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sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Meditação: e se você tentasse a Lectio Divina?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Marie-Christine Lafon


‘A Lectio Divina é, junto à liturgia (missa e oração das horas) e ao estudo, um dos meios para provar e se nutrir da Palavra de Deus. ‘O Evangelho é o Corpo de Cristo’, escreve o grande doutor da Bíblia, São Jerônimo (345-420).

Nós comemos a carne e bebemos o sangue de Cristo no mistério da Eucaristia, mas também na leitura das Escrituras.

Por sua vez, São João Paulo II dizia que ‘o primado da santidade e da oração é concebível apenas a partir de uma renovada escuta da Palavra de Deus’.

O objetivo da Lectio Divina não é, portanto, tornar alguém um estudioso, mas aumentar a sua comunhão com Deus, porque passamos a conhecê-lo melhor, visitando-o pessoalmente nas Escrituras, onde ele se entrega.

A Lectio Divina é mais do que ler, mas envolve ler. Não é um estudo muito intelectual, mas usa a inteligência. Requer fé, para que se possa estabelecer um diálogo entre Deus e o homem, pois é ao Senhor que falamos quando oramos.

Por onde começar?

Se estamos dando os primeiros passos na nossa vida de oração, é possível começar lendo o Novo Testamento, particularmente os Evangelhos.

Podemos escolher uma passagem do Evangelho da missa do dia ou domingo que está por vir, ou mesmo fazer a leitura orante de um dos livros da Bíblia.

Quando já tivermos mais experiência, podemos escolher um tema e fazer uma leitura transversal. Por exemplo, procurar o que Jesus fala sobre o batismo ou o observar durante as refeições com os seus discípulos. Em seguida, é possível comparar e confrontar diferentes passagens do Antigo e do Novo Testamento.

Pode ser útil usar sempre a mesma Bíblia para poder circular e marcar as passagens ao passo que nos familiarizamos. Isso nos permitirá também retornar às nossas passagens preferidas nos dias de secura espiritual.

Finalmente, antes de começar, é bom lembrar que a Lectio Divina é pessoal, mas não individual, é feita na Igreja, banhada pela Tradição.

Como praticar a Lectio Divina?

Nas diferentes práticas, o procedimento permanece o mesmo. Guigues II le Chartreux resume assim : ‘Busque lendo e encontrarás meditando; peça orando e a porta se abrirá na contemplação’.

Ele vê quatro etapas sucessivas, como degraus de uma escada pela qual o homem sobe e desce entre a Terra e o Céu : leitura, meditação, oração e contemplação. Vamos lá!

1. Invocar o Espírito Santo

Jesus nos prometeu e o Espírito Santo nos conduzirá em todas as coisas. Nossa cooperação é nosso esforço para ler, mas é o Espírito Santo que faz das Escrituras uma palavra viva.

Podemos orar assim : ’Vem, Espírito Santo, pai dos pobres, abre e ilumina meu coração e minha inteligência!’.

Abrir as Escrituras e lê-las, de acordo com São Jerônimo, é deixar que o Espírito Santo nos conduza, sem saber de que margem nos aproximaremos.

2. Ler sem pressa

Lemos o texto escolhido como se fosse a primeira vez, de maneira simples e humilde, ignorando tudo o que possamos já saber sobre ele, tudo o que lemos ou ouvimos como comentários. Caso contrário, é também possível ler a passagem selecionada em voz alta ou copiá-la lentamente.

3. Interessar-se pelo contexto

O que aconteceu pouco antes? Onde está acontecendo a cena? Jesus está sozinho com uma pessoa ou ele está na companhia de seus discípulos ou de uma multidão? Que hora do dia isso está acontecendo? Em que época do ano? Durante uma festa litúrgica? Se sim, qual? O que isso significa para Israel?

Também devemos prestar atenção no contexto, nos objetos em palco, etc. Por exemplo : os seis jarros de casamento de Caná (João 2, 1-11) contêm 80 a 120 litros cada, não são pequenos jarros!

Ou, quando Jesus encontra a mulher samaritana perto de um poço (João 4, 1-42), percebe que em um país quente, um poço é uma riqueza, um ponto de encontro, mas também que o serviço de retirar a água é penoso.

Finalmente, não podemos colocar um significado espiritual no texto e esquecer o significado literal. Por exemplo, quando Jesus fala de ‘uma fonte de água jorrando para a vida eterna’ (João 4:14). Tome tempo com alguns questionamentos: o que é uma fonte de água? E de águas vivas? Será que a água é vital?

4. Interessar-se pelas palavras, pelos gestos, e pelo silêncio

É necessário estudar não apenas as palavras, mas também os gestos e os silêncios dos personagens, começando pelos de Jesus. Para quem se adereçam? Quais são os sentimentos dos protagonistas?

Você também não deve hesitar em se deixar ser atingido por gestos ou palavras chocantes ou aparentemente contraditórias. Exemplos : ‘Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra.’ (Lucas 6, 29); ou o pastor que deixou 99 ovelhas para procurar uma (Lucas 15: 4-7). E aí, uma passagem conhecida pode se tornar nova!

5. Meditar e contemplar como a Virgem Maria

Maria conservava todas essas palavras, meditando-as no seu coração.’ (Lucas 2:19). Releiamos o texto à luz da Palavra, porque tudo o que Jesus diz e faz é revelação e dom de sua pessoa e, portanto, do Pai e do Espírito Santo. Tentemos contemplar a Trindade descoberta através deste texto.

Mas também meditemos sobre o que esse texto deseja iluminar de forma pessoal, na nossa vida e nosso relacionamento com Deus. Devemos nos perguntar : o que Deus está me dizendo hoje? E não : o que Deus diz aos homens em geral e em termos absolutos?

