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sexta-feira, 6 de agosto de 2021

A saga dos católicos da 'societas perfecta'

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

  
*Artigo de Mirticeli Medeiros,

jornalista e mestre em História da Igreja, uma das poucas brasileiras

credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa da Santa Sé


‘Evitar o anacronismo é o mantra de todo historiador. E quando o assunto é história da Igreja, a atenção para não pender para esse tipo de abordagem precisa ser redobrada, já que estamos lidando com o fenômeno religioso. Porém, assumir o compromisso de não julgar o passado com categorias do presente não significa anular ou diminuir os crimes cometidos em séculos anteriores. O passado precisa ser conhecido e estudado, de modo que esses erros não sejam repetidos no presente.

Os últimos três papas, através de gestos e discursos, fizeram questão de enfatizar isso. João Paulo II, ao pedir perdão pela violência impetrada em nome de Deus por muitos homens da Igreja; Bento XVI, ao reconhecer que foi ‘providencial’, num dado momento, a Igreja ter se apartado do poder temporal; e Francisco, que na sua releitura da colonização da América, pediu perdão pelos abusos da instituição contra os povos originários. Ou seja, o papado contemporâneo olha para essa história como um percurso feito de luzes e sombras, de anjos e de demônios.

Os adeptos do positivismo histórico, do século 19, viam o passado como um celeiro de mitos nacionais. Historia magistrae vitae? Sim. Mas só era maestra de vida na medida em que condecorava as personalidades ‘civilizadoras’, os heróis do Estado (muitas vezes, forçadamente fabricados pelos propagadores da ideologia dominante).

E muitos grupos sectários da atualidade têm se debruçado sobre o passado cristão pelas lentes do positivismo histórico. Há quem romantize a trajetória de Constantino, de Pepino, o jovem, de Carlos Magno e dos cavaleiros medievais. A ideia é acumular informações ‘gloriosas’ sobre a História da Igreja, não situá-la dentro de um contexto social, político ou cultural.

Os manuais de história da Igreja do século 19, que estão sendo republicados por muitas editoras controladas por esses nichos, estão repletos desses floreios. Não que tais atores não devam ser investigados e mencionados. O problema está em ressuscitá-los na pretensão de reconstruir uma ‘Idade de Ouro’ que sequer existiu. Há quem se recorde da famigerada visão de Constantino, mas não cita os membros da família que ele executou após sua ‘conversão’. Há quem superestime as cruzadas como símbolo do triunfo, mas ignora o momento em que os cavaleiros se aliaram aos muçulmanos e o episódio em que os venezianos invadiram Constantinopla, em 1204, e profanaram a Basílica de Santa Sofia. E eu poderia citar tantos outros exemplos.

A maioria desses livros, principalmente aqueles que foram publicados antes da década de 1930, via a historiografia como um instrumento capaz de reproduzir uma narração precisa dos fatos, que era pautada somente pelos documentos oficiais. Ou seja, a história não era tratada como um processo repleto de nuances e pontos de vista, mas como uma grande crônica repleta de heróis, cujos feitos foram eternizados pela fonte escrita.

Sustentar uma visão anacrônica nem sempre é tão inofensivo quanto parece. O estrago, inclusive, às vezes acontece a longo prazo. Hitler se apoiou na trajetória de Lutero para criar uma religião política e nacionalista segundo os parâmetros do catecismo nazista : o ‘cristianismo positivo’. Mussolini evocou Constantino, o primeiro imperador cristão da história, para legitimar seu imperialismo. O ditador italiano, que era um anticlerical convicto, mudou o discurso e passou a tratar o catolicismo como parte integrante da cultura do país para atrair o apoio das autoridades eclesiásticas.

Em âmbito católico, os simpatizantes da erudição estéril e anacrônica isolam a história da instituição em 500 anos. O Concílio de Trento, que no século 16 padronizou o rito latino, é visto como a tradução mais perfeita da tradição, como se ela se resumisse a uma lista de rubricas e normas. Nada mais.

Só que a Tradição, para o catolicismo, escrita em T maiúsculo, se baseia principalmente no ensinamento de Jesus transmitido aos apóstolos, e não por acaso é chamada de Depositum Fidei, não de Ritus Romani. Portanto, a visão reducionista deles contradiz a própria doutrina. Dizer que um único concílio ecumênico foi capaz de interpretar o catolicismo na sua plenitude é destoar desse princípio, já que essa confissão cristã acredita na sucessão apostólica. E se o Concílio Vaticano II, constituído por um colégio de bispos, tomou certas decisões, que mais à frente foram revistas e chanceladas pelo próprio papa, deve ser seguido como todos os outros.

