Mostrando postagens com marcador liberdade. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador liberdade. Mostrar todas as postagens

domingo, 21 de janeiro de 2024

Perdão: da dor à liberdade

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de João Melo


Perdoar é um caminho desafiador, uma tarefa que, muitas vezes, revela-se árdua diante das feridas profundas infligidas por aqueles mais próximos a nós, como familiares e amigos. Em alguns casos, o distanciamento se instala, deixando relações abaladas, enquanto em situações mais graves somos marcados pela violência que permeia essas conexões.

Contudo, a decisão ética de perdoar vai além do mero relacionamento interpessoal; ela implica interromper o ciclo tóxico do desgosto, do ódio e da vingança, que perpetua o ciclo de violência e sofrimento.

Nessa jornada de perdão, olhamos para o exemplo de Jesus, que, mesmo sendo injustiçado e crucificado, proferiu as palavras ‘Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem’ (Lc 23,34). Ele nos ensinou que o perdão é uma escolha poderosa que transcende as injustiças, promovendo a reconciliação e a cura.

A extensão desse princípio cristão perpassa a reconciliação e a justiça para as pessoas mais descartadas da sociedade, da vida e missão da Igreja e do convívio familiar. A reconciliação é a cura das relações sociais feridas a partir do respeito à diversidade. Jesus acolheu todas as pessoas, independentemente de sua origem, religião, gênero, status social ou passado. Nele encontramos uma absoluta atitude de amor e inclusão. Ao perdoar e respeitar a diversidade, seguimos o exemplo daquele que ensinou que o amor supera todas as barreiras porque a reconciliação passa por toda forma de amor.

O perdão, em sua essência, é um ato libertador.

Ele não apenas redime o ofensor, mas também resgata o ofendido do peso do rancor, livrando-o do constante regurgitar da dor infligida. Apegar-se de forma doentia a uma relação ferida só serve para ocupar a mente e o coração, impedindo a abertura para outras relações e possibilidades de vida. Ao perdoar, encontramos a liberdade para explorar novos horizontes emocionais e construir conexões saudáveis. Ao mesmo tempo é crucial não infligir a si mesmo e aos demais a culpa pela suposta ‘inabilidade’ em perdoar. Cada pessoa tem seus próprios tempos e limites emocionais e, quando profundamente machucadas, podem carregar cicatrizes ao longo da vida.

O perdão não é um processo linear. Na verdade, é um caminho sinuoso que exige tempo, compreensão e compaixão. Reconhecer a própria vulnerabilidade e aceitar que o perdão é um processo gradual permite uma abordagem mais compassiva consigo mesmo e com os demais.

De fato, perdoar não é simplesmente absolver o erro alheio. Trata-se de uma jornada interna de cura que nos liberta das correntes emocionais que nos prendem ao passado. É uma escolha ética que transcende o desejo de retribuição, oferecendo a oportunidade de construir um presente e um futuro mais saudáveis.

Perdoar e respeitar a diversidade são pilares fundamentais para construir uma sociedade e relacionamentos saudáveis. Essas atitudes não apenas promovem a paz interior, também contribuem para a construção de comunidades mais compassivas e empáticas. Ao seguir os ensinamentos de Jesus somos desafiados a transcender as diferenças, nutrindo um espírito de perdão e aceitação que fortalece a harmonia e a diversidade em nosso convívio.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/wp-content/uploads/2023/11/dezembro-2023.pdf

sexta-feira, 29 de julho de 2022

Palavras boas

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,

Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, MG

Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

 

‘O apóstolo Paulo, grande educador e catequista nas primeiras comunidades cristãs, partilha heranças perenes, atualizados ensinamentos para mente e coração dos cristãos, dos homens e mulheres de boa vontade. Paulo disse, na bela e atual carta aos Efésios : ‘De vossa boca não saia nenhuma palavra maliciosa, mas somente palavras boas, capazes de edificar e fazer bem a quem ouve’. Essa recomendação preciosa é remédio que cura o exercício da cidadania em tempos de notícias falsas, emolduradas pelas facilidades e velocidades na circulação de opiniões, juízos e outros enunciados nas redes sociais. As lições de Paulo reforçam que o direito à liberdade de se expressar não desobriga os cristãos de cuidar daquilo que será dito, em qualquer circunstância.

Reconheça-se a responsabilidade sobre o que se expressa, os possíveis impactos provocados por tudo aquilo que se diz. Todos, particularmente os cristãos, são instados a refletir e a discernir bem - antes de emitir juízos, pronunciar palavras, considerando a força determinante da linguagem. A palavra expressa, dentro da liberdade cidadã, tem consequências que não podem ser relativizadas. É capaz de edificar e de destruir, causar confusões e animosidades. O direito de expressão é sagrado, mas as palavras não devem estar contaminadas por sentimentos alinhados às estreitezas humanas, nem por visões parciais, manipuladas. A sociedade é edificada - com avanços na promoção do desenvolvimento integral, na superação de equívocos nos campos da política e da economia, na promoção da igualdade social - com a força de palavras que geram clarividências, indicando soluções na priorização do bem comum.

