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segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Quênia: religiosas cegas oferecem seu testemunho ao povo de Deus

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
Da esquerda para a direita: Irmã Mary Carmen, Irmã Mary Veronica e Irmã Mary Angelina na capela 

*Artigo da Irmã Michelle Njeri, OSF


A família de Dom Orione inclui os Filhos da Divina Providência e as Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade. No entanto, menos conhecido é que dentro da mesma família existe uma comunidade de Irmãs Sacramentinas, cujos membros são religiosas com deficiência visual.

As Irmãs Sacramentinas passam grande parte do dia em adoração ao Santíssimo Sacramento, mas também realizam um apostolado em sua comunidade local. O instituto foi fundado na Itália por São Luís Orione, um sacerdote italiano comumente conhecido como Dom Orione. No Quênia, a comunidade das Irmãs Sacramentinas conta com quatro membros : Irmã Mary Carmen, Irmã Mary Angelina, Irmã Mary Rachael e Irmã Mary Veronica.

Apostolado e oração

A Irmã Mary Veronica sempre desejou ser religiosa, mas teve dificuldades em encontrar uma congregação que a aceitasse devido à sua deficiência visual. Em 1981, uma irmã da Consolata a direcionou pela primeira vez para as Irmãs Sacramentinas, onde ela permanece até hoje. ‘Esta congregação de freiras com deficiência visual é única e é a única no Quênia’, disse a Irmã Mary Veronica. ‘Nosso fundador, Dom Orione, era uma pessoa caridosa e nos pediu para sermos mães e irmãs dos pobres. Oferecemos nossa falta de visão a Deus para os irmãos e irmãs que não conhecem a verdade, para que possam experimentar Deus, a luz do mundo.’

Embora tenham deficiência visual, as Irmãs Sacramentinas são contemplativas e, ao mesmo tempo, muito ativas. Ensinam catecismo em sua paróquia, visitam as pessoas na vila próxima e oferecem sua ajuda também online. ‘Em nosso carisma de Irmãs Sacramentinas, adoramos Jesus no Santíssimo Sacramento e falamos a Jesus sobre a humanidade. Encontramos as pessoas e falamos a elas sobre o amor de Deus. Levamos as almas a Jesus e Jesus às almas’, disse a religiosa.

As irmãs fazem Adoração em turnos e se envolvem em outras tarefas comunitárias, como agricultura, criação de aves, confecção de rosários e trabalhos de tricô, como atividades geradoras de renda para a sustentabilidade. ‘Nos unimos à congregação para dar e receber; não nos unimos para ser ajudadas. Procuramos ser autônomas em tudo o que fazemos’, disse a Irmã Mary Veronica, acrescentando : ‘Preciso de oportunidades, não de compaixão.’ 

Desafios da comunidade

Comprar livros escritos em braille não é fácil para as freiras com deficiência visual. Por muitos anos, elas importaram livros espirituais em braille do exterior. Com o aumento das tarifas de importação, as freiras não podem mais receber os livros como antes. No entanto, as religiosas reconhecem que os desafios as tornam completas. ‘Enfrentamos os desafios com alegria, ter deficiência visual não nos tira os talentos e capacidades’, afirma a Irmã Mary Rachael.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2024-08/quenia-religiosas-deficiencia-visual-testemunho.html

domingo, 2 de junho de 2024

Apostolado da oração : a rede mundial de oração pontificia que transforma vidas

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

*Artigo de Nayá Fernandes


No mês em que se celebra o Sagrado Coração de Jesus, recorda-se o Apostolado da Oração (AO), movimento que teve início ainda no século XIX, em 1844. Na Festa de São Francisco Xavier, o Padre Francisco Xavier Gautrelet disse a um grupo de seminaristas que queriam ir para as missões na África ou na Índia que eles deveriam antes rezar pelos missionários e estariam, assim, contribuindo com as missões, mesmo estando distante. 

Este tipo de participação divulgou-se rapidamente e espalhou-se pela Europa. No Brasil, o Apostolado da Oração começou em 1867, no Recife, pela atuação do Padre Bento Schembri e em 1871 em Itu (SP), por meio do Padre Taddei, que ao falecer, em 1913, deixou em 1390 centros do Apostolado pelo Brasil.

Padre Eliomar Ribeiro, SJ, é o atual Diretor Nacional do Movimento, incluindo o Movimento Eucarístico Jovem (MEJ). Para ele, a importância do AO está ‘em ajudar as pessoas a serem disponíveis interiormente para a missão que a Igreja nos confia. É uma trajetória espiritual que ajuda os membros a viverem como Jesus viveu, desejando que as qualidades do Coração de Jesus sejam também as nossas qualidades’.

Calcula-se cerca de 36 milhões de pessoas empenhadas em aprofundar a espiritualidade do Coração de Jesus e o Oferecimento do Dia, que fomenta a vivência da fé no cotidiano. 

Em nove passos, pedagogicamente estruturados, é apresentado um processo espiritual para que os membros se identifiquem com o pensar e o querer de Jesus. Assim, o membro do AO se põe a caminho para acolher o Reino de Deus e servir ao povo de Deus. Isto explica porque o Apostolado da Oração mantém viva a devoção ao Sagrado Coração de Jesus.

Amar e Servir!

Eunice Tironi tem 66 anos e mora na cidade de Londrina (PR). Ela é consagrada ao Sagrado Coração de Jesus e à missão no Apostolado da Oração desde 2000, há 24 anos. Desde 2019 ela coordena o AO da Arquidiocese de Londrina, que abrange 16 municípios e 11 decanatos, com mais de 3 mil membros. 

‘Desde que comecei a participar das reuniões, eu me apaixonei pelo Sagrado Coração de Jesus. Foi um divisor de águas na minha vida, no fortalecimento da minha fé e numa adesão radical à missão e carisma do Apostolado’, disse.

