quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

São João Bosco

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo da redação da revista Ave Maria

 

‘Corria o ano de 1858 e Dom Bosco, já conhecido nos ambientes eclesiásticos e políticos italianos, estava em audiência com o Papa Pio IX para lhe apresentar seu projeto de fundação de uma congregação moderna que se dedicasse à educação da juventude. O Papa ouviu-o por um longo tempo e com muito interesse. Quis saber como ele tinha chegado àquela decisão e, no fim, depois de ter dado o seu pleno consentimento, exortou-o a escrever tudo o que lhe havia contado.

Alguns anos se passaram e em 1867 Dom Bosco foi novamente falar com o Papa; quando este lhe perguntou se ele já havia escrito a autobiografia, teve de responder que não, por causa do muito trabalho. ‘Bem!’, disse o Papa, ‘se é assim, deixe todas as outras ocupações e comece a escrevê-la. Pois agora não se trata somente de um conselho, é uma ordem’. Dom Bosco finalmente resolveu escrever Memórias, uma autobiografia que vai até a idade de 40 anos, pois não conseguiu terminá-la como era seu desejo diante do pedido do Papa. Temos o suficiente para compreender como ele se deixou guiar por Deus na construção de sua obra.

Nasceu aos 16 de agosto de 1815 em Becchi, Castelnuovo d’Asti. O pai Francisco era casado em segundas núpcias com Margarida Occhiena e deixou-o órfão com a idade de 2 anos. Mesmo entre dificuldades econômicas, a mãe viúva com três rapazes, dentre os quais um era do primeiro casamento do marido, não quis casar novamente para poder se dedicar a eles inteiramente.

Um sonho inesquecível

O pequeno João tinha apenas 9 anos quando viu em sonho, no campo em frente da casa, uma turma de rapazes que estavam brigando entre gritos e blasfêmias. Horrorizado, atirou-se sobre eles, dando murros naqueles que podia alcançar. De repente, apareceu-lhe um homem de um semblante brilhante que lhe disse : ‘Deverás torná-los amigos com bondade e caridade, não batendo neles…’. Perguntou-lhe quem era ele, ao que o homem respondeu : ‘Eu sou o filho daquela que tua mãe te ensinou a saudar três vezes ao dia’.

‘Naquele momento’, conta Dom Bosco, ‘vi, próxima dele, uma senhora majestosa, vestida com um manto que brilhava em todas as direções, como se cada ponto fosse uma estrela muito brilhante’. A senhora fez sinal para que ele se aproximasse, pegou-o pela mão e convidou-o a olhar para o jardim, então, ele não viu mais os rapazes de antes, mas, em seu lugar, uma quantidade enorme de cabritos, cães, gatos, ursos e muitos outros animais.

‘Eis o teu campo’, disse a senhora, ‘o lugar onde deves trabalhar. Crescer humilde, forte e robusto, e isto que vês acontecer a estes animais, tu o deverás fazer pelos meus filhos’. ‘Olhei ainda’, conta Dom Bosco, ‘e eis que no lugar dos animais ferozes apareceram outros tantos cordeiros mansos, que saltavam, corriam, baliam, faziam festa ao redor daquele homem e daquela senhora. Naquele ponto, no sonho, comecei a chorar. Falei com a senhora que não entendia todas aquelas coisas. Então, ela colocou a sua mão sobre a minha cabeça e me disse : ‘No tempo certo, compreenderás tudo’. Tinha apenas dito essas palavras e um barulho me acordou. Tudo havia desaparecido’.

Foi preciso um bonito sonho para imprimir na mente de uma criança algo inesquecível. Ele logo foi contar aos irmãos, mas foi motivo de gozação; contou-o à mãe, que entreviu um sinal da sua futura vocação ao sacerdócio, e quis também saber o parecer da avó. Ela comentou sabiamente que não havia necessidade de acreditar em sonhos. João não pensou mais naquilo.

No entanto, não perdia tempo : reunia no campo colegas e para eles improvisava como um prestidigitador e saltimbanco e, depois de tê-los divertido, repetia-lhes o sermão que havia escutado na igreja no domingo. E não eram só os pequenos que acorriam, muitas vezes vinham também os pais e as mães encantados em ver as piadas, as brincadeiras e mais ainda em escutar as suas palavras. Mesmo quando precisava distanciar-se de casa para trabalhar como ajudante no sítio Moglie, continuou a reunir ao seu redor os jovens do lugar.

O seu interesse pelas coisas da fé e seu talento chamaram a atenção de um sacerdote, Dom Calosso, que lhe custeou os estudos, mas sua morte repentina deixou-o novamente sozinho e sem ajuda. Precisou voltar ao trabalho, abandonando os estudos, que retomou somente aos 16 anos, mas, com sua vontade persistente e a inteligência brilhante, conseguiu completar em quatro anos o ensino fundamental e então já podia iniciar os estudos no seminário.

            Sacerdote ou missionário?

Mas era essa a sua vocação? Ele desejava tornar-se sacerdote, mas queria ser também missionário. Não era melhor tornar-se franciscano? Diante dessa indecisão, o pároco pensou em obter a colaboração decisiva da mãe, mostrando-lhe que um filho padre lhe seria uma ajuda também econômica. A mamãe Margarida ouviu com respeito as palavras do sacerdote, como era seu costume, mas depois tomou a decisão, como sempre fazia, sozinha diante de Deus. Foi até o filho e lhe disse : ‘Tu não deverás te preocupar comigo. Eu nasci pobre, vivi como pobre e quero morrer pobre. Se tu te tornares um padre secular e por desgraça ficares rico, não colocarei os pés na tua casa nem que seja somente uma vez. Não te esqueças disso’.

Após ter orado e meditado longamente e ter pedido conselho aos mais velhos, João, aos 20 anos, entrou como externo no seminário. Para pagar a pensão foi preciso trabalhar todas as noites como ajudante em diversas profissões : alfaiate, padeiro, carpinteiro, ferreiro, sapateiro, conforme as oportunidades se apresentavam. Deus assim o preparava para fundar um dia as escolas profissionais para os jovens. Nos dias festivos se ocupava com os jovens e para eles fundou a Sociedade da Alegria, quase um prelúdio do oratório, colocando as bases de um dos eixos do seu método educativo : o ambiente de alegria.

