir os pensamentos

Pode-se e deve-se ‘desviar’ os pensamentos para encontrar o mistério que devemos visualizar na nossa mente antes de cada dezena do terço.

É pouco provável que a repetição seja útil se não for encaminhada várias vezes para o essencial, que é a vida de Jesus e de Maria.

5. Fazer da oração um momento para compartilhar com Cristo

Um dos primeiros e mais importantes passos para a oração interior é não só nos dedicarmos a pensar e a meditar, mas olhar paa aquele a quem está dirigida a nossa prece.

Saber que, aquele a quem nos dirigimos nos ama infinitamente e despertará em nós diversos e espontâneos sentimentos, assim como quando desfrutamos e nos alegramos com uma pessoa que gostamos muito.

6. Fechar os olhos ou simplesmente fixá-los em um só lugar

Algumas pessoas fecham os olhos a fim de se concentrar e rezar melhor. Isso pode ser uma ajuda, mas normalmente é suficiente fixar o olhar em um só lugar e evitar olhar ao redor. De qualquer maneira, é importante que os olhos do coração estejam sempre abertos.

O terço é como uma visita ao cinema. Trata-se de ver imagens. Algumas perguntas básicas podem ser de utilidade : o que, quem, como, quando, onde? Como vejo o nascimento de Jesus, sua crucificação, sua ascensão.

Às vezes, posso – como se tivesse uma câmara – aproximar elementos ou detalhes e procurar um primeiro plano : a mão de Cristo transpassada pelos pregos, as lágrimas nos olhos do apóstolo João enquanto o Senhor subia aos céus, etc.

7. Que a intenção de rezar sempre seja o amor

As palavras acompanham, nossa mente se dispõe, mas o nosso coração deve dominar a oração.

Todos os grandes escritores espirituais concordam que a oração interior atinge principalmente nossos sentimentos e emoções.

Santa Teresa D’Ávila explica de maneira simples : ‘Não pense muito, ame muito!’. Em uma ocasião, uma senhora me contou que não conseguia pensar em rezar o terço todos os dias, mas a única coisa que conseguia dizer interiormente era : ‘Jesus, Maria, eu os amo!’. Parabenizo a esta mulher, pois a tal resultado a oração do terço nos deve levar.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.acidigital.com/noticia/49887/sete-conselhos-que-te-ajudarao-a-aperfeicoar-a-oracao-do-terco

sábado, 19 de outubro de 2024

A missionariedade na catequese, testemunho e serviço

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre Paulo Gil


‘É sempre bom recordar as palavras de Jesus quando, reunindo os seus apóstolos, apresentou suas últimas instruções antes de sua ascensão. O encontro foi de orientação e de motivação para o grupo que foi enviado em mandou-os em missão de fazer novos discípulos : ’Naquele tempo, os onze discípulos foram para a Galileia, ao monte que Jesus lhes tinha indicado. Quando viram Jesus, prostraram-se diante dele. Ainda assim alguns duvidaram. Então Jesus aproximou-se e falou : ‘Toda a autoridade me foi dada no Céu e sobre a Terra. Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo’ (Mt 28,16-20).

Três aspectos que iluminam a nossa reflexão sobre o mandato de Jesus a seguir : 

  • A obediência dos discípulos – eles obedecem ao pedido do Senhor;
  • A contemplação dos discípulos – contemplam e adoram Cristo;
  • O envio dos discípulos – eles são enviados em missão. 

Temos, então, um itinerário de vida de fé : obediência, contemplação e missão.

Podemos conferir o contraste entre as expectativas dos apóstolos e a missão que Jesus se propunha a assumir. Ele chamava sua comunidade para uma missão além-fronteiras, motivando-os a abandonar a zona de conforto e as expectativas anteriores. 