As palavras tecem o tergiversar que é próprio da política, compõem discursos político-partidários. São essenciais na construção de entendimentos para discernir a respeito de escolhas. As palavras possibilitam a vivência civilizada, o relacionamento entre pessoas e grupos. A instrução do apóstolo Paulo precisa, pois, ser ‘regra de ouro’, especialmente quando se considera este ano eleitoral. Essa ‘regra de ouro’ aplicada e vivenciada poderá reorientar a vida cidadã, contribuindo para a superação de amargos atrasos sociais. Sem o adequado uso das palavras, os atrasos se agravarão, não serão alcançadas soluções para os problemas contemporâneos. A postura adequada, diz o apóstolo, é abandonar a mentira e sempre dizer a verdade. E dizer a verdade não significa se achar no direito de espalhar desaforos, de buscar vitórias ou a própria defesa a partir de discursos que alimentam o ódio, os preconceitos. Trata-se de uma irracionalidade a estratégia de se gerenciar a própria imagem, tentando conquistar credibilidade, a partir da disseminação de inverdades, de difamações sobre os outros.

Especificamente quando se considera a tergiversação própria da política, todos os cidadãos, especialmente os cristãos - por um compromisso de fé -, devem sempre buscar a promoção do bem, combatendo narrativas, e até mesmo providências legislativas, que buscam simplesmente manipular opiniões, por meio de dinâmicas destrutivas. A permanência de mentalidades e procedimentos dentro dessas dinâmicas das manipulações leva a atrasos civilizatórios, ao crescimento da violência, impondo prejuízos a todos, especialmente aos pobres. A sociedade precisa reconhecer que são favoráveis as condições para a abertura de novos ciclos, mas é imprescindível que sejam vencidos apegos pelo poder, por situações que beneficiam apenas oligarquias e, especialmente, sejam assumidas as responsabilidades pelas palavras expressas, para qualificar o relacionamento humano.

Neste horizonte, os cristãos têm obrigação, por princípios e valores ético-morais, de contribuírem determinantemente para que a liberdade de expressão seja exercida sempre de modo adequado. Retoma o apóstolo Paulo, aconselhando : ‘Não se ponha o sol sobre vossa ira, e não deis lugar ao diabo’. O Apóstolo contribui para ser vivida a experiência espiritual e humana de não fazer da própria boca ‘uma caverna’ de palavras maliciosas, mas fonte de palavras que edificam, enraizadas na experiência de uma vida em Deus, pela paixão, morte e ressurreição de Cristo Jesus. Cada um priorize edificar, por gestos e palavras, a própria estatura segundo a estatura de Cristo. Um percurso que pode começar exitosamente ao obedecer a recomendação : ‘De vossa boca não saia nenhuma palavra maliciosa, mas somente palavras boas, capazes de edificar e fazer bem a quem ouve.’’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://domtotal.com/artigo/10067/2022/07/palavras-boas/

terça-feira, 14 de setembro de 2021

O silêncio de Deus: companhia para nossa liberdade

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo do Padre Eduardo Rodrigues Calil


‘Quando a cruz foi plantada no vazio do cosmos, o Cristo salvou a humanidade inteira, mas também a criou. Sua salvação abraçando o passado e o futuro foi um instante de silêncio profundo, silêncio entre Deus Pai e Deus Filho, silêncio do Pai diante da morte do próprio Filho. Entre eles, uma conspiração silenciosa : a do Espírito que os une e diferencia. Depois veio a palavra final : ‘está consumado’ (Jo 19, 30) e a expiração como entrega do espírito (Jo 19,30). Então tudo foi silêncio. Silêncio de onde tudo (re)nasce.

Deus é silêncio. E não como contraponto da Palavra, pois Seu silêncio não é mutismo, não é emudecimento indiferente, fechamento ou isolamento, não é a esquiva de seu mistério em relação às buscas do ser humano. Seu silêncio é, antes de mais nada, ambiente de escuta, espaço de descoberta, respeito à nossa liberdade e, finalmente, sinal de seu trabalho esmerado em nosso favor.

Ambiente de escuta atenta da humanidade. A escuta de Deus é atenciosa e esse é o aspecto fundamental de sua condescendência, de Seu ser-voltado para nós. Esse silêncio permite que a palavra que somos, tão frágil, tão breve, possa ter coragem de ser. 

Deus não é o Absoluto que nos esmaga, a Palavra que nos invade ou que invade nossa história vinda do além-da-história, mas é a Palavra que nasce do mesmo silêncio com que a chuva irriga a terra, que nasce de nossa história com o mesmo silêncio com que a terra irrigada faz brotar as sementes (Cf. Is. 55, 10). 