Nos trabalhos da coordenação, participa das reuniões e encontros em todos os decanatos, na orientação e formação das coordenações paroquiais e organização de encontros, bem como da peregrinação nas paróquias e santuários. ‘Procuro viver a espiritualidade do Sagrado Coração de Jesus através das comunhões reparadoras, orações diárias do Oferecimento, com a intenção mensal que o Papa Francisco confia a nós’, explicou Eunice.

Com o oferecimento diário, os membros buscam oferecer a própria vida em favor dos irmãos, de modo especial os que mais padecem, no mundo inteiro.

Entre as graças recebidas, Eunice considera especial a imprescindível ajuda do esposo. ‘Um homem fervoroso e dedicado, que me deu todo apoio na missão de levar a devoção ao Sagrado Coração de Jesus através do Apostolado da Oração, por todos os recantos da arquidiocese, do Estado e pelo Brasil afora’, afirmou.

‘A oração é um serviço’

Santa de Fátima Nespoli tem 69 anos, mora em Vila Velha (ES) e desde a fundação do grupo, é membro do Apostolado na Paróquia São João Paulo II, em Itaparica, desde a fundação, há 22 anos. 

‘Conheço o Apostolado desde criança, pois minha avó paterna, minha mãe, irmãs e tias faziam parte do Apostolado da nossa comunidade, no interior do estado onde morávamos, mas, à época, eu não entendia. Conheci realmente o Apostolado quando comecei a estudar a Recriação e a fazer parte da Coordenação Arquidiocesana’, contou à reportagem da Revista Ave-Maria. 

O grupo que Santa faz parte reúne-se três vezes por mês para a Hora Santa, além das missas da primeira sexta-feira e do primeiro domingo. Na Arquidiocese, o Apostolado está organizado conforme o Estatuto próprio.

‘Vivo a espiritualidade com a participação ativa das propostas do Apostolado, na celebração diária da Santa Missa, servindo a Igreja na liturgia, na Coordenação do Apostolado e como Ministro da distribuição da Sagrada Eucaristia’, especificou. 

Santa acrescentou que, com o passar dos anos, compreendeu a importância da Oração e do oferecimento diário, o amor à Igreja, ao Papa e aos sacerdotes, mas principalmente o amor ao Sagrado Coração de Jesus. 

‘Compreendi que a Oração é um serviço. Assim como o Papa Francisco nos disse : ‘É o mais importante serviço da Igreja’. Sou do Coração de Jesus, sou missionária, sou da Igreja, sou Apostolado da Oração, isso é tudo de bom’, continuou.

‘Andar com Jesus’

Beatriz Xavier da Silva tem 76 anos e mora em São Paulo (SP) onde atua como coordenadora arquidiocesana do Movimento do Apostolado da Oração. Admitida ao grupo do Apostolado da Oração da Paróquia Santo Antônio de Lisboa da Vila Ede em 2012, Beatriz já conhecia o Movimento, mas começou a participar ativamente após ter cuidado dos pais doentes.

‘É muito gratificante, pois, desde 27 de março de 2018, o Santo Padre constituiu a Rede Mundial de Oração do Papa (Apostolado da Oração) e nos tornamos Obra Pontifícia, com sede oficial no Estado da Cidade do Vaticano e novos Estatutos’, explicou.

‘Eu costumo dizer que tem uma Beatriz de antes e outra completamente diferente, pois hoje vivo a experiência de trabalhar com Jesus e andar com ele em todos os momentos. Andar com Jesus é bom demais’, concluiu, citando uma frase comumente dita pelos jovens do MEJ.

Fonte de vida

Ana Maria Schmidt Turim França tem 79 anos e 55 de casamento. Mãe de 4 filhos e avó de 5 netos e mora na capital paulista. Nascida no interior de São Paulo, participou de movimentos como a Ação Católica e a Juventude Estudantil Católica Feminina. 

‘Conheci o Movimento quando eu era jovem, na Paróquia Santa Rita de Cássia, em Sales Oliveira (SP), ainda em 1958. Mas, foi um sacerdote daqui de São Paulo que, em torno de 2000, sugeriu que eu participasse do Apostolado, que, segundo ele, tinha muita semelhança com o trabalho evangelizador que ele sabia que eu desejava’, explicou.

Graduada em Física pela USP, Ana Maria participa da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, no Parque Continental. Professora e catequista, trabalhou num projeto de ensino religioso em escolas públicas e dedicou-se inteiramente à família por alguns anos. Somente em 2010 retomou a participação no AO, a convite de uma amiga.

‘Encontrei, assim, o maior tesouro que poderia ter ganho ainda em vida de Nosso Senhor Jesus Cristo e que me aproximava de sua Mãe, Maria, do Espírito Santo e de Deus nosso Pai. Descobri que o ‘Oferecimento do Dia’, que eu tanto prezava, foi a pedra inicial do Apostolado da Oração, já desde 1844, ano de seu início dentro de um seminário dos Jesuítas, em França’, completou.

  Ana Maria recordou a importância do uso da fita vermelha, tradição entre os membros do AO. Ela acredita que ‘fazendo as orações diárias, vamos nos revestir da beleza da Eucaristia, como fonte de vida’. 

Fiel às raízes

Padre Alex Sandro Sudre, msc, é natural de Eugenópolis (MG) e membro da Congregação dos Missionários do Sagrado Coração de Jesus. Atuou em várias missões da sua Congregação em Minas Gerais, São Paulo, Ceará e no Equador. É mestre em Missiologia pelo Centro Universitário Assunção, em São Paulo, e atualmente, administrador paroquial da Paróquia Nossa Senhora das Mercês, na cidade de Floriano Peixoto, Piauí. 