Não por acaso, as resistências em relação ao papa Francisco começaram justamente entre os tridentinos da internet, que inclusive têm uma visão completamente distorcida em relação ao conceito de reforma da Igreja Católica. Para eles, muito ligados ao espírito de Trento, reformar é impor ‘um modelo’, e ter um pontífice – e um concílio, no caso – que focam na renovação de seus membros, não nos acessórios, que muitas vezes ofuscam a essência da vida cristã, é demais para a cabeça deles.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1532139/2021/08/a-saga-dos-catolicos-da-societas-perfecta/

sábado, 4 de julho de 2020

Quando um católico deixa o seminário ou a vida religiosa

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)        

 O processo de saída do seminário ou vida religiosa costuma ser carregado por dor pessoal e julgamento social

*Artigo de Simcha Fischer,

palestrante e escritora

Tradução : Ramón Lara

 

‘Joe Heschmeyer já teve tanta certeza de sua vocação para o sacerdócio que esqueceu que devia discernir seu chamado. Todos ao seu redor pensavam que devia ser padre. Sua mãe, como descobriu mais tarde, ofereceu Joe ao Senhor quando criança, como Ana fez no Antigo Testamento. Heschmeyer escrevia sobre sua vocação frequentemente em seu blog Shameless popery, falando de sua ordenação como se fosse inevitável. As coisas estavam indo tão bem que perdeu a noção de que estava no seminário para pensar e refletir sua vocação. 

Logo depois que entrei no seminário (2011), parei de perguntar a Deus se era isso que ele queria. Senti que a pergunta já havia sido respondida. Minhas notas eram boas, eu era querido por todos, tudo o que era da dinâmica interna do seminário parecia estar bem. Parecia uma validação suficiente da minha vocação. Esqueci de perguntar a Deus : ‘Ainda estamos no mesmo projeto?’’, disse Heschmeyer. 

Somente depois que alguns amigos e familiares compraram passagens de avião e reservaram quartos de hotel para sua ordenação diaconal é que Joe começou a sentir alguma dúvida. Ele tentou atribuir suas apreensões ao ‘nervosismo de última hora’, mas uma nuvem de inquietação pairava sobre sua cabeça. Joe ficou pensando no ônibus, no caminho de volta de um retiro. 

O arcebispo estabelece um tempo para falar com o seminarista antes da ordenação. Uma espécie de conversa, onde você pode compartilhar o que estiver em seu coração. Geralmente é um tempo muito curto, por respeito – uma coisa de 10 minutos. Fiquei lá por meia hora, falando de todas essas dificuldades’. O arcebispo imediatamente assegurou que, se tivesse alguma dúvida, podia esperar mais tempo antes de fazer o compromisso final. 

Foi uma carga tremenda que foi tirada dos meus ombros, uma experiência esclarecedora e dolorosa. Percebi que estava feliz por não estar sendo ordenado. Não era o que eu queria sentir, ou esperava sentir’, disse Joe. 

Ele decidiu pedir um tempo para depois considerar voltar a participar da formação no seminário – um plano que, segundo o padre Matt Mason, diretor de vocações da diocese de Manchester, Nova York, não é incomum. Mas nove dias depois de um retiro de 10 dias, Joe sabia com certeza que não queria ser padre. 

Sair do seminário ou da vida religiosa pode parecer liberdade ou desorientação, rejeição ou clareza. Para muitos, a experiência acaba gerando frutos de autoconhecimento e um relacionamento mais profundo com Deus. Mas primeiro vem o sofrimento. 

Discernir’ é um processo amplo e extremamente mal compreendido, e muitos católicos veem isso como um sinal de fracasso, e não como realmente é : uma maneira de responder ao chamado de Deus para outra vocação. De acordo com um relatório do Centro de Pesquisa Aplicada no Apostolado, da Universidade de Georgetown, cerca de 74% dos seminaristas da turma de 2019 completaram quatro anos de seminário universitário, o que significa que 179 dos 695 homens que começaram o estudo avançado de teologia em 2015 não continuaram seus estudos. Segundo o padre Mason, a maioria das pessoas que sai do seminário o faz depois de dois ou três anos. ‘Estar no seminário não é o equivalente a se casar com a Igreja’, disse o padre Mason. ‘Sair do seminário pode ser considerado um divórcio, mas você ainda não está nesse tipo de relacionamento. É mais parecido com um namoro’. E é um relacionamento que qualquer das partes é livre para romper, disse. 

Os homens que vivem a formação para serem padres diocesanos normalmente passam de seis a oito anos no seminário (depois passam um ‘ano pastoral’ trabalhando em uma paróquia como diáconos) antes da ordenação; e as mulheres geralmente passam de cinco a sete anos (com algumas exceções) vivendo em uma comunidade religiosa antes de sua profissão final de votos. Deve ser um tempo de formação e discernimento, um tempo para aprender sobre a vida que podem levar permanentemente e, com orientação espiritual, para decidir se Deus quer que fiquem para sempre ou se os chama a outra coisa. 

Joe ficou envergonhado ao dizer a sua família, amigos e leitores do blog que estava saindo do seminário. ‘Provavelmente parecia que estava tendo uma crise de fé, apesar de estar fazendo o que parecia que Deus estava me chamando para fazer. Eu estava dando um passo na fé que pareceria o contrário. Parecia algo totalmente oposto ao plano de Deus’, disse. 

Época de transição 

Para Madalena Visaggio, deixar o seminário foi o primeiro passo para uma transição ainda maior. Como seminarista, ela se identificava como homem. Vários anos e escolhas difíceis depois, agora se identifica como mulher. Visaggio, agora escritora de quadrinhos, com um programa de televisão que foi ao ar no SyFy Channel em 2020, já quis se tornar padre ou pelo menos tentou descobrir se deveria. Seu tempo no seminário foi curto, mas sua saída não aconteceu porque ela não se esforçou por ficar. 