O estudo lhe agradava e ele aproveitou para adquirir uma sólida cultura. Sua paixão era ouvir os professores, ler os livros de Teologia, e logo imaginava como traduzir essas riquezas doutrinais numa linguagem à altura dos jovens e como lhes tornar agradável. Para ele foi importante o encontro com São José Cafasso, que se tornou seu mestre e confessor quando, terminados os estudos do seminário e ordenado sacerdote em 1841, por ele foi levado ao colégio eclesiástico de Turim para aprimorar a formação com os estudos de teologia moral.

Lá, Dom Bosco conheceu a fundo a espiritualidade de São Francisco de Sales e de Santo Afonso Maria de Liguori. Os dois santos lhe forneceram os elementos inspiradores de sua espiritualidade.

O oratório e as primeiras oposições

Durante aquele período, exatamente aos 8 de dezembro de 1841, Dom Bosco iniciou oficialmente o oratório. A balbúrdia que os jovens faziam não foi bem aceita pelos ‘bem comportados’, por isso ele teve continuamente de ir de um lugar para o outro, à procura de uma sede, até que em Valdocco pôde aos poucos, em meio a dificuldades, implantar sua obra : o oratório festivo, o internato para estudantes e artesãos, a igreja etc. Entretanto, antes de chegar a esse ponto é bom conhecer algumas das dificuldades pelas quais passou.

O governo liberal-maçônico do Piemonte não via com bons olhos aquele sacerdote rodeado de mais de quatrocentos jovens, quase todos eles de condição humilde, que o seguiam com entusiasmo e obedeciam prontamente a cada aceno seu. Pessoas influentes procuraram convencê-lo a dissolver o oratório, mas foi em vão. Outros usaram métodos mais desumanos, organizando emboscadas anônimas e espancando-o. Tudo em vão. Então, interveio o chefe da polícia, um certo Michel, pai do famoso Camillo Benso, conde de Cavour, para emitir ordem de fechamento do oratório por motivos de ordem pública.

Também dessa vez a providência veio em sua ajuda por meio do próprio rei Carlos Alberto que, conhecendo pessoalmente Dom Bosco e estimando-o pelo que fazia entre os jovens, não o permitiu.

Os adversários não se renderam : passaram a intimidar os jovens, controlando suas atividades dentro e fora da igreja, mas o resultado foi que os guardas faziam também fila entre os jovens para se confessar com Dom Bosco.

As dificuldades mais dolorosas lhe vieram dos párocos de Turim, que o culparam de lhes tirar os jovens das paróquias. Dom Bosco respondeu : ‘A maior parte desses jovens que recolho são forasteiros. Seus pais vieram para a cidade à procura de trabalho. Não o tendo encontrado foram embora e os deixaram aqui. Ou então são jovens vindos sozinhos para a cidade à procura de ocupação. São saboianos, suíços, valdostanos, bielesos, novareses, lombardos’.

A situação da época era triste. O desenvolvimento industrial de Turim atraía muita gente da zona rural, mas, muitas vezes o sonho de um lucro fácil se transformava numa amarga experiência de miséria e de fome. Os jovens, na maioria analfabetos e sem emprego definido, sempre caíam nas mãos de patrões desumanos, quando a desgraça não os deixava a vagar pelas estradas levando-os ao latrocínio para sobreviver e depois terminando nas prisões.

Sobretudo para eles, Dom Bosco havia fundado a sua obra, mas muitos não o compreendiam. Para os homens do governo era um líder perigoso de uma massa explosiva ‘que podia ser usada para rebelião e revolução’; para muitos pastores da Igreja, ele era um concorrente desleal.

Por sorte, Dom Bosco encontrou o apoio de alguns sacerdotes mais abertos à novidade do Espírito, como Cafasso e Borel, e, sobretudo, teve o apoio decisivo do Arcebispo Fransoni. Ele aprovou o oratório como a paróquia dos jovens sem paróquia. Num momento de grande perseguição, quando todas as portas se fechavam diante de Dom Bosco, que não conseguia encontrar nem mesmo um palmo de terra para reunir os jovens, até Dom Borel o convidou a fechar o oratório, pelo menos por um ano, a fim de que fosse aplacada a ira dos adversários. Dom Bosco lhe respondeu decididamente que não : ‘Nós já temos uma sede : um pátio amplo e espaçoso, uma casa pronta para muitos jovens, com igreja e fachada. E há padres e religiosos prontos para trabalhar conosco’. ‘Mas onde estão essas coisas?’, interrompeu Dom Borel. ‘Não o sei. Mas sei que existem e estão à nossa disposição.’ Então, Dom Borel interrompeu-o em prantos e exclamou ‘Pobre Dom Bosco’ e foi-se embora. A notícia de que Dom Bosco, devido ao excesso de trabalho, tivesse perdido o juízo, fez com que dois sacerdotes amigos quisessem levá-lo para um manicômio para se curar. Ele mesmo relata o divertido episódio : ‘Logo percebi a brincadeira que queriam fazer comigo e, fingindo que nada sabia, acompanhei-os até a carruagem. Insisti para que eles entrassem primeiro. Quando entraram, em vez de segui-los, fechei rapidamente a porta e disse ao cocheiro : ‘Toca depressa para o manicômio. Lá estão esperando por estes dois padres’’.

Outro sonho profético

Quem garantia a Dom Bosco a certeza de que sua obra era destinada a continuar e que ele teria numerosos colaboradores? Tinha visto, em outro famoso sonho, que entre os rapazes ‘muitos cordeiros transformavam-se em pequenos pastores que, crescendo, tomavam conta do rebanho’. Deus fará nascer então uma numerosa multidão de sacerdotes com o seu mesmo ideal e não de sacerdotes somente, mas também de leigos cooperadores e de freiras.