‘Minha mãe é membro do Apostolado da Oração e, por isso, cresci imbuído dessa espiritualidade, que é a do coração de Jesus. É uma espiritualidade muito rica, cristocêntrica, baseada em Deus que é amor’, explicou Padre Alex, que ressaltou o fato de o Movimento ter características semelhantes às das irmandades.

Por esse motivo, é uma espiritualidade voltada para as pessoas, em que os membros têm a oportunidade de viver uma fé encarnada. ‘O Movimento foi adaptando-se à realidade. Temos hoje a espiritualidade de Santa Faustina, que é ligada ao Coração de Jesus’, disse o Religioso.

Ele recordou, ainda, que o Papa Francisco ‘motiva os fiéis a viverem na Igreja de forma mais ativa, principalmente na vida das pessoas mais sofridas’. Em sua atividade missionária, ele incentiva as pessoas que fazem parte do Apostolado a não abandonarem suas raízes, não perderem a sua espiritualidade, ao mesmo tempo, manterem-se abertas às novas gerações.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/apostolado-da-oracao-a-rede-mundial-de-oracao-pontificia-que-transforma-vidas.html

sexta-feira, 9 de julho de 2021

Vaticano dá destaque ao drama dos trabalhadores do mar

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Benedetta Capelli (Vatican News)


‘A pandemia mudou a face do mundo e também a do trabalho no mar que, apesar das restrições, nunca parou. Esta é a primeira indicação destacada na Mensagem do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral por ocasião do Domingo do Mar, dia 11 de julho. Os navios, de fato, ‘nunca deixaram de transportar de um porto para outro equipamentos médicos e medicamentos essenciais para apoiar a luta contra a propagação do vírus’. ‘Cerca de 90% do comércio mundial – escrevem – move-se graças aos navios ou, mais precisamente, aos 1,7 milhões de marinheiros que trabalham neles. O cardeal Peter Turkson, prefeito do dicastério, e dom Bruno Duffè, secretário, agradecem à ‘gente do mar; uma gratidão que se transforma em oração’.

Não apenas uma simples força de trabalho

O texto não esconde a ‘profunda contradição’ presente no mundo da indústria marítima, ‘altamente globalizada’, mas atravessada pela fragmentação das regras sobre os direitos e a proteção dos trabalhadores. Partindo disso vem o pedido de reconhecimento dos ‘trabalhadores essenciais’, incentivando ‘mudanças na tripulação’ e dando prioridade a uma política clara de vacinação. O dicastério não esquece o grave inconveniente dos que ficaram bloqueados por causa da Covid : cerca de 400 mil pessoas em setembro de 2020 que deveriam ser repatriadas e, em vez disso, permaneceram fora de suas casas por até 18 meses. A pandemia forçou-os a trabalhar mais, afetando ‘a vida diária de suas famílias’, gerando ‘isolamento, solidão, separação e ansiedade pelos entes queridos a milhares de quilômetros de distância, juntamente com a incerteza do próprio futuro’. Fatores que ‘têm aumentado o estresse físico e psicológico a bordo dos navios, às vezes com consequências trágicas’. O convite é olhar os membros da tripulação não como uma simples ‘força de trabalho’, mas como seres humanos, desenvolvendo assim ‘práticas de trabalho, baseadas na dignidade humana e não no lucro’.

Soluções para a pirataria

A atenção então se volta para o fenômeno da pirataria, que essencialmente tem registrado uma diminuição no número de casos, mas com um aumento da violência contra a tripulação. ‘Trata-se de um ponto desencorajador que mostra a fragilidade da indústria marítima, que já foi posta à prova pela pandemia’, destaca a mensagem. É um fenômeno que coloca em sério risco a saúde dos que trabalham no mar, de suas famílias e abala a economia. ‘Pedimos a todos os governos e organizações internacionais’, lê-se na mensagem, ‘para que identifiquem soluções duradouras para o flagelo da pirataria, conscientes da necessidade de enfrentar o problema fundamental da desigualdade na distribuição de bens entre países e da exploração dos recursos naturais’.

Abandonados no mar

Há também outro fenômeno preocupante : o abandono dos navios e da tripulação. Em 2019 havia 40 navios abandonados, enquanto que em 2020 chegaram a 85. Os marinheiros são forçados a viver em condições desumanas e, portanto, o apelo aos armadores é para que ativem ‘um seguro obrigatório que cubra o abandono no mar, para o pagamento de despesas incluindo alimentação, água potável, assistência médica e custos de repatriação’. A mensagem salienta que o número de naufrágios e acidentes marítimos está diminuindo ‘mas mesmo um é demais, especialmente quando os marítimos são feridos, morrem, perdem-se no mar ou são injustamente criminalizados e detidos por tempo indeterminado’. Uma situação que cria ‘desespero nas famílias’ porque as crianças ficam sem pais e não há um lugar onde colocar uma flor e rezar uma oração.

Apóstolos fiéis

A mensagem se conclui com um pensamento para os capelães e voluntários da Stella Maris que, em tempos de pandemia, sempre estiveram a serviço dos marinheiros e pescadores. Oremos para que continuem a ser ‘apóstolos fiéis à missão de anunciar o Evangelho’, mostrando ‘o rosto atento da Igreja que acolhe e está próxima a esta porção do Povo de Deus’.’

Vide também : Apostolado do mar e o migrante das águas


Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1526278/2021/07/vaticano-da-destaque-ao-drama-dos-trabalhadores-do-mar/

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Como a família é um “apostolado” da Igreja

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 FAMILY BLESSING
*Artigo de Philip Kosloski, 
escritor e designer gráfico


‘Embora, oficialmente, a missão de evangelização esteja a cargo de padres e religiosos da Igreja Católica, toda família recebe uma missão apostólica de Deus.

