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segunda-feira, 2 de junho de 2025

Mosteiro de Santa Catarina, no Sinai, torna-se propriedade do Estado egípcio

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Nikos Tzoitis


 

`Após 15 séculos, um dos mais importantes e antigos mosteiros cristãos do mundo, o Mosteiro de Santa Catarina no Monte Sinai, perde sua autonomia administrativa e torna-se propriedade do Estado egípcio, após uma decisão do tribunal local. Uma disposição que levanta sérias preocupações quanto ao presente e ao futuro do Mosteiro e da comunidade que nele vive.

O Mosteiro no Monte Sinai foi fundado no século VI d.C. por Justiniano e sobreviveu a guerras, conquistas e perseguições graças também ao seu status de "Vakuf", um Lugar Sagrado a ser guardado de acordo com a tradição corânica. Como tal, também era respeitado pelos beduínos do deserto do Sinai.

A UNESCO o incluiu entre os monumentos reconhecidos como Patrimônio Mundial. Os tesouros inestimáveis do Mosteiro – ícones, manuscritos, relíquias, bibliotecas e propriedades – eram administrados pelos vinte monges da comunidade monástica local, que gozavam de ampla autonomia dentro do Patriarcado Greco-Ortodoxo de Jerusalém.

De acordo com a decisão proferida pelo Tribunal de Ismailia na quarta-feira, 28 de maio, os bens do Mosteiro foram efetivamente confiscados e transferidos para o Estado egípcio, enquanto os monges tiveram seu acesso restrito a certas propriedades. Eles foram autorizados a permanecer no Mosteiro apenas para fins religiosos e sob as condições estabelecidas pelo novo proprietário estatal.

O site orthodoxia.info descreveu a aplicação da decisão como "uma das mais graves violações das liberdades religiosas e individuais dos últimos séculos", perpetrada em um período conturbado para o Oriente Médio.

A medida, que efetivamente priva o Mosteiro de sua autonomia, ocorre após um longo período de disputas judiciais e ações judiciais movidas contra a relativa autonomia exercida pelo Mosteiro.

Algumas autoridades egípcias justificam a medida tomada como um ato de proteção do patrimônio cultural do Mosteiro.

O arqueólogo Abdel Rahim Rihan argumentou, a esse respeito, que os bens imóveis do mosteiro se enquadram nas leis de patrimônio cultural e que a decisão implementada após a decisão judicial garante sua valorização em benefício do "patrimônio mundial e dos monges". Os monges, por sua vez, falam de uma expulsão de fato de seu próprio mosteiro.

A decisão tomada põe fim, de forma controversa, à ofensiva legal de vários anos contra os monges de Santa Catarina por parte do Estado egípcio, que, em etapas alternadas, desde a época do governo controlado pela Irmandade Muçulmana, tem buscado colocar o Mosteiro sob o próprio controle.

Segundo alguns analistas, a disposição implementada demonstra que o próprio presidente, general Abdel Fattah Sisi, não seria capaz de controlar aparatos que fazem parte do "Estado Profundo", alguns dos quais também estão ligados a grupos salafistas.

Agora, o Cairo precisa administrar uma crise com a Grécia, que reagiu duramente à ação do governo sobre o Mosteiro, em um momento em que o Egito está no centro de acontecimentos tumultuados na Palestina que também afetam a Península do Sinai, uma área onde grupos jihadistas organizados no passado operam no Sinai e que, no passado, ameaçaram o mosteiro, realizando também ataques com comandos armados. E a disposição implementada também enfraquece o Mosteiro também nas inúmeras disputas civis que o colocaram contra várias contrapartes em casos de usucapião.

A reação dos monges foi forte. Uma campanha internacional de conscientização e informação dirigida a Igrejas e outras comunidades religiosas já está planejada, com o objetivo de obter a revogação da decisão.

A reação do arcebispo greco-ortodoxo de Atenas, Ieronymus, também foi imediata. "Não quero e não posso acreditar - afirmou  Ieronymus - que hoje o helenismo e a Ortodoxia estejam vivenciando outra 'conquista' histórica". "Este farol espiritual da Ortodoxia e do helenismo — acrescentou — enfrenta agora uma questão de sobrevivência"`. 