A Palavra de Deus permite que a nossa palavra diga algo sobre Ele, sobre nós mesmos e sobre a vida. Ela suscita a nossa palavra, a estimula, fá-la descobrir sua própria força. E não o faz, senão a partir da escuta. Na palavra que dirigimos à escuta de Deus, podemos nos escutar. Afinal, também nós somos palavra e silêncio.

Seu silêncio também é ambiente para que possamos ser, é uma sementeira para que nossa vida possa (res)surgir. Um espaço aonde podemos entrar e finalmente (re)descobrir o que de mais íntimo há em nós : a chama do desejo, o que acende a chama da vida. 

O silêncio como ambiente, como espaço, faz-nos lembrar que Deus é também espaço, é o lugar (ha maqon). No hebraico a expressão ha maqon diz sobre um Deus que está no templo, mas é maior que o templo, por exemplo. Aqui a utilizamos para afirmar que Deus é o próprio espaço onde podemos florescer. 

Não há vida sem coragem : sem a coragem da verdade, sem a coragem de revelar-se como quem se é, sem a coragem de amar. O silêncio de Deus é um espaço para que possamos entrar em seu mistério e fazer silêncio. Como nenhum espaço o contém, nem nosso pequeno ser, ele nos introduz em sua própria realidade e, desde Si mesmo, nos encoraja, para que tenhamos vida.

Seu silêncio também é respeito profundo de nossa liberdade. Não é preciso que Deus morra para que tudo seja permitido. Não é preciso que não haja Deus para que possamos ser livres, porque o Ser de Deus não exclui a nossa liberdade, mas a garante. E garante não apenas como um dom, mas também como uma tarefa. Nossa tarefa é fazer nossas escolhas e ter capacidade de responder por elas. É nossa capacidade de responder também diante das escolhas que nos fizeram. Nós escolhemos e, enquanto isso, nós nos fazemos, nos constituímos, mesmo diante do que já fizeram de nós. 

Nesse sentido, Deus não tem planos para nós, não tem desígnios escritos desde a fundação do mundo, não nos dá scripts, não nos escreveu um destino. Se somos determinados em muitos aspectos, isso tem a ver com os limites da vida : nós não podemos tudo. Não podemos nos livrar da liberdade, por exemplo. 

Portanto, nossa liberdade tem limites internos, mas ainda assim é liberdade e Deus não tem pretensões de tirá-la de nós, mas de alargá-la. E Ele não o faz destinando-nos um roteiro que nos prive de fazermos nosso próprio caminho. Ao contrário, Ele faz um caminho até nós, faz caminho conosco, faz-se caminho para nós, para que nesse caminho que Ele é, nós possamos abrir o nosso próprio caminho.

Nossa liberdade, contudo, encontra-se tão diminuída por causa de nossa injustiça, tão aprisionada em nossos próprios impasses, tão reduzida por causa de nossas servidões voluntárias que, por isso, o silêncio de Deus é também Seu trabalho junto de nós, para ajudar-nos a libertar nossa própria liberdade. Deus trabalha sempre (e silenciosamente). 

Diante da cruz da injustiça, seu silêncio que tantas vezes aparece como abandono, como desamparo é também seu escândalo. Deus se escandaliza diante do mistério absurdo do mal, mas Seu silêncio não é paralisia. Seu silêncio é o silêncio recriador de quem dá a vida, como na cruz. A resposta de Deus é sempre a resposta da entrega, o que quer dizer que a antinomia do mal é a entrega da vida no amor, como ele mesmo fez. 

A injustiça aprisiona nossa liberdade, diminui nossas potencialidades, esgarça nossas possibilidades de viver, cria camadas e camadas de gente vivendo uma vida desfigurada, bem longe da vida em abundância que Deus anseia. O silêncio de Deus na cruz, silêncio da entrega da vida no amor, mostra-nos como é possível lutar contra a injustiça.

Mas não há apenas o sofrimento causado pela injustiça, há também a desgraça, o incontrolável da natureza, o imponderável. O silêncio de Deus é igualmente Seu amor impotente, frágil. Amor com o qual ele tenta ajudar-nos a transformar nossas lágrimas e converter nossas dores e o sem-sentido que há. Deus trabalha conosco para refazer rotas, (re)despertando em nós a criatividade com que podemos levantar de nossas próprias tragédias. 

Embora quiséssemos, Deus não é interferente nem um mago pronto para quebrar as leis da natureza ou para parar seus descompassos. E não é porque ele possa fazê-lo e não o queira, mas na verdade, porque ele não pode. Deus é amor, não a onipotência de um arquiteto do universo que tudo faz e desfaz a seu bel-prazer. Deus, enquanto amor, pode vir a nós no entre nós de nossas liberdades. Ele nos vem como o amor que refaz e, às vezes, desde a cruz. No silêncio aparente do fim brota, não raras vezes, o silêncio de novos inícios.

