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terça-feira, 18 de agosto de 2020

Monges formam resistência contra patriarca

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)        

 O mosteiro de Esphigmenou é um dos 20 mosteiros do Monte Athos

O mosteiro de Esphigmenou é um dos 20 mosteiros do Monte Athos

 *Artigo de Bernard Litzler,

Tradução : Ramón Lara

 

‘Os monges do mosteiro ortodoxo grego de Esphigmenou se opõem fortemente às orientações ecumênicas de seu patriarca Bartolomeu I. Os tribunais civis do país ordenaram que deixassem seu lar, evacuado pela força policial em 24 de julho de 2020. Mas os clérigos excomungados resistem.

Agora não há nada realmente pacífico no Mosteiro de Esphigmenou. Considerados ultraortodoxos, seus monges se distinguem de outros por suas posições intransigentes e radicais. Recentemente, um conflito de perspectivas que vinha se gestando por muitos anos aumentou.

Em 8 de julho de 2020, o Tribunal Constitucional grego ordenou que os monges evacuassem o prédio. Em 24 de julho, uma grande operação policial foi realizada, durante a qual a própria edificação e a hospedaria para peregrinos foram evacuados.

Um cisma cada vez mais profundo

O Monte Athos, patrimônio mundial da Unesco, está localizado na Península de Chalkidiki, no nordeste da Grécia. Permanece um fascínio para os ocidentais, pelo menos os homens, em busca de Deus. Atualmente, o acesso é proibido para mulheres. Para os ortodoxos, é um bastião da velha fé cristã. No lugar moram, não só gregos, mas monges romenos, georgianos, búlgaros, sérvios, italianos e até russos.

Porém, um pouco menos de um milênio após a grande cisma de 1054, a ortodoxia mundial está ameaçada de divisão : a divisão entre as Igrejas ortodoxas está se tornando cada vez mais profunda e o tom entre seus patriarcas está cada vez mais carregado de raiva.

Corte de água e eletricidade

O mosteiro ortodoxo é um dos 20 mosteiros em Athos. Seus cerca de 110 monges se refugiaram atrás de suas muralhas e defesas no século 13. Na última disputa, há alguns anos, eles reagiram contra as máquinas usadas pelo governo para derrubar os muros do edifício, jogando neles coquetéis molotovs. Excomungados pelo patriarca ecumênico de Constantinopla, os monges também resistiram heroicamente em 1974, quando o governo grego cortou sua água e eletricidade para acelerar sua saída, mas foi um esforço desperdiçado. Os religiosos resistiram.

O conflito atual continua direcionado contra o patriarca Bartolomeu I de Constantinopla, o 270º sucessor do apóstolo André, cuja residência oficial está em Istambul. Para os monges de Esphigmenou, o líder número um das Igrejas Ortodoxas, o primus inter pares, está muito mais interessado no ecumenismo e no diálogo entre as religiões do que na própria fé ortodoxa. O patriarca teria se afastado da verdadeira fé porque rezou com o papa Francisco, seguindo assim os passos de seus predecessores Atenágoras e Dimitri, que também estavam abertos ao contato com Roma.

Uma vida sitiada

Os religiosos de Esphigmenou foram, portanto, excomungados pelo Patriarcado Ecumênico, que por sua vez também consideram herético. Sob a liderança de seu abade Metódio, os monges se recusaram obstinadamente a deixar seu mosteiro. E ainda recordam que Santo Antônio Petersky, fundador da Kiev Lavra, berço da ortodoxia eslava, foi um monge nesse recinto e foi qualificado como o ‘pai dos monges russos’. Santo Antônio Petersky iniciou o movimento de evangelização nos países eslavos. No entanto, o governo de Athos já concedeu aos monges envolvidos no protesto, passagem segura para outro mosteiro de sua escolha. Mas a iniciativa não teve sucesso.

Em 2011, 14 monges de Esphigmenou foram condenados a seis meses de prisão por se recusarem a cumprir a decisão do tribunal de sair de seu mosteiro. Desde o final de julho deste ano, a luta se intensificou. Os religiosos vivem em estado de sítio permanente. Qualquer coisa que precisarem e que não possam cultivar em seus campos ou produzir em suas oficinas deve ser contrabandeada para o mosteiro em um barco de pesca – a única maneira de chegar ao mosteiro à beira-mar.

Novas mídias sociais e a luta

Os monges, que alguns chamam de ‘o Talibã ortodoxo’, estão travando sua luta principalmente com a ajuda das novas mídias digitais. Eles têm um blog em grego e inglês (esphigmenou.com), com possibilidade de doação através do Paypal, e uma conta no Twitter. Em seu site, os monges lamentam a atitude do governo grego e se declaram perseguidos. Também compilaram recortes de jornais em inglês, bem como uma carta crítica enviada em 2006 ao patriarca ecumênico e assinada na época pelos 20 mosteiros do Monte Athos.