Sair da própria terra é sempre um desafio. As palavras de Jesus remetem ao chamado de Abraão: ‘O Senhor disse a Abrão : ‘Sai da tua terra, do meio de teus parentes, da casa de teu pai, e vai para a terra que eu vou te mostrar. Farei de ti uma grande nação e te abençoarei : engrandecerei o teu nome, de modo que ele se torne uma bênção’’ (Gn 12,1-3). Observe-se : sair da sua terra; sair da casa da família; sair para um lugar desconhecido, uma terra prometida; ser pai da fé; pai de uma grande nação.

Gerar novos filhos para Deus e levá-los para uma rica experiência de fé é o mesmo que fazer novos discípulos como pede Jesus.

A comunidade dos discípulos é revestida de motivação : ’Eis que eu estarei convosco todos os dias’ (Mt 28,20) – motivação para uma missão que se fortalece quando se alimenta de fé, de confiança e de esperança. Observe-se : fé para reconhecer o seu chamado, escutar a sua voz; confiança para aceitar e se entregar em suas mãos; esperança para trilhar o caminho do seguimento; ir para onde Ele nos levar.

O que essa passagem do Evangelho traz de inspiração para a catequese hoje? A catequese tem uma árdua e encantadora missão : introduzir, com profundidade, a Palavra de Deus no processo de iniciação à vida cristã. 

No caminho do discipulado, catequético e missionário, é necessário que exista um progressivo envolvimento com a Sagrada Escritura, a Palavra de Deus : ‘A missão de iniciar na fé coube, na Igreja antiga, à liturgia e à catequese’ (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Documento 107, 70). 

Catequese é ‘um processo dinâmico e abrangente de educação da fé, um itinerário, e não apenas uma instrução’ (Catequese renovada, 281); processo que leva ao acolhimento da Palavra de Deus e da Pessoa de Jesus Cristo; acolhimento da verdade de fé: a Palavra se fez carne e veio habitar entre nós (cf. Jo 1,14).

Uma verdade que precisa ser transmitida com competência

O Papa Francisco, em sua Carta Apostólica Antiquum Ministerium sob forma de motu próprio, diz : ‘Toda a história da evangelização destes dois milênios manifesta, com grande evidência, como foi eficaz a missão dos catequistas. Bispos, sacerdotes e diáconos, juntamente com muitos homens e mulheres de vida consagrada, dedicaram a sua vida à instrução catequética, para que a fé fosse um válido sustentáculo para a existência pessoal de cada ser humano. Além disso, alguns reuniram à sua volta outros irmãos e irmãs, que, partilhando o mesmo carisma, constituíram ordens religiosas totalmente dedicadas ao serviço da catequese. Não se pode esquecer a multidão incontável de leigos e leigas que tomaram parte, diretamente, na difusão do Evangelho através do ensino catequético. Homens e mulheres, animados por uma grande fé e verdadeiras testemunhas de santidade, que, em alguns casos, foram mesmo fundadores de Igrejas, chegando até a dar a sua vida’ (3).

Ele vai indicar que a missão da catequese é uma ação evangelizadora; é insubstituível; é missão própria do Bispo e dos outros sujeitos a serviço da catequese : presbíteros, diáconos, religiosos(as), famílias, catequistas, leigos(as) que estão presentes no mundo; é uma missão salvadora da Igreja para o mundo. 

Queridos catequistas, é importante reconhecer a incansável participação de vocês, anunciando o Evangelho de Cristo com competência, criatividade e dedicação.

É missão da catequese :

  • conduzir as pessoas na adesão a Jesus Cristo, introduzindo-as nos sacramentos da iniciação cristã : Batismo, Confirmação e Eucaristia; 
  • educar para a escuta da Palavra e para a oração pessoal, ‘mediante a leitura orante, evidenciando uma estreita relação entre Bíblia, catequese e liturgia’ (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Documento 107, 66);
  • permanecer na centralidade do querigma (primeiro anúncio das verdades da fé) para o amadurecimento e para a maturidade da fé;
  • favorecer, no seguimento de Jesus, uma experiência mistagógica (pedagogia do mistério) para progredir no conhecimento e na vivência do mistério pascal.