Porque ‘todo aquele que vem a mim ouve as minhas palavras e as pratica, eu vos mostrarei a quem é semelhante. É semelhante ao homem que, edificando uma casa, cavou bem fundo e pôs os alicerces sobre a rocha. As águas transbordaram, precipitaram-se as torrentes contra aquela casa e não a puderam abalar, porque ela estava bem construída.’ (Lucas 6, 47-48).

Por encontrar Deus nas Escrituras, acabamos agindo de acordo com a Sua palavra que nos molda.

6. Para terminar, a oração

Dom Chautard chamou a Lectio de ‘provedora de oração’. Para terminá-la, podemos invocar o Espírito Santo e deixar surgir a oração de adoração, de súplica ou de ação de graças que ele despertar.

7. Guardar a oração no nosso coração

A Lectio Divina nos leva a lembrar de Deus pois ‘ruminamos’ suas palavras no nosso coração : ‘Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos nossa morada.’ (João 14, 23). E então, escrever uma passagem no nosso caderno, ou mesmo uma palavra que falou ao nosso interior pode nos ajudar. Memorizá-la ou copiá-la lentamente, ou até compartilhar a Palavra com alguém (sem comentar).

Não devemos desanimar com a aparente secura ou desamparo da Lectio e ousar ficar com uma pergunta, com palavras contraditórias ou chocantes, e deixa-las passar sem compreender. O principal é reservar um tempo com Jesus. A oração será nutrida por todas as expectativas que a Palavra de Deus terá gravado em nós.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/cp1/2020/01/27/meditacao-e-se-voce-tentasse-a-lectio-divina/

sábado, 8 de abril de 2023

Meditação pascoal: deixe-se surpreender por Jesus Cristo Ressuscitado

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Didier Rance


‘Comemoramos os aniversários dos acontecimentos fundadores de nossas famílias (casamentos, nascimentos) e fazemos o mesmo com a fundação de nossa fé, a Ressurreição de Cristo, na Páscoa e inclusive todos os domingos, em todas as missas.

Assim, da mesma maneira que nós gostamos nesses aniversários de família folhear juntos um álbum de fotos (ver nele as lembranças de um casamento ou um nascimento), quando abrimos o Evangelho, encontramos o nosso Senhor Jesus Cristo no frescor da Páscoa junto com Maria Madalena, junto com Pedro, João e os discípulos de Emaús. Vamos caminhar com seus sentimentos e ser surpreendidos, como eles, pelo Cristo Ressuscitado.

Encontrar Jesus Cristo Ressuscitado com Maria Madalena

Maria Madalena vai chorar no túmulo de quem ela amava e quem, é claro, acreditava estar morto, depois de ser testemunha diante da cruz. São Gregório Magno viu na sua obstinação de ir em direção à Cristo, mesmo depois que ele estava morto, um modelo para todos. Mesmo quando nossa fé está no ‘escuro’ e Cristo está morto para nós, continuemos a nos aproximar a ele e amá-lo com todas as nossas forças.

Mas o túmulo está aberto e vazio! Maria não entende nada, ela acredita que alguém pegou o corpo de Cristo e levou ele para algum lugar. Ela dirá isso aos apóstolos e depois voltará ao túmulo, aos anjos e ao próprio Jesus Cristo, a quem ela se confundirá. Por que não reconhece quem continuou aos pés da cruz?

É fácil para nós conceber a idéia da Ressurreição de Cristo, pois a Igreja à proclama desde faz dois mil anos, mas vamos entender que para ela foi a primeira vez que ela tinha experiência com algo assim e era totalmente inimaginável. Os mortos não ressuscitam. É verdade que Lázaro voltou à vida, graças a Jesus, o único que podia fazê-lo, e agora Jesus está morto!

E é então o próprio Jesus que chama ela suavemente pelo seu nome : ‘Maria’. Nem tambores, nem trombetas, nem a chegada chocante surgindo sobre as nuvens, como o do Filho do homem anunciado por Daniel (7,13).

Quanta discrição nesta primeira aparição após a sua vitória sobre a morte! E é pela voz, o órgão da fé (‘A fé, portanto, nasce da pregação e a pregação é feita em virtude da Palavra de Cristo’, Romanos 10, 17), que Maria reconhece. Assim que Maria se vira, ou seja, ela se transforma (etimologicamente são a mesma palavra), ela grita seu amor : ‘Raboní!’ E Jesus responde : ‘Não me retenha, porque ainda não subi ao Pai’.

Ele a faz se desapegar de sua afeição pelo homem que ela conheceu antes da Paixão para aprender a conhecer o Senhor. E Jesus acrescenta : ‘Diga aos meus irmãos : ‘Vou para cima junto ao meu Pai, o Pai de vocês; meu Deus, o Deus de vocês'‘.

Jesus Cristo ressuscitado vem ao nosso encontro para confiar-nos uma missão : sermos suas testemunhas. A Ressurreição é o centro da História, mas não é o último ato, e, como Deus é seu autor, oferece-nos a possibilidade de proclamar o seu anúncio e o que isso significa para todos : a possível vitória sobre o mal e a morte, a esperança da vida e da bondade eternas.

Encontrar o Cristo Ressuscitado com São João e São Pedro

Corremos junto com João para o túmulo. Ele vê as telas e acredita. De fato, seus olhos só vêem as telas e uma mortalha, vazias, mas seu coração compreende : Cristo não está mais no túmulo, ele está vivo. Quanto a Pedro, o Evangelho de São João não especifica sua reação no túmulo nem seu caminho pessoal no reconhecimento da Ressurreição.