Uma família espiritual que, das antigas ordens religiosas, conservará só a totalidade da doação a Deus, pois, quanto às realizações práticas, deverá ser de acordo com as necessidades dos jovens e responder às exigências do mundo moderno. Por isso ele, ao colocar as bases da espiritualidade, escolheu como modelo São Francisco de Sales, que nos seus escritos propõe um modelo de santidade adaptado a todos e especialmente a quem vive em meio das ocupações temporais. Outra característica daquele santo que atraía Dom Bosco era a mansidão, uma virtude indispensável para quem quer levar os jovens a Deus.

Dom Bosco também se inspirou na espiritualidade de Santo Afonso de Liguori. Da escola de Cafasso, apreciou a profunda humanidade desse santo napolitano que tanto o ajudou na confissão e na direção espiritual dos jovens.

Aspectos de um espiritualidade moderna

Escolheu para si e para os jovens uma espiritualidade moderna e a completou com algumas características próprias. Antes de tudo, a convicção de que todo trabalho, feito de acordo com a vontade de Deus e para o bem do próximo, por si é uma oração. O dito dos antigos monges, ‘ora et labora’ (‘reza e trabalha’), foi substituído pelo seu : ‘o trabalho é oração’. Abria, assim, um novo caminho para a santidade de todos os leigos, também daqueles que exercem profissões consideradas mais humildes.

Uma segunda característica é a alegria. Ele colheu o aspecto alegre da fé e dele fez o ambiente normal para formar seus rapazes e jovens. A alegria se exprimia também na festa exterior com tudo aquilo que esta comporta, sobretudo num ambiente juvenil, mas, para Dom Bosco, era algo mais profundo : a alegria espontânea e genuína que jorra do interior de quem está com Deus e com o coração puro, por isso, inculcava a seus jovens a confissão e a comunhão frequente e uma profunda devoção a Maria.

Uma terceira característica era a fidelidade ao Papa. Num tempo de grandes agitações sociopolíticas, nas quais, juntamente com a queda do poder temporal do Papa, anunciava-se também a extinção do próprio papado, Dom Bosco deixou aos seus filhos o compromisso de fidelidade a toda prova ao carisma de Pedro.

Sobre essas bases, a família salesiana foi tomando consistência e crescendo. Em 1859, nasceu oficialmente a Pia Sociedade Salesiana, o ramo masculino de sua obra, e, em 1872, nasceu também o das Filhas de Maria Auxiliadora; em 1875, começavam as missões salesianas na América Latina; no ano seguinte, constituía-se a Pia União dos Cooperadores Salesianos e, em 1877, iniciava a impressão do Boletim salesiano.

Dom Bosco havia imprimido muitos livros e alguns deles, como a A história sagrada, foi por muito tempo verdadeiro best-seller. Fundou também uma tipografia e uma editora que se tornaram depois famosas.

Quando, em 1887, inaugurou em Roma a Basílica do Sagrado Coração, construída por vontade do Papa, encheu-se de alegria, pois todos os seus sonhos tinham sido realizados. No dia 31 de janeiro do ano seguinte, faleceu, mas então sua obra já havia sido difundida.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/sao-joao-bosco.html

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida!” (Jo 14,6)

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Ricardo Abrahão 

 

‘Jesus Cristo é a própria melodia da Igreja que nos conduz ao Pai. Melodia é condução segura, afinada e precisa. 

O cristão é o homem que busca a Deus sem cessar. Há um sentido de eterna busca e eterno encontro. Sendo assim, a música litúrgica é representação estética e corporal do ‘buscar a Deus’, o fim de nossas vidas, nosso destino, nossa vocação, nossa natureza. A grande tarefa do cristão é a afinação de todo o seu ser com o Pai por meio de Jesus Cristo.

Muitas vezes, pensamos que as palavras são suficientes para uma canção; nem sempre. A melodia pode dizer mais do que as palavras, ou seja, alterar o sentido espiritual e estético do texto. A música litúrgica católica carrega em si o texto sagrado, do contrário, não poderíamos classificá-la como música litúrgica. Muitos cometem graves erros ao compor uma melodia que carrega um afeto diferente do que o texto diz, por isso, é necessário que o músico católico traga consigo o incessante ‘buscar a Deus’! O monge beneditino Dom Columba Marmion (nascido em 1º de abril de 1858 e falecido em 30 de Janeiro de 1923) foi abade em Maredsous, na Bélgica, e nos deixou um tesouro espiritual em suas obras levando-nos ao estado de escuta interior : ‘E qual o caminho para ‘voltar a Deus’? Importa sumamente conhecê-lo, pois, se não tomarmos por esse caminho, não chegaremos a Deus, não atingiremos o fim’. Sem o conhecimento, o músico litúrgico não poderá exercer sua função : executar com maestria as melodias que nos levam a Deus.

Como podemos saber se a música que executamos ou ouvimos está liturgicamente de acordo com o amor de Cristo? Sabendo quem é Jesus! Ele é o modelo : ‘Tudo quanto Jesus fez foi perfeito; não só pelo amor com que fazia, mas também pelo modo como o fazia. Tudo quanto Jesus fez, ainda as mais pequeninas ações, eram ações de um Deus, infinitamente agradáveis ao Pai. Por consequência, elas são para nós ‘exemplos a imitar’, modelos de perfeição : ‘Exemplum dedi vobis, ut quemadmodum ego feci vobis ita et vos faciatis’ (Jo 13,15; ‘Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, também vós o façais’)’, diz Dom Columba Marmion aos que desejam ser verdadeiros seguidores de Cristo.

A música sacra possui beleza, vida e elementos terapêuticos porque é intimamente ligada ao Cristo e à sua doutrina de vida, portanto, é dever de todos zelar pela música da mesma forma que Maria Santíssima disse nas bodas de Caná : ‘Fazei tudo o que Ele vos disser!’ (Jo 2,5). Jesus já nos disse tudo por meio de sua paixão e ressurreição!