Lembremo-nos sempre do que disse Jesus : ‘Asseguro-vos que quem ouve a minha Palavra e crê em quem me enviou, tem vida eterna’ (Jo 5,24). Hoje, desafia-nos a urgência de construirmos comunidades eclesiais missionárias, comprometidas com o anúncio da Palavra de Deus, nas diferentes realidades da vida.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/a-missionariedade-na-catequese-testemunho-e-servico.html

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

O ardor missionário na comunicação de Santo Antônio Maria Claret

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

*Artigo do Padre Brás Lorenzetti


‘Vivemos na era da comunicação. Em alguns casos, excessiva, tamanha ligação com alguns de seus meios. Os jovens que o digam! Nós mesmos, se ficamos uns dias sem acesso às redes sociais, sentimo-nos deslocados. As crianças trocam bonecas e carrinhos por celulares, com todas as consequências que daí decorrem.

Uma tendência na pastoral é seguir esse mesmo esquema comunicacional. Hoje parece trabalhoso demais manusear uma Bíblia. Preferimos confiar em líderes influenciadores religiosos, que nos dão o Evangelho do dia e a mensagem pronta.

Convido todos a fazermos um retrocesso na história : voltarmos duzentos anos, tempo em que viveu Santo Antônio Maria Claret, bispo e fundador dos Missionários Claretianos (1807-1863).

Nessa época, a comunicação dependia de reunir multidões nas celebrações em festas especiais ou na presença de algum pregador de prestígio. O pregador se colocava em um lugar elevado para que sua voz chegasse a todos, sem os recursos da ampliação do som. O pregador era conhecido por seu ardor, vivacidade na pregação e pela capacidade de envolver os ouvintes no tema abordado. O ardor missionário em Santo Antônio Maria Claret procedia do seu amor a Jesus Cristo e o desejo profundo de levar a rodo o povo a salvação.

Claret definia o missionário como alguém que ‘arde em caridade e abrasa por onde passa’. Na verdade, a definição procede da própria experiência de vida : ele mesmo ardia em caridade e abrasava por onde passava. 

Ele alimentava seu ardor missionário pela leitura diária da Palavra de Deus. Chegou a deixar para a posteridade uma verdadeira chave, uma proposta, uma maneira de ler a Bíblia toda. O que percebemos em Claret é um verdadeiro apaixonamento pela Palavra. Sua leitura pessoal dela o motivava, estimulava e fazia arder na caridade amorosa; era também uma leitura vocacional, no sentido de confirmação da vocação e do agir profético.

O ardor missionário era também alimentado pelo desejo sincero e radical de doar sua vida a serviço dos demais, sem excluir a possibilidade do martírio, tanto é que, ao sofrer um atentado em Holguín (1856), Cuba, seu coração sentia um consolo espiritual por ter derramado ao menos parte de seu sangue pela causa de Cristo.

Ardor alimentado por um profundo amor à Eucaristia, que fez dele um ‘sacrário vivo’, carregando em seu peito o Cristo eucarístico de uma comunhão a outra; isso o fazia estar em constante contemplação a Ele, graça especialíssima, poucas vezes encontrada na literatura cristã.

O ardor missionário de Claret tem dimensão e sensibilidade feminina : reflete-se no terno amor a Maria, mãe de Jesus, a ponto de incluir o nome Maria em seu próprio nome e de dar às congregações por ele fundadas nomes marianos : Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria e Missionárias Religiosas de Maria Imaculada – Missionárias Claretianas.

Na trajetória biográfica de Claret, percebemos um grande número de iniciativas fundacionais : Irmandade da Instrução e da Doutrina Cristã; Casa de Caridade; Academia de São Miguel; escrita de inúmeros livros, folhas avulsas, inumeráveis sermões, tudo com a finalidade de dar vazão ao seu ardor missionário. 

Como homem da Palavra e da Eucaristia, seu ardor missionário o impelia a fazer o máximo que podia para que a salvação chegasse a um número maior possível de pessoas. Seu pensamento e atuação pastoral sempre estiveram ligados à ideia de evangelização em grupo ou em comunidade. Não bastava evangelizar com as próprias forças; Claret almejava sempre buscar colaboradores para ampliar sua atuação.