Mas, além do que São Lucas escreve, que Jesus Cristo lhe apareceu na Páscoa, temos algo melhor : seu próprio testemunho no Pentecostes (Hb 2: 14-36). Pedro foi o primeiro que descobriu, à luz do seu encontro com o Ressuscitado, aquilo que proclama nesse dia : o plano de Deus para a salvação dos homens através da História, culminando na ressurreição daquele que foi pregado na cruz .

Além disso, os Evangelhos da Ressurreição especificam a missão de Pedro (e, portanto, dos seus sucessores). Maria Madalena vai correndo até ele quando vê o túmulo vazio (Jo 20,1-2) e João, o discípulo amado, sai diante dele na entrada do túmulo (Jo 20,3-10): a Igreja do amor reconhece sua primazia. Mais tarde, nas margens do lago da Galiléia, Jesus Ressuscitado confirma e especifica sua missão como pastor e especifica seu papel para toda a Igreja : ‘Leva a pastar minhas ovelhas’ (Jo 21,15-19).

Encontrar o Cristo Ressuscitado com os discípulos de Emaús

Mais uma vez, é Jesus quem toma a iniciativa no caminho. Ele vai caminhar junto com dois homens tristes pelo drama do Calvário. Eles também não o reconhecem, embora o conhecessem bem antes de sua morte, como acontece frequentemente quando não o reconhecemos quando Ele caminha conosco ao nosso lado na vida. Esse trajeto até Emaús é importante para entender o papel da Palavra de Deus no encontro com Jesus.

O que Ele diz à eles durante o trajeto sobre Ele mesmo é muito diferente do que um jornalista diria quando ressurgisse extraordinariamente do mais profundo da morte. Dá à eles, a partir da Escritura, o significado do que Ele viveu. É a fé em Cristo Ressuscitado que abre a inteligência da Escritura para nós, e não o contrário, mas, em troca, entendemos melhor o que Sua Ressurreição significa para nós quando nos alimentamos da Palavra de Deus.

Quando chegaram em Emaús, Jesus se senta à mesa com os dois discípulos. E é então, quando ‘ele pegou o pão e pronunciou a bênção; depois ele quebrou o pão e deu à eles ‘(como o padre na missa), os quais compreendem e reconhecem quem é Ele. Desde então, a Eucaristia tem sido o lugar do nosso encontro sensível com Jesus. ‘Não temos, nem vemos outra coisa verdadeira e sensível neste mundo desse Altíssimo Senhor, exceto seu Corpo e Sangue’, dizia São Francisco de Assis.

E, como Maria Madalena, como João, os dois discípulos entendem que é através do amor que avançam em direção à Ele : ‘Não ardia nosso coração, por acaso, enquanto Ele nos falava durante o caminho e explicava as Escrituras para nós?’ Os peregrinos de Emaús sabiam – e nos convidam a fazer isso com eles – que esse caminho para a felicidade perfeita que eles percorreram com Jesus Cristo Ressuscitado e que correm para compartilhar com os Apóstolos é, de fato, Ele mesmo : ‘Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida ‘(Jo 14,6).

Um caminho que serve para todos nós

Estes encontros de Páscoa podem ser procurados por cada um de nós através de outros testemunhos da Ressurreição : as mulheres santas, São Tomé, os Apóstolos. São como lampejos de uma realidade que sempre nos dominará e nos fará vislumbrar o que Cristo Ressuscitado espera de nós :

  • É sempre Ele quem toma a iniciativa e quem se manifesta livremente escolhendo quem Ele quer;
  • Ele quer ser reconhecido e mostra sinais para alcançá-lo, mas não força nada. Deixa seu interlocutor encontrar sua resposta em liberdade;
  • Esse encontro quebra de tal maneira todas as concepções sobre a vida e a morte que cada um deve passar por uma jornada de reconhecimento, medo, dúvida, alegria incrédula, choque, adoração (alguns não conseguem);
  • Cada um revela suas disposições internas e entendemos que a coisa decisiva para avançar em direção à Ele é o amor;
  • Depois de ser reconhecido, Jesus revela que ele não está mais morto, mas sim vivo (ele fala, anda, come), que continua sendo o mesmo, mas diferente, mestre das limitações deste mundo;
  • Jesus inscreve sua Ressurreição na história de Israel e nas Sagradas Escrituras e convida à lê-las e compreendê-las à luz do evento pascal;
  • Ele conduz do visível ao invisível, do contato físico aos sinais, da presença sensível aos sacramentos em que se entregará e, sobretudo, na Eucaristia;
  • Seus interlocutores entendem que Jesus é mais que o Messias : ‘Meu Senhor e meu Deus!’, exclama Tomé.

Todos esses encontros terminam com um envio de missão. Jesus confia a cada um a responsabilidade de contar esse encontro com Ele e de dar testemunho da boa nova da Salvação. Assim, Jesus forma o coração e o intelecto para dar testemunho dele, antes que o Espírito Santo dê forças para fazê-lo. Todas essas aparições de Cristo Ressuscitado refletem, portanto, um encontro pessoal com Ele. Cada um de nós é chamado a isso nos sacramentos, na oração e em toda a vida. Jesus é sempre nosso contemporâneo e nós também somos chamados por Ele a aceitar o mesmo desafio que as suas primeiras testemunhas.’ 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/cp1/2020/04/08/meditacao-pascoal-deixe-se-surpreender-por-jesus-cristo-ressuscitado/

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Escritor, padre e teólogo, Pablo D'ors lança 'Biografia do silêncio' no Brasil

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo da Agencia Estado/Dom Total


‘Padre, teólogo e discípulo zen, Pablo d’Ors virou escritor best-seller na Espanha há uma década com um livro breve, mas profundo, sobre sua relação com a meditação. Biografia do silêncio, que chega agora ao país, sugere que a partir de algo simples como sentar, respirar e calar é possível começar uma transformação interior. É um livro sobre meditação, e como meditação, para o autor, é vida, este é um livro sobre um novo modo de estar no mundo.