Nesta carta, os religiosos afirmam reconhecer dolorosamente que não concordam com a oração comum do patriarca Bartolomeu e do papa Francisco durante sua visita a Roma. Com efeito, este encontro e outras celebrações litúrgicas comuns dão a impressão de que a Igreja Ortodoxa acolhe os fiéis católicos romanos e reconhece o papa como bispo de Roma. Da mesma forma, a visita de retorno do patriarca ortodoxo ao Vaticano teria sido uma grande fonte de dor em seus corações. E isso especialmente porque a tradição romana não teria mudado nada em seus ensinamentos heréticos.

‘Ortodoxia ou morte’

As raízes do conflito são profundas, e a amargura já dura mil anos. Mas também há conflitos internos dentro da ortodoxia : entre outras coisas, a reforma do calendário, que foi do calendário juliano ao gregoriano (e, portanto, ao papa Romano...) já na década de 1920, e que causou uma grande discórdia. Naquele tempo, os mosteiros de Athos, com exceção daquele que havia adotado o novo calendário, retiraram o nome do patriarca de Constantinopla de todas as suas intercessões litúrgicas.

Na bandeira do mosteiro de Esphigmenou está o lema : ‘Ortodoxia ou morte!’. Os monges parecem prontos para ir até o fim, e assim morrer como mártires pela ortodoxia.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1466213/2020/08/monges-formam-resistencia-contra-patriarca/

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Último apelo de Kirill a Bartolomeu sobre autocefalia da Igreja Ortodoxa da Ucrânia


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Patriarca Kirill no encontro de Primazes das Igrejas Ortodoxas em Istambul
Patriarca Kirill no encontro de Primazes 
das Igrejas Ortodoxas em Istambul 

*Artigo de Giovanni Zavatta,
Osservatore Romano



Kirill : criação da Igreja Ortodoxa da Ucrânia é ilegítima

O Patriarcado de Moscou considera a criação de tal entidade totalmente ilegítima e nula porque – reitera – ‘o atual processo, politizado, de unificação forçada está longe das normas e do espírito dos sagrados cânones’. É por isso que Kirill expressa ‘dor, espanto e indignação pelas ações anti-canônicas’ que levaram, no dia 15 de dezembro na Catedral de Santa Sofia de Kiev, à realização do ‘Concílio de unificação’ e a consequente eleição do metropolita de Perejaslav e Belaja Tserkov, Epiphanius (Dumenko), ‘Primaz da nova Igreja Ortodoxa Autocéfala da Ucrânia’.

Kirill recorda que na presidência do Concílio, além do metropolita Emmanuel - representante de Constantinopla - havia um leigo - o presidente da República da Ucrânia Petro Poroshenko - e sobretudo os líderes da ‘Igreja Ortodoxa Ucraniana - Patriarcado de Kiev’, Filaret (Denisenko), e da ‘Igreja Ortodoxa ucraniana Autocéfala’, Macario (Maletych), considerados pelos ortodoxos russos como cismáticos, diferentemente do Metropolita Onófrio, primaz da ‘Igreja Ortodoxa ucraniana - Patriarcado de Moscou’, a única ‘canônica’, de acordo com o Patriarcado liderado por Kirill.

Ademais, apenas dois dos noventa bispos desta Igreja participaram do encontro de unificação, circunstância que levou Kirill afirmar a Bartolomeu : ‘Seus conselheiros haviam assegurado que o episcopado da Igreja Ortodoxa Ucraniana (canônica) estava pronto a apoiar o projeto político das autoridades de Kiev, que um número considerável de bispos canônicos esperavam somente por sua bênção para separar-se de sua Igreja. Repetidamente avisei a você - escreve Kirill dirigindo-se diretamente a Bartolomeu – de ter sido enganado. Em suas decisões, você se refere à vontade do povo ortodoxo ucraniano’, mas ‘foi a vontade da esmagadora maioria do clero e leigos, o verdadeiro povo eclesiástico da Ucrânia, que impeliu o episcopado da Igreja Ortodoxa Ucraniana (canônica) a não responder aos seus convites e de se recusar a participar do ‘Concílio de unificação’ do cisma ucraniano’.

O patriarca de Moscou – em vista de 6 de janeiro, Solenidade da Teofania, dia em que Bartolomeu fará a entrega no Fanar ‘do tomos de constituição da nova Igreja autocéfala irmã’ – faz então uma tentativa extrema, pedindo ao arcebispo de Constantinopla para reconsiderar as próprias decisões, para ‘salvaguardar a unidade da ortodoxia.’

Revogação do vínculo jurídico da carta de 1686

O  processo teve início oficialmente em 11 de outubro, quando por meio de uma nota divulgada ao final do Sínodo do Patriarcado Ecumênico,  era anunciado o desejo de Bartolomeu de proceder à concessão de autocefalia da Igreja da Ucrânia, de restabelecer o stauropegion do patriarca ecumênico em Kiev e de reintegrar canonicamente ao seu grau hierárquico ou sacerdotal Filaret Denisenko e Macario Maletych e os fiéis das suas Igrejas. Em resposta, poucos dias mais tarde, Moscou rompeu a comunhão eucarística com Constantinopla.