Que o ardor missionário de Claret seja um estímulo para que vivamos também um ardor sempre crescente como testemunhas e servidores da Palavra, alimentados pela Eucaristia e inflamado no amor materno de Maria!

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/o-ardor-missionario-na-comunicacao-de-santo-antonio-maria-claret.html


segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Brasileira Irmã Rosita Milesi é vencedora global de 2024 do Prêmio Nansen, do ACNUR

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Irmã Rosita Milesi. (Foto: Marina Calderón/ACNUR)

*Artigo de Rodrigo Borges Delfim


‘Uma das maiores e mais respeitadas referências no Brasil na atuação em prol de migrantes, incluindo deslocados forçados, a religiosa católica brasileira Rosita Milesi, 79, foi anunciada nesta quarta-feira (9) como vencedora da edição 2024 do Prêmio Nansen.

A honraria é concedida anualmente pelo ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, a pessoas e entidades com atuação reconhecida em prol dessa comunidade. Grosso modo, o Prêmio Nansen pode ser considerado uma espécie de Nobel pela defesa dos direitos de pessoas refugiadas.

‘Decidi me dedicar a migrantes e refugiados. Sou inspirada pela crescente necessidade de ajudar, acolher e integrar refugiados’, disse Irmã Rosita, como é mais conhecida, em entrevista oficial ao ACNUR. ‘Não tenho medo de agir, mesmo que não alcancemos tudo o que queremos. Se assumo algo, vou virar o mundo de cabeça para baixo para fazer acontecer’, acrescentou.

Atuando desde a década de 1980 na temática migratória, irmã Rosita Milesi é líder do IMDH (Instituto Migrações e Direitos Humanos), entidade presente em Brasília e Boa Vista no apoio e orientação a pessoas migrantes e em necessidade de proteção internacional. Ela ainda é coordenadora da RedeMIR, que engloba cerca de 70 organizações que atuam para fortalecer a solidariedade entre as pessoas em movimento e as comunidades que as acolhem.

Advogada de formação, Rosita usou tal experiência para atuação decisiva em prol das duas principais legislações relacionadas ao arcabouço migratório e de deslocamento forçado no Brasil : a Lei de Refugiados Lei 9.474/1997) e a Lei de Migração (Lei 13.445/2017).

‘Qualquer lei dura muitos anos. Boa ou ruim, é difícil desfazer. Então, não podíamos deixar que uma lei com um conceito limitado fosse aprovada se houvesse a possibilidade de ampliá-la’, disse ela ao ACNUR sobre a Lei de refúgio brasileira, considerada um modelo internacional por contemplar a definição mais ampla do conceito, dada pela Convenção de Cartagena (1984). ‘Até escrevi para o Vaticano em Roma, pedindo que enviassem uma carta ao governo brasileiro dizendo o quão importante era ampliar o conceito de refugiado. E o Vaticano colaborou. Enviaram a carta, graças a Deus’, complementou.

Criado em 1954, o Prêmio Nansen leva o nome do explorador polar norueguês Fridtjof Nansen (1861-1930), ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1922 e primeiro Alto Comissário para os Refugiados da Liga das Nações, entidade precursora da ONU.

Irmã Rosita é somente a segunda pessoa brasileira a receber o Prêmio Nansen. A primeira foi o ex-cardeal arcebispo de São Paulo Dom Paulo Evaristo Arns, em 1985. Ela se junta ainda a personalidades globais como a ex-primeira-dama dos EUA Eleanor Roosevelt e a ex-chanceler alemã Angela Merkel, além de organizações como a Médicos Sem Fronteiras.

Trajetória e próximos passos

Filha de agricultores italianos, Rosita nasceu e cresceu no Rio Grande do Sul. Já no meio familiar viu seus pais, mesmo sem grandes condições financeiras, oferecerem trabalho, comida e um lugar para dormir às pessoas necessitadas que pediam ajuda ou que transitavam pela região.