Ainda me encontro com pessoas que agem como se eu tivesse deixado a Igreja por que ficou difícil. Mas não é verdade. Eu fiz meu dever. Tentei ficar. Mas eu não podia’, disse Visaggio. 

Ela estava falando de sua decisão final de deixar a fé, mas muitos homens e mulheres usam palavras semelhantes ao falar sobre sua decisão de deixar a vida religiosa. Foi uma agonia decidir sair, trouxe vergonha e alívio, que vieram com apoio e condenação; mesmo quando sabiam que era a coisa certa a fazer, não estava claro o que se fazer. 

A última vez que fui à missa foi na Páscoa de 2017. No dia seguinte, segunda-feira, estava voltando do trabalho para casa. Era um dia brilhante e bonito. Sentei-me nos degraus do Bom Pastor em Inwood [Manhattan] e tive uma conversa sobre separação com Deus’, disse Visaggio. 

Para Visaggio, ingressar no seminário foi uma tentativa de tomar um caminho após anos de deriva. Ela se converteu ao catolicismo quando adolescente. Foi uma autodidata da fé e esteve fortemente envolvida no ministério leigo quando ainda se identificava como homem. Visaggio disse que muitas pessoas sugeriram que entrasse no seminário. Após 10 anos de receio, Visaggio tomou a iniciativa. 

Seu semestre e meio no seminário ‘começou muito positivo e cada vez mais foi se tornando um tormento’, disse. ‘A formação que recebemos foi excelente. A vida litúrgica era robusta. Amei fazer a Liturgia das Horas. Adorei as missas matinais e noturnas. Amei as noites de oração e alguns dos sacramentos. Amei a adoração’, aponta Visaggio. Mas também foi impiedosamente intimidada e se sentiu intensamente deslocada, social e espiritualmente. Esse sentimento de não pertencimento realçou sua crescente necessidade de lidar com sua identidade, mas sabia que não podia fazer isso no seminário. 

Um ponto positivo : o reitor deixou claro, cedo e frequentemente, que sair não era um fracasso. O seminário era algo para experimentar, um tempo para discernir; e muitos homens foram embora. ‘Nunca houve vergonha ou julgamento nisso’, destaca Visaggio. 

Quando a decisão não é sua 

Isso parece o ideal. Porém, assim como no namoro, quando apenas uma parte deseja interromper as coisas, o processo pode ser doloroso, mesmo quando apropriado.

 Jessica Packard, que agora administra os programas para jovens e grupos no zoológico de Kansas City, não teve escolha sobre seu futuro quando era noviça. ‘Basicamente, elas me chamaram para falar e me expulsaram. Foi como um fim de relacionamente, uma dessas conversas : ‘você será mais feliz fora’. Mesmo assim, não teve conversa’ – disse. 

Packard agora vê que não pertencia à ordem e que provavelmente entrou na vida religiosa pelas razões erradas. Sendo a mais velha de sete filhos, passou o primeiro ano de faculdade bebendo e festejando, vivendo desordenadamente a vida. Ela acha que seu desejo de ingressar em um convento foi parcialmente uma correção exagerada de seus excessos e, por outro lado, uma tentativa desesperada de evitar responsabilidades. 

A impressão dela sobre a vida religiosa era que ‘quando você entra, você vive uma vida boa. Você recebe suas atribuições e responsabilidades. Apenas usar uma camisa de mangas compridas ou de mangas curtas foi a sua maior decisão. No final, acho que estava fugindo da tomada de decisões’, disse Packard. 

No início, sua decisão de participar parecia uma predestinação. Ela percebia e sentia continuamente proximidade com o fundador da ordem, em sua vida diária, como sinais irrefutáveis de Deus. Pouco antes de vender o carro e doar suas roupas, mandou uma mensagem para o diretor de vocações e brincou dizendo que sentia que o fundador a estava perseguindo. ‘Vou tomar essa grande decisão e pronto’, disse a si mesma. 

Packard durou 61 dias. Ela adorava muitos aspectos da vida no convento, mas frequentemente entrava em conflito com suas superioras e questionava regras escritas e não escritas da vida no convento. Relutante em admitir para si mesma o quão miserável se sentia, Packard ficou chocada quando as irmãs na liderança de sua comunidade disseram que devia ir embora. Durante o rosário, pediram para ela entrar na lavanderia, onde reuniões importantes aconteciam, e comunicaram a decisão. Ela não teve permissão para se despedir de suas amigas. Apenas uma das irmãs trouxe uma xícara de sopa para que comesse sozinha. 

Isso foi às 17 horas. Eles disseram : ‘Vamos acordar às 6 horas e levá-la ao aeroporto’’, disse Packard. Enquanto abomina a maneira como o convento manejou sua partida, também acredita que as irmãs pensavam que estavam fazendo o possível para evitar que ela fizesse um show. ‘Acho que pensaram que estavam lidando bem com isso’, disse Packard. ‘A Igreja é santa, mas é composta de seres humanos, da mesma forma as ordens religiosas’. Essa prática de escoltar abruptamente as mulheres em segredo é cada vez menos praticada, mas continua em algumas comunidades. 

Também já foi comum nos seminários, mas muitos diretores vocacionais agora tentam dar mais ênfase à liberdade e à transparência. ‘Em épocas anteriores, poderia ter acontecido que um homem desaparecesse no meio da noite, mas hoje somos mais abertos sobre essa pessoa que decide sair; desejamos o melhor para eles e os mantemos em oração’, disse o padre Mason. 