‘Contemplemos, pois, no Evangelho os exemplos de Jesus, que eles são a norma de toda a santidade humana. Se vivermos unidos a Jesus pela fé na sua doutrina, pela imitação das suas virtudes, principalmente das suas virtudes religiosas, chegaremos seguramente a Deus.’ (Dom Columba Marmion).’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/eu-sou-o-caminho-a-verdade-e-a-vida-jo-146.html


terça-feira, 28 de janeiro de 2025

O poder da oração e família como pacto para o sucesso

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo do Padre Rodolfo Faria

‘... Não bastasse ser o Filho de Deus, pelo qual todas as coisas foram criadas (cf. Hb 1,2), ainda tomou sobre si todas as faltas da humanidade e sofreu morte, e morte de cruz, portanto, Deus lhe deu o nome que está acima de todo nome (cf. Fl 2,8-9). Jesus Cristo conquistou para si toda a autoridade. É por essa autoridade que, nas últimas palavras do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus, Nosso Senhor ordena aos discípulos uma importante missão, a de ensinar a todas as nações tudo que Ele havia prescrito e batizá-las. 

Essa missão se impõe para todos os seus discípulos, ou seja, todos os cristãos. É por isso que no contexto familiar somos convidados a agir por meio do pacto do sucesso mediante o poder da oração em família. O pacto do sucesso nos relembra o grave dever que temos como cristãos de levar o Evangelho de Jesus Cristo a todas as nações. É importante notar que Nosso Senhor não ordenou que convertêssemos todas as pessoas, mas que ensinássemos. A eficácia da conversão dos homens e do avanço do Reino de Deus não está na forma do nosso ensino, mas na própria Palavra de Deus, no Verbo encarnado, Jesus Cristo. É Ele quem toca os corações mais duros e os transforma. 

Dessa forma, não devemos achar que precisamos ser excelentes pregadores ou exímios oradores para que possamos fazer nossa parte nessa missão. Poderia Nosso Senhor nos dar uma ordem sem que nos desse a graça necessária para cumpri-la? Claro que não! É na nossa fraqueza que Deus revela totalmente sua força (cf. 2Cor 12,9-10). Às vezes podemos pensar que estamos só engatinhando na fé, mas mesmo as crianças se esforçam para se levantar e andar. Também nós devemos nos empenhar!

Nosso empenho deve estar em nos colocarmos a serviço de Jesus para que Ele aja por meio de nós não somente por palavras, mas transformando nossas vidas em exemplos de entrega a Deus; por isso, o pacto do sucesso nos propõe o comprometimento de fazermos nossa parte orando, jejuando e buscando a comunhão da família. Não apenas uma convivência saudável, mas de um amadurecimento espiritual, porque cada membro tem uma função essencial no crescimento da fé dos demais da sua família. 

Embora o convite seja muito necessário, não deve estar desacompanhado de um verdadeiro compromisso de oração de toda a família, assim, o sucesso será resultado do agir de Deus e um fruto espiritual conquistado por todos pelo poder da oração em família. 

Por diversas vezes em suas cartas, São Paulo exorta as comunidades cristãs a que façam orações e súplicas por todas as pessoas, em especial no versículo lido ele vai além, nós devemos orar ‘pelos reis e por todos os que estão constituídos em autoridade, para que possamos viver uma vida calma e tranquila’ (1Tm 1,2). Esse versículo e tantos outros nos mostram o grande poder que tem a oração em família, sobretudo a oração pelos projetos. Nossa oração é capaz de transpor as barreiras do tempo e do espaço para chegar ao coração de Deus, que escuta e acolhe a súplica de todos os seus filhos. É confiando no poder da oração que a família deve viver o pacto da oração pelos projetos. 

A oração não deve se limitar ao momento da manhã ou da noite, ela deve se tornar um compromisso diário na vida de cada membro da família. É por meio da oração que estabelecemos um diálogo real com Jesus e com a Santíssima Trindade que faz morada em nós. À medida que rezamos nos colocamos em comunhão com Deus e, consequentemente, com toda a Igreja, na chamada comunhão dos santos. A oração nos faz vencer os nossos defeitos, adquirir virtudes e crescer em caridade. 

O comprometimento sincero de orar pelos nossos familiares nos ajuda a viver o mandamento de amor que Deus nos deixou ‘porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus a quem não vê’ (1Jo 4,20b). A família que vive o pacto da oração está livre de amarguras e de qualquer espécie de discórdia, pois, à medida que oramos, colocamo-nos no lugar do nosso irmão, entendemos as suas dores e necessidades e agimos como membros de um mesmo corpo, cuidando uns dos outros (cf. 1Cor 12,12-26). Passamos a amar o nosso irmão como ele é porque aos poucos nos deixamos moldar por Cristo, que ama a cada um incondicionalmente.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/o-poder-da-oracao-e-familia-como-pacto-para-o-sucesso.html

domingo, 26 de janeiro de 2025

Sagrada Tradição e Sagrada Escritura

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Luís Eugênio Sanábio e Souza,

escritor 


‘A fé cristã é fruto da graça divina que nos conduz a acolher a Tradição Apostólica e a Sagrada Escritura, que o Magistério da Igreja Católica guarda e interpreta com autoridade ao longo dos séculos. Portanto, o verdadeiro conhecimento sobre os ensinamentos de Jesus Cristo não nasce de opiniões ou interpretações subjetivas e isoladas ao longo da história.  Jesus Cristo ordenou aos apóstolos que o Evangelho fosse por eles anunciado a todos os homens (Mateus 28,19-20) e esta transmissão, segundo a ordem do Senhor, fez-se de duas maneiras :  oralmente e por escrito.  A transmissão oral é chamada de Tradição Apostólica enquanto distinta da Sagrada Escritura, embora intimamente ligada a ela.  Esta Tradição é a que vem dos apóstolos e transmite o que estes receberam do ensinamento e do exemplo de Jesus e o que receberam por meio do Espírito Santo que Jesus prometeu a eles (João 14,26).  Daí resulta que a Igreja ‘não deriva a sua certeza a respeito de tudo o que foi revelado somente da Sagrada Escritura. Por isso, ambas (Tradição e Escritura) devem ser aceitas e veneradas com igual sentimento de piedade e reverência’ (Concílio Vaticano II: DV, 9).  

