Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘O fato de a
meditação, a oração contemplativa, ser autenticamente cristã também pode ser
constatado pelo fato de que, em muitas tradições cristãs, a oração silenciosa
constitui o centro da adoração. Na tradição carmelita, Santa Teresa de Ávila
foi muito influenciada, nos primeiros vinte anos de sua jornada espiritual,
por um livro devocional popular da época chamado ‘Terceiro
Alfabeto Espiritual’, de Francisco de Osuna, um monge franciscano, que
recomendava a oração pela repetição de uma frase espiritual. Com ele como guia,
ela foi conduzida da oração discursiva para o que chamou de ‘oração da quietude’
e até mesmo para a ‘oração da união’. Essas formas de oração são caracterizadas
por uma crescente profundidade de silêncio e quietude interior. É uma
maneira de abrir o coração a Deus na oração.
A ‘Oração de
Jesus’, que se tornou conhecida no Ocidente no século XIX através do
encantador livro ‘Relatos de um peregrino russo’, de autor
anônimo, foi uma continuação da tradição de oração na Igreja Ortodoxa Oriental
conhecida como ‘Oração do Coração’. Novamente, a ênfase está na repetição de
uma frase de oração que leva ao silêncio interior e à solidão. Tanto essa
tradição quanto aquela que John Main redescobriu para nós nos escritos de João
Cassiano baseiam-se nos ensinamentos dos Padres do Deserto, em particular
Evágrio Pôntico, que foi uma importante fonte e inspiração para ambas.
Na Inglaterra
do século XIV, foi a obra ‘A Nuvem do Não-saber’, também
de autor anônimo, que recomendou a mesma forma de oração. O autor enfatiza ‘perfurar
o coração de Deus com um dardo flamejante de amor’. Para isso, precisamos
concentrar todo o nosso amor e atenção em uma única palavra. Ele sugere
que escolhamos uma palavra monossilábica como ‘Deus’ ou ‘Amor’, que expresse a
intenção do nosso coração. O movimento da ‘Oração Centrada’ de Thomas Keating
se inspira neste livro. O autor de ‘A Nuvem do Não-saber’ expressa o que está
por trás de todos os ensinamentos da tradição mística cristã, ou seja,
precisamos nos desapegar dos pensamentos, concentrando-nos em nossa palavra : ‘Fixe-a
em sua mente para que permaneça lá, aconteça o que acontecer’. Ou,
como John Main sempre dizia : ‘Apenas diga a sua palavra ’.
Todos os
guias espirituais mencionados fazem parte do que é conhecido como a tradição
mística da ‘via negativa’, na qual Deus é incognoscível e
inexprimível às nossas limitadas capacidades racionais. Portanto, precisamos
nos desapegar do pensamento, de todos os pensamentos, sejam eles mundanos ou
espirituais, para nos abrirmos mais a Ele e escutarmos profundamente a ‘voz
mansa e delicada’. A ênfase está no Amor, em repetir a oração com amor e
fidelidade. As diferenças em nossa época entre, por exemplo, a Tradição
Carmelita, a ‘Oração Centrante’ e a ‘Comunidade Mundial para a Meditação Cristã’
são muito menores do que as correspondências entre as nossas respectivas formas
de oração. Podemos nos inspirar em fontes diferentes, mas todos estamos
empenhados em reconectar as pessoas no caminho espiritual com uma forma
autêntica de oração que conduz ao silêncio e à consciência da Presença de Deus
em nossos corações.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://www.wccm.org.br/ensinamento-semanal/a-tradicao-contemplativa-2/
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