Há também nossas servidões voluntárias. Nossa liberdade é comprometedora, é difícil e o silêncio de Deus, no qual nossa liberdade se afina, é muitas vezes excruciante. A saída que não poucos encontram é vender a própria liberdade, cedê-la a outros, livrar-se dela. Obedecem cegamente, alienam-se de forma contumaz, cegam os próprios olhos para não ver a realidade, mentem e negam para si mesmos que mentem, desvencilham-se da responsabilidade com a própria palavra, maquiam de coragem o exercício do próprio medo, curvam-se a lógicas institucionais mesquinhas, ajoelham-se diante de senhores que prometem descanso e paz, tudo isso para não abraçar a assustadora liberdade. 

O silêncio de Deus é usado como ferramenta por muitos senhores que começam seu senhorio, a partir da instrumentalização da Palavra de Deus, chamando de vontade divina à própria vontade. O silêncio de Deus, contudo, desautoriza tal instrumentalização, pois ele não é mutismo, mas o lugar de onde é gerada a própria Palavra de Deus, Palavra que liberta, ao invés de fazer escravos.

Deus é silêncio. Silêncio no início e silêncio no fim, mas também o silêncio que nos acompanha. Silêncio criador que faz todas as coisas pela Palavra, gestada no silêncio. Palavra que salva e recria, no silêncio da cruz, cravada no vazio, gênese da vida. Silêncio-átimo da expiração, pelo qual se cria em nós um espaço onde Deus mora, ainda que Ele seja maior do que nós. Nesse silêncio que não é emudecimento, mas um ambiente, talvez seja possível encontrá-lo. E com Ele, nós mesmos.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1538525/2021/09/o-silencio-de-deus-companhia-para-nossa-liberdade/

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Liberdade religiosa


5117412499_465bf4a0f8_b


Nos últimos anos aumentou a perseguição religiosa e surgiu um novo fenômeno de violência com motivação religiosa, o hiperextremismo islâmico. Os cristãos perseguidos são 334 milhões.


‘No prefácio do relatório da Liberdade Religiosa no Mundo da Ajuda à Igreja que Sofre, o padre Jacques Mourad, sacerdote sírio-católico que foi detido pelo autoproclamado Estado Islâmico (EI), mas fugiu cinco meses depois, conta a sua experiência. «No dia 21 de Maio de 2015, fui raptado na Síria pelo grupo EI e fui encarcerado em Raqqa. Durante oitenta e três dias, a minha vida esteve presa por um fio. Temi que cada dia fosse o último. No oitavo dia, o wali (governador) de Raqqa veio à minha cela e convidou-me a considerar o meu cativeiro como uma espécie de retiro espiritual. Estas palavras tiveram um grande impacto em mim. Fiquei espantado por ver que Deus conseguia até usar o coração de um alto responsável do EI para me enviar uma mensagem espiritual. Este encontro marcou uma mudança na minha vida interior e ajudou-me durante o tempo em que estive preso. Mais tarde, fui transferido de volta para a minha cidade, Qaryatain, e a partir daí consegui alcançar a liberdade, graças à ajuda de um amigo muçulmano da região. Teria sido muito fácil ceder à raiva e ao ódio pelo que me aconteceu. Mas Deus mostrou-me outro caminho. Em toda a minha vida como monge na Síria procurei encontrar ligações com os muçulmanos e que aprendêssemos uns com os outros.»

O recente relatório da Liberdade Religiosa no Mundo analisa o período de dois anos – Junho de 2014 a Junho de 2016 –, centrando-se no Estado e nos atores não estatais (militantes ou organizações fundamentalistas), que restringem ou recusam a expressão religiosa. No total, 196 países foram analisados, com um foco especial em cada caso em relação à liberdade religiosa nos documentos constitucionais e em outros documentos estatutários, em incidentes de referência e finalmente na projeção de tendências prováveis. Foram levados em consideração os grupos religiosos reconhecidos, independentemente da sua dimensão numérica ou influência percebida em qualquer país. Cada relato foi depois avaliado, no sentido de criar uma tabela de países onde há violações significativas da liberdade religiosa.

Os países onde as violações graves ocorrem foram colocados em duas categorias : ‘Discriminação’ e ‘Perseguição’. Na essência, a ‘Discriminação’ envolve habitualmente uma institucionalização da intolerância, levada normalmente a cabo pelo Estado ou pelos seus representantes de diferentes níveis, com regulamentos legais e outros que enraízam os maus tratos a grupos de indivíduos, incluindo as comunidades de fé. Enquanto a categoria ‘Discriminação’ identifica habitualmente o Estado como o opressor, a categoria ‘Perseguição’ também inclui grupos terroristas ou atores não estatais, pois o foco aqui está nas campanhas ativas de violência e subjugação, incluindo assassínio, detenção falsa e exílio forçado, bem como danos a bens e expropriação de bens.