Com o comunicado de 11 de outubro, Bartolomeu ‘revogou o vínculo jurídico’ da carta sinodal de 1686, com a qual Constantinopla, ‘pelas circunstâncias da época’, concedia ao patriarca de Moscou o direito de ordenar o metropolita de Kiev, eleito pela Assembleia  clérico-laical da sua diocese, que todavia ‘teria comemorado o patriarca ecumênico em todas as celebrações da Divina Liturgia, proclamando e afirmando a sua dependência canônica da Igreja mãe de Constantinopla’.

Kirill reivindica validade do documento

Na carta de 31 de dezembro, Kirill refere-se de forma peremptória àquele documento, reivindicando a sua validade. O Patriarcado de Moscou, de fato, baseia-se neste documento para reivindicar sua ‘jurisdição’ sobre a autoridade de Kiev : ‘Vocês estão tentando reinterpretar o significado do conjunto dos documentos assinados em 1686 pelo seu predecessor, o patriarca Dionisio IV e pelo sacro sínodo da Igreja de Constantinopla. A matéria de tais documentos históricos não provocou desacordos entre as nossas duas Igrejas por centenas de ano. E agora vocês falam em ‘revogar’ a carta patriarcal e sinodal, porque ‘as circunstâncias mudaram’’.

Entrega do tomos de reconhecimento

O apelo de Kirill a Bartolomeu, parece todavia superado pelos fatos. Uma nota da sacra diocese ortodoxa da Itália e Malta (submetida à jurisdição canônica do Patriarcado ecumênico) informa que ‘o metropolita de Kiev e de toda a Ucrânia Epiphanius’ estará em Istambul na manhã do sábado, 5 de janeiro, para visitar o patriarca Bartolomeu.

Naquele dia, Epiphanius tomará parte no Te Deum na Igreja patriarcal e após será recebido na Sala do Trono, onde haverá a ‘sagrada cerimônia de proclamação, com a assinatura do tomos de autocefalia da santíssima Igreja da Ucrânia’. Também estará presente o presidente ucraniano Poroshenko.

Domingo, 6 de janeiro, para a solene festa da santa Teofania, o metropolita Epiphanius concelebrará com o patriarca Bartolomeu que, após a leitura do Evangelho, entregará a ele oficialmente o pergaminho de autocefalia.’


Fonte :  

terça-feira, 10 de julho de 2018

Igrejas Católica e Ortodoxa reconstroem igrejas, mosteiros e casas na Síria


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Plano conjunto de reconstrução havia sido anunciado em outubro de 2017


‘As Igrejas Católica e Ortodoxa Russa prosseguem com o plano de reconstrução de igrejas cristãs e mosteiros destruídos durante a guerra na Síria, confirmou no sábado à Ag. Tass o Metropolita Hilarion de Volokolamsk, presidente do Departamento de Relações Exteriores da Igreja Ortodoxa Russa.

A criação de um grupo de trabalho entre as duas Igrejas havia sido anunciado em outubro de 2017. A Ação não se limita à reconstrução de igrejas, mas também de moradias, ‘questão para a qual são necessário tanto os esforços do Estado como da Igreja’, disse o Metropolita na ocasião.

Nós assumimos a reconstrução, e algumas igrejas e mosteiros estão sendo reconstruídos agora. Em particular, o trabalho de restauração está chegando ao fim em Maaloula. É um dos principais locais sagrados da Igreja Ortodoxa de Antioquia, um convento construído no local onde a língua aramaica era falada até há pouco’, disse Hilarion. ‘As monjas foram forçadas a deixar o local, mas agora esperamos que elas possam regressar.’

O Metropolita admitiu que as condições continuam tensas na Síria.

Por outro lado, temos que começar com algo e já começamos sem esperar pelo momento em que as condições sejam as ideais. Talvez, este momento não chegará logo’, disse ele.

O conflito que martiriza a Síria teve início em março de 2011, com protestos que pediam a renuncia de Bashar Al-Assad, sendo duramente reprimidos. De revolta civil, o conflito assumiu proporções inimagináveis na época, envolvendo potências regionais e internacionais..

Antes do conflito, a população síria era de 20 milhões de habitantes. Segundo a Agência das Nações Unidas para os Refugiados, cerca de cinco milhões de sírios abandonaram o país devido ao conflito. Cerca de 500 mil vivem em campos de refugiados e 470 mil perderam a vida.’


Fonte :


sexta-feira, 20 de abril de 2018

As 13 diferenças entre os católicos e os orientais ortodoxos


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 POPE FRANCIS,UKRAINE,DOVES


 ‘Em síntese : são treze as principais diferenças doutrinárias e disciplinares que distanciam católicos e ortodoxos orientais uns dos outros. Os ortodoxos não aceitam o primado e a infalibilidade do Papa, a processão do Espírito Santo a partir do Filho, o purgatório póstumo, os dogmas da Imaculada Conceição e da Assunção de Maria Santíssima, o Batismo por infusão (e não por imersão), a falta da epiclese na Liturgia Eucarística, o pão ázimo (sem fermento) na celebração eucarística, a Comunhão eucarística sob a espécie do pão apenas, o sacramento da Unção dos Enfermos como é ministrado no Ocidente, a indissolubilidade do matrimônio, o celibato do clero. Como se pode ver, nem todos esses pontos diferenciais são da mesma importância. O mais ponderoso é o da fidelidade ao Papa como Pastor Supremo, assistido pelo Espírito Santo em matéria de fé e de moral.