O silêncio é só o contexto que possibilita todo o resto’, ele escreve. Na obra, d’Ors fala sobre os desafios do começo, como a descoberta de que pode ser insuportável estarmos sozinhos conosco, a dor no joelho, o pensamento. É preciso, como ele diz, perseverar e esperar o lodo assentar. E então os resultados começam a aparecer.

O autor defende que a meditação ajuda no processo de autoconhecimento, nos reconcilia com o que somos e ajuda a aceitar a vida como ela é. A meditação nos concentra e nos devolve à casa. Meditando, nos aprofundamos na nossa identidade, descobrimos a paz e a confiança. Aprendemos a estar no presente e entendemos que nós e o mundo somos a mesma coisa - e daí nascem a compaixão e a humildade, uma atenção às necessidades dos outros, a abertura à diversidade, o apreço à natureza e uma visão de mundo mais global. ‘Meditar ajuda a não nos levarmos tão a sério’, ele também acredita.

Aos 58 anos, Pablo d’Ors, fundador da rede de meditação Amigos do Deserto e do Tabor, concedeu esta entrevista por e-mail sobre seu livro.

O método parece simples : sentar, respirar, calar. Mas como ter algum êxito num mundo tão barulhento, em tempos nebulosos? Ou numa dimensão mais cotidiana : com a construção ao lado, com os filhos chamando, o trabalho, a tecnologia, as redes sociais. Como começar a se desconectar desse mundo para tentar alcançar esse silêncio interior?

O método que ofereço para aprender a meditar é simples : basta se sentar com as costas retas, ficar quieto, recitar uma palavra sagrada - por exemplo, Maranathá - no ritmo da sua respiração, focando sua atenção no centro das palmas das mãos, que devem estar interligadas, seja no colo ou na altura do coração. Isso é tudo. Você tem sucesso perseverando no fracasso. Não se trata de mudar sua vida, não há nada a mudar. Basta dedicar 25 minutos por dia a essa prática e a vida muda sem que a gente perceba. O que acontece conosco é que, no fundo, não queremos mudar.

Fala-se hoje, depois do coronavírus, em uma epidemia de saúde mental. A pandemia nos desestabilizou. Vivemos um medo constante assistimos à morte de pessoas queridas e de estranhos. Há uma sensação de desamparo generalizada. Por outro lado, ela também provocou mudanças de hábitos. Como o senhor vê esse momento de ruptura? E como a prática da meditação poderia nos levar a algum lugar novo, nos ajudando individualmente para que sejamos, em alguma medida, também agentes de uma mudança social - para que, então, algo novo possa surgir?

Esta pandemia nos enviou uma mensagem ética e uma mensagem mística. A ética nos diz que temos que mudar nossas vidas : que não podemos continuar viajando feito loucos, consumindo sem parar, desperdiçando os recursos do planeta. A mística nos diz que somos todos um, que estamos interligados. Esta descoberta, em nível planetário, é nova na história da humanidade, pois nunca vivemos uma crise tão global. Vivi esta situação crítica como qualquer outra pessoa : com incerteza, ou seja, com medo, preocupação, ansiedade. Mas também com esperança. A esperança não é mero otimismo. A esperança é uma virtude, algo que pode ser cultivado. Todos os meus esforços visam mostrar que somos responsáveis por como nos sentimos e, em última instância, pelo que nos acontece. Por outro lado, nenhuma mudança social que não passe por mudança pessoal é sólida e confiável. Seja você a mudança que espera do mundo.

Como o senhor diz, meditar é pular de cabeça na realidade, é a arte da rendição e o caminho para nos abrirmos para a dor. Por que isso é bom, e necessário?

A realidade é muito mais sábia do que qualquer ideia que possamos ter dela, por mais bonita que nos pareça. Tudo de grande e belo que esta vida oferece, como responder a uma vocação, ter um filho, escrever um livro, escalar uma montanha, amar outro ser humano, implica uma certa dor. Nada é feito de forma simples e apenas com prazer. Se você elimina a dor, elimina a vida. Cada vez que você se protege para não sofrer, você se impede de viver. Muito mais do que a própria dor, o que nos destrói é a nossa resistência a ela. ‘Não resistir ao mal’ (Mateus 5:39) é um dos ensinamentos menos compreendidos de Jesus de Nazaré e certamente um dos mais decisivos.

O senhor escreve que estamos vivendo, sim, mas que muito frequentemente estamos morrendo. Que pensamos demais e, por isso agimos pouco. Que buscamos a paralisia, ou que seguimos adiante por inércia. Que buscamos empregos e companheiros que nos façam sentir seguros, ideias firmes e claras, partidos conservadores. O que precisamos aprender para começar a viver de fato?

