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segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Brasileira Irmã Rosita Milesi é vencedora global de 2024 do Prêmio Nansen, do ACNUR

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Irmã Rosita Milesi. (Foto: Marina Calderón/ACNUR)

*Artigo de Rodrigo Borges Delfim


‘Uma das maiores e mais respeitadas referências no Brasil na atuação em prol de migrantes, incluindo deslocados forçados, a religiosa católica brasileira Rosita Milesi, 79, foi anunciada nesta quarta-feira (9) como vencedora da edição 2024 do Prêmio Nansen.

A honraria é concedida anualmente pelo ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, a pessoas e entidades com atuação reconhecida em prol dessa comunidade. Grosso modo, o Prêmio Nansen pode ser considerado uma espécie de Nobel pela defesa dos direitos de pessoas refugiadas.

‘Decidi me dedicar a migrantes e refugiados. Sou inspirada pela crescente necessidade de ajudar, acolher e integrar refugiados’, disse Irmã Rosita, como é mais conhecida, em entrevista oficial ao ACNUR. ‘Não tenho medo de agir, mesmo que não alcancemos tudo o que queremos. Se assumo algo, vou virar o mundo de cabeça para baixo para fazer acontecer’, acrescentou.

Atuando desde a década de 1980 na temática migratória, irmã Rosita Milesi é líder do IMDH (Instituto Migrações e Direitos Humanos), entidade presente em Brasília e Boa Vista no apoio e orientação a pessoas migrantes e em necessidade de proteção internacional. Ela ainda é coordenadora da RedeMIR, que engloba cerca de 70 organizações que atuam para fortalecer a solidariedade entre as pessoas em movimento e as comunidades que as acolhem.

Advogada de formação, Rosita usou tal experiência para atuação decisiva em prol das duas principais legislações relacionadas ao arcabouço migratório e de deslocamento forçado no Brasil : a Lei de Refugiados Lei 9.474/1997) e a Lei de Migração (Lei 13.445/2017).

‘Qualquer lei dura muitos anos. Boa ou ruim, é difícil desfazer. Então, não podíamos deixar que uma lei com um conceito limitado fosse aprovada se houvesse a possibilidade de ampliá-la’, disse ela ao ACNUR sobre a Lei de refúgio brasileira, considerada um modelo internacional por contemplar a definição mais ampla do conceito, dada pela Convenção de Cartagena (1984). ‘Até escrevi para o Vaticano em Roma, pedindo que enviassem uma carta ao governo brasileiro dizendo o quão importante era ampliar o conceito de refugiado. E o Vaticano colaborou. Enviaram a carta, graças a Deus’, complementou.

Criado em 1954, o Prêmio Nansen leva o nome do explorador polar norueguês Fridtjof Nansen (1861-1930), ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1922 e primeiro Alto Comissário para os Refugiados da Liga das Nações, entidade precursora da ONU.

Irmã Rosita é somente a segunda pessoa brasileira a receber o Prêmio Nansen. A primeira foi o ex-cardeal arcebispo de São Paulo Dom Paulo Evaristo Arns, em 1985. Ela se junta ainda a personalidades globais como a ex-primeira-dama dos EUA Eleanor Roosevelt e a ex-chanceler alemã Angela Merkel, além de organizações como a Médicos Sem Fronteiras.

Trajetória e próximos passos

Filha de agricultores italianos, Rosita nasceu e cresceu no Rio Grande do Sul. Já no meio familiar viu seus pais, mesmo sem grandes condições financeiras, oferecerem trabalho, comida e um lugar para dormir às pessoas necessitadas que pediam ajuda ou que transitavam pela região.

Aos 9 anos, ingressou em um colégio administrado pelas Irmãs Missionárias Scalabrinianas, congregação fundada no final do século XIX para ajudar migrantes italianos que chegavam às Américas. Aos 19, em 1964, se tornou freira e integrante da Congregação Scalabriniana.

Por duas décadas, trabalhou como professora e na área administrativa de um hospital, em instituições geridas pela congregação para ajudar os pobres. Nesse período, também graduou-se em Direito, formação que lhe permitiu ainda se qualificar para uma nova missão a partir da década de 1980 : estabelecer um Centro de Estudos de Migrações na capital, Brasília.

‘Eu sabia pouco sobre o assunto, mas tive que me preparar.  Meu foco voltou-se, então, a estudar o tema das pessoas em mobilidade, deslocadas, e decidi dedicar meu conhecimento e trabalho aos refugiados e migrantes’, disse ela.