Seja observado, logo de início, que, em geral, os orientais têm por ideal a volta da Igreja ao que ela era até o sétimo Concílio Geral (Niceia II em 787), pois só aceitam os Concílios de Niceia I (325), Constantinopla I (381), Éfeso (431), Calcedônia (451), Constantinopla II (553), Constantinopla III (681) e Niceia II (787). O Concílio de Constantinopla IV, que excomungou o Patriarca Fócio em 869/870, é rejeitado pelos orientais.

1.      Primado do Papa

Alega a teologia ortodoxa que a jurisdição universal e suprema do Papa implica que os outros bispos são subordinados a ele como seus representantes.
A esta concepção responde o Concílio do Vaticano II : ‘Aos Bispos é confiado plenamente o ofício pastoral ou o cuidado habitual e cotidiano das almas. E, porque gozam de um poder que lhes é próprio e com toda razão são antístites dos povos que eles governam, não devem ser considerados vigários (representantes) do Romano Pontífice’(Constituição Lumen Gentium 27).

O primado do Bispo de Roma ou do Papa garante a unidade e a coesão da Igreja, preservando-a de iniciativas meramente pessoais e subjetivas.

2.     Infalibilidade papal

Em 1870, fazendo eco a antiga crença dos cristãos, o Concílio do Vaticano I declarou o Papa infalível quando fala em termos definitivos para a Igreja inteira em matéria de fé de Moral. – A teologia ortodoxa oriental alega que esta definição extingue a autoridade dos Concílios.

Respondemos que os Concílios gerais ou universais têm plena razão de ser, desde que o Papa deles participe (por si ou por seus delegados) e aprove as suas conclusões. Em nossos dias mais e mais se tem insistido sobre a colegialidade dos Bispos.

3.     A processão do Espírito Santo a partir do Filho (‘Filioque’)

Esta concepção da Igreja Católica decorre do fato de que ‘em Deus não há distinções a não ser onde haja oposição relativa’. Se, portanto, entre o Filho e o Espírito Santo não há a distinção de Espirante e espirado, um não se distingue do outro ou o Filho e o Espírito Santo são uma só Pessoa em Deus. Verdade é que Jesus em Jo 15, 26 diz que o Espírito procede do Pai; o Senhor, porém, não tenciona propor aí uma teologia sistemática, mas põe em relevo um aspecto da verdade sujeito a ser completado pela reflexão.

Na verdade, a questão em foco é mais de linguagem do que de doutrina, como foi demonstrado em PR 442/1999, pp. 120ss. Os orientais preferem dizer que o Espírito Santo procede do Pai através do Filho – o que pode ser conciliado com a posição dos ocidentais.

NdR : ‘Filioque’ é o termo latino que quer dizer ‘e do Filho’, rezado no Credo quando fala do Espírito Santo : ‘Qui ex Patre Filioque procedit’, ou seja, ‘que procede do Pai e do Filho’.

4.    Purgatório

Os orientais não tiveram dificuldade para aceitá-lo até o século XIII. Em 1231 ou 1232, o metropolita Georges Bardanes, de Corfu, pôs-se a impugnar o presumido fogo do purgatório, pois na verdade não há fogo no purgatório. Os teólogos orientais subseqüentes apoiaram a contestação (muito justificada) de G. Bardanes. Mas nem por isto negaram um estado intermediário entre a vida terrestre e a bem-aventurança celeste para as almas daqueles que morrem com resquícios de pecado; estes seriam perdoados por Deus em vista da oração da Igreja; estariam assim fundamentados os sufrágios pelos defuntos.

A absoluta recusa do purgatório só ocorreu entre os orientais no século XVII sob a influência de autores protestantes. Daí por diante a teologia oriental está dividida; há muitos teólogos ortodoxos que admitem um estado intermediário entre a morte e a bem-aventurança celeste como também reconhecem o valor dos sufrágios pelos defuntos.

5.     A Imaculada Conceição de Maria

Esta é, por vezes, confundida com um pretenso nascimento virginal de Maria Santíssima (Santa Ana teria concebido sua filha sem a colaboração de São Joaquim). Já que tal concepção virginal carece de sólido fundamento, também a Imaculada Conceição é posta em dúvida pelos orientais. Ocorre, porém, que a literatura e a Liturgia dos ortodoxos enaltecem grandemente a total pureza de Maria, professando a mesma coisa que os ocidentais, ao menos de modo implícito, sem chegar a formular um dogma de fé a respeito.

6.    A Assunção de Maria Santíssima

Foi proclamada como dogma de fé em 1950 pelo Papa Pio XII, de acordo com a tradição teológica ocidental e oriental. Merece especial atenção a iconografia oriental, que representa de maneira muito expressiva a Virgem sendo assumida aos céus por seu Divino Filho. Na verdade, o que fere os orientais, não é a proclamação da Assunção; mas a promulgação do dogma (como no caso da Imaculada Conceição).

