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sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

'A universalidade da salvação' – Terceira Pregação do Advento de 2025

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Tiziana Campisi


A luz que desmascara

‘O frade menor capuchinho propôs uma reflexão sobre a manifestação universal da salvação, sobre Cristo, a verdadeira luz, que é capaz de iluminar, esclarecer e orientar toda a complexidade da experiência humana, que não apaga as perguntas, os desejos e as buscas humanas, mas os coloca em relação, os purifica e os conduz a um significado mais pleno. Luz que o mundo não abraçou porque os homens amaram mais as trevas. O problema, explicou o padre Pasolini, é nossa disponibilidade em acolher a luz, que é necessária e bonita, mas também exigente : desmascara ficções, expõe contradições, obriga a reconhecer o que preferiríamos não ver, e por isso a evitamos.

No entanto, observou o religioso, Jesus não contrapõe quem pratica o mal a quem pratica o bem, mas quem pratica o mal a quem vive a verdade. Isso significa que, para acolher a luz da Encarnação, não é preciso já ser bom ou perfeito, mas começar a tornar a verdade uma realidade na própria vida, ou seja, parar de se esconder e aceitar ser visto por quem se é, porque Deus está mais interessado em nossa verdade do que na bondade de fachada.

Igreja, comunidade que vive a luz de Cristo

Para a Igreja, isso significa iniciar um caminho de maior verdade, o que significa não exibir uma pureza moral ou reivindicar uma coerência impecável, mas apresentar-se com sinceridade e reconhecer resistências e fragilidades. Porque o mundo não espera uma instituição sem fissuras, nem mais um discurso indicando o que deve ser feito, disse o padre Pasolini, mas precisa encontrar uma comunidade que, apesar de suas imperfeições e contradições, viva verdadeiramente à luz de Cristo e não tem medo de se mostrar como é. Os Reis Magos, por exemplo, demonstraram uma maneira singular de serem verdadeiros ao trilharem o caminho do Senhor, explicou o religioso. Eles partiram de longe, mostrando que para acolher a luz do Natal, é necessário um certo distanciamento, para enxergar melhor as coisas : com um olhar mais livre, mais profundo, mais capaz de surpreender. Em vez disso, o hábito de olhar a realidade de perto demais nos torna prisioneiros de julgamentos previsíveis e interpretações excessivamente consolidadas, e isso também acontece com aqueles que vivem permanentemente no centro da vida eclesial e comporta responsabilidades, observou o pregador da Casa Pontifícia, porque a familiaridade cotidiana com funções, estruturas, decisões e emergências pode, com o tempo, estreitar o olhar e, assim, corre-se o risco de não reconhecer os novos sinais pelos quais Deus se faz presente na vida do mundo.

Os caminhos inesperados de Deus

Se o Natal celebra a entrada da luz no mundo, a Epifania destaca que essa luz não se impõe, mas se deixa reconhecer, manifesta-se numa história ainda marcada pela escuridão e pela busca, e é uma presença que se oferece a quem está disposto a se mover. Nem todos a veem da mesma maneira e a reconhecem ao mesmo tempo, porque a luz de Cristo se deixa encontrar por quem aceita sair de si mesmo, quem se coloca a caminho, quem busca, enfatizou o frei capuchinho, acrescentando que isso também é verdade para o caminho da Igreja, já que nem tudo o que é verdadeiro se mostra imediatamente claro, nem o que é evangélico é imediatamente eficaz. E, às vezes, a verdade exige ser seguida mesmo antes de ser plenamente compreendida.

A este respeito, o Padre Pasolini citou a experiência dos Magos, que não avançaram apoiados por certezas consolidadas, mas por uma estrela frágil, porém suficiente para guiá-los em sua viagem. Os sábios que vieram do Oriente para Belém ensinam essencialmente que para encontrar o rosto de Deus feito homem, é preciso colocar-se a caminho, e isso, enfatizou o pregador da Casa Pontifícia, se aplica a todo fiel, e especialmente a quem têm a responsabilidade de proteger, guiar e discernir. Sem um desejo que permanece vivo, mesmo as mais elevadas formas de serviço correm o risco de se tornarem repetitivas, autorreferenciais, incapazes de surpreender. A estrela que guiou os Magos, para o padre Pasolini, é também o sinal das discretas lembranças com as quais Deus continua a se fazer presente na história, e assim, aqueles sábios que não conhecem as Escrituras de Israel, mas leem os céus, lembram que Deus também fala por meios inesperados, experiências periféricas, perguntas que surgem do contato com a realidade e aguardam para serem ouvidas.