Packard disse que não se arrepende de seu tempo no convento, embora ainda guarde rancor contra o fundador. ‘Eu meio que penso [em minha experiência na vida religiosa] como se tivesse sido um retiro muito longo. Faço uma oração : ‘Seja feita a vossa vontade’. Esse tem sido o meu mantra desde então. Quando não consigo pensar em palavras para orar, continuo orando : ‘Seja feita a vossa vontade’’, disse. 

A transição de Packard na volta à vida secular foi dolorosa. Voltou para a faculdade e ingressou em uma irmandade que, resumidamente, a expulsou após três semestres. ‘Eu não pretendo estar perto de grandes grupos de mulheres’, riu. 

Packard agora se vê como uma espécie de embaixadora para outros católicos que não se encaixam em um molde de piedade e decoro. ‘Eu não me apresento. Olá, sou Jess. Fui expulsa de um convento. Mas estou disposta a compartilhar minha experiência, especialmente com jovens em discernimento’, disse ela. Algumas das meninas que ouviram seu testemunho entraram na vida religiosa, e ela se orgulha disso. 

Em busca de apoio 

Uma transição difícil para a vida secular é comum para as mulheres que abandonam a vida religiosa, principalmente se deixaram o convento de forma involuntária e abrupta. ‘Essa experiência de formação intensa deixa uma marca’, disse Penny Renner, que administra o blog da Leonie’s longing, uma organização pequena, mas internacional, fundada para apoiar pessoas que deixaram a vida religiosa. 

Renner, que deixou o convento aos 24 anos, disse que muitas mulheres saem com uma vida espiritual ferida. ‘A vocação das religiosas é ser a esposa de Cristo. É uma missão que vai direto ao âmago da natureza feminina. As mulheres nos procuram imaginando que falharam com Deus ou que Deus as rejeitou. Elas se perguntam : Por que Deus me chamou para isso e depois me mandou embora?’, disse Renner. 

A organização promove a ideia de que as mulheres que saem da vida religiosa não foram rejeitadas por Deus. Também oferece ajuda mais tangível, incluindo treinamento profissional e orientação financeira. ‘Uma mulher que está em um convento há muitos anos pode nem saber como comprar um telefone quando sai’, disse Renner. 

O problema de desistir de tudo [para participar desse outro projeto] é que você precisa começar do nada [se sair da vida religiosa]. Nosso trabalho é ajudá-los a expandir sua rede de apoio’, aponta Renner. Os escritórios vocacionais são orientados para as pessoas que estão entrando, mas muitas vezes não existe um programa formal para acompanhá-las se deixarem o seminário ou convento, acrescentou. ‘Há uma crescente conscientização de que essa é uma área de necessidade’, disse. 

O desejo de Leonie é ajudar principalmente as mulheres, embora esteja aberto a apoiar homens. Não parece haver uma organização comparável com foco em ex-seminaristas. O padre Mason disse que, como diretor de vocações, faz um esforço para acompanhar os homens que foram embora e manter contato, se for isso o que eles querem. ‘Não vamos simplesmente largá-los e dizer ‘boa sorte’’, disse Mason. 

O padre também vê como parte de sua missão educar os colegas católicos de um seminarista sobre o que significa discernir uma vocação, para que haja menos julgamento e mais apoio quando alguém sair. Mas é difícil explicar a alguém que nunca esteve no seminário ou no noviciado como é sair. 

Renner disse que homens e mulheres podem se sentir à deriva depois de sair, mas, em sua experiência, os homens parecem mais propensos a gerenciar sua saída como um problema a ser resolvido, enquanto as mulheres percebem a saída como um julgamento a si mesmas. Elas frequentemente se retiram por um tempo, especialmente se viveram enclausuradas. Muitas mulheres ficam deprimidas, dificultando a construção de uma nova vida. 

Leonie’s Longing ajuda a conectar as mulheres com os cuidados de saúde mental e, se necessário, com instituições de caridade locais e com conselheiros de carreira. As mulheres atendidas procuraram a organização porque lutam com a reentrada na vida secular. Mas algumas transições são mais complexas do que outras. 

Carrie Chuff, que esteve enclausurada por cinco anos, como Packard, saiu do convento sem roupas, bens ou perspectivas de emprego. Eles devolveram o depósito de U$ 500 que ela lhes deu quando entrou e acrescentaram outros U$ 500 para ajudá-la a se levantar, mas Carrie se sentiu irremediavelmente em defasagem em comparação com as colegas quando se encontrou na vida secular. Mas enquanto a saída de Chuff, como a de Packard, foi mantida em segredo, sua partida se deu por uma escolha pessoal. A partida parecia mais liberdade, do que rejeição. 

Eu me senti tão livre. Estávamos dirigindo... o sol estava nascendo e eu queria sair [da cidade] antes do amanhecer. Tínhamos um céu dourado, a coisa mais linda que eu já vi. Senti tanta liberdade e paz. Foi glorioso. Foi um presente de Deus’, disse Chuff. 