7.     Batismo por infusão ou aspersão da água

Dizem os teólogos ocidentais que o importante no Batismo é o contato da água com o corpo da pessoa, simbolizando purificação. Se o sacramento é um sinal que realiza o que significa, a água batismal significa e realiza a purificação da alma.

8.    Epiclese

Os orientais julgam essencial na Liturgia Eucarística a Invocação do Espírito Santo (epiclese) antes das palavras da consagração; ora estas faltam no Cânon Romano (Oração Eucarística nº 1), pois os latinos julgam que a consagração do pão e do vinho se faz pela repetição das palavras de Cristo : ‘Isto é o meu corpo… Isto é o meu sangue…’.

Acontece, porém, que as Orações Eucarísticas compostas depois do Concílio (1962-65) têm a epiclese não para corrigir uma pretensa falha anterior, mas para guardar uma antiga tradição.

9.    Pão ázimo

Jesus, em sua última ceia, observou o ritual da Páscoa judaica, que prescrevia (e prescreve) o uso do pão ázimo ou não fermentado. A Igreja Católica guardou o costume na celebração da Eucaristia. Está bem respaldada. O uso do pão fermentado não é excluído, pois, em última análise, se trata sempre de pão.

10.             A Comunhão Eucarística sob as espécies do pão apenas

Até o século XII a Comunhão era ministrada sob as duas espécies; o uso foi abolido por causa de inconvenientes que gerava (profanação, sacrilégios…).

Todavia, após o Concílio, já é permitido dar a Comunhão sob as duas espécies a grupos devidamente preparados.

11.  Unção dos Enfermos

Baseados em Tg 5, 14s, os orientais ortodoxos têm a Unção dos Enfermos como sacramento. Divergem, porém, dos ocidentais em dois pontos :

·         a Unção não é reservada aos gravemente enfermos nem tem a marca de preparação para a morte, mas, ao contrário, vem a ser um rito de cura para qualquer enfermo;

·         a Unção, no Oriente, tem forte caráter penitencial, a tal ponto que ela é conferida também aos pecadores, mesmo sadios, a título de satisfação pelos pecados.

Pode-se dizer, portanto, que a Unção ‘dos Enfermos’ nas comunidades orientais ortodoxas é dada a todos os fiéis que tenham algum problema de saúde corporal ou espiritual. Isto ocorre especialmente na Semana Santa entre os russos.

Essas diferenças, que não são das mais graves, foram muito exploradas nos debates entre latinos e gregos. Os ocidentais reservam a Unção para os casos de moléstias graves ou sério perigo de vida.

12. Divórcio

Baseados em Mt 5, 32 (= Mt 19, 9) e contrariamente ao que se lê em Mc 10, 11s; Lc 16, 18; 1Cor 7, 10s, os ortodoxos reconhecem o divórcio. A Igreja Católica não interpreta São Mateus em sentido contrário ao de Marcos, Lucas e Paulo; portanto não reconhece o divórcio de um matrimônio sacramental validamente contraído e consumado, mas julga que em Mt 5 e 19 se trata da dissolução de um casamento tido pela Lei de Moisés como ilícito. Ulteriores dados podem ser encontrados em PR 473/2001, pp. 453ss.

13. Celibato do Clero

Seria ‘uma restrição imposta nos séculos posteriores, contrária à decisão do primeiro Sínodo Ecumênico (325)’. Que há de verídico nisso?

O celibato do clero tem seu fundamento em 1Cor 7, 25-35, onde São Paulo recomenda a vida una ou indivisa. Esta foi sendo praticada espontaneamente pelo clero até que, em 306 aproximadamente, o Concílio regional de Elvira (Espanha) a sancionou para os eclesiásticos de grau superior. A legislação de Elvira foi-se propagando no Ocidente por obra de outros concílios regionais.

Ao contrário, os orientais estipularam que, após a ordenação, os clérigos de grau superior (ou do diaconato para cima não poderiam contrair matrimônio, mas eram autorizados a manter o uso do matrimônio os que tivessem casado antes da ordenação. O Concílio de Niceia I (325) rejeitou a proposta segundo a qual o celibato no Oriente seria observado sem exceções, como no Ocidente; isto, por protesto do Bispo egípcio Pafnúncio, o qual guardava pessoalmente o celibato. Os Bispos orientais são todos celibatários e, por isto, recrutados entre os monges.

Como se vê, algumas das diferenças apontadas são disciplinares e não impedem a volta à unidade de cristãos orientais e ocidentais. Podem-se admitir o pão fermentado na Eucaristia, a obrigatoriedade da epiclese, o clero casado… O maior obstáculo é o do primado do Papa. Paulo VI e João Paulo II demonstraram ter consciência do problema, que poderá ser resolvido satisfatoriamente. Eis o que escreve João Paulo II em sua encíclica Ut Unum Sit datada de 25/05/95 :

Entre todas as Igrejas e Comunidades Eclesiais, a Igreja Católica está consciente de ter conservado o ministério do sucessor do Apóstolo Pedro, o Bispo de Roma, que Deus constituiu como perpétuo e visível fundamento da unidade e que o Espírito ampara para que torne participantes deste bem essencial todos os outros. Segundo a feliz expressão do Papa Gregório Magno, o meu ministério é de servus servorum Dei… Por outra parte, como pude afirmar por ocasião do Encontro do Conselho Mundial das Igrejas em genebra aos 12 de junho de 1984, a convicção da Igreja Católica de, na fidelidade à Tradição apostólica e à fé dos Padres, ter conservado, no ministério do Bispo de Roma, o sinal visível e o garante da unidade, constitui uma dificuldade para a maior parte dos outros cristãos, cuja memória está marcada por certas recordações dolorosas. Por quanto sejamos disso responsáveis, como o meu Predecessor Paulo VI, imploro perdão’ (N] 88).