As pessoas não são divididas em crentes ou não crentes, nem em negros ou brancos, bons ou maus, inteligentes ou estúpidos, mas sim em vivos e mortos, acordados ou dormindo. O que temos de fazer é acordar, perceber, desfrutar. Desfrutar é comungar com o que existe. Não estamos aproveitando, não estamos entregues às coisas, situações ou pessoas; estamos bastante divididos, quebrados, fragmentados. O grande desafio é a unidade, a harmonia, a comunhão - há muitas palavras para dizer a mesma coisa. Em vez de nos ajudar a entrar na realidade, o pensamento muitas vezes nos separa dela e nos paralisa permanentemente. Tudo bem pensar, mas não sem antes contemplar, receber, acolher. Primeiro você tem de se deixar afetar pelo que a vida nos oferece, e só então pensar nisso. Não sabemos perceber, somos muito mentais. A razão? Temos medo, desconfiamos. Se não nos tornarmos crianças, se não entrarmos numa segunda inocência, perderemos o tesouro que nos foi dado.

Buscar o silêncio interior, como coloca, é algo para a maturidade. Existe alguma coisa nessa linha que podemos ensinar às crianças desde pequenas?

As crianças precisam ser deixadas um pouco em paz e também que deixemos elas serem crianças : que brinquem, se aborreçam, protestem, se zanguem. O melhor serviço que podemos prestar às crianças é ser quem temos de ser. Ser você mesmo é a melhor coisa que você pode fazer pelos outros. Se você deseja que seu filho ore ou medite, por exemplo, ore ou medite e o resto virá como consequência.

Por falar em infância, o senhor escreve algo bonito em Biografia do silêncio : ‘A meditação ajuda a recuperar a infância perdida’.

Quando éramos crianças, não tínhamos preconceitos. Isso nos fazia curtir uma viagem de carro, um dia na praia, um bolo de chocolate, uma formiguinha andando no chão. Não tínhamos pressão por desempenho. A vida não era para produzir, não era para alguma coisa. Era vida, sem mais. O ser não era contaminado pelo poder, pelo ter ou o fingir. Não se trata de, agora, como adultos, recuperarmos a ingenuidade infantil, mas sim de uma espécie de ingenuidade lúcida : a lucidez de quem já viveu e retorna ao elementar, sabendo que é aí que o essencial se esconde.

Precisamos aprender a sorrir mais, a rir de nós e a rir à toa?

Sem dúvida. Tudo seria muito melhor para nós se ríssemos mais, principalmente de nós mesmos. Às vezes, nossa vida assume dimensões trágicas, muitas vezes dramáticas, mas quase sempre cômicas. Ver o lado engraçado das coisas pelas quais temos de passar é o princípio da sabedoria. Ou o final. Para mim, há duas coisas que me aliviam da gravidade com que a vida às vezes se apresenta a nós : religião e humor. Precisamos de mais leveza, o que não quer dizer que não existam momentos que também nos exigem atitudes sérias e até mesmo drásticas. Quando rimos, a mente perde o controle e o corpo se liberta. Isso é bom para nós na maioria das vezes.

Qual foi a principal lição que a meditação te ensinou?

Que não devo escapar da vida. Que é na vida que Deus me espera. A meditação me ensinou e continua a me ensinar a conviver com quem eu sou, com quem me tornei.

O que descobriremos quando formos, enfim, capazes de ouvir o silêncio?

Que o silêncio não é nada e é tudo. Que somos espaço, ou seja, pura possibilidade. Que só nesse espaço ressoa a voz da sua consciência. Aquela voz que lhe diz que você pode confiar que todas as coisas conspiram para que você seja quem foi chamado a ser.’

BIOGRAFIA DO SILÊNCIO : BREVE ENSAIO SOBRE MEDITAÇÃO

De Pablo D'Ors

Academia

192 páginas

R$ 31,90

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1543659/2021/10/escritor-padre-e-teologo-pablo-dors-lanca-biografia-do-silencio-no-brasil/

domingo, 4 de abril de 2021

Meditação pascoal: deixe-se surpreender por Jesus Cristo Ressuscitado

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Didier Rance,

diácono


‘Comemoramos os aniversários dos acontecimentos fundadores de nossas famílias (casamentos, nascimentos) e fazemos o mesmo com a fundação de nossa fé, a Ressurreição de Cristo, na Páscoa e inclusive todos os domingos, em todas as missas.

Assim, da mesma maneira que nós gostamos nesses aniversários de família folhear juntos um álbum de fotos (ver nele as lembranças de um casamento ou um nascimento), quando abrimos o Evangelho, encontramos o nosso Senhor Jesus Cristo no frescor da Páscoa junto com Maria Madalena, junto com Pedro, João e os discípulos de Emaús. Vamos caminhar com seus sentimentos e ser surpreendidos, como eles, pelo Cristo Ressuscitado.

Encontrar Jesus Cristo Ressuscitado com Maria Madalena

Maria Madalena vai chorar no túmulo de quem ela amava e quem, é claro, acreditava estar morto, depois de ser testemunha diante da cruz. São Gregório Magno viu na sua obstinação de ir em direção à Cristo, mesmo depois que ele estava morto, um modelo para todos. Mesmo quando nossa fé está no ‘escuro’ e Cristo está morto para nós, continuemos a nos aproximar a ele e amá-lo com todas as nossas forças.

Mas o túmulo está aberto e vazio! Maria não entende nada, ela acredita que alguém pegou o corpo de Cristo e levou ele para algum lugar. Ela dirá isso aos apóstolos e depois voltará ao túmulo, aos anjos e ao próprio Jesus Cristo, a quem ela se confundirá. Por que não reconhece quem continuou aos pés da cruz?

É fácil para nós conceber a idéia da Ressurreição de Cristo, pois a Igreja à proclama desde faz dois mil anos, mas vamos entender que para ela foi a primeira vez que ela tinha experiência com algo assim e era totalmente inimaginável. Os mortos não ressuscitam. É verdade que Lázaro voltou à vida, graças a Jesus, o único que podia fazê-lo, e agora Jesus está morto!

