Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘Enquanto a atenção da mídia estava voltada para o Líbano e para o
confronto com o Irã, nos últimos dias o Exército israelense retomou os
bombardeios maciços no norte da Faixa de Gaza, causando muitas vítimas civis.
Alguns observadores acreditam que esse é o início do Generals’Plan
(Plano dos Generais), um plano de cerco e evacuação forçada do norte da
Faixa, proposto em suas linhas gerais pelo ex-general israelense Giora Eiland,
numa entrevista ao ‘The Times of Israel’, desde abril passado. O plano foi
comunicado ao comitê de relações exteriores e defesa do parlamento pelo
primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em setembro passado. Sobre esse assunto, o
jornal da Santa Sé ‘L'Osservatore Romano’ questionou o professor Idan Landau,
da Universidade de Tel Aviv, que cuidadosamente pesquisou e escreveu sobre o
assunto em várias revistas israelenses.
Professor
Landau pode explicar brevemente o que significa o Plano dos Generais?
O Plano dos Generais foi lançado em setembro passado.
Seu objetivo é esvaziar a parte norte da Faixa de Gaza de sua população, ou
seja, cerca de um terço do total da Faixa de Gaza, isto é, cerca de 300 mil
habitantes. Numa primeira fase, o Exército israelense informaria a todas essas
pessoas que elas teriam uma semana para evacuar para o sul por meio de dois
corredores humanitários. Numa segunda fase, no final daquela semana, toda a
área seria declarada uma ‘área militar fechada’. Os que permanecessem seriam considerados
inimigos a serem combatidos e mortos se não se rendessem. Um cerco total seria
então imposto a todo o território, intensificando, por meio do isolamento, a
crise alimentar e de saúde.
Professor, o
plano proposto pelo General Eiland foi apresentado ao governo em abril passado,
e não foi totalmente aprovado. Por que o senhor acha que ele está agora em fase
de realização? Quais operações militares atuais provariam isso?
A minha impressão é que, apesar das negações oficiais, os militares
israelenses estão implementando uma versão não muito longe da original. E os
próprios soldados em campo confirmam isso aos jornalistas. Muitos civis foram
mortos nos últimos dias e o cerco no norte da Faixa também continua. Dezenas de
testemunhas das cidades de Jabalia, Beit Hanoun e Beit Lahia relatam níveis de
destruição sem precedentes, a demolição de bairros inteiros e até mesmo ataques
a abrigos para expulsar aqueles que ali procuram proteção. Os massacres são
diários : em 29 de outubro, a força aérea israelense bombardeou massivamente
edifícios densamente povoados em Beit Lahia, matando 250 pessoas (metade das
quais ainda estão sob os escombros). Por conseguinte, não creio que haja
nenhuma dúvida de que o plano se tornou operacional. Paralelamente à
destruição, as Forças de Defesa Israelenses (Idf) estão empurrando os
deslocados para o Sul, embora muitos resistam em querer permanecer no enclave e
não atravessar o corredor de Netzarim, porque temem nunca mais poder regressar.
Quantas
pessoas são afetadas pelo plano de evacuação forçada?
Antes de 5 de outubro de 2024 – data estimada para o início da operação
– viviam no enclave entre 300 e 400 mil pessoas. Agora, restam cerca de 100
mil. Mas as Idf estão determinadas a não deixar nenhuma. É bastante claro que
tudo isto nada tem a ver com a intenção declarada de capturar os restantes
líderes do Hamas e destruir as suas bases. O direito humanitário internacional
não permite este tipo de operação militar.
Além da
pressão militar, o plano incluiria também a suspensão do fornecimento de
alimentos, combustível, energia e água. Isto também entraria em conflito com o
direito humanitário internacional?
Deixe-me dizer que me oponho ao uso do verbo condicional. Não ‘iria
prever’, mas ‘prevê’; não 'seria', mas 'é'. Há um mês não entram alimentos e
água no enclave norte de Gaza, com exceção de fornecimentos limitados para o
hospital Kamal Adwan. Todas as agências das Nações Unidas e organizações
humanitárias relatam todos os dias que a situação humanitária é agora
catastrófica. Acredito que não pode haver dúvidas sobre a natureza desta
operação no que diz respeito ao direito humanitário internacional e é esta a
razão pela qual o governo israelense tende a esconder o seu real significado.
Até à data de
hoje, o governo israelense não expressou uma posição clara e definitiva sobre
os futuros acordos de Gaza. Você acha que esta operação constitui uma ordem
futura pelo menos para o Norte da Faixa?
Sim. Penso que o objetivo final é o reassentamento dos colonos. Um
regresso após a remoção ordenada em 2005 pelo então primeiro-ministro Sharon. A
extrema direita da coligação que apoia o governo de Netanyahu não esconde isto.
Começando pelo Ministro do Tesouro, Smotrich. Obviamente este é um projeto que
será implementado em etapas. Através da permanência dos militares no perímetro
da Faixa e nas chamadas zonas de ‘segurança’. Depois começarão pequenos
assentamentos, justificados como uma necessidade de controle militar do
território, que crescerão então para se tornarem grandes comunidades como as existentes
na Cisjordânia. No entanto, não creio que esta solução de reassentamento de
colonos possa alguma vez funcionar, mesmo ao sul do corredor Netzarim, porque
dois milhões de palestinos, amontoados naquele gueto ao ar livre, não podem ir
para outro lugar. E com o tempo acabarão por constituir uma bomba-relógio de
pobreza, de doenças e até de um extremismo perigoso e crescente.’
Fonte : *Artigo na íntegra