Com o poder e a autoridade sem os quais tal função seria ilusória, o Bispo de Roma deve assegurar a comunhão de todas as Igrejas. Por este título, ele é o primeiro entre os servidores da unidade. Tal primado é exercido em vários níveis, que concernem à vigilância sobre a transmissão da Palavra, a celebração sacramental e litúrgica, a missão, a disciplina e a vida cristã. Compete ao sucessor de Pedro recordar as exigências do bem comum da Igreja, se alguém for tentado a esquecê-lo em função dos interesses próprios. Tem o dever de advertir, admoestar e, por vezes, declarar inconciliável com a unidade da fé esta ou aquele opinião que se difunde. Quando as circunstâncias o exigirem, fala em nome de todos os Pastores em comunhão com ele. Pode ainda – em condições bem precisas, esclarecidas pelo Concílio do Vaticano I – declarar ex cathedra que uma doutrina pertence ao depósito da fé. Ao prestar este testemunho à verdade, ele serve à unidade’ (Nº 94).

Dirigindo-me ao Patriarca Ecumênico Sua Santidade Dimitrios I, disse estar consciente de que, ‘por razões muito diferentes, e contra a vontade de uns e outros, o que era um serviço pôde manifestar-se sob uma luz bastante diversa’. Mas … é com o desejo de obedecer verdadeiramente à vontade de Cristo que eu me reconheço chamado, como Bispo de Roma, a exercer este ministério… O Espírito Santo nos dê sua luz e ilumine todos os pastores e os teólogos das nossas Igrejas, para que possamos procurar, evidentemente juntos, as formas mediante as quais este ministério possa realizar um serviço de amor, reconhecido por uns e por outros’ (nº 95).

Como se vê, o Papa não abdica (nem pode abdicar) do seu ministério, que garante a unidade da Igreja, mas pede que os estudiosos proponham modalidades de exercício desse ministério que satisfaçam a todos os cristãos. – Queira o Espírito inspirar os responsáveis para que realmente colaborem para a solução das dificuldades que os cristãos não católicos enfrentam no tocante ao primado do Papa!

A propósito, muito se recomenda a leitura da encíclica Ut Unum Sint (Que todos sejam um), sobre o empenho de São João Paulo II em favor da união dos cristãos.’
______________________
A partir de artigo de D. Estevão Bettencourt, OSB na revista Pergunte e Responderemos, nº 480, ano 2002, pág. 200.


Fonte :

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

A inabalável fé do povo russo

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Catedral de Santa Sofia. considerada a primeira igreja construída na Rússia, em 1050.
Catedral de Santa Sofia, 
considerada a primeira igreja construída na Rússia, em 1050.