Combinando formação acadêmica e valores religiosos e humanos cultivados desde a infância, Irmã Rosita se tornou uma das referências na atuação em prol de pessoas migrantes no Brasil, incluindo aquelas que se encontram em situação de proteção internacional. Tal trajetória recebe agora reconhecimento internacional a partir do Prêmio Nansen.

Entre os planos para o futuro, Irmã Rosita pretende trabalhar em prol da ampliação do acesso à educação para crianças refugiadas, melhorar o reconhecimento dos diplomas de refugiados e abordar os crescentes impactos das mudanças climáticas sobre os refugiados e deslocados. Esse último tópico, inclusive, parte da experiência de devastação vivida recentemente após as enchentes em seu estado natal, o Rio Grande do Sul.

Vencedoras regionais

Além de Milesi, outras quatro mulheres também são homenageadas na edição deste ano do Prêmio Nansen, em categorias regionais :

  • África : Maimouna Ba, ativista de Burkina Faso apelidada de ‘Mãe do Sahel’, que ajudou mais de 100 crianças deslocadas a voltarem para a sala de aula e empoderou 400 mulheres deslocadas a conquistarem independência financeira;
  • Ásia e Pacífico : Deepti Gurung, ativista nepalesa que lutou pela reforma das leis de cidadania de seu país após descobrir que suas duas filhas haviam se tornado apátridas;
  • Europa : Jin Davod, empreendedora social síria e criadora de uma plataforma online que oferece apoio em saúde mental para sobreviventes de traumas, incluindo refugiados e comunidades locais;
  • Oriente Médio e Norte da África : Nada Fadol, refugiada sudanesa que mobilizou ajuda essencial para centenas de famílias que fugiram para o Egito em busca de segurança.

As mulheres muitas vezes enfrentam riscos elevados de discriminação e violência, especialmente quando são forçadas a fugir’, disse o Alto Comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi. ‘Mas essas cinco vencedoras mostram como as mulheres também desempenham um papel fundamental na resposta humanitária e na busca de soluções.’ Grandi elogiou a dedicação delas em promover ações em suas próprias comunidades, construir apoio de base e até mesmo moldar políticas nacionais.

O Prêmio Nansen deste ano ainda faz uma menção honrosa à Moldávia, em razão dos esforços coletivos da sociedade local para acolhimento de pessoas refugiadas da vizinha Ucrânia. Segundo dados do ACNUR, a ex-república soviética de 2,5 milhões de habitantes serviu de abrigo inicial para mais de 1 milhão de refugiados ucranianos, sendo que 124 mil ainda são acolhidos no país.

Os prêmios serão apresentados em uma cerimônia em Genebra às 14h30 (horário de Brasília) no dia 14 de outubro, que será transmitido ao vivo. Apresentado pela atriz sul-africana Nomzamo Mbatha, o evento destacará o trabalho das vencedoras e contará com apresentações da Embaixadora da Boa Vontade do ACNUR Kat Graham, da soprano moldava Valentina Nafornita e de Emeli Sandé (MBE) – cantora e compositora.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://migramundo.com/brasileira-irma-rosita-milesi-e-vencedora-global-de-2024-do-premio-nansen-do-acnur/

domingo, 9 de outubro de 2022

Os testemunhos vivos do carisma scalabriniano

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 *Artigo de Fausta Speranza - Vatican News


Na quinta-feira (06/10) foi realizada uma coletiva em vista da canonização de João Batista Scalabrini dia 9 de outubro na Praça São Pedro. A atualidade e a essencialidade do carisma das Congregações dos Missionários de São Carlos Borromeu e das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeu Scalabrinianas foram os temas que surgiram no decorrer do evento. Entre os participantes, o postulador Padre Graziano Battistella que esclareceu que o milagre reconhecido em Scalabrini dizia respeito à cura de uma religiosa que sofria de câncer. O Papa, recordou, concordou em reconhecer a santidade mesmo na presença de um único milagre, indicando o caminho para a dispensa do segundo milagre, e consultando todos os cardeais. Em seguida falou Dom Pierpaolo Felicolo, diretor geral da Fundação Migrantes. Ao lado do Padre Leonir Chiarello, Superior Geral dos Missionários de São Carlos Borromeu Scalabrinianos, ele explicou que a presença dos Scalabrinianos se concentra especialmente na segunda fase da acolhida : após a chegada de emergência, é importante um compromisso mais amplo.  E a presença da Superiora Geral das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeu - Scalabrinianas, a brasileira Irmã Neusa de Fátima Mariano.