A Igreja explica que da Tradição Apostólica é preciso distinguir as ‘tradições’ teológicas, disciplinares, litúrgicas ou devocionais surgidas ao longo do tempo nas comunidades locais.  É à luz da grande Tradição que estas ‘tradições’ podem ser mantidas, modificadas ou mesmo abandonadas, sob a guia do Magistério da Igreja.  Comentando sobre a Tradição Apostólica, o memorável Papa Bento XVI assim disse :  ‘Podemos afirmar portanto que a Tradição não é transmissão de coisas ou palavras, uma coleção de coisas mortas. A Tradição é o rio vivo que nos liga às origens, o rio vivo no qual as origens estão sempre presentes. O grande rio que nos conduz ao porto da eternidade. E sendo assim, neste rio vivo realiza-se sempre de novo a palavra do Senhor : ‘E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos’ (Mt 29, 20).  Deus inspirou os autores humanos dos livros sagrados.  Escritos sob a inspiração do Espírito Santo, os textos bíblicos têm Deus como autor. 

Foi a Tradição Apostólica que fez a Igreja discernir que escritos deviam ser enumerados na lista dos Livros Sagrados que é denominada ‘Cânon’ das Escrituras.  Esta lista comporta 46 escritos para o Antigo Testamento e 27 para o Novo Testamento.  A primeira geração de cristãos ainda não dispunha de um Novo Testamento escrito, e o próprio Novo Testamento atesta o importante processo da Tradição viva. O Concílio Vaticano II indica três critérios para ler a Sagrada Escritura :  1. Prestar atenção ao conteúdo e à unidade da Escritura inteira ;  2. Ler a Escritura dentro da Tradição viva da Igreja inteira; 3. Estar atento ‘à analogia da fé’ que é a coesão das verdades da fé entre si e no projeto total da revelação divina.  ‘O ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo’ (Concílio Vaticano II: DV, 10).   Crer é um ato pessoal e ao mesmo tempo eclesial. 

A fé da Igreja precede, gera, suporta e nutre a fé do fiel católico. ‘Ego vero Evangelio non crederem, nisi me catholicae Ecclesiae commoveret auctoritas’ =  ‘Eu não creria no Evangelho, se a isto não me levasse a autoridade da Igreja Católica’ (disse Santo Agostinho, nascido no ano 354).

‘Fica, portanto, claro que, segundo o sapientíssimo plano divino, a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja estão de tal modo entrelaçados e unidos que um não tem consistência sem os outros, e que, juntos, cada qual a seu modo, sob a ação do mesmo Espírito Santo, contribuem eficazmente para a salvação das almas’ (Concílio Vaticano II: DV n° 10).’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/mundo/news/2025-01/sagrada-tradicao-sagrada-escritura.html

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

A força da Fé

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre Diego Lelis, CMF

 

‘Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se veem.’(Hb 11,1)

‘Ter fé é ir com medo.’(Edith Stein)

 

‘A fé é o pilar central da vida cristã, uma resposta do coração e da alma ao chamado divino que Deus dirige a cada pessoa humana. Nas Sagradas Escrituras, encontramos o convite de Cristo para que entreguemos nossa confiança no Pai que nunca nos abandona. Jesus nos lembra que ‘Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte : ‘Passa daqui para lá’, e ele há de passar’ (Mt 17,20). Entretanto, para que essa fé seja autêntica e floresça é necessário que ela tenha uma atitude concreta e ao amor, pois ‘a fé sem obras é morta’ (Tg 2,26).

A fé cristã, então, não é passiva : ela exige ação. As obras representam a materialização do amor de Deus em nossas vidas, um reflexo de seu cuidado e retenção. Jesus, em sua vida pública, exemplificou esse compromisso : Ele curou, alimentou e confortou aqueles que encontrou em seu caminho, deixando-nos um legado de misericórdia e compaixão. Em cada gesto de caridade, Jesus mostrou que o amor é uma linguagem universal e que exige um comprometimento real com o chão da vida. Como nos ensina São João, ‘Se alguém disser : ‘Eu amo a Deus’, mas odiar o seu irmão, é mentiroso’ (1Jo 4,20).

O amor cristão é, antes de tudo, um amor que se faz, que vai ao encontro do outro com generosidade. Em cada ato de caridade, Deus nos convida a seguirmos o exemplo de Cristo, que, sendo o Filho de Deus, ‘não veio para ser servido, mas para servir’ (Mt 20,28). Inspirados pelo exemplo de Jesus somos chamados a manifestarmos a nossa fé por meio do amor ao próximo, criando laços de solidariedade, fraternidade e cuidado, sobretudo com os mais necessitados.

Dentre as muitas cenas e imagens que temos de Cristo, convém recordarmos aquela na qual Ele é apresentado como o ‘bom pastor’, aquele que conhece e cuida de suas ovelhas com profundo amor e zelo.

A vida de Cristo nos ensina que a verdadeira fé não é uma mera adesão às doutrinas, mas um caminho de transformação interior que se reflete na nossa maneira de ser e de agir. Quando nos aproximamos dele, sentimos o impulso de sermos melhores, de amarmos mais, de estendermos a mão a quem sofre. Essa dinâmica entre fé e obras é uma expressão concreta do mandamento de amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos (cf. Mt 22,37-39).

A fé cristã, em sua essência, é uma vivência encarnada, que não se limita ao âmbito individual. Como corpo místico de Cristo, a Igreja é chamada a agir no mundo, inspirando-se em seus ensinamentos para transformar a sociedade à luz do Evangelho.

Nossos dias, muitas vezes marcados pela pressa e pelo individualismo, desafiam-nos a redescobrirmos o valor da fé vivida em comunidade e traduzida em gestos concretos de fraternidade. É nesse contexto que a mensagem de Cristo ‘Amai-vos uns aos outros como eu vos amei’ (Jo 15,12) se torna uma luz que guia nossos passos. Nossa fé só ganha sentido pleno quando se transforma em obras de amor, pois é por meio do amor que Deus se manifesta no mundo.

Que possamos, como cristãos, seguir o exemplo de Cristo, integrando fé, obras e amor em nossa caminhada. Que nossa fé seja o fundamento de nossas ações, nosso amor seja a marca da presença de Deus em nós e que, unidos como Igreja, possamos construir um mundo mais justo e fraterno, onde o amor de Deus possa ser reconhecido em cada gesto de compaixão e solidariedade. Assim, cumpriremos nossa missão de sermos, à imagem de Cristo, instrumentos do amor de Deus no mundo.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/a-forca-da-fe.html

quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Irmã Esther, jovens norte-coreanos e o trabalho (silencioso) pela reconciliação

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Pascale Rizk


‘Dezembro foi um ‘mês terrível’ para a Coreia do Sul : tumultos políticos, vidas destruídas pelo último desastre aéreo, nuvens tristes e dolorosas parecem pairar sobre o céu do ‘País da Manhã Tranquila’.