*Artigo de Pablo Pires Fernandes,
jornalista


‘É curioso para um estrangeiro na Rússia constatar a força da fé cristã do povo russo. A despeito dos 70 anos de governo socialista, o fervor religioso se manteve arraigado, o que é facilmente constatado nos templos, que se destacam na paisagem das cidades com suas cúpulas arredondadas e coloridas.
Para um brasileiro, as igrejas russas chamam a atenção pela quantidade de ícones e pela riqueza de ornamentos. Ali, as paredes são tomadas por pinturas com representações de santos e cenas bíblicas, algumas, inclusive, sequenciais, numa espécie de primórdios das histórias em quadrinhos, por criar narrativas a partir de imagens. São obras de arte que fundaram uma importante tradição pictórica com características únicas.
Nos dias em que passei na Rússia, visitei uma meia dúzia de igrejas. Algumas funcionam como museu, dada a importância histórica e estética da construção. Mesmo no ambiente predominantemente turístico, pude notar a devoção dos russos aos símbolos sagrados. Em outras que adentrei, mais frequentadas pela população local, testemunhei gestos de profunda e dedicada devoção. Impressionei-me com a especial reverência à Maria, traço comum do cristianismo praticado no Brasil.
Nos templos russos, não há bancos ou cadeiras e os ritos são seguidos pelos fiéis de pé. Também não há altar ou púlpito e a missa que pude acompanhar era administrada por três sacerdotes, próximos ao público que, em determinado momento, percorriam todo o local com incensos para abençoar os presentes.
Diante do meu desconhecimento sobre a igreja na Rússia e suas tradições, quis saber mais a respeito. Soube, então, que a Igreja Ortodoxa Russa foi oficialmente fundada em 988, mas a cristianização da região começou no século anterior, por São Cirilo e Metódio, que traduziram partes da Bíblia para a língua eslava. Os princípios cristãos foram difundidos em maior escala pela princesa Olga, convertida em santa, e seu neto Vladimir I, na virada do milênio. Desde então, a igreja desempenhou um papel fundamental para a unidade do povo russo e esteve diretamente ligada ao Estado.
Em 1054, ocorre o Grande Cisma, quando a Igreja Ortodoxa Russa rompe com a Igreja Apostólica Romana, por discordâncias teológicas e políticas. Durante as muitas invasões ocorridas no território hoje denominado Rússia, a Igreja e a fé desempenharam papel significativo como elo cultural entre as diferentes etnias da nação. Em vários momentos, as relações entre Estado e igreja foram abaladas por divergências políticas, mas a presença da religião sempre se manteve influente e viva entre a população.
A Revolução de Outubro de 1917 representou outra transformação na relação entre Igreja e Estado. Em janeiro de 1918, o líder bolchevique Vladimir Lênin publicou um decreto no qual desvinculava a Igreja de quaisquer poderes públicos, transferindo o exercício religioso para o âmbito privado e desapropriando-a de todos seus bens, além de proibir o ensino religioso nas escolas.
As consequências da revolução para a Igreja foram trágicas. Milhares de sacerdotes, monges, freiras e fiéis foram assassinados – estima-se em mais de 100 mil entre 1917 e 1940 – e outros tantos torturados e perseguidos. O Estado pregava o ateísmo nas escolas e as manifestações e práticas religiosas se refugiaram em locais privados.
Em 1943, o líder Josef Stalin, para angariar apoio à campanha militar na Segunda Guerra Mundial, reconciliou-se com os líderes religiosos, permitindo a abertura de escolas e igrejas, o que reavivou a prática cristã no país. Desde então, as relações entre Estado e Igreja se incrementaram consideravelmente. Depois do colapso da União Soviética, a expansão da Igreja Ortodoxa foi significativa, embora religiões ocidentais tenham conquistado espaço na Rússia. Mesmo assim, cerca de 90% da população se declara cristã ortodoxa, apesar de o número representar mais um elo cultural do que uma prática religiosa efetiva.
Apesar da brutal perseguição a seus membros e das tentativas de deslegitimar a fé, o povo russo se manteve fiel e crente. As belíssimas igrejas russas são testemunhas da história e um dos mais importantes legados culturais da nação. A vigorosa religiosidade do povo russo é visível, presente no dia a dia de boa parte da população e, considerando a história, deve continuar inabalada por séculos.’

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quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Consenso entre ortodoxos e católicos sobre sinodalidade e primado

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)



‘A Comissão Mista Internacional para o diálogo Teológico entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa, cuja plenária concluiu-se em Chieti esta quinta-feira (22/09), chegou a um acordo sobre a adoção do documento intitulado ‘Rumo a uma comum compreensão da sinodalidade e do primado a serviço da unidade da Igreja’.

É o que informa o Departamento Sinodal para as Relações Eclesiásticas Externas do Patriarcado de Moscou, que em um comunicado em seu site, sublinhou também os desafios para o futuro. Para Moscou, ‘será difícil avançar no diálogo, se permanecer sem solução a questão das consequências eclesiológicas e canônicas do uniatismo’ (termo usado para designar os greco-católicos ucranianos com rito oriental, mas fieis ao Papa).


Oposição da Igreja Ortodoxa da Geórgia não obstaculiza a aprovação

A redação do documento foi iniciada no decorrer da precedente Sessão Plenária da Comissão - realizada em Amã, Jordânia, em 2014 – e concluída pelo Comitê de Coordenação da Comissão durante a reunião de 2015, em Roma.

Em Chieti – havia explicado uma nota da Sala de Imprensa da Santa Sé – os membros da Comissão serão chamados a avaliar se tal esboço espelha em maneira adequada o consenso atualmente existente sobre a delicada questão da relação teológica e eclesiológica entre Primado e Sinodalidade na vida da Igreja ou se será necessário continuar a aprofundar a temática’.


Consenso alcançado

Segundo o Patriarcado de Moscou, o consenso foi alcançado, mesmo que a Igreja Ortodoxa georgiana ‘tenha expresso desacordo com alguns parágrafos’ do documento. A declaração dos georgianos está contida em uma nota no comunicado final adotado pela Sessão Plenária. Uma ulterior mensagem sobre este tema será inserida também no documento conjunto, que será publicado em breve pela Comissão.

Trata-se de uma decisão encorajadora – sublinharam alguns analistas – visto que os ortodoxos não permitiram que o desacordo da Igreja georgiana impedisse a adoção do documento. Os georgianos ortodoxos estão demonstrando uma certa propensão em seguir pelo próprio caminho, também em relação a este tema. Nos trabalhos precedentes, o Concílio Pan-Ortodoxo de Creta, por exemplo, foram os únicos a oporem-se ao matrimônio entre ortodoxos e não-ortodoxos.


Uniatismo e o tema da próxima Plenária

Em Chieti, sede do atual encontro, não chegou-se a um acordo sobre o tema da próxima Sessão Plenária, que o Patriarcado de Moscou auspicia que possa debater a questão do uniatismo. Foi decidido que a escolha do tema será feita na reunião do Comitê de Coordenação da Comissão Mista, que terá lugar no decorrer de 2017.