Na verdade, de muitas maneiras, a família é uma das instituições mais importantes na proclamação do Evangelho.

Tudo isso está detalhado no documento Apostolicam Actuositatem do Concílio Vaticano II. Nele, o casamento e a família são considerados a célula mais básica da sociedade :

‘Desde que o Criador de todas as coisas estabeleceu a sociedade conjugal como o começo e a base da sociedade humana e, por Sua graça, tornou um grande mistério em Cristo e na Igreja (cf. Ef 5,32), o apostolado de pessoas casadas e famílias é de importância única para a Igreja e a sociedade civil.’

A Igreja reconhece o casamento e a família como um ‘apostolado’, uma instituição encarregada da tarefa de evangelização. Em primeiro lugar, essa evangelização ocorre no contexto da família, na criação dos filhos :

‘Maridos e esposas cristãs são cooperadores na graça e testemunhas de fé um para o outro, seus filhos e todos os outros em sua casa. Eles são os primeiros a comunicar a fé a seus filhos e educá-los com palavras e exemplos para a vida cristã e apostólica. Eles os ajudam prudentemente na escolha de sua vocação e promovem cuidadosamente qualquer vocação sagrada que possam discernir neles.’

Esta é a tarefa mais importante da família, mas não é a única. Depois de estabelecer uma base sólida, é um dever necessário deste apostolado sair e procurar oportunidades para ser uma força de caridade na sociedade :

‘Entre as várias atividades do apostolado da família, podem ser enumeradas as seguintes: adoção de bebês abandonados, hospitalidade com estranhos, assistência no funcionamento das escolas, conselhos úteis e assistência material para adolescentes, ajuda a casais noivos a se prepararem melhor para o casamento, o trabalho catequético, o apoio de casais e famílias envolvidas em crises materiais e morais, ajudar os idosos, não apenas fornecendo-lhes as necessidades da vida, mas também obtendo para eles uma parcela justa dos benefícios de uma economia em expansão.’

Em outras palavras, as famílias são essenciais para a entrega bem-sucedida da mensagem do Evangelho ao mundo. Como São João Paulo II observou : ‘O futuro da humanidade passa pelo caminho da família’.

A maneira de restaurar a sociedade é, antes de tudo, através da família.’


Fonte :

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Apostolado do Mar : restaurar dignidade dos marítimos

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Imagem relacionada
*Artigo do Padre Olmes Milani,
Missionário Scalabriniano


‘Encerrou-se, no dia 6 de outubro, o XXIV Congresso Mundial do Apostolado do Mar, realizado em Kaohsiung, Taiwan. Foram tratados, em intensas palestras, temas pertinentes ao pouco conhecido mundo dos pescadores. Os temas abordados privilegiaram os setores da pesca artesanal e industrial.
Realmente, a situação triste e injusta a que são submetidos os pescadores representa enormes desafios pastorais para a Igreja exigindo adaptações, criatividade e compromisso para socorrer as vítimas que não tem voz  e incluí-las na sociedade que, de um modo geral, ignora sua existência.
A missão da Igreja é restaurar a dignidade perdida de muitos pescadores e marítimos. É um trabalho que exige competência, dedicação e coragem por parte dos membros do Apostolado do Mar e agentes de pastoral.
 Por isso, os participantes propuseram algumas prioridades para os próximos anos. A primeira é desenvolver e aperfeiçoar as técnicas de visita à bordo dos navios e adquirir um bom conhecimento das leis, que regulam o trabalho dos pescadores e marítimos; a segunda, aperfeiçoar o sistema de comunicação entre capelães e centros Stella Maris, possibilitando uma ação mais eficiente em casos de escravidão, discriminação e injustiças; finalmente, destacando o trabalho evangelizador do Apostolado do Mar, usando o mesmo logo evidenciando sua missão.
Através do Apostolado do Mar a Igreja cuida da saúde dos seres humanos que buscam o sustento de suas famílias no mar, lagos e rios, deixando a natureza limpa e viva para as gerações futuras.’ 

Observação -> leia também  Apostolado do Mar e o Migrante das Águas

Fonte :


quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

O Decreto Apostolicam actuositatem sobre o Apostolado dos Leigos

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


Em nosso espaço Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a tratar sobre os documentos conciliares, apresentando na edição de hoje, o Decreto Apostolicam actuositatem sobre o Apostolado dos Leigos.

O Decreto Apostolicam actuositatem foi promulgado pelo Papa Paulo VI em 18 de novembro de 1965. Dividido em seis capítulos, o documento inicia falando sobre a importância e a atualidade do apostolado dos leigos na vida da Igreja e conclui com uma exortação à generosidade : ‘Por isso, o sagrado Concílio pede instantemente no Senhor a todos os leigos, que respondam com decisão de vontade, ânimo generoso e disponibilidade de coração à voz de Cristo, que nesta hora os convida com maior insistência, e ao impulso do Espírito Santo. Os mais novos tomem como dirigido a si de modo particular este chamado, e recebam-no com alegria e magnanimidade. Com efeito, é o próprio Senhor que, por meio do sagrado Concílio, mais uma vez convida todos os leigos a que se unam a Ele cada vez mais intimamente, e sentindo como próprio o que é dele, se associem à sua missão salvadora’.