E é então o próprio Jesus que chama ela suavemente pelo seu nome : ‘Maria’. Nem tambores, nem trombetas, nem a chegada chocante surgindo sobre as nuvens, como o do Filho do homem anunciado por Daniel (7,13).

Quanta discrição nesta primeira aparição após a sua vitória sobre a morte! E é pela voz, o órgão da fé (‘A fé, portanto, nasce da pregação e a pregação é feita em virtude da Palavra de Cristo’, Romanos 10, 17), que Maria reconhece. Assim que Maria se vira, ou seja, ela se transforma (etimologicamente são a mesma palavra), ela grita seu amor : ‘Raboní!’ E Jesus responde : ‘Não me retenha, porque ainda não subi ao Pai’.

Ele a faz se desapegar de sua afeição pelo homem que ela conheceu antes da Paixão para aprender a conhecer o Senhor. E Jesus acrescenta : ‘Diga aos meus irmãos : ‘Vou para cima junto ao meu Pai, o Pai de vocês; meu Deus, o Deus de vocês’’.

Jesus Cristo ressuscitado vem ao nosso encontro para confiar-nos uma missão : sermos suas testemunhas. A Ressurreição é o centro da História, mas não é o último ato, e, como Deus é seu autor, oferece-nos a possibilidade de proclamar o seu anúncio e o que isso significa para todos : a possível vitória sobre o mal e a morte, a esperança da vida e da bondade eternas.

Encontrar o Cristo Ressuscitado com São João e São Pedro

Corremos junto com João para o túmulo. Ele vê as telas e acredita. De fato, seus olhos só vêem as telas e uma mortalha, vazias, mas seu coração compreende : Cristo não está mais no túmulo, ele está vivo. Quanto a Pedro, o Evangelho de São João não especifica sua reação no túmulo nem seu caminho pessoal no reconhecimento da Ressurreição.

Mas, além do que São Lucas escreve, que Jesus Cristo lhe apareceu na Páscoa, temos algo melhor : seu próprio testemunho no Pentecostes (Hb 2: 14-36). Pedro foi o primeiro que descobriu, à luz do seu encontro com o Ressuscitado, aquilo que proclama nesse dia : o plano de Deus para a salvação dos homens através da História, culminando na ressurreição daquele que foi pregado na cruz .

Além disso, os Evangelhos da Ressurreição especificam a missão de Pedro (e, portanto, dos seus sucessores). Maria Madalena vai correndo até ele quando vê o túmulo vazio (Jo 20,1-2) e João, o discípulo amado, sai diante dele na entrada do túmulo (Jo 20,3-10) : a Igreja do amor reconhece sua primazia. Mais tarde, nas margens do lago da Galiléia, Jesus Ressuscitado confirma e especifica sua missão como pastor e especifica seu papel para toda a Igreja : ‘Leva a pastar minhas ovelhas’ (Jo 21,15-19).

Encontrar o Cristo Ressuscitado com os discípulos de Emaús

Mais uma vez, é Jesus quem toma a iniciativa no caminho. Ele vai caminhar junto com dois homens tristes pelo drama do Calvário. Eles também não o reconhecem, embora o conhecessem bem antes de sua morte, como acontece frequentemente quando não o reconhecemos quando Ele caminha conosco ao nosso lado na vida. Esse trajeto até Emaús é importante para entender o papel da Palavra de Deus no encontro com Jesus.

O que Ele diz a eles durante o trajeto sobre Ele mesmo é muito diferente do que um jornalista diria quando ressurgisse extraordinariamente do mais profundo da morte. Dá a eles, a partir da Escritura, o significado do que Ele viveu. É a fé em Cristo Ressuscitado que abre a inteligência da Escritura para nós, e não o contrário, mas, em troca, entendemos melhor o que Sua Ressurreição significa para nós quando nos alimentamos da Palavra de Deus.

Quando chegaram em Emaús, Jesus se senta à mesa com os dois discípulos. E é então, quando ‘ele pegou o pão e pronunciou a bênção; depois ele quebrou o pão e deu a eles (como o padre na missa)', os quais compreendem e reconhecem quem é Ele. Desde então, a Eucaristia tem sido o lugar do nosso encontro sensível com Jesus. ‘Não temos, nem vemos outra coisa verdadeira e sensível neste mundo desse Altíssimo Senhor, exceto seu Corpo e Sangue’, dizia São Francisco de Assis.

E, como Maria Madalena, como João, os dois discípulos entendem que é através do amor que avançam em direção à Ele : ‘Não ardia nosso coração, por acaso, enquanto Ele nos falava durante o caminho e explicava as Escrituras para nós?’ Os peregrinos de Emaús sabiam – e nos convidam a fazer isso com eles – que esse caminho para a felicidade perfeita que eles percorreram com Jesus Cristo Ressuscitado e que correm para compartilhar com os Apóstolos é, de fato, Ele mesmo : ‘Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida’(Jo 14,6).