Na Plenária de Chieti, o Chefe da delegação ortodoxa-russa, Metropolita Hilarion, advertiu que a ação da Igreja Greco-católica na Ucrânia é ‘inaceitável do ponto de vista da ética cristã’. O dedo é apontado diretamente contra o Arcebispo Mor de Kiev, Sviatoslav Shevchuk, cujas declarações anti-russas – segundo Moscou – ‘estão em contraste com o nosso diálogo e semeiam desconfiança entre ortodoxos e católicos’. Devemos estar conscientes de que dentro de nossas Igrejas existem pessoas que obstaculizam o nosso caminho e devemos recordar disto quando pensamos no futuro de nosso diálogo’.

Outro membro da delegação ortodoxa russa, o Arquimandrita Irineu, sublinhou que ‘será difícil avançar no diálogo católico-ortodoxo, se esta questão das consequências eclesiológicas e canônicas do uniatismo permanecer sem solução’. ‘O objetivo de nosso diálogo é o de chegar a um acordo sobre questões em que já estamos de acordo, mas devemos discutir também os problemas que nos dividem. E o tema do uniatismo é um problema extremamente atual, um daqueles centrais no segundo milênio’.

Nos trabalhos da Comissão Mista – presididos pelo Cardeal Kurt Koch, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, e pelo Arcebispo de Telmessos Iob (Getcha), do Patriarcado Ecumênico – participaram dois representantes de cada uma das 14 Igrejas Ortodoxas autocéfalas, além de representantes católicos.’


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terça-feira, 17 de dezembro de 2013

A terra de origem do cristianismo é esvaziada de cristãos

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

* Artigo de Fadi Sotgiu Rahi, C.Ss.R.

‘O cristianismo viveu uma história cheia de amor, de aceitação, de testemunho, de doação, de martírio e de santidade. Ainda hoje, ele atravessa uma fase importante na sua história moderna, em especial no Oriente Médio, onde os cristãos testemunham a sua fé na Trindade, no Deus único, e onde dão a vida por Aquele que nos deu a dele.
 
Do Oriente, Deus fez surgir no mundo a luz da verdade. No Oriente, Deus se encarnou em Seu Filho, Jesus Cristo. A partir do Oriente, o mundo experimentou a salvação através do Salvador que nasceu para nos dar a vida.
 
Desde o início deste milênio, revoluções e guerras estão sacudindo os países árabes em nome da democracia, matando o homem, imagem de Deus sobre a terra, destruindo as igrejas, casas de Deus, e profanando as coisas sagradas em nome do Deus do Islã.
 
No Egito, o país em que a Sagrada Família se refugiou durante a infância de Jesus, os cristãos coptas estão oferecendo a Deus sacrifícios diários entre mártires e vítimas por causa da sua profissão de fé e da sua fidelidade a Cristo. No Iraque, na terra de Abraão, não faltam carros-bomba em frente de igrejas e nos bairros cristãos.
 
De Damasco, a cidade de São Paulo, a voz da igreja local, o patriarca da Igreja greco-católica melquita, Gregório III Laham, confirmou em várias ocasiões o sofrimento e a longa via-crúcis dos cristãos na Síria. Durante os últimos dois anos, cerca de sessenta igrejas foram danificadas e houve mais de 120 mil vítimas; a maioria, cristãos.
 
Enquanto isso, continuam a se esvaziar os vários povoados de antiga tradição cristã, como Maalula e Saydanaya. Não podemos nos esquecer, além disso, dos 6 milhões de refugiados no Líbano.
 
Todas as igrejas católicas e ortodoxas de diversos ritos estão sofrendo e participam deste martírio e desta cruz que aflige os cristãos. Os dois bispos ortodoxos sequestrados há meses e as 13 freiras raptadas..., põem à prova a fé dos cristãos sírios, que, apesar de tudo, ainda não esmoreceu.
 
Dizem que os cristãos são minoria no Oriente Médio. Isto é verdade em termos numéricos, já que os cristãos são cerca de 15 milhões em meio a 523 milhões de árabes. Mas ninguém pode negar que eles residem naquelas terras há seiscentos anos a mais que os muçulmanos e que todos juntos lá convivem há cerca de 1600 anos, não obstante toda dificuldade.
 
É verdade que muitos cristãos deixaram seus países em busca de uma vida melhor e digna de sua condição humana, mas também é verdade que ainda há muitas pessoas naqueles lugares que se recusam a abandonar suas terras, preferindo testemunhar e morrer onde nasceram. O povo de Deus, a Sua Igreja, é sempre um só, apesar da dor que o Oriente Médio vive. Uma dor que não é apenas de uma parte da Igreja, mas da Igreja inteira.
 
A Igreja do Ocidente não pode ficar olhando de braços cruzados a Igreja do Oriente subir o Gólgota, sem lhe dar a mão para carregar a cruz, como Nicodemos. Os cristãos orientais esperam muito das vozes dos cristãos do Ocidente, até agora, infelizmente, silenciosas.
 
 
Fonte :

* Fadi Sotgiu Rahi, C.Ss.R. : http://fadirahi.jimdo.com/