Situação mundial

Dos 196 países apresentados, trinta e oito revelaram provas inequívocas de violações significativas da liberdade religiosa. Dentro deste grupo, vinte e três foram colocados no nível máximo da categoria de ‘Perseguição’ e os quinze restantes foram colocados na categoria de ‘Discriminação’.

Desde o último Relatório de Liberdade Religiosa no Mundo – há dois anos –, a situação relativa à liberdade religiosa piorou claramente no caso de catorze países (37 %), com vinte e um (55 %) sem sinais de mudança óbvia. Apenas em três países (8 %) a situação melhorou claramente : Butão, Egito e Catar. Em relação aos países classificados com nível de ‘Perseguição’, onze – pouco menos de metade – foram avaliados como situações onde o acesso à liberdade religiosa está em declínio acentuado. Entre os países classificados com ‘Perseguição’ que não revelam quaisquer sinais visíveis de melhoria, sete caracterizam-se por cenários extremos (Afeganistão, Iraque, Nigéria (Norte), Coreia do Norte, Arábia Saudita, Somália e Síria), onde a situação já é tão má que dificilmente pode piorar. Isto significa que há um espaço crescente entre um grupo maior de países com níveis extremos de abuso da liberdade religiosa e aqueles países onde os problemas são menos evidentes, como, por exemplo, Argélia, Azerbaijão e Vietnam.

Em países como a Índia, Paquistão e Mianmar, onde uma religião específica é identificada com o Estado-nação, foram dados passos para defender os direitos dessa religião, por oposição aos direitos dos fiéis individuais. Isto resultou em restrições mais rigorosas à liberdade religiosa de minorias religiosas, aumentando os obstáculos à conversão e impondo maiores sanções para a blasfémia.

Nos países com as piores violações, incluindo a Coreia do Norte e a Eritreia, a contínua penalização da expressão religiosa representa a negação total dos direitos e liberdades, por exemplo, através do encarceramento de longa duração sem julgamento justo, da violação e do assassínio.

Houve uma repressão renovada dos grupos religiosos que se recusam a seguir a linha do partido nos regimes autoritários, como a China e o Turquemenistão. Por exemplo, mais de 2000 igrejas viram as suas cruzes demolidas em Zhejiang e nas províncias vizinhas.

O período em análise viu surgir um novo fenômeno de violência com motivação religiosa, que pode ser descrita como híperextremismo islamita, um processo de radicalização intensificada, sem precedentes na sua expressão violenta. As suas características são : crença extremista e um sistema radical de lei e governo; tentativas sistemáticas de aniquilar ou afastar todos os grupos que não concordem com a sua perspectiva, incluindo correligionários : moderados e aqueles com diferentes tradições; tratamento cruel das vítimas; uso das redes sociais mais recentes, principalmente para recrutar seguidores e intimidar os opositores através da exibição de violência extrema; impacto global, tornado possível através de grupos extremistas filiados e de redes de apoio com bons recursos.

A ameaça do Islamismo militante pode ser sentida numa proporção significativa dos 196 países analisados : pouco mais de 20 % dos países – pelo menos um em cinco – viveram um ou mais incidentes de atividade violenta, inspirados pela ideologia islâmica extremista, incluindo pelo menos cinco países na Europa Ocidental e dezessete países africanos.

Ao definir um novo fenômeno de hiperextremismo islamita, o relatório corrobora as alegações generalizadas de que, ao atacar cristãos, yazidis, mandeanos e outras minorias, o grupo EI e outros grupos fundamentalistas estão a infringir a Convenção das Nações Unidas para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio.’


Fonte :


sábado, 14 de fevereiro de 2015

Crise de consciência

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 *Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte
  
‘Na raiz das muitas crises que a sociedade brasileira enfrenta - hídrica, energética, política, econômica, moral, com a exigência de pronta reação - está a falta de consciência. Uma carência que produz absurdos em série. São incontáveis os prejuízos para a coletividade que resultam da falta de princípios éticos e morais. Uma deficiência que é fonte de arbitrariedades, desmandos, incompetência para reações e respostas. Promove a perda dos sentidos de beleza, justiça e equilíbrio, que devem ser construídos cotidianamente, para se evitar situações ainda mais caóticas.

Há crise de consciência? Esta interrogação ganha pertinência quando se constata extremismos e desequilíbrios na sociedade, em atitudes individuais e coletivas, fundamentadas na irracionalidade e abominável mesquinhez. Um exemplo? A recente notícia de que parlamentares votaram um auxílio moradia em benefício de quem não precisa. Trata-se do princípio de ‘usufruir das vantagens’, que tudo corrói, de maneira demolidora, inclusive o tecido da consciência social, política. Esse princípio é impulsionado por uma perigosa permissividade, que justifica atos individuais e coletivos, merecedores da indignação de homens e mulheres de bem, no exercício do direito de exigir o tratamento adequado do que é público.

