quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

A tradição contemplativa

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Kim Nataraja


‘O fato de a meditação, a oração contemplativa, ser autenticamente cristã também pode ser constatado pelo fato de que, em muitas tradições cristãs, a oração silenciosa constitui o centro da adoração. Na tradição carmelita, Santa Teresa de Ávila foi muito influenciada, nos primeiros vinte anos de sua jornada espiritual, por um livro devocional popular da época chamado ‘Terceiro Alfabeto Espiritual’, de Francisco de Osuna, um monge franciscano, que recomendava a oração pela repetição de uma frase espiritual. Com ele como guia, ela foi conduzida da oração discursiva para o que chamou de ‘oração da quietude’ e até mesmo para a ‘oração da união’. Essas formas de oração são caracterizadas por uma crescente profundidade de silêncio e quietude interior. É uma maneira de abrir o coração a Deus na oração.

A ‘Oração de Jesus’, que se tornou conhecida no Ocidente no século XIX através do encantador livro ‘Relatos de um peregrino russo’, de autor anônimo, foi uma continuação da tradição de oração na Igreja Ortodoxa Oriental conhecida como ‘Oração do Coração’. Novamente, a ênfase está na repetição de uma frase de oração que leva ao silêncio interior e à solidão. Tanto essa tradição quanto aquela que John Main redescobriu para nós nos escritos de João Cassiano baseiam-se nos ensinamentos dos Padres do Deserto, em particular Evágrio Pôntico, que foi uma importante fonte e inspiração para ambas.

Na Inglaterra do século XIV, foi a obra ‘A Nuvem do Não-saber’, também de autor anônimo, que recomendou a mesma forma de oração. O autor enfatiza ‘perfurar o coração de Deus com um dardo flamejante de amor’. Para isso, precisamos concentrar todo o nosso amor e atenção em uma única palavra. Ele sugere que escolhamos uma palavra monossilábica como ‘Deus’ ou ‘Amor’, que expresse a intenção do nosso coração. O movimento da ‘Oração Centrada’ de Thomas Keating se inspira neste livro. O autor de ‘A Nuvem do Não-saber’ expressa o que está por trás de todos os ensinamentos da tradição mística cristã, ou seja, precisamos nos desapegar dos pensamentos, concentrando-nos em nossa palavra : ‘Fixe-a em sua mente para que permaneça lá, aconteça o que acontecer’. Ou, como John Main sempre dizia : ‘Apenas diga a sua palavra ’. 

Todos os guias espirituais mencionados fazem parte do que é conhecido como a tradição mística da ‘via negativa’, na qual Deus é incognoscível e inexprimível às nossas limitadas capacidades racionais. Portanto, precisamos nos desapegar do pensamento, de todos os pensamentos, sejam eles mundanos ou espirituais, para nos abrirmos mais a Ele e escutarmos profundamente a ‘voz mansa e delicada’. A ênfase está no Amor, em repetir a oração com amor e fidelidade. As diferenças em nossa época entre, por exemplo, a Tradição Carmelita, a ‘Oração Centrante’ e a ‘Comunidade Mundial para a Meditação Cristã’ são muito menores do que as correspondências entre as nossas respectivas formas de oração. Podemos nos inspirar em fontes diferentes, mas todos estamos empenhados em reconectar as pessoas no caminho espiritual com uma forma autêntica de oração que conduz ao silêncio e à consciência da Presença de Deus em nossos corações.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.wccm.org.br/ensinamento-semanal/a-tradicao-contemplativa-2/


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