Mostrando postagens com marcador ícone. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador ícone. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 17 de setembro de 2019

O que significam os gestos das mãos nos ícones?


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Daniel R. Esparza


‘Você já se perguntou, enquanto olhava para ícones religiosos, por que as figuras de Cristo e dos santos fazem certos gestos com as mãos?

Cada gesto tem um significado específico, mas não é de admirar que nem sempre possamos entendê-los : eles estão ‘escritos’ em grego!

Gregos e romanos clássicos desenvolveram um código de gesto com as mãos bastante complexo e bem estabelecido, que era usado tanto por oradores quanto por retóricos, quando davam discursos na praça pública, no Senado ou até na sala de aula.

Os gestos que acompanhavam o orador, é claro, eram uma questão de conhecimento público da época. Ou seja, eram bastante comuns e compreendidos por quase todo mundo. Mas não por nós. Então, precisamos de um pouco de ajuda para decifrá-los.

 Public Domain

Não é de surpreender que os primeiros pintores de ícones cristãos usassem esse repertório de gestos com as mãos em suas pinturas de Cristo, dos santos e dos anjos.

Por exemplo, nos ícones da Anunciação, o Arcanjo Gabriel geralmente é mostrado com a mão levantada da mesma maneira que os oradores romanos faziam, ao indicar que estavam prestes a iniciar uma frase importante. Ou seja, era o gesto que precedia o exordium do discurso. Essa tradição estava tão enraizada na Roma antiga que o gesto pode ser visto até na mais antiga imagem da Anunciação que chegou até nós.

Public Domain
The oldest icon of the Annunciation, 
in the catacombs of St. Priscilla .

O significado desse gesto com a mão, associado ao oratório clássico, também é a fonte do motivo iconográfico que mostra Cristo levantando a mão na mesma atitude de um orador romano ou grego clássico. Claramente, Ele, mais do que qualquer um, tem algo importante a dizer, certo?

No entanto, esse gesto com a mão tem ainda mais níveis de significado que merecem ser levados em consideração. Especificamente no caso da figura de Cristo, o simbolismo associado aos gestos com as mãos é mais complexo.

Em princípio, em qualquer representação icônica de Cristo católica ou ortodoxa bizantina, a mão direita de Jesus é mostrada em atitude de bênção. Esse mesmo gesto é usado pelo padre para abençoar durante a liturgia, e por esta razão, os santos clérigos são retratados levantando a mão direita da mesma maneira.

Public Domain
The hand gestures of blessing mimics the letters ‘IC XC’, 
an abbreviation of four letters, widely used , 
from the Greek words Jesus ( IHCOYC ) Christ ( XPICTOC ).


Na iconografia ortodoxa grega, como também na iconografia cristã primitiva, o gesto da mão de bênção realmente molda as letras IC XC, uma abreviação das palavras gregas Jesus (IHCOYC) Cristo (XPICTOC), que inclui a primeira e a última letra de cada palavra. A mão que abençoa reproduz, com gestos, o Nome de Jesus, o ‘Nome acima de todo nome’.

Public Domain
In addition , the three fingers of Christ , and spell ‘I’ and ‘X’ also represent the Trinity and Unity of God , Father, Son and Holy Spirit.

Além de moldar as letras, o gesto de bênção feito por Cristo também transmite verdades doutrinárias. Os três dedos usados ​​para soletrar o I e o X também representam a Trindade, a unidade de um Deus em três pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo.

A junção do polegar e o anelar não apenas forma a letra C, mas também simboliza a encarnação, a união das naturezas divina e humana na pessoa de Cristo.

Olhe atentamente da próxima vez que observar um ícone. Haverá mensagens para você ler, agora que você conhece esse idioma.


Fonte :

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

A inabalável fé do povo russo

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Catedral de Santa Sofia. considerada a primeira igreja construída na Rússia, em 1050.
Catedral de Santa Sofia, 
considerada a primeira igreja construída na Rússia, em 1050.