Quem nos apresenta o Decreto Apostolicam actuositatem, é o Presidente da Comissão Episcopal para o Laicato da CNBB e Bispo de Caçador (SC), Dom Severino Clasen :

É um documento que nasce a partir dos outros documentos da Igreja. São diversos que ao longo da história da Igreja vão sendo produzidos para a participação dos cristãos na Igreja e na sociedade. Por exemplo, antes do Concílio Vaticano II, temos alguns documentos tipo Aeterni patris de 1879, depois 1891 temos a Rerum Novarum. São grandes documentos que falam da participação dos leigos na sociedade e o mundo como caminha nas suas grandes transformações. Assim também, no Concilio Ecumênico Vaticano II, com a produção dos diversos documentos que temos aí, vamos citar sobretudo a Lumen Gentium e a Gaudium et spes, que fala da Igreja e sua missão no mundo, e também a Igreja e a transformação da sociedade, a doutrina e tudo mais. Dentro destes documentos, surge este documento do apostolado dos cristãos leigos e leigas, a missão deles na Igreja e na sociedade. Claro, que este decreto teve grandes discussões. Nós podemos imaginar, quando mais de 2.500 bispos reunidos neste Concílio, alguma coisa tem que se produzir de alto nível. E o pensamento do Concílio Ecumênico Vaticano II, produziu aquela ideia ‘Igreja, povo de Deus’. Uma nova maneira de interpretar, de entender a Igreja. A valorização dos cristãos leigos e leigas. E como já havia na época, antes da guerra e depois no pós-II Guerra Mundial, muitos documentos que começam a surgir a ação dos leigos. Temos aí a Ação Católica. Nós aqui no Brasil, depois nós temos a Ação Católica, temos diversos grupos, a Ação da Juventude. Eram expressões de grupos de leigos, tentando mostrar a sua participação e comprometimento com o anúncio do Evangelho de Jesus Cristo. Então nesta miscelânea de iniciativas, tentativas que já se encontrava e a Igreja gemendo, diria assim, como dores de parto, na necessidade de uma mudança, de uma transformação e tudo mais. E por isto o Concílio Ecumênico Vaticano II percebeu que não tem como produzir um Concílio sem falar de Leigos. E para dar um destaque especial, aí surge este documento. Foi preparado e até quando foi aprovado em 1965, mais precisamente foi no dia 18 de novembro, quando inclusive a Comissão do Laicato no Brasil celebrou, fez uma dedicação sobre isto, para que de fato a gente colocasse esta ideia da participação dos cristãos leigos e leigas’.’


Fonte :


segunda-feira, 2 de novembro de 2015

A generosidade une as pessoas diferentes

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Padre Olmes Milani,
Missionário Scalabriniano


‘Amigas e amigos da Rádio Vaticano, é com  alegria que envio uma saudação generosa e sem fronteiras para vocês das Arábias.

Gostaria de tratar hoje um assunto que mexe com nossos corações, a generosidade que une as pessoas diferentes.

Estudando as manifestações religiosas em diversos países, percebem-se  inúmeras diferenças. Algumas delas são inerentes às próprias religiões e outras surgem pela integração de elementos culturais e históricos onde elas se desenvolveram.  Posso dizer que observando-as, como espectador, despertam a curiosidade e encantam pela beleza das cores dos vestuários, da música, das danças e, de uma forma muito especial, pelos ritos. Todas elas são uma fonte de enriquecimento jorrando para enriquecer a qualquer pessoa que venha a ter contato com elas. Todas as culturas e religiões estão abertas para promover as pessoas que  se disponham a participar delas. Para o observador, contudo, existe uma condição : evitar julgá-las. É que o julgamento fecha a porta para que eu conheça uma religião, cultura ou pessoa. Quando eu julgo alguém, sua religião ou cultura é porque decidi  fechar-me, quer dizer, optei por ser pobre.

Como é sabido, os regentes dos Emirados Árabes Unidos, desde sua fundação em 1970, optaram pela criação de um país no qual as pessoas pudessem vir trabalhar, conservando sua língua, cultura e religião. Generosamente, doaram lotes de terra em subúrbios predeterminados para que os expatriados pudessem construir suas igrejas, templos e escolas. Embora não exista um processo de integração, almeja-se uma boa convivência, respeito e liberdade de culto sem proselitismo.

Cada religião tem seus tempos fortes durante o ano, seja ele solar ou lunar, como é o caso dos muçulmanos. Como, nós cristãos vivemos com intensidade o tempo quaresmal e advento, os irmãos que seguem o Islã, privilegiam o Ramadan, o tempo de jejum, visando maior aproximação com Deus, controlando as tendências que induzem ao mal e praticando a generosidade com os menos favorecidos.

Desde a formação desse país, o incentivo à generosidade esteve presente. Durante o período de jejum islâmico, surgiram diversas atividades e campanhas de filantropia das quais todos são convidados a participar, independentemente de suas crenças e religiões. Algumas delas são encabeçadas por estrangeiros e outras pelos Emiratis, distinguindo-se a participação dos príncipes das monarquias.

Neste ano de 2015, testemunhamos campanhas para apoiar programas de educação de crianças no exterior, coleta de itens como roupas, brinquedos, comida não perecível para serem enviados a pessoas necessitadas, no exterior e no país. Dentro do tempo de Ramandan também são incentivadas as visitas com a intenção de levar alegria e esperança aos doentes nos hospitais.

 Merecem atenção também as mulheres indocumentadas que estão com seus filhos no país, sem poder trabalhar.

Finalmente, os milhares de marítimos que trabalham, em situação  sub-humana, são visitados nos portos onde suas obsoletas embarcações estão atracadas. A eles é doado o  mais necessário, comida. É nessa atividade que o Apostolado do Mar da Igreja Católica forma equipe com islâmicos, anglicanos e outras religiões.

O retorno que colhemos de ações generosas não é sempre evidente, mas une as pessoas diferentes.’  