Um carisma mais atual do que nunca

João Batista Scalabrini, bispo fundador das Congregações dos Missionários e das Irmãs de São Carlos Borromeu, foi proclamado beato pelo Papa João Paulo II em 9 de novembro de 1997 e domingo, dia 9 de outubro, será canonizado pelo Papa Francisco. Profundamente afetado pelo drama de tantos italianos forçados a emigrar para os Estados Unidos e América do Sul no final do século XIX, ele não ficou indiferente : sensibilizou a sociedade e enviou seus missionários para ajudar e apoiar os emigrantes nos portos, nos navios e na chegada aos novos países. Sua canonização nos ajuda a entender como a comunidade cristã deve ainda hoje estar comprometida com o acolhimento e a integração dos migrantes, em vista de uma sociedade mais fraterna.

Um farol para os que olham para a humanidade que sofre

Portanto ele é considerado um pai para todos os migrantes e refugiados. É assim que a brasileira Irmã Neusa de Fátima Mariano, Superiora da Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeu - Scalabrinianas, recorda : ‘Mais de um século após a morte de João Batista Scalabrini’, enfatiza a Irmã Neusa, ‘sua vida ainda é um farol para aqueles que no mundo servem a humanidade mais sofredora : os migrantes’. Depois de fundar os Missionários de São Carlos Borromeu em 1887, explica a Irmã, Dom Scalabrini sabia que seu trabalho estava incompleto, especialmente na América do Sul, sem a ajuda das Irmãs. Apoiado pela Beata Assunta Marchetti e pelo Servo de Deus padre Giuseppe Marchetti, em 1895 ele fundou a Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeu, reconhecendo o grande valor que as mulheres consagradas poderiam trazer ao seu projeto missionário no mundo.

Um compromisso mundial

‘Estamos presentes em 27 países com mais de 100 missões animadas pela espiritualidade de Scalabrini’, recorda ainda Irmã Neusa, enfatizando : ‘Em cada pessoa vemos um filho de Deus e tentamos viver o mistério da Encarnação nas diversas realidades da migração. Nossa escolha é a de nos dirigir de maneira especial às mulheres e crianças refugiadas, ser migrantes com os migrantes, companheiras em seu caminho’.

O valor da canonização

‘Scalabrini estava apaixonado pelo mistério da Encarnação de Deus’, esclarece a Irmã Neusa, ‘e contemplava continuamente o Filho de Deus que se fez homem para revelar o amor do Pai e para devolver-Lhe a humanidade renovada’. Ele era totalmente de Deus e para Deus. Valorizava a cultura dos migrantes, a riqueza que eles traziam consigo, a ponto de dizer : ‘No migrante eu vejo o Senhor’. Recebemos este legado, um carisma para o tempo de hoje. Quando lemos seus escritos, percebemos o quanto são atuais. Ele era também um homem de ação : sabia envolver a Igreja, o Estado, os leigos, as missionárias, nós irmãs scalabrinianas, para que todos fizessem a sua parte. É bom que a sua canonização ocorra neste forte momento de migrações. É um sinal importante que o Papa quer dar a toda a Igreja e a toda a humanidade, uma Igreja que acolhe e caminha com migrantes e refugiados’.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2022-10/coletiva-scalabrinianos-canonizacao-irma-neusa.html

domingo, 16 de janeiro de 2022

O que é Refugiado? Entenda Agora e Veja Fatos Pouco Conhecidos

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Artur Torres 

 

‘Refugiado é toda pessoa que busca refúgio saindo de seu país de origem devido a graves descumprimentos dos direitos humanos. Esse refugiado ou grupo de refugiados migram pois estão sendo ameaçados devido a sua raça, religião, nacionalidade, opinião política ou grupo social a qual pertencem.
Segundo a Convenção de Genebra de 1951 (normativa que inaugura o Direito Internacional dos Refugiados), refugiado é aquele que está fora de seu país por ‘fundados temores de perseguição devido à sua raça, religião, nacionalidade, associação a determinado grupo social ou opinião política (…)’.

A partir da Declaração de Cartagena – a definição de refugiado estabelecida pela ONU em 1951 – o conceito de refugiado foi ampliado, então é considerado a pessoa ou grupo de pessoas que saem de seu país de origem devido a perseguição e/ou temor pela sua vida, relacionado à graves violações de direitos humanos e conflitos armados, tornando-se, assim, um refugiado.