Imobilidade

Mas outro aspecto importante que emerge da história dos Magos é a atitude de busca : não se importar, não se colocar em movimento, pode levar a acomodação em uma posição que parece reconfortante, baseada em certezas e hábitos consolidados, mas que com o tempo corre o risco de se tornar uma forma de imobilidade interior, que lentamente isola, muitas vezes sem que percebamos. É o que acontece com Herodes, ele parece atento : questiona, calcula, planeja, mas não parte para Belém, não aceita o risco e a surpresa do que poderia acontecer e delega a tarefa de ir aos Magos, reservando-se o direito de ser informado sobre os acontecimentos. É a atitude de quem quer saber tudo sem se expor, permanecendo protegido das consequências de um envolvimento real, afirmou o frade franciscano, alertando contra uma abundância de conhecimento que carece de envolvimento real. Sabemos muitas coisas, mas permanecemos distantes. Observamos a realidade sem nos deixarmos tocar, protegidos por uma posição que nos protege do imprevisto. Acontece, então, que na Igreja se pode conhecer bem a doutrina, preservar a tradição, celebrar a liturgia com zelo e, ainda assim, permanecer parados. Como os escribas de Jerusalém, também nós podemos saber onde o Senhor continua se fazendo presente — nas periferias, entre os pobres, nas feridas da história — sem encontrar a força ou a coragem para seguir nessa direção, advertiu o pregador da Casa Pontifícia.

A coragem de se levantar

Em síntese, para encontrar Deus, o primeiro passo é sempre se levantar : sair de nossos refúgios interiores, de nossas certezas, nossa visão consolidada das coisas, insistiu o padre Pasolini, especificando que levantar-se exige coragem. Significa abandonar o estilo de vida sedentário que nos protege, mas nos imobiliza, aceitar o cansaço do caminho, expor-se à incerteza do que ainda não está claro. Como fizeram os Reis Magos, deixando sua terra natal e cruzando distâncias sem garantias, guiados apenas por um sinal tênue e discreto, sem saber o que encontrariam, mas confiando na luz que os precedia. Isso é o que significa esperar.

O padre Pasolini também destacou o abaixamento humilde dos Reis Magos. Ao chegarem a Belém, adoraram o Menino, se colocaram a caminho, buscaram e se abriram ao mistério : Levantar-se e depois ajoelhar-se : este é o movimento da fé. Levantar-se para sair de si, não para colocar-se no centro. E depois se abaixar, porque se percebe que o que encontramos está além do nosso controle. Para o pregador da Casa Pontifícia, isso vale na relação com Deus, nas relações cotidianas — quando o outro nos surpreende, nos decepciona ou nos transforma — e é preciso parar de impor nosso próprio ponto de vista e aprender a verdadeiramente escutar. E, ampliando a perspectiva, vale também para a Igreja, que é chamada a se mover, a sair, a encontrar pessoas e situações que lhe são distantes, e também a saber parar, abaixar o olhar, a reconhecer que nem tudo lhe pertence nem pode ser controlado. Então, o dom da salvação pode se tornar universal se a Igreja aceitar em deixar de lado suas próprias certezas e olhar com respeito para a vida dos outros, reconhecendo que mesmo ali, muitas vezes de maneiras inesperadas, algo da luz de Cristo pode emergir.

A verdadeira luz do Natal

Um último aspecto sobre o qual o pregador da Casa Pontifícia convidou a refletir foi que se Deus escolheu habitar nossa carne, então cada vida humana carrega em si uma luz, uma vocação, um valor que não pode ser apagado. Isso nos leva a concluir que não viemos ao mundo apenas para sobreviver ou atravessar o tempo da melhor maneira possível, mas para ter acesso a uma vida maior : a de filhos de Deus. Assim, a tarefa da Igreja é oferecer a luz de Cristo ao mundo. Não como algo a impor ou defender, mas como uma presença a oferecer, deixando que todos se aproximem. Portanto, sob essa perspectiva, a missão não consiste em forçar o encontro, mas em torná-lo possível, concluiu o padre Pasolini. Uma Igreja que oferece a presença de Cristo a todos não se apropria de sua luz, mas a reflete. Não se coloca no centro para dominar, mas para atrair, tornando-se, portanto, um espaço de encontro, onde cada pessoa pode reconhecer Cristo e, diante dele, redescobrir o sentido de sua vida. A perspectiva sobre os hábitos missionários deve, portanto, mudar : muitas vezes se pensa que evangelizar significa levar algo que falta, preencher um vazio, corrigir um erro, mas a Epifania aponta para outro caminho, que é o de ajudar o outro a reconhecer a luz que já habita nele, a dignidade que já possui, os dons que já possui. Portanto, a catolicidade da Igreja consiste em guardar Cristo para oferecê-lo a todos, com a confiança de que a beleza, a bondade e a verdade já estão presentes em cada pessoa, chamada à plenitude e a encontrar nele o seu pleno significado. Em conclusão, para o pregador da Casa Pontifícia, a verdadeira luz do Natal 'ilumina cada homem' precisamente porque é capaz de revelar a cada um a própria verdade, a própria vocação, a própria semelhança com Deus.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2025-12/pasolini-pregacao-advento-luz-deus-magos-igreja.html 

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