*Artigo de Pablo Pires Fernandes,
jornalista


‘É curioso para um estrangeiro na Rússia constatar a força da fé cristã do povo russo. A despeito dos 70 anos de governo socialista, o fervor religioso se manteve arraigado, o que é facilmente constatado nos templos, que se destacam na paisagem das cidades com suas cúpulas arredondadas e coloridas.
Para um brasileiro, as igrejas russas chamam a atenção pela quantidade de ícones e pela riqueza de ornamentos. Ali, as paredes são tomadas por pinturas com representações de santos e cenas bíblicas, algumas, inclusive, sequenciais, numa espécie de primórdios das histórias em quadrinhos, por criar narrativas a partir de imagens. São obras de arte que fundaram uma importante tradição pictórica com características únicas.
Nos dias em que passei na Rússia, visitei uma meia dúzia de igrejas. Algumas funcionam como museu, dada a importância histórica e estética da construção. Mesmo no ambiente predominantemente turístico, pude notar a devoção dos russos aos símbolos sagrados. Em outras que adentrei, mais frequentadas pela população local, testemunhei gestos de profunda e dedicada devoção. Impressionei-me com a especial reverência à Maria, traço comum do cristianismo praticado no Brasil.
Nos templos russos, não há bancos ou cadeiras e os ritos são seguidos pelos fiéis de pé. Também não há altar ou púlpito e a missa que pude acompanhar era administrada por três sacerdotes, próximos ao público que, em determinado momento, percorriam todo o local com incensos para abençoar os presentes.
Diante do meu desconhecimento sobre a igreja na Rússia e suas tradições, quis saber mais a respeito. Soube, então, que a Igreja Ortodoxa Russa foi oficialmente fundada em 988, mas a cristianização da região começou no século anterior, por São Cirilo e Metódio, que traduziram partes da Bíblia para a língua eslava. Os princípios cristãos foram difundidos em maior escala pela princesa Olga, convertida em santa, e seu neto Vladimir I, na virada do milênio. Desde então, a igreja desempenhou um papel fundamental para a unidade do povo russo e esteve diretamente ligada ao Estado.
Em 1054, ocorre o Grande Cisma, quando a Igreja Ortodoxa Russa rompe com a Igreja Apostólica Romana, por discordâncias teológicas e políticas. Durante as muitas invasões ocorridas no território hoje denominado Rússia, a Igreja e a fé desempenharam papel significativo como elo cultural entre as diferentes etnias da nação. Em vários momentos, as relações entre Estado e igreja foram abaladas por divergências políticas, mas a presença da religião sempre se manteve influente e viva entre a população.
A Revolução de Outubro de 1917 representou outra transformação na relação entre Igreja e Estado. Em janeiro de 1918, o líder bolchevique Vladimir Lênin publicou um decreto no qual desvinculava a Igreja de quaisquer poderes públicos, transferindo o exercício religioso para o âmbito privado e desapropriando-a de todos seus bens, além de proibir o ensino religioso nas escolas.
As consequências da revolução para a Igreja foram trágicas. Milhares de sacerdotes, monges, freiras e fiéis foram assassinados – estima-se em mais de 100 mil entre 1917 e 1940 – e outros tantos torturados e perseguidos. O Estado pregava o ateísmo nas escolas e as manifestações e práticas religiosas se refugiaram em locais privados.
Em 1943, o líder Josef Stalin, para angariar apoio à campanha militar na Segunda Guerra Mundial, reconciliou-se com os líderes religiosos, permitindo a abertura de escolas e igrejas, o que reavivou a prática cristã no país. Desde então, as relações entre Estado e Igreja se incrementaram consideravelmente. Depois do colapso da União Soviética, a expansão da Igreja Ortodoxa foi significativa, embora religiões ocidentais tenham conquistado espaço na Rússia. Mesmo assim, cerca de 90% da população se declara cristã ortodoxa, apesar de o número representar mais um elo cultural do que uma prática religiosa efetiva.
Apesar da brutal perseguição a seus membros e das tentativas de deslegitimar a fé, o povo russo se manteve fiel e crente. As belíssimas igrejas russas são testemunhas da história e um dos mais importantes legados culturais da nação. A vigorosa religiosidade do povo russo é visível, presente no dia a dia de boa parte da população e, considerando a história, deve continuar inabalada por séculos.’

Fonte :