Com o início de 2025, ano do octogésimo Aniversário da Libertação e separação da Coreia, começa também o ‘Ano Jubilar da Esperança’, com a bula papal de proclamação ‘Spes non confundit’ (‘a esperança não decepciona’). É precisamente esta a esperança, ‘que reina no coração de cada pessoa’, que leva os católicos da Coreia a prosseguir seu caminho, também segundo seu ‘modus operandi’ quotidiano.

É o que testemunha a Irmã Esther, que acompanha um dos dois grupos de jovens, nascidos na Coreia do Norte, que, depois, fugiram com suas mães e se estabeleceram na Coreia do Sul, há cerca de dez anos.

Orgulhosos e determinados, todos eles estudam, de maneira assídua, movidos pela urgência de se integrar, mais plenamente, na exigente ‘eficácia’ da metrópole. Em sua história pessoal enfrentaram obstáculos e separações, como afirma a Irmã Ester Palma, missionária espanhola que, junto com suas coirmãs – belga, espanhola, coreana e polaca – pertencem à Congregação das Servas do Evangelho da Misericórdia de Deus, uma jovem comunidade de direito diocesano, que atua há 18 anos em Daejeon, a quinta maior cidade da Coreia do Sul : ‘Há dez anos, chegavam por mês, só nesta área, 200 refugiados políticos. Hoje, chega apenas um, a cada seis meses. Depois da Covid, as fronteiras fecharam e ainda continuam. A vigilância é cada vez mais rigorosa’.

Desde a sua chegada à Coreia, a Irmã Esther está comprometida, com outras pessoas, em vários ministérios e se revezam para acompanhar o pequeno grupo de 12 pessoas, chamado 영한 우리 (nós, mais jovens), coordenado pelos Franciscanos. O encontro periódico, que acontece em Seul, uma vez por mês, dura cerca de duas horas e termina com uma Missa e uma janta juntos, como a religiosa explica : ‘A reunião, geralmente, começa quebrando o gelo, com conversas informais e jogos de mesa. Para os coreanos, em geral, e os norte-coreanos, em particular, a timidez é uma característica visível. Logo, eles precisam de tempo para se abrir e se sentir à vontade ​​com os outros. Por este motivo, acrescenta a missionária, o grupo se reúne regularmente : ‘Na segunda parte do encontro, começa o verdadeiro confronto, durante o qual são abordados vários temas concernentes à Paz, o conhecimento mutuo e autodesenvolvimento. Os participantes são jovens e, por isso, querem se interrogar sobre a sua existência e futuro’, afirma Irmã Esther.

A saída da Coreia do Norte ocorre sempre de modo muito complexo. A liberdade de circulação é muito limitada ou quase inexistente, segundo a religiosa : ‘A maior parte dos jovens que deixam o país tem entre 8 e 9 anos. Hoje, após uma década na Coreia do Sul, têm cerca de 20 anos. No início, deixam a Coreia do Norte com suas mães, pois as mulheres podem circular com maior liberdade que os homens. Devido à economia de mercado, vão à China vender suas mercadorias, mas desaparecem para nunca mais voltar, obviamente com a ajuda dos chamados ‘brokers’ (corretores ou intermediários). Se forem presos na China, correm o risco de ser expulsos, porque não têm documentos e entram ilegalmente. Aqui, entra em jogo outro tipo de ‘brokers’, que os leva para a Tailândia ou Laos, onde se apresentam na embaixada da Coreia do Sul. Mas, tudo isso é planejado antecipadamente e entra em jogo o dinheiro necessário para concluir essas operações. Assim, pode acontecer que começam uma nova vida na China, encontram pessoas boas e até formam novos núcleos e famílias, deixando de lado a fuga para a Coreia do Sul’.

‘Depois de adquirir o estatuto de refugiados políticos, após um longo processo de triagem, observa a Irmã Esther, recebem seus passaportes. Mas, ao regressar à Coreia do Sul, deverão ser novamente confiados aos organismos competentes e submetidos a outra triagem. Este processo é extenuante, sob o ponto de vista emocional e humano’.

Durante a permanência nos campos de refugiados, esses jovens fazem o primeiro ‘contato’ com as obras da Igreja Católica. A fase de formação de três meses, permite-lhes adquirir conhecimentos sobre os sistemas bancários, educativos e religiosos, que os levam a compreender ‘como funciona a sociedade’. Os jovens são incentivados a interagir com diferentes comunidades de fé e espiritualidade e, graças ao contato com religiosos e religiosas, que trabalham nos campos de refugiados, pode brotar uma curiosidade inicial, que aumenta, graças ao carinho e proteção que recebem. Tais encontros e experiências com os ambientes religiosos, podem levá-los a pedir o batismo e optar para se tornar católicos.

Para quem deseja, as religiosas colocam à disposição suas casas de acolhimento, para um período de pós-formação. Nestas alturas, os membros são munidos de passaporte sul-coreano, carteira de identidade e celular, como explica a Irmã espanhola : ‘Com as várias formas de ajuda, alojamento e bolsas de estudo, o acompanhamento desses jovens é garantido até à adaptação à sociedade, ou seja, a integração se torna possível com um emprego e uma vida independente’.

Se não optarem por se tornar católicos, os jovens empreendem um caminho em grupos, mais reconhecidos como ‘clubes’. Assim, percebe-se um forte sentimento de orgulho pela escolha feita. Mas, em seus corações, também se preocupam com seus entes queridos, que deixaram, dos quais sentem tanta falta, porque não sabem se um dia poderão reencontrá-los. Todavia, acreditam na possibilidade de mudar seu destino, evitando falar de suas origens, sem responder onde prestou serviço militar ou se visitou seus avós durante o Chuseok, questões comuns em conversas com outros jovens. Fazem assim para evitar de ser etiquetados como inferiores, pobres e comunistas, como acontece sempre. Eles estão cansados ​​de repetir suas histórias, até com quem demonstra estar realmente interessado.