Ela tinha 18 anos quando se juntou à ordem religiosa. Embora tivesse alguns medos, sentiu-se atraída por tornar sua vida um presente para Deus. ‘Eu queria oferecer minha vida como sacrifício pela conversão dos pecadores. Queria estar completamente à disposição de Deus. Realmente me apaixonei por Deus na sétima série e queria doar minha vida a ele. A melhor maneira de fazer isso, talvez a única, era me tornar religiosa’, lembra Chuff. 

Mas, surpreendentemente, ninguém a avisou de que as irmãs da comunidade em que entrou mantinham o silêncio absoluto, exceto nos dias de festa. Ela estava preparada para uma vida de obediência e rigor, mas não para a angústia que cada vez mais a engolia. Carrie tentou se adaptar, pensando que era a vontade de Deus. ‘Tentei me tornar muito maleável. Olhando para trás, as coisas não estavam como deveriam. Talvez eu fosse maleável demais’, apontou. 

Ela percebeu no primeiro ano que não pertencia mais à ordem, mas ignorou os sinais, esforçando-se para continuar adaptando-se para ‘se tornar mais santa’, disse. ‘Eu tinha muito medo de decepcionar as pessoas, de desapontar a minha família, à paróquia. Tinha medo do que as pessoas pensariam. Esse medo me fez ficar muito mais tempo do que eu devia ter ficado’, disse Chuff. 

Suas superioras passaram a depender da esperta e competente noviça e fizeram acomodações extraordinariamente generosas para ela, esperando que suas dúvidas fossem uma tentação. ‘Elas estavam abertas a me ajudar, mas era mais para me ajudar a ficar, em vez de me ajudar a discernir se eu tinha uma autêntica vocação religiosa, em primeiro lugar’, destacou Chuff. 

A depressão de Chuff finalmente se tornou insuportável. Extenuada, tremendo de medo, ela disse à madre superior que queria ir para casa. Ligou para a mãe e ficou animada, partiu sem dizer adeus. 

Uma das irmãs, sentindo o que estava acontecendo, puxou uma conversa no corredor e exigiu saber se estava saindo. Chuff admitiu que sim. ‘Ela me deu um grande abraço e me disse : ‘Você tem a coragem de fazer o que eu nunca fiz.’ Isso partiu meu coração. Sempre me lembrarei disso’. 

Chuff agora está bem, casada, tem seis filhos e é amiga de algumas das outras mulheres que deixaram o mesmo convento. Apesar da dor daqueles cinco anos, ela não acha que seu tempo no convento tenha sido desperdiçado. 

A ordem organizava retiros regulares para os leigos e ela aprendeu silenciosamente não apenas ideias espirituais, mas lições sobre a vida conjugal e familiar. ‘Eu sei que Deus trabalhou nisso. Eu nunca sinto que sou um fracasso. Sou grata pelo meu tempo lá. Isso me transformou em quem eu sou agora’, disse Chuff. 

Para Heschmeyer, também, a formação que teve no seminário foi inestimável, mesmo que o tenha levado em uma direção inesperada. ‘Está certo continuar, mas seguir a voz de Deus não significa que esse caminho acaba. Deus precisa mais dos santos do que dos sacerdotes’, disse. 

O padre Mason também aponta que as vocações não consistem simplesmente em uma decisão ou um momento no tempo. ‘Deus nunca para de nos chamar, mesmo dentro de nossas vocações’, disse o padre Mason. 

Um chamado dentro do outro 

A direção desse chamado pode ser surpreendente. ‘Eu tive que voltar para a casa dos meus pais. Não era onde eu esperava me ver com 30 anos’, disse Heschmeyer. Rapidamente aceitou um emprego em uma escola confessional, onde sua carreira lhe permitia evangelizar como faz um padre, mas sem as dores de cabeça dos deveres administrativos. 

E imediatamente depois que saiu do seminário, voou para Phoenix para fazer uma visita surpresa a uma amiga com quem havia interrompido o contato quando tentava discernir o sacerdócio. Quando apareceu na porta dela pedindo para namorar, ela nem sabia que havia saído do seminário. 

Havia muitas surpresas reunidas em uma só’, disse Heschmeyer. ‘Felizmente, ela disse que sim, do contrário, poderia ter sido uma viagem extremamente triste’. Os dois namoraram por três meses e depois se casaram. Eles agora têm um filho. 

Heschmeyer sabe que seu relacionamento levantou algumas sobrancelhas e algumas pessoas podem suspeitar que ele deixou o seminário por uma mulher. Mas não é assim, disse. ‘Não pensava que se Anna dissesse que não, eu voltaria [para o seminário]. Acho que fui chamado para me casar e, se for verdade, sei qual porta bater’, acrescentou. 

Heschmeyer, como Chuff, disse que as coisas que aprendeu ao discernir a vida religiosa acabaram ajudando-o em sua vida de casado. Sua esposa chama o seminário de ‘escola de charme para homens’, onde aprendeu etiqueta e tato, e também ganhou alguma maturidade psicológica. 

Aprendi a levar a vida emocional a sério. Você tem que entrar nesses lugares internos assustadores e desconfortáveis e ser totalmente humano, e não ser cabeça fechada. O seminário me fez confrontar e tratar a vida de maneira adulta’, disse Heschmeyer. 