Fonte :

terça-feira, 17 de março de 2015

Um missionário brasileiro nas Arábias

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)



Sensação de pluralidade e encontros humanos, culturais e religiosos : assim o sacerdote scalabriniano Padre Olmes Milani define seus primeiros 40 dias nos Emirados Árabes Unidos, onde prestará seu serviço nos portos locais, no âmbito do Apostolado do Mar. Durante anos, o missionário colaborou com o Programa Brasileiro quando atuava no Japão. Desta experiência resultou o livro ‘Do Japão para a Rádio Vaticano’, editado pelas Edições Loyola.

Ao deixar o país nipônico, Padre Olmes foi designado para o Centro de Imigrantes em Cuiabá (MT), onde trabalhou diretamente com os haitianos. Agora, Dubai é a sua nova residência :

‘Já se passaram 40 dias desde que desembarquei em Abu Dhabi, no dia 29 de janeiro de 2015. Confesso que cheguei com espírito calmo e o coração tranquilo. Pessoalmente, com muita vontade de conhecer o desconhecido e de me encontrar com o diferente. Elementos culturais e religiosos sempre me fascinaram e aqui estou para me expor a novas experiências, num ambiente novo.  Nunca parei um momento para descobrir os motivos de ter essa abertura; só sei dizer que me sinto bem de ser desafiado por um ambiente pluralista que me coloca em contato direto com expatriados de dezenas de países. Aqui é onde se dá o encontro de fronteiras.

O encontro, nas fronteiras dos seres humanos, é um espaço de enriquecimento e de confraternização de povos diferentes. Línguas, forma de participar nas celebrações religiosas, ritos litúrgicos, vestuário e religiosidade compõem uma biblioteca viva na qual as pessoas se enriquecem. Este ambiente é ainda mais significativo pelo fato de este canto Oriental do Sul da Arábia estar cercado por países marcados pelas intolerâncias, conflitos, revoluções e movimentos radicais. Os Emirados Árabes Unidos caracterizam-se pela tranquilidade, desenvolvimento e tolerância. Contudo, não podemos falar sempre de flores quando o assunto é a situação dos expatriados, ou seja, das pessoas que vem aqui para trabalhar.

Faz muita diferença morar num edifício onde as pessoas têm pouca ou nenhuma interação e inserir-se numa comunidade na qual os seres humanos de culturas diferentes participam das mesmas atividades. Desde minha chegada em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, fui acolhido na casa Bispo do Vicariato do Sul da Arábia, localizada no complexo da Catedral. Os sacerdotes da Catedral e da casa do Bispo são provenientes de cinco países : Índia, Suíça, Filipinas, Alemanha e Líbano.

Depois de uma semana em Abu Dhabi, viajei para o Emirado de Dubai, meu lugar definitivo no que se refere à moradia e trabalho.  Resido nas dependências da Igreja de Saint Mary´s, administrada pelos frades capuchinhos. Aqui moramos e participamos juntos nas orações, refeições, celebramos missas e reuniões, sacerdotes : da Índia, das Filipinas e do Líbano, (capuchinhos), da Ucrânia, (diocesano), da Irlanda (Missionários para a África) e eu (scalabriniano do Brasil), formando uma comunidade multicultural e institucional.

Dubai é ponto de passagem de missionários, bispos e núncios que vão e voltam do Oriente, ocasionando oportunidades excelentes para conversas enriquecedoras sobre a Igreja nos países da Ásia e Oceania.

A Igreja de Saint Mary`s, onde resido, se constitui num fenômeno interessante. Num final de semana que começa com o feriado de sexta-feira e continua com os dias normais de trabalho de sábado e domingo, recebe de 70 a 80 mil pessoas de mais de 20 países.  O programa de catequese conta com a participação de 8 mil crianças.

Durante o mês, são celebradas missas em 8 línguas e às sextas-feiras podem ser celebradas 15 missas, nas diversas dependências da Paróquia. Quanto a mim, sou escalado para missas em inglês para crianças, jovens e adultos. Havendo necessidade, presido casamentos e celebro batismos em espanhol, português e inglês. Existe a possiblidade de reunir, pelo menos uma vez por mês, as pessoas de língua portuguesa e espanhola.

Atualmente, estou na fase de finalização dos documentos exigidos para ter acesso aos diversos portos dos Emirados Árabes Unidos, onde exercerei a missão do Apostolado do Mar, em conjunto com a Missão para os Marinheiros da Igreja Anglicana, usando dos mesmos escritórios e formulários próprios para a Pastoral dos Marítimos. O trabalho será executado ecumenicamente, cada sacerdote exercendo suas funções de acordo com sua denominação cristã e em colaboração de cada um com os demais. Esse será meu trabalho principal.

Concluindo, posso dizer que estou gostando e me sinto feliz por estar num ambiente onde a característica é o encontro dos seres humanos, das culturas, da religiosidade e das denominações cristãs e religiosas a bordo dos navios e em terra.


Fonte :
* Artigo de http://www.news.va/pt/news/um-missionario-brasileiro-nas-arabias

http://www.diariors.com.br/site/cidades/sarandi/9354-sarandi-padre-olmes-milani-festeja-os-40-anos-de-sacerd%C3%B3cio.html

domingo, 20 de julho de 2014

São Lourenço de Bríndisi, Presbítero e Doutor da Igreja

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 * Artigo  de Bento XVI, Papa Emérito

‘Ainda recordo com alegria o caloroso acolhimento que me foi reservado em 2008 em Bríndisi, a cidade onde em 1559 nasceu um ínsigne Doutor da Igreja, São Lourenço de Bríndisi, nome que Giulio Cesare Rossi escolheu ao entrar na Ordem dos Capuchinhos. Desde a infância ele foi atraído pela família de São Francisco de Assis. Com efeito, órfão de pai com sete anos, foi confiado pela mãe aos cuidados dos frades conventuais da sua cidade. Porém, alguns anos mais tarde transferiu-se com a mãe para Veneza, e precisamente no Vêneto conheceu os Capuchinhos, que naquele período se tinham posto generosamente ao serviço da Igreja inteira, para incrementar a grande reforma espiritual promovida pelo Concílio de Trento. Em 1575 Lourenço, com a profissão religiosa, tornou-se frade capuchinho e, em 1582, foi ordenado sacerdote. Já durante os estudos eclesiásticos mostrou as eminentes qualidades intelectuais de que era dotado. Aprendeu facilmente as línguas antigas, como o grego, o hebraico e o siríaco, e as modernas, como o francês e o alemão, que se acrescentavam ao conhecimento das línguas italiana e latina, outrora fluentemente falada por todos os eclesiásticos e pelos homens de cultura.