Não conseguir debelar o crescente processo de falta de consciência cidadã é um caminho para a ruína da sociedade. Essa constatação é reforçada ao observar fenômenos recentes que devem ser motivo de preocupação : a violência que não pára de crescer, a miséria que faz tantos sofrerem, a presença de grupos interesseiros, especializados em corrupção, que tornam pantanoso o caminho da sociedade, comprometendo avanços e a construção da cultura da vida.

A falta de consciência revela-se de alta gravidade. Muitos agem como devastadores do erário e, pior, tratam de modo predatório os bens da criação. Ora, o mínimo que se pode esperar de cada cidadão é uma conduta balizada pela moralidade. E essa deve ser a postura e o compromisso de quem representa o povo e dirige instâncias governamentais mantidas com dinheiro público. Na contramão do compromisso ético-moral, certamente por perda e esgarçamento da própria consciência, indivíduos e grupos agem cegamente, inspirados só pelos interesses próprios. Perdem a credibilidade, o que aumenta a crise e deflagra uma verdadeira situação de ‘pé de guerra’. Esses cenários de descompassos colocam em pauta uma urgente necessidade : o tratamento da falta de consciência, problema grave e central na sociedade brasileira.

Há um comprometimento sério da consciência moral, comprovado em atitudes inadequadas, em nível individual e institucional. Infelizmente, para impor o próprio interesse, garantir a benesse, consolidar o usufruto de vantagem, vale tudo. Isso gera sérias consequências que efetivam a perda do gosto pela honestidade, do respeito aos limites que possibilitam contentar-se eticamente com o que é justo. A falta da consciência moral, que compromete a conduta honesta, para ser vencida, requer verificações em âmbitos muito complexos da sociedade. Paga-se alto preço pela relativização de normas objetivas e absolutas. O atual contexto cultural tem grande influência nesse processo, pois favorece o enfraquecimento de princípios inegociáveis e fundamentais ao exercício da cidadania.

Autonomia e liberdade não são justificativas para se fazer tudo o que se quer, leiloando princípios ético-morais básicos que alimentam o bom senso. Princípios capazes de fazer crescer o apreço não pelo que se lucra e se ajunta, mas pela honestidade e respeitável conduta cidadã.  É hora de reagir à perda da consciência moral.

Uma possibilidade de reação a esse problema, com incidência em todas as dinâmicas sociais, é conhecer profundamente e vivenciar os valores do Evangelho, guiados pelo Mestre mais completo de todos os tempos, na sua condição de Deus e Homem. Enquanto se reage para debelar a crise pela perda da consciência moral, raiz e vetor de outras graves crises, espera-se que as instituições respeitem as leis, que os representantes estejam, verdadeiramente, a serviço do povo, que cada pessoa se reconheça e participe como cidadão. A recuperação da moralidade deve fazer crescer uma incômoda crise de consciência, capaz de reconduzir a sociedade para o caminho do bem, da verdade e da justiça.


Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.arquidiocesebh.org.br/site/artigoArcebispo.php

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Liberdade e respeito

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

  *Artigo do Padre António Carlos,
Missionário Comboniano

‘Os ataques de Janeiro, em Paris, contra o jornal satírico Charlie Hebdo e o supermercado kosher, que fizeram 20 mortes, chocaram o mundo inteiro, de modo particular a França e a Europa. O motivo dos atentados invocado pelos atacantes – as caricaturas insultuosas de Maomé publicadas no semanário – de maneira nenhuma justifica tais actos barbáricos e abomináveis. Aqui, a religião serviu como mera desculpa para praticar o terrorismo. É uma autêntica aberração matar em nome de quaisquer convicções religiosas e de Deus. Se, por um lado, defendemos a liberdade de expressão como um direito inalienável, por outro, recusamos a ofensa contra a dignidade da pessoa e as suas convicções profundas sob o pretexto da liberdade de imprensa.

Os cartoons que o semanário publicou ao longo dos últimos anos visando figuras religiosas eram ofensivos e de mau gosto. O que nos remete para uma reflexão sobre o papel das religiões em sociedades democráticas, ditas livres, laicas e secularizadas. O laicismo levado ao extremo conduz à desvalorização da religião, tratando-a como um fenómeno privado e sem nenhuma relevância social.

A coexistência pacífica em sociedades multiculturais assenta na aceitação da liberdade de pensamento, associação e expressão, a par da necessidade de tolerância e respeito para com a diversidade de credos e culturas. É imperativo que os cidadãos estrangeiros sejam integrados – e não assimilados – nas sociedades de acolhimento.

Quase simultaneamente aos atentados na capital francesa, cerca de 2000 pessoas eram mortas pelo grupo terrorista Boko Haram durante a captura da cidade de Baga, no Estado de Borno, no Nordeste da Nigéria. O presidente da Conferência Episcopal deste país africano, Dom Ignatius Kaigama, ao mesmo tempo que se solidarizava com as vítimas dos assassínios verificados em França, chamava a atenção para a chacina que está a ocorrer no seu país. E apelava a uma manifestação de unidade idêntica à de Paris contra o terrorismo na Nigéria. Não esqueçamos, pois, que noutras paragens do globo milhares de cidadãos estão a ser vítimas de acções tresloucadas e letais por parte de fanáticos e terroristas.