Um caminho que serve para todos nós

Estes encontros de Páscoa podem ser procurados por cada um de nós através de outros testemunhos da Ressurreição : as mulheres santas, São Tomé, os Apóstolos. São como lampejos de uma realidade que sempre nos dominará e nos fará vislumbrar o que Cristo Ressuscitado espera de nós :

  • É sempre Ele quem toma a iniciativa e quem se manifesta livremente escolhendo quem Ele quer;
  • Ele quer ser reconhecido e mostra sinais para alcançá-lo, mas não força nada. Deixa seu interlocutor encontrar sua resposta em Liberdade;
  • Esse encontro quebra de tal maneira todas as concepções sobre a vida e a morte que cada um deve passar por uma jornada de reconhecimento, medo, dúvida, alegria incrédula, choque, adoração (alguns não conseguem);
  • Cada um revela suas disposições internas e entendemos que a coisa decisiva para avançar em direção à Ele é o amor;
  • Depois de ser reconhecido, Jesus revela que ele não está mais morto, mas sim vivo (ele fala, anda, come), que continua sendo o mesmo, mas diferente, mestre das limitações deste mundo;
  • Jesus inscreve sua Ressurreição na história de Israel e nas Sagradas Escrituras e convida a lê-las e compreendê-las à luz do evento pascal;
  • Ele conduz do visível ao invisível, do contato físico aos sinais, da presença sensível aos sacramentos em que se entregará e, sobretudo, na Eucaristia;
  • Seus interlocutores entendem que Jesus é mais que o Messias : ‘Meu Senhor e meu Deus!’, exclama Tomé.

Todos esses encontros terminam com um envio de missão. Jesus confia a cada um a responsabilidade de contar esse encontro com Ele e de dar testemunho da boa nova da Salvação. Assim, Jesus forma o coração e o intelecto para dar testemunho dele, antes que o Espírito Santo dê forças para fazê-lo. Todas essas aparições de Cristo Ressuscitado refletem, portanto, um encontro pessoal com Ele. Cada um de nós é chamado a isso nos sacramentos, na oração e em toda a vida. Jesus é sempre nosso contemporâneo e nós também somos chamados por Ele a aceitar o mesmo desafio que as suas primeiras testemunhas.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://pt.aleteia.org/cp1/2020/04/08/meditacao-pascoal-deixe-se-surpreender-por-jesus-cristo-ressuscitado/

sábado, 26 de dezembro de 2020

Natal: tempo propício para meditar sobre a humildade

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)        

*Artigo de Philip Kosloski,

escritor e designer gráfico

 

‘Enquanto a Quaresma e a Semana Santa se concentram no imenso sofrimento de Jesus por nós, o Advento e o Natal representam a oportunidade perfeita para se concentrar na humildade e na pobreza.

Isso ganha vida principalmente quando sentamos e meditamos na cena humilde do nascimento de Jesus. Muitas vezes, os presépios modernos não comunicam essa verdade central com força suficiente, pois o estábulo moderno pode parecer quase aconchegante e quente, em vez do que provavelmente era a realidade fria, bagunçada e brutal por trás de tudo.

Uma meditação encontrada em um livro de oração do século XIX destaca esse profundo mistério :

‘É meia-noite. O vento do inverno é frio. Veja um estábulo sem conforto, em parte galpão e em parte caverna, escavado ao lado de uma rocha. Um lugar pobre mesmo. A brisa afiada encontra seu caminho livremente. Nesse estábulo está um bebê. Seu único berço é uma manjedoura na qual o gado se alimenta. Ele está deitado sob a palha áspera – um bebê recém-nascido. Seus pequenos membros estão enrolados em faixas, como as crianças dos mais pobres.’

Sente-se e imagine essa cena por alguns minutos. Pense na pobreza de tudo ao redor e quão desconfortável deve ter sido! Estar em um quarto de hospital moderno não é nada bom, mas pense em como era dar à luz em tais circunstâncias.

A cena deve nos levar a pedir a Deus o dom da humildade e a examinar nossas próprias vidas, perguntando a nós mesmos se nossos confortos modernos têm alguma influência sobre nossas vidas espirituais.

Aqui está uma breve oração que vem após a meditação acima. Peça a Deus que nos preencha com um espírito de humildade :

Jesus, agradeço-te por ter vindo assim. Grande Deus, como te humilhaste! Parece demais, maravilhoso demais, mas sei que é verdade.Nada é maravilhoso demais para o Teu grande e eterno amor.Por amor a Ti, serei humilde. Tira o meu orgulho e a minha vontade própria.Maria, eu te agradeço e te abençôo por amar a Deus tão nobremente, tão puramente e tão humildemente, que Ele nos deu Seu querido Filho através de ti. Roga a esse Filho, para que eu tenha a graça de aprender com Ele e contigo a ser manso e humilde de coração. José, pai adotivo de Jesus, o coração daquela criança santa bate por mim. Maria é minha mãe; ora por mim para que eu seja verdadeiramente humilde e pertença a esta Sagrada Família, agora e na hora da minha morte. Amém.

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://pt.aleteia.org/2019/12/11/natal-tempo-propicio-para-meditar-sobre-a-humildade/

sexta-feira, 17 de abril de 2020

O que as irmãs e sacerdotes enclausurados têm a nos ensinar sobre a quarentena?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Dom Geraldo González, OSB e madre Maria Letícia, OSB: aproveitar o momento para refletir a própria vida
Dom Geraldo González, OSB e madre Maria Letícia, OSB : aproveitar o momento para refletir a própria vida
(Divulgação de ThiagoVentura/DomTotal)

*Artigo de Thiago Ventura,
jornalista

Leitura, silêncio e meditação são ferramentas para superar o isolamento social e a vida confinada em casa. Quarentena pode ser tempo de autoconhecimento de descoberta de novos talentos


‘De uma hora para outra, mais de metade da população mundial foi chamada a ficar confinada em casa devido à pandemia do novo coronavírus. O isolamento social, segundo cientistas e a Organização Mundial da Saúde (OMS), é a melhor forma de reduzir o contágio da Covid-19, uma doença que ainda não tem vacina nem tratamento. Mas o que é novidade para milhões de pessoas ao redor do planeta é um hábito milenar de várias ordens religiosas, entre elas os beneditinos, trapistas e cartuxos, por exemplo. Mas, o que as irmãs e sacerdotes enclausurados têm a nos ensinar sobre a quarentena?