Nesse texto, você irá ampliar seu conhecimento sobre o que é refugiado, descobrindo o que são refugiados, qual a diferença entre refugiados e imigrantes, como é a vida do refugiado no Brasil e como a Missão Paz oferece assistência ao refugiado.

O que são Refugiados?

Refugiado é toda pessoa que busca refúgio, saindo de seu país de origem devido a graves descumprimentos dos direitos humanos. Esse refugiado ou grupo de refugiados migram pois estão sendo ameaçados devido a sua raça, religião, nacionalidade, opinião política ou grupo social a qual pertencem.

De acordo com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), mais de 6 milhões de sírios foram forçados a sair de seu território. Os conflitos que afligem o país fizeram com que a Síria se tornasse o país que mais gerou refugiados no mundo.

Além do refugiado sírio, evidenciam-se as pessoas que saíram do Sudão do Sul, Venezuela, Myanmar e Afeganistão para se refugiar em outros países. Em escala mundial, Burundi, Iraque, Nigéria e Eritréia também são países que geraram números consideráveis de refugiados nos últimos anos.

Independentemente de onde essas pessoas saem e qual o seu destino, uma coisa elas têm em comum : estão todas em situação de refúgio, ou seja, são consideradas um refugiado.

Agora que você entendeu o que são refugiados, podemos falar sobre a diferença entre refugiado e imigrante!

Qual a Diferença entre Refugiados e Imigrantes?

Apesar de às vezes serem confundidos, há uma grande diferença entre refugiados e imigrantes. Um jeito simples de entender é saber o motivo que fez essas pessoas saírem de seus países. O refugiado migra pois está em situação de perseguição, guerra e violação de direitos humanos em seu país de origem.

Já o imigrante muda-se por vontade própria, comumente visando trabalhar e/ou residir em um determinado país. Essa residência pode ser temporária ou definitiva.

Agora que você já sabe qual a diferença entre Refugiados e Imigrantes, vamos abordar quem são e como é a vida dos Refugiados no Brasil?

Quem é o Refugiado no Brasil?

Atualmente, podemos destacar o refugiado vindo da Venezuela e Cuba. De acordo com dados levantados pelo Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), no ano de 2019, o Brasil recebeu seu maior número de pedidos de reconhecimento de condição de refugiado.

Dentre 82.520 solicitações, 65,1% são de venezuelanos, 20,1% de haitianos e 4,8% de cubanos. Também em 2019, 81,74% dessas solicitações foram feitas nos estados da região norte do Brasil, sendo Roraima o estado com maior número de solicitações. O refugiado que reside no Brasil, atualmente, vêm do hemisfério sul.

Refugiado no Brasil : Lei e Proteção ao Refugiado

No Brasil, a Lei 9.474 de 1997 estabelece o mecanismo para determinar, cessar e perder a condição de refugiado, os direitos e deveres dos que solicitam refúgio e do refugiado, como também as soluções a longo prazo para essa população.

A Lei Brasileira de Refúgio considera refugiado todo indivíduo que sai de seu país de origem devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas imputados, ou devido a uma situação de grave e generalizada violação de direitos humanos no seu país de origem.

A decisão perante os requerimentos de refúgio no Brasil são estipulados pelo Comitê Nacional para Refugiados (CONARE) – órgão vinculado ao Ministério da Justiça e composto por membros do Ministério da Justiça, Ministério das Relações Exteriores, Ministério do Trabalho, Ministério da Saúde, Ministério da Educação, Departamento da Polícia Federal e de organizações da sociedade civil que oferecem auxílio e assistência para o refugiado que chega no Brasil.

O refugiado pode pedir sua solicitação de refúgio no Brasil a partir do momento que chegar em território nacional, indo até uma Delegacia da Polícia Federal ou autoridade migratória na fronteira e solicitando claramente o refúgio.

Importante realçar que o refugiado que solicitou refúgio no Brasil não pode ser deportado para o território ou fronteira do território de onde sua liberdade e vida estejam ameaçadas.

Refugiado No Brasil : Dificuldades Enfrentadas e Como Ajudar o Refugiado

Sair forçadamente do seu país de origem é uma experiência que pode potencializar conflitos e prejuízos à saúde psicológica. Ao deixar seus lugares de origem, o refugiado também está deixando seu trabalho, casa e cultura. O Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR) identificou que a principal dificuldade enfrentada pelo refugiado no Brasil é o acolhimento.

Falaremos de alguns obstáculos que o refugiado encontra ao chegar em um novo país, especificamente o refugiado que chega ao Brasil. Para além da barreira cultural, da língua, da moradia, acesso a documentações e trabalho, o refugiado acaba não sendo acolhido e nem amparado pelo estado brasileiro e, às vezes, nem pela população.