Precisamente no Sudão do Sul, há pouco mais de um ano, em Dezembro de 2013, rebentou uma guerra entre facções fiéis ao presidente em exercício, Salva Kiir, e facções do seu vice-presidente, Riek Machar. Neste número da revista, pode ler um artigo sobre o impacto muito negativo que os conflitos tiveram em todos os sectores da vida daquele país africano. O texto é escrito por um missionário que viveu os momentos dramáticos da guerra. Ele e o restante pessoal missionário tiveram de se refugiar no mato, vivendo lado a lado com os deslocados da guerra, numa experiência que o aproximou dos sofrimentos do povo. Em ano dedicado à vida consagrada, é um testemunho edificante de pessoas consagradas que partilham a sorte do seu rebanho.’


Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EukkAVVpVpvhNKYdYQ

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Verdade, bem e liberdade

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

* Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
arcebispo metropolitano de Belo Horizonte


‘A perda do laço essencial entre verdade, bem e liberdade na cultura contemporânea é a explicitação do caos moral que vai afundando a sociedade em acontecimentos assustadores. Os fenômenos em torno de violências, justiça com as próprias mãos, corrupção, fundamentalismos, entre outros, são resultado da perda deste laço fundamental. Sua recuperação é um longo caminho a percorrer. Sua urgência deve motivar os mais variados segmentos da sociedade, desde o recôndito da privacidade familiar, passando pelas igrejas e escolas, até ações governamentais em diferentes níveis, em um investimento mais consistente e permanente.

O dia a dia da sociedade sem comprometimento com a verdade, o bem e o autêntico sentido da liberdade pode trazer comprometimentos irreversíveis. O que se vê é um crescente processo de desumanização, com graves consequências para a vida de todos e impactos na formação dos mais jovens. Assim, a ausência do laço essencial entre verdade, bem e liberdade impede que sejam dados novos passos no presente e também engessa a sociedade do amanhã. Muitos se acostumam com os relatos de violência nos noticiários e até, de certo modo, os esperam a cada dia, cultivando o gosto pelo hediondo. Alguns se sentem privilegiados, por não serem alvos ou vítimas, e se comportam como meros espectadores do caos que vai se implantando na sociedade. No entanto, o aumento crescente desta violência é um risco para todos, mesmo para os que estão nos seus “bunkers” de defesa e comodidades.

Não basta apenas um olhar sociológico e estrategista sobre esta situação. Providências e encaminhamentos advindos dessas análises são importantes. Contudo, o essencial é trabalhar pela recuperação da perda do laço essencial entre verdade, bem e liberdade. Há, pois, uma questão de ordem moral pesando sobre os ombros de todos nessa luta de recomposição da sociedade. Quando se considera, por exemplo, o mundo da política, a luta por reforma política, obviamente que não basta legislar de modo novo e diferente, embora necessário. É prioritário poder contar com homens e mulheres à altura de exercícios cidadãos, superando o comum de se fazer da política um canal para atendimentos de interesses partidários e de grupos endinheirados.

Os atrasos na sociedade são incontáveis, atingindo as instituições na sua identidade e missão, desfigurando o sentido de cidadania que se sustenta na verdade, no bem e na vivência autêntica da liberdade. O investimento prioritário, portanto, é na ordem moral. Essa ordem não se enquadra na permissividade de posicionamentos religiosos, políticos e sociais, nem nos rigores fundamentalistas dos que se elegem como os iluminados e donos da verdade. Urge um investimento permanente e consistente na ordem moral. Do contrário, não se vai conseguir debelar o processo que está levando a sociedade a resvalar na direção de um caos maior.

Que absurdos ainda não foram presenciados? Repassar essa lista até desanima. A sensibilidade moral é o remédio para combater o que o Papa Francisco chama de globalização da indiferença e o veneno da idolatria do dinheiro. A sociedade, por falta de aprofundado sentido moral, está sendo, passo a passo, conduzida por diferentes tiranias. Da tirania nascida da ganância que gera a insaciabilidade das riquezas àquelas novas tiranias, invisíveis, às vezes virtuais, que impõem suas leis e suas regras, cristalizando grupos radicais, de todo tipo, até religiosos, contribuindo na complicação que a sociedade contemporânea está vivendo.

A verdade, o bem e a liberdade, como laço essencial da moralidade, devem ser o horizonte inspirador cotidiano de ações, programas e testemunho individual, em casa, na Igreja, na escola, nas empresas, nas ruas, em todo lugar. É preciso libertar a sociedade contemporânea dos excessos de uma cultura em que cada um pretende ser portador de uma verdade subjetiva própria. Razões meramente políticas não inspirarão ações condizentes, neste momento, na busca urgente de soluções para mudar os cenários de exclusão e desigualdades, fontes de violências e disputas que se travam até mesmo sem se ter clareza a respeito de qual bandeira se está defendendo.