Surgida no século VI, a Ordem de São Bento já passou por momentos semelhantes na história da humanidade, como a peste negra ou a gripe espanhola. E desde aquela época, homens e mulheres têm como regra a meditação, a escuta e o trabalho, dentro dos muros de mosteiros e abadias. Em tempos como estes, da pandemia do novo coronavírus, tal fortaleza interior pode ser um diferencial para superar o isolamento social.

A madre abadessa do Mosteiro Nossa Senhora das Graças, em Belo Horizonte, irmã Maria Letícia Silva, OSB, aponta para a importância de se valorizar o silêncio e escuta pessoal em tempos de quarentena. ‘Nossa cultura nos volta ao barulho, ao muito falar e argumentar, à tentativa de sempre convencer o outro. Além disso, somos voltados para eventos de multidões, shows e shopping centers. Muitas vezes, essa fuga é um subterfúgio para não nos encontrarmos conosco mesmo, para não nos depararmos com questões essenciais de nossa vida, de nossas famílias’, afirma a monja.

Segundo dom Geraldo Gonzalez y Lima, OSB, monge espanhol com nacionalidade brasileira que vive na Abadia Primacial de Sant'Anselmo, em Roma, apesar dos desafios, esse recolhimento compulsório pode ser de grande crescimento. Com inúmeros seguidores nas principais redes, dom Geraldo tem espalhado mensagens de esperança pelas mídias sociais.

 Dom Geraldo na abadia primacial: ´na Bíblia, Deus nos fala, nos acolhe e nos conforta”,
Dom Geraldo na abadia primacial : 'na Bíblia, Deus nos fala, nos acolhe e nos conforta’

Não é a primeira vez que ocorre a privação da vida sacramental e comunitária na História da Igreja mas hoje contamos com recursos tecnológicos que nos facilitam certa participação e convívio à distância e esperamos que tudo isto seja passageiro’, afirma o monge em entrevista ao DomTotal.

A própria Igreja nos dá saídas : a comunhão espiritual, os atos penitenciais  e as suas celebrações, a Indulgência plenária’, completa dom Geraldo, que é o tesoureiro mundial da Ordem de São Bento e trabalha também na AIM Alliance Inter Monastere em Paris.

´Ora et Labora´: trabalho dentro dos muros é incentivado pela Regra de São Bento. Redescobrir sua casa é uma opção para tempos de pandemia 
'Ora et Labora': trabalho dentro dos muros é incentivado pela Regra de São Bento. Redescobrir sua casa é uma opção para tempos de pandemia.

Na mesma linha, a madre do Mosteiro Nossa Senhora das Graças aponta que essa quarentena pode trazer frutos positivos, em que as famílias podem se redescobrir. ‘Estamos em um tempo valioso e único, tempo em que os pais podem estar ao lado de seus filhos, podem brincar com eles, podem valorizá-los e corrigi-los. Tempo em que o esposo pode olhar sua esposa, realçando a importância que ela tem em sua vida. Tempo de celebrar as festas cristãs junto às pessoas que amamos. Tempo da família. Instituição em crise? A família é o lugar onde Deus quis habitar e quer ainda se fazer presente’, afirma madre Maria Letícia.

Dom Geraldo indica a leitura como grande aliada para superar a angústia e o medo gerados em época de pandemia. ‘O contato com a Palavra de Deus através da Lectio Divina. Na Bíblia, Deus nos fala, nos acolhe e nos conforta’, recomenda.

O monge conta que a abadia primacial, complexo que reúne universidade, colégio, mosteiro e a cúria do superior geral dos beneditinos, tem seguido toda as recomendações eclesiásticas e governamentais para evitar o contágio da Covid-19. Dom Geraldo indica que nesse período de recolhimento é propício para encontrar consigo mesmo. ‘Deve-se retomar ou privilegiar o contato com Deus e redescobrir o deserto como lugar dos três ‘esses’, silêncio, solidão e o Senhor; e também dos dois ‘tês’, tentação e teofania. Reconheço que será um grande desafio, mas também trará um grande crescimento e maturidade espiritual’, afirma.

Em Belo Horizonte, a madre Maria Letícia conta que o mosteiro também tomou cuidados especiais devido à pandemia. As monjas passaram a transmitir suas orações pelas redes sociais, para evitar aglomerações na abadia. ‘Ninguém está fora, ninguém pode pensar que está livre dos sofrimentos humanitários. Estamos todos juntos louvando, intercedendo e suplicando ao Senhor, confiantes de que Ele está ao nosso lado’, explica.

Dom Geraldo ainda recorda que a ‘solidão’ forçada das pessoas não pode limitar a solidariedade. São Bento viveu em tempos de crise e de convulsão social assim, toda a sua regra é rica nesses conselhos práticos, tais como ‘nada antepor ao amor de Cristo’, ‘nunca desesperar da misericórdia de Deus’, ou mesmo o lema ‘Ora et labora’, ensina.

Madre Maria Letícia lembra do voto de estabilidade feito pelos monges e monjas segundo a recomendação de São Bento. Para a religiosa, tal postura ajuda a diferenciar o que é essencial do que é descartável, numa reflexão que está à disposição de todos nessa época de quarentena. ‘O autoconhecimento é um caminho seguro, indicado por muitos místicos da Igreja para alcançar a Deus. Conhecendo-nos, com coragem e transparência, podemos potencializar os talentos que, naturalmente, nos foram confiados; podemos trabalhar e fazer crescer as aptidões que não recebemos de forma natural’, indica a monja.'


Fonte :