Esse processo de auto-descobrimento começa antes mesmo que um homem entre no seminário. O processo de ingresso leva muitos meses e nem todos são convidados a entrar. ‘Não aceitamos pessoas do nada’, disse o padre Mason. Sua diocese geralmente se familiariza com um candidato muito antes de permitir sua entrada, disse, e o próprio processo de ingresso é longo e intenso. Para ordens religiosas, como os jesuítas, o processo de admissão é ainda mais cansativo. 

O padre Philip Florio, S.J., diretor de vocações das duas províncias da Costa Leste dos jesuítas, disse que os aspirantes se submetem a uma avaliação em várias etapas, às vezes durante um ano, antes mesmo de serem convidados a ingressarem. Os candidatos trabalham com um diretor espiritual, um diretor de vocações e um acompanhante espiritual. Eles oram em uma comunidade, fazem retiros e encontros. 

Seis meses depois, um possível seminarista escreve uma autobiografia espiritual de 12 a 15 páginas e passa por uma entrevista de cinco horas para revisar a história familiar e pessoal, o desenvolvimento pessoal, espiritual e psicossexual, o relacionamento do aspirante com a Igreja e seu entendimento sobre o sacerdócio. Em seguida, inicia o processo formal de entrada de quatro meses, culminando em entrevistas com três jesuítas e uma leiga. 

Insistimos que seja uma mulher porque 50% da Igreja é feminina. Se você não pode falar com uma mulher, não estamos interessados’, disse o padre Florio. Mesmo se um candidato for aceito e entrar, nada é conclusivo. ‘Os aspirantes ainda entram e saem’, explica. Sua liberdade para fazê-lo é primordial. ‘O Espírito Santo trabalha em liberdade, e nós honramos essa liberdade’, disse o jesuíta. 

A ordem espera que, se os candidatos forem embora, seja em termos amigáveis, com uma maior clareza sobre suas próprias vidas. 

Madalena Visaggio experimentou essa clareza quando deixou o seminário. Embora finalmente tenha rejeitado a maneira como a Igreja avalia os atos morais, disse que o tempo que passou no seminário foi, em última análise, esclarecedor psicologicamente. 

Acho que precisei passar por esse processo para me forçar a realmente levar a sério, pela primeira vez, o que estava acontecendo na minha cabeça. Mesmo tendo tomado algumas decisões ruins depois que saí, pelo menos tomei decisões. Estava morando com minha futura ex-esposa menos de um ano depois de sair. Começaria a faculdade e me casaria dentro de dois anos e meio. Foram todos grandes erros, mas é incrível o fato que eu os cometi’, disse Visaggio. 

Visaggio lembra particularmente os cuidados que um padre lhe ofereceu depois que se assumiu como trans. ‘Ele apenas me deixou falar sobre isso e perguntou como eu estava me sentindo. Ele não partiu de uma posição de crítica, mas de cuidado pastoral. Ainda estou em contato com ele. É um homem maravilhoso’, disse. 

O Leonie’s Longing foi fundado precisamente para oferecer essa escuta crítica e muitas mulheres entram em contato com o grupo simplesmente para expressar gratidão por essa comunidade existir. ‘Elas dizem : É a primeira vez que me entendo’, aponta Renner. 

Para mim, a coisa mais curativa de fazer parte de uma comunidade [é que] posso ver que são mulheres generosas, talentosas e adoráveis. Olho para elas e não consigo pensar : ‘Essas são as mulheres que Deus rejeitou’. E se eu não consigo pensar nisso, também não consigo pensar em mim como uma mulher rejeitada por Deus’.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1457252/2020/07/quando-um-catolico-deixa-o-seminario-ou-a-vida-religiosa/


sexta-feira, 26 de junho de 2020

Por que os católicos rezam o Terço?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)        

ROSARY 

*Artigo de Karna Swanson,

jornalista

 

‘Durante séculos, a Igreja intensificou a oração do Terço, ou Rosário, nos momentos de luta. São Domingos considerava o Terço uma arma espiritual, e os Papas chamavam Maria de ‘vencedora das heresias’, invocando a sua ajuda para combater questões que vão do catarismo ao comunismo.

 Origem do Terço

 A devoção ao Terço foi se desenvolvendo lentamente ao longo de cerca de 500 anos.

 Trata-se de uma oração constituída pela recitação de ave-marias, em grupos de dez, sendo cada grupo precedido por um pai-nosso e concluído com um glória. Durante o rosário, meditam-se os mistérios da vida de Cristo e de Maria.

 A tradição popular atribui a origem do Terço a São Domingos (1170-1221), mas as pesquisas históricas mostram que esta devoção foi se desenvolvendo lentamente ao longo do tempo.

 O próprio São João Paulo II parece afirmar isto em sua carta ‘Rosarium Virginis Mariae' (2002), que começa recordando que o Terço ‘foi gradualmente tomando forma no segundo milênio, sob a guia do Espírito de Deus’.

 Ainda que não se saiba exatamente qual é a história do início do Terço, o pe. Etienne Richer explica, em ‘Mariology’, que, no final do século XI, ou seja, quase um século antes de São Domingos, ‘já se conhecia e praticava uma devoção mariana caracterizada por numerosas ave-marias, com prostrações rítmicas em honra de Nossa Senhora, primeiro em comemoração das suas alegrias e, depois, em recordação dos seus sofrimentos’. O nome ‘Rosário’ surgiu associado a esta prática.