Aos 9 anos, ingressou em um colégio administrado pelas Irmãs Missionárias Scalabrinianas, congregação fundada no final do século XIX para ajudar migrantes italianos que chegavam às Américas. Aos 19, em 1964, se tornou freira e integrante da Congregação Scalabriniana.

Por duas décadas, trabalhou como professora e na área administrativa de um hospital, em instituições geridas pela congregação para ajudar os pobres. Nesse período, também graduou-se em Direito, formação que lhe permitiu ainda se qualificar para uma nova missão a partir da década de 1980 : estabelecer um Centro de Estudos de Migrações na capital, Brasília.

‘Eu sabia pouco sobre o assunto, mas tive que me preparar.  Meu foco voltou-se, então, a estudar o tema das pessoas em mobilidade, deslocadas, e decidi dedicar meu conhecimento e trabalho aos refugiados e migrantes’, disse ela.

Combinando formação acadêmica e valores religiosos e humanos cultivados desde a infância, Irmã Rosita se tornou uma das referências na atuação em prol de pessoas migrantes no Brasil, incluindo aquelas que se encontram em situação de proteção internacional. Tal trajetória recebe agora reconhecimento internacional a partir do Prêmio Nansen.

Entre os planos para o futuro, Irmã Rosita pretende trabalhar em prol da ampliação do acesso à educação para crianças refugiadas, melhorar o reconhecimento dos diplomas de refugiados e abordar os crescentes impactos das mudanças climáticas sobre os refugiados e deslocados. Esse último tópico, inclusive, parte da experiência de devastação vivida recentemente após as enchentes em seu estado natal, o Rio Grande do Sul.

Vencedoras regionais

Além de Milesi, outras quatro mulheres também são homenageadas na edição deste ano do Prêmio Nansen, em categorias regionais :

  • África : Maimouna Ba, ativista de Burkina Faso apelidada de ‘Mãe do Sahel’, que ajudou mais de 100 crianças deslocadas a voltarem para a sala de aula e empoderou 400 mulheres deslocadas a conquistarem independência financeira;
  • Ásia e Pacífico : Deepti Gurung, ativista nepalesa que lutou pela reforma das leis de cidadania de seu país após descobrir que suas duas filhas haviam se tornado apátridas;
  • Europa : Jin Davod, empreendedora social síria e criadora de uma plataforma online que oferece apoio em saúde mental para sobreviventes de traumas, incluindo refugiados e comunidades locais;
  • Oriente Médio e Norte da África : Nada Fadol, refugiada sudanesa que mobilizou ajuda essencial para centenas de famílias que fugiram para o Egito em busca de segurança.

As mulheres muitas vezes enfrentam riscos elevados de discriminação e violência, especialmente quando são forçadas a fugir’, disse o Alto Comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi. ‘Mas essas cinco vencedoras mostram como as mulheres também desempenham um papel fundamental na resposta humanitária e na busca de soluções.’ Grandi elogiou a dedicação delas em promover ações em suas próprias comunidades, construir apoio de base e até mesmo moldar políticas nacionais.

O Prêmio Nansen deste ano ainda faz uma menção honrosa à Moldávia, em razão dos esforços coletivos da sociedade local para acolhimento de pessoas refugiadas da vizinha Ucrânia. Segundo dados do ACNUR, a ex-república soviética de 2,5 milhões de habitantes serviu de abrigo inicial para mais de 1 milhão de refugiados ucranianos, sendo que 124 mil ainda são acolhidos no país.

Os prêmios serão apresentados em uma cerimônia em Genebra às 14h30 (horário de Brasília) no dia 14 de outubro, que será transmitido ao vivo. Apresentado pela atriz sul-africana Nomzamo Mbatha, o evento destacará o trabalho das vencedoras e contará com apresentações da Embaixadora da Boa Vontade do ACNUR Kat Graham, da soprano moldava Valentina Nafornita e de Emeli Sandé (MBE) – cantora e compositora.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://migramundo.com/brasileira-irma-rosita-milesi-e-vencedora-global-de-2024-do-premio-nansen-do-acnur/