As reações violentas tenderão a crescer por parte dos excluídos do sistema social e econômico, que é injusto na sua raiz. O avanço na direção de indispensável equilíbrio, para não inviabilizar a sociedade, supõe a convicção de que é preciso investir sempre e em todos os níveis na recuperação da força moral. Cada cidadão deve ser depositário dessa força, fazendo com que a sociedade redescubra que seu sustento e progresso dependem do respeito incondicional à verdade, o compromisso com o bem moral e a permanente aprendizagem quanto à fragilidade e limites da liberdade humana.’


Fonte :


domingo, 24 de março de 2013

Meditação Cristã e Liberdade

Por Maria Vanda (Ir. Maria Silvia, Obl. OSB)
 
Meditação Cristã na Quaresma  
 
                        Apresentamos, aos leitores, um texto que nos incitou a refletir mais sobre o termo liberdade, utilizado pelo autor, especialmente nesta semana de Páscoa.  Sem nenhuma pretensão de alargar o seu conteúdo, muito menos de explicitá-lo, (porque desnecessário, ante a sua clareza), sentimos apenas uma necessidade de enfatizar que a LIBERDADE, (primeira) nos foi dada por Deus e segundo Ele é que devemos usá-la.  Pois quando Deus, criou o homem, o conduziu para o amor e para a liberdade. Deu-nos, aprioristicamente, amor para nos unirmos e liberdade para crescermos.

                       Então, para não ficarmos presos a uma visão do homem quase que somente antropológica e sociológica, lembremos o grito de Santo Agostinho, (Bispo de Hipona), sobre a nossa dependência e carência inegável de sermos UM com DEUS,  logo, condicionados em nossa liberdade: 
Irmãos, qual a duração de nossos anos? Eles se desfazem cada dia. Os que eram não são mais, os que virão ainda não são. Uns passaram, outros virão só para passar por sua vez. O hoje só existe no instante em que falamos. As primeiras horas passaram, outras ainda não existem, virão, mas para se arremessar ao nada. [...]. Ninguém possui em si mesmo a estabilidade. O corpo não possui o ser, não permanece em si mesmo. Muda com a idade, muda com o tempo e os lugares, muda com as doenças e os acidentes. Os astros também não têm estabilidade; têm suas mudanças secretas, evoluem no espaço[...], não são estáveis, não são o ser.
O coração do homem também não é estável. Quantos pensamentos, quantos impulsos o movem, quantas volúpias o agitam e o dilaceram! O próprio espírito do homem , embora dotado de razão, muda, não tem o ser. Quer e não quer, sabe e ignora, lembra e esquece. Ninguém possui em si a unidade do ser[...]. Depois de tantos sofrimentos, doenças, dificuldades, e penas, VOLTEMO-NOS HUMILDEMENTE PARA ESSE UM. ENTREMOS NESSA CIDADE, CUJOS HABITANTES PARTICIPAM DO PRÓPRIO SER.   (Comentário ao Salmo 121,6 (PL 36,1623). – In Fontes, Olivier Clement – Ed. Subiaco.

                                           Segue o Texto  de D. Lawrence Freeman - OSB.


                                             Adentramos o espiritual através do poder da simples atenção transcendendo as limitações do ego. Para nós, durante estes dias, a história da paixão, morte e ressurreição do Senhor é o portal para este domínio. O poder da atenção é a chave que o abre. No espírito, o poder de todas as limitações é suspenso. "Onde o espírito está, há liberdade". Certos estados mentais podem imitar essa liberdade de espírito. Muitas pessoas desejam a liberdade desses estados e usam meios artificiais para induzi-los. Mas, por estes meios, as limitações de espaço e tempo são enfraquecidas ou dobradas, não transcendidas. O caminho para o espiritual respeita as leis da natureza.
                                         Quando a dimensão espiritual se abre para nós - em nós - ela lança uma nova luz sobre os mundos do espaço e do tempo em cujas limitações ainda vivemos. Continuamos humanos - limitados - mas as limitações não impedem a abertura total do nosso ser ao divino. Tornamo-nos divinamente humanos.

                                              Os mistérios da Páscoa são semelhantes aos que o mundo antigo chamava rituais de iniciação. A transformação final ainda está por vir. Mas aqui e agora - se não cochilarmos, se tirarmos a atenção de nossas limitações e o sofrimento que causam - iniciamos o processo e provamos o vinho novo que Jesus bebe conosco no Reino.
                                        O primeiro passo é entrar na história e deixá-la trabalhar em nós.         A meditação nos ajuda a ouvi-la, mas também nos abre para o ilimitado domínio do espírito, que é o significado e o propósito da história.