 Formato atual

 Na mesma época, irmãos e monges cistercienses que não conseguiam memorizar os 150 salmos que a sua ordem rezava toda semana, teriam recitado 150 pai-nossos. Os leigos teriam logo copiado essa forma de rezar, mas substituindo o pai-nosso pela ave-maria. O nome dado a essa devoção foi ‘Saltério de Maria’.

 Por volta do ano 1200, conta-se que Nossa Senhora apareceu a São Domingos e lhe disse : ‘Reza o meu saltério e ensina-o às pessoas. Esta oração nunca falhará’.

 São Domingos difundiu a devoção ao Saltério de Maria e, como afirma o pe. Richter, esta devoção foi ‘incorporada de forma divina à vocação pessoal de São Domingos’.

 Nas décadas posteriores, o Terço e o saltério de Maria convergiram e a devoção assumiu a forma específica popularizada ao longo dos séculos seguintes : as 150 ave-marias, divididas originalmente em três conjuntos de mistérios (os gozosos, os dolorosos e os gloriosos; daí o nome ‘terço’, que remete a cada uma das três partes do rosário completo), sendo cada terço subdividido em 5 dezenas de ave-marias (cada dezena equivalendo à contemplação de um mistério da fé), com o pai-nosso inserido entre as dezenas.

 Papa João Paulo II

 Em 2002, São João Paulo II acrescentou mais cinco mistérios ao Rosário, os chamados ‘mistérios luminosos’. Ele propôs tais mistérios para ‘mostrar plenamente a profundidade cristológica do terço’, incluindo ‘os mistérios do ministério público de Cristo entre o seu Batismo e a sua Paixão’. Apesar da mudança que agora subdivide o Rosário em quatro partes e não mais em três, a devoção continua sendo chamada popularmente de ‘Terço’.

 Orientações da Igreja Católica

 Desde o século XII, a Igreja Católica intensificou a oração do Terço nos momentos de dificuldade e tribulação. Em 1569, São Pio V consagrou oficialmente o Terço, atribuindo à sua recitação a destruição da heresia e a conversão de muitos pecadores.

 Ele pediu aos fiéis que rezassem o Terço naquela época ‘de tantas heresias, gravemente perturbada e aflita por tantas guerras e pela depravação moral dos homens’ – nem tão diferente da nossa própria época.

 O prolífico papa Leão XIII (1878-1903), conhecido sobretudo pelas suas encíclicas sobre questões sociais, especialmente a Rerum Novarum (1891), sobre as condições do trabalho humano, escreveu pelo menos 16 documentos sobre o terço, incluindo 12 encíclicas.

 O ‘Papa do Terço’ escreveu a sua primeira encíclica sobre esta oração em 1883, no 25º aniversário das aparições de Lourdes. Ele recorda o papel de São Domingos e como a oração do terço ajudou a derrotar os hereges albigenses no sul da França, nos séculos XII e XIII.

 São Domingos, dizia o Papa, ‘atacou intrepidamente os inimigos da Igreja católica não pela força das armas, mas confiando totalmente na devoção que ele foi o primeiro em instituir com o nome de Santo TerçoGuiado pela inspiração e pela graça divinas, previu que esta devoção, como a mais poderosa arma de guerra, seria o meio para colocar o inimigo em fuga e para confundir a sua audácia e louca impiedade’.

 Arma espiritual

 Também falou sobre a eficácia e poder do terço na histórica batalha de Lepanto, entre as forças cristãs e muçulmanas, em 1521.

 As forças islâmicas haviam avançado rumo à Espanha e, quando estavam a ponto de superar as cristãs, o Papa Pio V fez um apelo aos fiéis para que rezassem o terço.

 Os cristãos venceram, e, como homenagem por esta vitória, o Papa declarou Maria a ‘Senhora da Vitória’, estabelecendo sua festa no dia 7 de outubro, dia do Santo Terço.

 Voltando à necessidade do terço em sua época, o Papa escreveu : ‘É muito doloroso e lamentável ver tantas almas resgatadas por Jesus Cristo arrancadas da salvação pelo furacão de um século extraviado e lançadas ao abismo e à morte eterna. Em nossa época, temos tanta necessidade do auxílio divino quanto na época em que o grande Domingos levantou o estandarte do Terço de Maria, a fim de curar os males do seu tempo’.

 Pio XI (1922-1939) dedicou sua última encíclica, ‘Ingravescentibus malis’, também ao terço. Foi em 1937, o mesmo ano em que escreveu a famosa ‘Mit brennender Sorge’, na qual criticava os nazistas, e a ‘Divini Redemptoris’, na qual denunciava que o comunismo ateu ‘pretende derrubar radicalmente a ordem social e socavar os próprios fundamentos da civilização cristã’.

 Criticando o espírito da época e o ‘seu orgulho depreciativo’, o Papa disse que o terço é uma oração que tem ‘o perfume da simplicidade evangélica’, que requer humildade de espírito. Ele escreveu :

 Uma inumerável multidão, de homens santos de toda idade e condição, sempre o estimou. Rezaram-no com grande devoção e em todo momento o usaram como arma poderosíssima para afugentar os demônios, para conservar a vida íntegra, para adquirir mais facilmente a virtude; enfim, para a consecução da verdadeira paz entre os homens’.