Graças ao conhecimento de tantos idiomas, Lourenço conseguiu desempenhar um apostolado intenso junto a diversas categorias de pessoas. Pregador eficaz, conhecia de modo tão profundo não só a Bíblia, mas também a literatura rabínica, que os próprios rabinos permaneciam maravilhados e admirados, manifestando-lhe estima e respeito. Teólogo versado na Sagrada Escritura e nos Padres da Igreja, era capaz de explicar de modo exemplar a doutrina católica até aos cristãos que, principalmente na Alemanha, tinham aderido à Reforma. Com a sua exposição clarividente e pacata, ele demonstrava o fundamento bíblico e patrístico de todos os artigos de fé postos em discussão por Martinho Lutero. Entre eles, o primado de São Pedro e dos seus sucessores, a origem divina do Episcopado, a justificação como transformação interior do homem, a necessidade das boas obras para a salvação. O sucesso de que Lourenço gozava ajuda-nos a compreender que até hoje, ao promover com tanta esperança o diálogo ecuménico, o confronto com a Sagrada Escritura, lida na Tradição da Igreja, constitui um elemento irrenunciável e de importância fundamental, como eu quis recordar na Exortação Apostólica Verbum Domini (cf. n. 46).

Até os fiéis mais simples, não dotados de uma grande cultura, beneficiaram da palavra convincente de Lourenço, que se dirigia às pessoas humildes para exortar todos à coerência da própria vida com a fé professada. Este foi um grande mérito dos Capuchinhos e de outras Ordens religiosas que, nos séculos XVI e XVII, contribuíram para a renovação da vida cristã, penetrando em profundidade na sociedade com o seu testemunho de vida e o seu ensinamento. Inclusive hoje, a nova evangelização tem necessidade de apóstolos bem preparados, zelosos e intrépidos, para que a luz e a beleza do Evangelho prevaleçam sobre as orientações culturais do relativismo ético e da indiferença religiosa, e transformem os vários modos de pensar e de agir num autêntico humanismo cristão. É surpreendente que São Lourenço de Bríndisi tenha podido realizar, ininterruptamente, esta actividade de pregador apreciado e incansável em muitas cidades da Itália e em diversos países, não obstante desempenhasse também outros cargos delicados e de grande responsabilidade. Efectivamente, no interior da Ordem dos Capuchinhos, ele foi professor de teologia, mestre dos noviços, várias vezes ministro provincial e definidor-geral e, finalmente, de 1602 a 1605, ministro-geral.

No meio de tantos trabalhos, Lourenço cultivou uma vida espiritual de fervor extraordinário, dedicando muito tempo à oração e de maneira especial à celebração da Santa Missa, que prolongava frequentemente durante horas, arrebatado e comovido no memorial da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. Na escola dos santos, cada presbítero, como muitas vezes foi sublinhado durante o recente Ano sacerdotal, só pode evitar o perigo do activismo, ou seja, de agir esquecendo-se das profundas motivações do ministério, se cuidar da própria vida interior. Falando aos sacerdotes e aos seminaristas na catedral de Bríndisi, cidade natal de São Lourenço, recordei que «o momento da oração é o mais importante na vida do sacerdote, aquele em que a graça divina age com maior eficácia, dando fecundidade ao seu ministério. Rezar é o primeiro serviço a prestar à comunidade. Por isso, os momentos de oração devem ter na nossa vida uma verdadeira prioridade... Se não estivermos interiormente em comunhão com Deus, nada poderemos dar também aos outros. Por isso, Deus é a primeira prioridade. Devemos reservar sempre o tempo necessário para estar em comunhão de oração com nosso Senhor». De resto, com o fervor inconfundível do seu estilo, Lourenço exorta todos, e não apenas os sacerdotes, a cultivar a vida de oração, porque é através dela que nós falamos a Deus e Deus nos fala : «Oh, se considerássemos esta realidade! — exclama — ou seja, que Deus está verdadeiramente presente em nós, quando lhe falamos na oração; que Ele realmente ouve a nossa prece, mesmo que oremos simplesmente com o coração e com a mente. E que não só está presente e nos ouve, mas pode e deseja condescender de bom grado e com o máximo prazer às nossas exigências».

Outro aspecto que caracteriza a obra deste filho de São Francisco é a sua obra a favor da paz. Tanto os Sumos Pontífices, como os príncipes católicos lhe confiaram reiteradamente importantes missões diplomáticas para resolver controvérsias e favorecer a concórdia entre os Estados europeus, naquela época ameaçados pelo Império otomano. A autoridade moral, de que gozava, fazia dele um conselheiro procurado e ouvido. Hoje, assim como na época de São Lourenço, o mundo tem muita necessidade de paz, precisa de homens e mulheres pacíficos e pacificadores. Todos aqueles que acreditam em Deus devem ser sempre nascentes e construtores de paz. Foi precisamente por ocasião de uma destas missões diplomáticas que Lourenço concluiu a sua vida terrena em 1619 em Lisboa, aonde tinha ido para se encontrar com o rei da Espanha, Filipe III, para perorar a causa dos súbditos napolitanos oprimidos pelas autoridades locais.