Depois de dois anos de estudos intensivos, para falar a língua coreana, a Irmã Esther Palma e suas coirmãs conseguiram, com tanta paciência, ser acolhidas e respeitadas como verdadeiras operadoras de serviço e missão da Igreja na Coreia, como afirma ainda a Irmã Esther : ‘No trabalho da gestão emocional, quis ajudar cada um a descobrir seus talentos, aptidões e fragilidades, para descobrir a própria vocação ou o caminho de vida a seguir; quis transmitir-lhes a esperança e a misericórdia de Deus, em vista do presente e do futuro, para não ficarem apegados ao passado. A cura emocional é gradual, precisamente por serem jovens; uma abordagem diferente no trato com os adultos’. Por fim, a missionária acrescenta : ‘Uma imagem positiva da Coreia do Norte é o único modo de encontrar a paz e a reconciliação’.

Em sua mensagem para o ‘Dia de Oração pela Reconciliação e Unidade do Povo Coreano’, em 2021, o atual Bispo de Chuncheon, Dom Simon Kim Ju-young, convidou os católicos a continuar a rezar, com fidelidade, o Pai Nosso, a Ave Maria e o Glória ao Pai pela paz no Península Coreana, todas as noites, todos os dias, até que suas orações sejam atendidas : ‘Além de rezar pela paz, trabalhemos pela paz, onde quer que estejamos : nas famílias, bairros, comunidades paroquiais e sociedade. Ao mesmo tempo, não nos esqueçamos dos nossos irmãos e irmãs na Coreia do Norte, com os quais devemos reforçar a solidariedade, incentivar o intercâmbio mútuo, construir relações e partilhar o amor’. Estas palavras do Bispo ainda são praticadas por muitos católicos coreanos.

A Coreia do Norte e a Coreia do Sul estão divididas há mais de setenta anos. Embora a ‘Comissão diocesana para a Reconciliação e Unificação do Povo Coreano’ esteja presente em todas as dioceses, o desejo real é continuar a viver em paz.

Segundo uma pesquisa sobre a percepção pública da unificação, divulgada, no início de outubro passado, pelo Instituto de Estudos sobre Paz e a Unificação da Universidade Nacional de Seul, 35% dos entrevistados afirmaram que a unificação é ‘completamente inútil’ ou ‘particularmente desnecessária’. Esta entrevista foi feita entre 1.200 adultos, dos quais quase a metade são jovens entre 19 e 29 anos. Esta geração teme não conseguir tal unificação, apesar de o PIB do país ter crescido continuamente, desde a recessão. A este respeito, a ênfase corporativa dominante na Coreia do Sul, que, muitas vezes, valoriza um sentido de lealdade em vez de competências, demonstra o cinismo e desencanto de muitos jovens em relação às perspectivas de emprego. A antiga geração continua a ocupar grande parte dos empregos e os jovens lutam para encontrar oportunidades de promoção ou, simplesmente, entrar na hierarquia empresarial. Além do mais, a preponderância de concentrações, em grandes empresas na Coreia do Sul, tornou tudo mais difícil para as pequenas empresas, que reduziu o número de empregos disponíveis.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2025-01/jovens-norte-coreanos-trabalho-silencioso-reconciliacao.html

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

O Dom da Piedade

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre José Alem, CMF

 

‘Os dons do Espírito Santo refletem o amor, o grande e único dom, com cada um representando diferentes aspectos desse amor, como objeto visto de diversos ângulos. Para viver plenamente esses dons é necessário seguir o caminho de Jesus, acreditando no amor, cumprindo os mandamentos e praticando as bem-aventuranças; assim, desenvolvemos os dons do Espírito e crescemos em sabedoria e graça. Esse processo envolve meditação, oração e uma vivência concreta da presença de Deus em nossas vidas e na Igreja. Falaremos, então, do dom da piedade.

Precisamos dialogar com as pessoas que amamos. Com elas partilhamos nossas vidas e elas participam conosco de nossa história. É assim o dom da piedade: cultivar a relação amorosa com Deus de muitos modos, mas muito especialmente amando a Deus na oração. 

A oração expressa e ao mesmo tempo nutre a piedade, esse encontro amoroso com Deus em que partilhamos com Ele nossas vidas. Agradecemos por seus dons, seu amor, louvamos por sua obra na criação, na redenção da humanidade em seu Filho Jesus; agradecemos sua vida em nós pela ação do Espírito Santo. Pedimos também perdão por tê-lo amado tão pouco e suplicamos sua misericórdia para que possamos sempre mais na graça e no conhecimento de Cristo. 

A piedade nos leva a amar Jesus por si mesmo na Eucaristia, a amá-lo em nosso coração, a amá-lo nos irmãos, a amá-lo na comunidade de fé, a Igreja, ouvindo seus pastores, a amá-lo acolhendo e colocando em prática a sua Palavra como palavra de vida que vai iluminando e orientando nossas vidas com atitudes concretas de amor. 

Piedoso é quem, por amor, vive relacionamento com Deus em todos os modos como Ele se manifesta a nós e sente a alegria de partilhar com Ele sua vida confiando no seu amor que impulsiona a conhecê-lo e a amá-lo mais. O amor é também piedade.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/o-dom-da-piedade.html


domingo, 19 de janeiro de 2025

O Testemunho de São Sebastião

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Murillo Henrique Antonio de Oliveira 

 

‘O martírio cristão sempre foi um farol de esperança para os fiéis ao longo da história. Os mártires, ao entregarem suas vidas por amor a Cristo, revelam a força transformadora da esperança cristã — uma esperança que ultrapassa o sofrimento e a morte, iluminando o caminho para a vida eterna. São Sebastião, com seu testemunho de fé e coragem, é um exemplo vivo dessa verdade. Seu martírio nos lembra que a fidelidade a Cristo não apenas sustenta o coração nas adversidades, mas também inspira gerações a permanecerem firmes na fé.

