Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Julia Santos
‘Desde abril de 2023, o Sudão sofre com a maior crise humanitária de sua
história. Como consequência de uma guerra civil entre grupos paramilitares e
facções vinculadas ao governo, o país enfrenta episódios contínuos de violência
e negligência. O conflito está entre os mais violentos do continente africano –
que é palco de oito das dez piores crises humanitárias da atualidade –
e já causou o deslocamento forçado de mais de 7 milhões de pessoas. O Sudão,
inclusive, aparece no topo dessa lista, elaborada pela ONG International
Rescue Comitee (IRC).
Além das questões geradas pelos embates militares e seus desdobramentos,
o país do norte da África ainda lida com fatores climáticos e sanitários que
potencializam a crise humanitária. Desde junho, fortes chuvas e enchentes já
afetaram cerca de 317 mil pessoas e deslocaram 118 mil, gerando inclusive o
rompimento de uma barragem próxima ao Mar Vermelho. Estima-se que 27 mil casas
foram destruídas e acima de 31 mil sofreram danos antes do rompimento da
barragem. O Sudão ainda enfrenta uma onda de casos de cólera, que infectou 658
pessoas e matou 28 no espaço de um mês, segundo informações da ONU.
Origens e efeitos do conflito
Após o golpe militar conjunto executado em 2021 por Abdel Fattah
al-Burhan, líder das Forças Armadas Sudanesas (SAF), e Mohamed Hamdan Daglo,
comandante das Forças de Apoio Rápido (RSF), a guerra civil no Sudão
transformou o país em um campo de batalha. As tensões se intensificaram em
2023, quando disputas pelo controle do governo e pelas estratégias de reforma
militar se agravaram. O que começou como uma crise política se transformou em
uma guerra total e, há mais de um ano, resulta em combates urbanos na capital
Cartum e em outras grandes cidades, além de ataques a vilarejos em áreas
rurais.
Desde seu início, a guerra tem sido caracterizada por ataques
indiscriminados, massacres de civis e uma escassez preocupante de alimentos e
medicamentos em todo o território sudanês. Além das áreas urbanas em ruínas, a
infraestrutura básica do país, que inclui hospitais e escolas, também foi
destruída. Como consequência desses danos, o país conta com milhões de pessoas
em necessidade urgente de assistência.
No momento, a maioria dos afetados têm buscado abrigo em campos
improvisados nas regiões fronteiriças, onde o apoio é escasso e as condições de
vida são extremamente precárias. A falta de acesso a alimentos, água potável e
cuidados médicos básicos vem sendo o principal motivo responsável por provocar
uma crise de saúde pública entre os refugiados e migrantes sudaneses.
Migração de crise e desafios humanitários
A guerra civil tem forçado milhões de sudaneses a abandonar suas
casas. De acordo com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), mais de 6
milhões de sudaneses foram deslocados internamente desde o início do conflito
em abril de 2023. Além disso, cerca de 1,6 milhão de pessoas buscaram refúgio
em países vizinhos, incluindo Egito, Chade, Etiópia e Sudão do Sul.
O número crescente de refugiados tem pressionado os governos locais e as
organizações internacionais que atuam na região. Atualmente, esses organismos
enfrentam dificuldades para atender às necessidades das comunidades afetadas
pelo conflito, mas as contribuições ainda são limitadas. As áreas de combate
intenso e a insegurança generalizada dificultam o acesso às populações
necessitadas, impedindo a distribuição eficiente de alimentos, água potável e
medicamentos.
Outro fator que prejudica ações no local é a destruição de
infraestruturas essenciais, como estradas e instalações de saúde. A
fragmentação do território controlado por diferentes facções e os bloqueios
impostos pelos grupos armados complicam a logística da ajuda humanitária,
resultando em uma resposta frequentemente inadequada para as necessidades
urgentes de milhões de sudaneses deslocados.
Por meio de nota, o ACNUR ainda citou preocupação com uma potencial
surto de cólera – que já afeta o país – nas áreas que hospedam refugiados. Além
de receber cidadãos de outros países, os estados sudaneses de Kassala, Gedaref
e Jazirah abrigam milhares deslocados forçados internos.
Apesar das dificuldades enfrentadas por aqueles que decidem deixar o
Sudão, as motivações por trás dos deslocamentos são claras. Além de toda a
destruição causada pela guerra, um exemplo da violência praticada na região foi
divulgado no relatório ‘Cartum
não é segura para as mulheres’, publicado pela Human Rights Watch em julho
de 2024. De acordo com o documento, desde o início do conflito, mulheres e
meninas que ainda vivem na capital sudanesa têm sido submetidas a casamentos
forçados, escravidão sexual e violações coletivas, entre outros crimes que
antecedem o feminicídio.
Resposta internacional e perspectivas para o conflito
Buscando amenizar os danos causados pelo conflito, a comunidade
internacional tem respondido à guerra civil no Sudão com uma série de iniciativas
humanitárias e diplomáticas. A resposta é liderada por várias organizações e
agências, incluindo a Oficina de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU
(OCHA), que tem coordenado a assistência humanitária responsável por ajudar
cerca de 19 milhões de pessoas no país.
A Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho estão na linha de frente,
fornecendo suprimentos essenciais e apoio médico aos deslocados. Outros
organismos como UNICEF, Programa Mundial de Alimentos (PMA) e Organização
Mundial da Saúde (OMS) também vem oferecendo apoio contínuo à população
sudanesa.
Além das organizações internacionais, países e blocos têm contribuído
para a manutenção da crise. A União Europeia, por exemplo, destinou mais de 200
milhões de euros em ajuda humanitária até agosto de 2024. Os Estados Unidos e
outros governos, como Reino Unido, Canadá e Noruega, também têm prestado apoio
financeiro.
No campo das sanções e medidas diplomáticas, o Conselho de Segurança da
ONU impôs sanções direcionadas a indivíduos e entidades envolvidas na
violência, com a Resolução 2664 (2022) limitando o financiamento do conflito e
pressionando por negociações. Os EUA e a UE também adotaram sanções para
restringir o comércio de armas e recursos financeiros. Enquanto isso, a União
Africana desempenha um papel crucial na mediação das conversações de paz e na
promoção de acordos de cessar-fogo.
Apesar das mobilizações, o conflito no Sudão segue sem perspectiva de
resolução. Como resultado, a população civil do país continua sendo submetida a
um processo de migração forçada.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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