Foi canonizado em 1881 e, devido à sua actividade vigorosa e intensa, à sua ciência vasta e harmoniosa, mereceu o título de Doctor apostolicus, «Doutor apostólico», conferido pelo Beato Papa João XXIII em 1959, por ocasião do quarto centenário do seu nascimento. Tal reconhecimento foi conferido a Lourenço de Bríndisi, também porque ele foi o autor de numerosas obras de exegese bíblica, de teologia e de escritos destinados à pregação. Nelas ele oferece uma apresentação orgânica da história da salvação, centrada no mistério da Encarnação, a maior manifestação do amor divino pelos homens. Além disso, dado que era um mariólogo de grande valor, autor de uma colectânea de sermões sobre Nossa Senhora, intitulada «Mariale», pôs em evidência o papel singular da Virgem Maria, da qual afirma com clarividência a Imaculada Conceição e a cooperação para a obra da redenção, realizada por Cristo.

Com uma requintada sensibilidade teológica, Lourenço de Bríndisi salientou inclusive a obra do Espírito Santo na existência do fiel. Ele recorda-nos que, com os seus dons, a terceira Pessoa da Santíssima Trindade ilumina e contribui para o nosso compromisso a viver jubilosamente a mensagem do Evangelho. «O Espírito Santo — escreve São Lourenço — torna dócil o jugo da lei divina e leve o seu peso, a fim de que observemos os mandamentos de Deus com enorme facilidade, e até com amabilidade».

Gostaria de completar esta breve apresentação da vida e da doutrina de São Lourenço de Bríndisi, frisando que toda a sua obra foi inspirada por um grande amor pela Sagrada Escritura, que ele conhecia amplamente e de cor, e pela convicção de que a escuta e o acolhimento da Palavra de Deus produz uma transformação interior que nos conduz à santidade. «A Palavra do Senhor — afirma ele — é luz para o intelecto e fogo para a vontade, a fim de que o homem possa conhecer e amar a Deus. Para o homem interior, que por meio da graça vive do Espírito de Deus, é pão e água, mas pão mais doce que o mel, e água melhor que o vinho e o leite... É um martelo contra um coração duramente obstinado nos vícios. É uma espada contra a carne, o mundo e o demónio, para destruir todo o pecado». São Lourenço de Bríndisi ensina-nos a amar a Sagrada Escritura, a crescer na familiaridade com ela, a cultivar quotidianamente a relação de amizade com o Senhor na oração, para que todas as nossas obras, cada uma das nossas actividades tenham nele o seu início e o seu cumprimento. Esta é a fonte na qual beber, a fim de que o nosso testemunho cristão seja luminoso e capaz de conduzir os homens do nosso tempo rumo a Deus.’

 (23 de março de 2011)

 Fonte :
Bento XVISantos e Doutores da Igreja (catequeses condensadas), Lisboa, Paulus Editora, 2012.  


quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Apostolado do Mar : Cardeal Vegliò pede solidariedade aos marítimos reféns de piratas

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)




Não podemos ignorar a situação penosa em que muitos pescadores e suas famílias estão vivendo.’ E um pensamento espiritual dirige-se aos marítimos, ainda reféns dos piratas, e aos familiares deles à espera’.

No signo da solidariedade, o presidente do Pontifício Conselho da Pastoral para os Migrantes e os Itinerantes, Cardeal Antonio Maria Vegliò, colocou esses dois pensamentos no centro de seu pronunciamento com o qual abriu na manhã desta segunda-feira, em Roma, o Encontro anual dos Coordenadores Regionais do Apostolado do Mar, que prosseguirá até a próxima sexta-feira, dia 24.

Em seu pronunciamento, o purpurado definiu urgente’ a adoção de medidas mais significativas para desenvolver abordagens antigas e novas ao cuidado pastoral voltado para o mundo dos pescadores’, pedindo aos capelães e voluntários que continuem estando ao lado dos que vivem o drama dos sequestros no mar e que mostrem aos familiares destes o rosto amoroso da Igreja’.

O Cardeal Vegliò evocou – à distância de um ano do Congresso do Apóstolo do Mar, realizado no Vaticano – as palavras de João Paulo II na Carta Apostólica Stella Maris – promover um espírito ecumênico no mundo marítimo (...) para encorajar e promover a cooperação e a coordenação recíproca dos projetos entre as Conferências Episcopais e os Ordinariatos locais’ – calando-as no cenário atual.

O cenário de um setor que – observou – está rapidamente se transformando com a abertura de novas rotas marítimas e a fusão das empresas voltadas para maximizar a eficiência e o lucro’.

Para fazer frente a isso, o presidente do dicastério vaticano convidou a reforçar a solidariedade entre as nações’ empenhadas nesta específica atividade pastoral na partilha de recursos’ e no desenvolvimento de competências nos vários setores da indústria marítima, em particular, da pesca.

Com um diálogo paciente – afirmou ainda – se deverá criar nas Igrejas nacionais e diocesanas a consciência e a atenção a esse ministério muito específico, de modo que o apostolado do mundo marítimo seja considerado parte da solicitude pastoral ordinária das Igrejas’.

Do ponto de vista organizativo, relativo ao Apostolado do Mar, o dicastério dos Migrantes subdividiu o mundo em nove regiões e confiou a um coordenador o cuidado pastoral de cada região.

As nove regiões do mundo são: América do Norte e Caribe, América Latina, África Oceano Índico, África Ocidental, Europa, Ásia do Sul, Ásia Oriental e do Sul, Estados Árabes do Golfo, e Djibuti. (RL)’ 


Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.news.va/pt/news/apostolado-do-mar-cardeal-veglio-pede-solidariedad