Sebastião (século III) serviu como soldado no exército romano, onde rapidamente ascendeu a posições de destaque. Contudo, ao conhecer o Evangelho, converteu-se e consagrou sua vida ao serviço de Deus e dos irmãos. Mesmo em meio a um ambiente hostil, ele encorajava os cristãos perseguidos e cuidava dos encarcerados. Sua fé foi descoberta e, ao se recusar a renunciar a Cristo, foi condenado a morrer transpassado por flechas. Apesar de sobreviver a esse primeiro ataque, Sebastião foi novamente capturado e martirizado, tornando-se um testemunho inabalável de esperança na ressurreição e na justiça divina.

Sua vida e morte refletem uma das máximas de Santo Agostinho : ‘A esperança tem duas filhas : a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las’. A vida deste santo nos inspira a viver uma esperança ativa e transformadora. Sua conversão nos ensina que a verdadeira fé transforma o coração e guia nossas escolhas. Como bem afirmou o Papa Bento XVI : ‘A esperança cristã nos dá a coragem para suportar as provações e continuar avançando, sabendo que a nossa vida está nas mãos de Deus’ (Spe Salvi, 39). Sebastião viveu essa esperança, enfrentando as adversidades com coragem e confiando plenamente no Senhor.

Essas virtudes heroicas podem ser aplicadas em nossa própria caminhada de fé. Primeiramente, cultivando uma vida de oração e de constância nos sacramentos, especialmente na Eucaristia e na Reconciliação, que nos fortalecem para os desafios do dia a dia. Em segundo lugar, testemunhando nossa fé com obras concretas de caridade, mesmo em ambientes adversos. O Papa Francisco nos recorda que ‘o testemunho cristão é muitas vezes silencioso, mas sempre eficaz e cheio de amor’ (Ângelus, 2017).

Neste Ano Jubilar de 2025, proclamado pelo Papa Francisco, somos convidados a refletir sobre como a esperança cristã pode transformar nossa vida e nos preparar para o encontro definitivo com Deus. Afinal, ‘quem tem esperança vive de maneira diferente’ (Papa Bento XVI, Spe Salvi, 2). O Papa Francisco nos exorta a sermos ‘testemunhas da esperança em um mundo marcado por incertezas’ (Mensagem para o Ano Jubilar, 2024). Inspirados por São Sebastião, somos chamados a olhar para além dos desafios temporais e fixar nossos olhos em Jesus, que é nossa esperança definitiva.

Ao contemplarmos o exemplo de São Sebastião, aprendemos que o martírio, seja físico ou espiritual, é um testemunho poderoso de que nossa verdadeira pátria está no céu, ou, como afirmou o Papa Francisco, ‘é o testemunho de uma vida fiel ao Evangelho’ (Ângelus, 2016). Sua coragem e entrega nos encorajam a viver este Jubileu como um tempo de maior fidelidade a Deus, renovando nossa esperança e oferecendo nossas vidas como um sacrifício de amor. Que ele interceda por nós, para que também sejamos faróis de esperança em um mundo tão necessitado de luz e coragem.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/o-testemunho-de-sao-sebastiao.html

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Jesus, o nome acima de todo nome

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo do Padre Rivelino Nogueira

 

‘‘Chegando ao território de Cesareia de Filipe, Jesus perguntou a seus discípulos : ‘No dizer do povo, quem é o Filho do Homem?’. Responderam : uns dizem que é João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou um dos profetas. Disse-lhes Jesus : ‘E vós, quem dizeis que eu sou?’’A Palavra continua narrando que Pedro, em nome dos demais apóstolos, respondeu para Jesus que Ele era o Cristo, o filho de Deus vivo!

Uma resposta que vai além do entendimento humano de Pedro e Jesus logo percebeu isso. A palavra ‘Jesus’ significa em hebraico ‘Deus salva’. O nome Jesus traduz a pessoa e a missão dele. A pessoa que é o Filho de Deus, com a missão de quem veio à Terra para salvar seu povo dos pecados. Salvação definitiva e de todos os homens.

O nome que está acima de todo nome (cf. Fl 2,9-10). É nesse nome que os discípulos de Jesus, ontem como hoje, operam milagres, pois o Pai concederá tudo o que for pedido em nome de Jesus (cf. Jo 15,16). 

A palavra ‘Cristo’ é a tradução grega do termo hebraico ‘Messias’, que significa ‘ungido’. Em Israel eram ungidas em nome de Deus as pessoas que lhe eram consagradas para uma missão vinda de Deus.

Um anjo anunciou aos pastores o nascimento de Jesus como sendo Ele o Messias prometido a Israel : ‘Hoje, na cidade de Davi, nasceu-vos um Salvador que é o Cristo Senhor’ (Lc 2,11). Por suas obras e palavras foi reconhecido como ‘o Santo de Deus’ (Mc 1,24), o ‘Filho de Davi’ messiânico, o prometido por Deus a Israel.

Não basta sabermos quem é o Cristo das escrituras se não mudamos de vida para tê-lo como Deus; devemos agir sem esperar apenas por um milagre, mas assumindo uma postura ativa e de mudança de atitude. Jesus é toda autoridade, porém Ele nos dá o livre-arbítrio para vivermos nossas vidas e guiarmos nossas decisões.

É por conhecer quem é Jesus que devemos buscar o entendimento de que se trata a Sagrada Escritura. Jesus quer cada um de nós como discípulos e missionários, indo ao encontro do outro e também sendo os protagonistas de nossas histórias.

Que saibamos enfrentar os desafios do cotidiano com espírito cristão e não nos acomodemos diante das dificuldades, sabendo que existe um Deus que está ao nosso lado. Confiemos os nossos impossíveis a Jesus, nossa confiança está nele.

Seguir Jesus é anunciar o que Ele pregou, viver como Ele viveu e crescer sempre na busca de ouvir o que Ele tem a nos dizer. Vinde e vede!

Que, no dia de hoje, possamos pensar na pergunta de Jesus ‘E vós, quem dizeis que eu sou?’ e nos esforçarmos para que nossa vivência revele a resposta. Como sozinhos jamais conseguimos, peçamos juntos essa graça ao Senhor!’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/jesus-o-nome-acima-de-todo-nome.html