 Em 1951, Pio XII (1939-1958) escreveu a ‘Ingruentium malorum’, sobre a oração do terço : ‘Categoricamente, não hesitamos em afirmar em público que depositamos grande esperança no Rosário de nossa Senhora como remédio dos males do nosso tempo. Porque não é pela força, nem pelas armas, nem pelo poder humano, mas sim pelo auxílio alcançado por meio dessa devoção, que a Igreja, munida desta espécie de funda de Davi, consegue impávida afrontar o inimigo infernal’.

 Papa Bento XVI

 Em 1985, o então cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e posteriormente eleito Papa Bento XVI, admitiu no livro-entrevista ‘Informe sobre a Fé’, com Vittorio Messori, achar que a declaração de que Maria é ‘a vencedora de todas as heresias’ era um pouco ‘exagerada’.

 Ele explicou que, ‘quando eu ainda era um jovem teólogo, antes das sessões do Concílio (e também durante elas), como aconteceu e acontece hoje com muitos, tinha algumas reservas sobre certas fórmulas antigas, como, por exemplo, aquela famosa ‘De Maria nunquam satis’ [de Maria nunca se dirá o bastante]’.

 É oportuno observar que Joseph Ratzinger cresceu num ambiente muito mariano. No livro ‘Meu irmão, o Papa’, o pe. George Ratzinger, irmão mais velho de Joseph, comenta que seus avós se casaram no Santuário de Nossa Senhora de Absam e que seus pais se conheceram por meio de um anúncio que o pai tinha colocado (duas vezes) no jornal do santuário mariano de Altotting.

 Os Ratzinger rezavam o terço juntos muitas vezes e, no mês de maio, participavam de numerosas celebrações ligadas a Maria e ao terço.

 No entanto, apesar da familiaridade com Maria e da sincera devoção mariana, ele não parecia convencido. Como ele mesmo explica no livro-entrevista, o então cardeal prefeito desse importantíssimo dicastério vaticano passou por uma pequena conversão.

 Hoje, neste confuso período, em que todo tipo de desvio herético parece se amontoar às portas da fé católica, compreendo que não se trata de exageros de almas devotas, mas de uma verdade hoje mais forte do que nunca’.

 É necessário voltar a Maria se quisermos voltar à verdade sobre Jesus Cristo, à verdade sobre a Igreja e à verdade sobre o homem.

A oração do terço nos permite fixar o olhar e o coração em Jesus, como sua Mãe, modelo insuperável da contemplação do Filho’, disse Bento XVI em 12 de maio de 2010, no Santuário de Nossa Senhora de Fátima.

Ao meditarmos os mistérios gozosos, luminosos, dolorosos e gloriosos ao longo das ave-marias, contemplamos todo o mistério de Jesus, desde a Encarnação até a Cruz e a glória da Ressurreição; contemplamos a participação íntima de Maria neste mistério e a nossa vida em Cristo hoje, também ela tecida de momentos de alegria e de dor, de sombras e de luz, de trepidação e de esperança’.

A graça invade o nosso coração no desejo de uma incisiva e evangélica mudança de vida, de modo a poder proclamar com São Paulo : ‘Para mim viver é Cristo’ (Flp 1, 21), numa comunhão de vida e de destino com Cristo’, finaliza.’ 

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://pt.aleteia.org/2020/06/24/por-que-os-catolicos-rezam-o-rosario/


terça-feira, 10 de julho de 2018

Igrejas Católica e Ortodoxa reconstroem igrejas, mosteiros e casas na Síria


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Plano conjunto de reconstrução havia sido anunciado em outubro de 2017


‘As Igrejas Católica e Ortodoxa Russa prosseguem com o plano de reconstrução de igrejas cristãs e mosteiros destruídos durante a guerra na Síria, confirmou no sábado à Ag. Tass o Metropolita Hilarion de Volokolamsk, presidente do Departamento de Relações Exteriores da Igreja Ortodoxa Russa.

A criação de um grupo de trabalho entre as duas Igrejas havia sido anunciado em outubro de 2017. A Ação não se limita à reconstrução de igrejas, mas também de moradias, ‘questão para a qual são necessário tanto os esforços do Estado como da Igreja’, disse o Metropolita na ocasião.

Nós assumimos a reconstrução, e algumas igrejas e mosteiros estão sendo reconstruídos agora. Em particular, o trabalho de restauração está chegando ao fim em Maaloula. É um dos principais locais sagrados da Igreja Ortodoxa de Antioquia, um convento construído no local onde a língua aramaica era falada até há pouco’, disse Hilarion. ‘As monjas foram forçadas a deixar o local, mas agora esperamos que elas possam regressar.’

O Metropolita admitiu que as condições continuam tensas na Síria.

Por outro lado, temos que começar com algo e já começamos sem esperar pelo momento em que as condições sejam as ideais. Talvez, este momento não chegará logo’, disse ele.

O conflito que martiriza a Síria teve início em março de 2011, com protestos que pediam a renuncia de Bashar Al-Assad, sendo duramente reprimidos. De revolta civil, o conflito assumiu proporções inimagináveis na época, envolvendo potências regionais e internacionais..

Antes do conflito, a população síria era de 20 milhões de habitantes. Segundo a Agência das Nações Unidas para os Refugiados, cerca de cinco milhões de sírios abandonaram o país devido ao conflito. Cerca de 500 mil vivem em campos de refugiados e 470 mil perderam a vida.’


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