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2025-06/egito-mosteiro-santa-catarina-propriedade-estado-egipcio.html


sábado, 14 de fevereiro de 2015

Crise de consciência

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 *Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte
  
‘Na raiz das muitas crises que a sociedade brasileira enfrenta - hídrica, energética, política, econômica, moral, com a exigência de pronta reação - está a falta de consciência. Uma carência que produz absurdos em série. São incontáveis os prejuízos para a coletividade que resultam da falta de princípios éticos e morais. Uma deficiência que é fonte de arbitrariedades, desmandos, incompetência para reações e respostas. Promove a perda dos sentidos de beleza, justiça e equilíbrio, que devem ser construídos cotidianamente, para se evitar situações ainda mais caóticas.

Há crise de consciência? Esta interrogação ganha pertinência quando se constata extremismos e desequilíbrios na sociedade, em atitudes individuais e coletivas, fundamentadas na irracionalidade e abominável mesquinhez. Um exemplo? A recente notícia de que parlamentares votaram um auxílio moradia em benefício de quem não precisa. Trata-se do princípio de ‘usufruir das vantagens’, que tudo corrói, de maneira demolidora, inclusive o tecido da consciência social, política. Esse princípio é impulsionado por uma perigosa permissividade, que justifica atos individuais e coletivos, merecedores da indignação de homens e mulheres de bem, no exercício do direito de exigir o tratamento adequado do que é público.

Não conseguir debelar o crescente processo de falta de consciência cidadã é um caminho para a ruína da sociedade. Essa constatação é reforçada ao observar fenômenos recentes que devem ser motivo de preocupação : a violência que não pára de crescer, a miséria que faz tantos sofrerem, a presença de grupos interesseiros, especializados em corrupção, que tornam pantanoso o caminho da sociedade, comprometendo avanços e a construção da cultura da vida.

A falta de consciência revela-se de alta gravidade. Muitos agem como devastadores do erário e, pior, tratam de modo predatório os bens da criação. Ora, o mínimo que se pode esperar de cada cidadão é uma conduta balizada pela moralidade. E essa deve ser a postura e o compromisso de quem representa o povo e dirige instâncias governamentais mantidas com dinheiro público. Na contramão do compromisso ético-moral, certamente por perda e esgarçamento da própria consciência, indivíduos e grupos agem cegamente, inspirados só pelos interesses próprios. Perdem a credibilidade, o que aumenta a crise e deflagra uma verdadeira situação de ‘pé de guerra’. Esses cenários de descompassos colocam em pauta uma urgente necessidade : o tratamento da falta de consciência, problema grave e central na sociedade brasileira.

Há um comprometimento sério da consciência moral, comprovado em atitudes inadequadas, em nível individual e institucional. Infelizmente, para impor o próprio interesse, garantir a benesse, consolidar o usufruto de vantagem, vale tudo. Isso gera sérias consequências que efetivam a perda do gosto pela honestidade, do respeito aos limites que possibilitam contentar-se eticamente com o que é justo. A falta da consciência moral, que compromete a conduta honesta, para ser vencida, requer verificações em âmbitos muito complexos da sociedade. Paga-se alto preço pela relativização de normas objetivas e absolutas. O atual contexto cultural tem grande influência nesse processo, pois favorece o enfraquecimento de princípios inegociáveis e fundamentais ao exercício da cidadania.

Autonomia e liberdade não são justificativas para se fazer tudo o que se quer, leiloando princípios ético-morais básicos que alimentam o bom senso. Princípios capazes de fazer crescer o apreço não pelo que se lucra e se ajunta, mas pela honestidade e respeitável conduta cidadã.  É hora de reagir à perda da consciência moral.

Uma possibilidade de reação a esse problema, com incidência em todas as dinâmicas sociais, é conhecer profundamente e vivenciar os valores do Evangelho, guiados pelo Mestre mais completo de todos os tempos, na sua condição de Deus e Homem. Enquanto se reage para debelar a crise pela perda da consciência moral, raiz e vetor de outras graves crises, espera-se que as instituições respeitem as leis, que os representantes estejam, verdadeiramente, a serviço do povo, que cada pessoa se reconheça e participe como cidadão. A recuperação da moralidade deve fazer crescer uma incômoda crise de consciência, capaz de reconduzir a sociedade para o caminho do bem, da verdade e da justiça.


Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.arquidiocesebh.org.br/site/artigoArcebispo.php