Essa brecha deixada pelo Estado é muitas vezes suprida pelas ONGs, instituições e membros da organização civil, que prestam apoio ao refugiado. As comunidades melhores estabelecidas – como é o caso dos imigrantes Sírios – também acolhem o novo refugiado que chega sem moradia.

No caso da sociedade civil, a informação é o primeiro aliado para superar os preconceitos e entender quem é o refugiado, como podemos facilitar o acesso dessas pessoas à informação e buscar conjuntamente burocracias acessíveis para o refugiado.

A ação de aprendizado passa também pelos campos do afeto – no caso, o aprendizado aqui é de uma nova cultura, uma nova língua – , acolher esse refugiado pode ser uma via para tornar esse processo mais simples.

No Brasil, o imigrante e o refugiado podem contar com algumas organizações. É o caso do CONARE, Comitê Nacional para os Refugiados, que, dentre outras atribuições, recebe solicitações de refúgio. Na cidade de São Paulo, a Missão Paz presta apoio e acolhimento a imigrantes e refugiados.

Você sabia que tem mil brasileiros reconhecidos como refugiados fora do Brasil? Em 2014, 1207 brasileiros viviam como refugiados no mundo, segundo levantamento da ACNUR. Os Estados Unidos são o país com maior número de casos, totalizando 679 refugiados brasileiros, em seguida estão o Canadá, com 175 e a Alemanha, com 163.

Refugiado no Brasil : Missão Paz

A Missão Paz busca acolher migrantes, imigrantes, solicitantes de refúgio e refugiados, respeitando suas histórias e identidades, visando possibilitar integração e protagonismo em novos contextos sociais; promover políticas públicas e o acesso à direitos por meio do diálogo com as diferentes esferas nacionais e internacionais, baseados no carisma Scalabriniano. A instituição cumpre essa missão através de todos os seus serviços e atividades.

Renovando-se constantemente e atendendo a mais de 132 nacionalidades de imigrantes e refugiados, a Missão Paz ganhou visibilidade por sua atuação em vários momentos de sua história.

O acolhimento ocorre através de atendimento e orientações para o público migrante, imigrante e refugiado. A Missão Paz também oferece cursos, capacitação, trabalho voluntário e apoio ao refugiado. A Missão Paz é membro de uma rede internacional de incidência política em favor do migrante e refugiado, com assento consultivo na Organização das Nações Unidas, a Scalabrini International Migration Network (SIMN).’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://missaonspaz.org/2021/12/15/refugiado/

domingo, 6 de junho de 2021

Algumas palavras sobre Scalabrini, “pai e apóstolo dos migrantes”

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do MigraMundo Equipe


‘A cada 1º de junho não há como não lembrar da figura do Bem-aventurado J. B. Scalabrini (1839-1905), aniversário de sua morte. Podemos resumir seu legado histórico em quatro expressões que bem expressam o rico dinamismo sociopastoral de sua vida : homem de Deus, homem do seu tempo, homem da Igreja e homem dos pobres e emigrantes.

Homem de Deus. Sabemos todos quanto tempo Scalabrini ‘perdia’ no cultivo diário e contínuo da intimidade com Deus. Quantas horas diante do sacrário, diante da cruz e aos pés de Maria! A cruz inebriava sua espiritualidade, a um só tempo simples e profunda. Igualmente emblemática era sua devoção à celebração eucarística. O sacrário, a cruz, Maria e a Eucaristia são suas fontes de água viva. Com elas mata a sede e a fome do mistério humano e divino; nelas se alimenta e se fortalece, delas extrai as energias para a ação missionária. Nessa água fresca, transparente e cristalina nutre o corpo, o coração e a alma.

Homem do seu tempo. Por ser homem de Deus, Scalabrini torna-se também homem da história, capaz de interpretar os sinais dos tempos. Os que com perseverança buscam a presença da luz divina, tornam-se mensageiros de sua infinita sabedoria. Profetas não no sentido de adivinhar o futuro, mas de ler de maneira tão profunda o presente, que podem intuir os novos rumos da história. Scalabrini será testemunha de anos conturbados pelos efeitos da Revolução Industrial. Vive no chamado ‘século do movimento’ : movem-se as máquinas, os carros, os trens, os navios a vapor, os aviões e sobretudo as pessoas. Aos milhões, essas últimas deixam o campo e migram para a cidade. Boa parte consegue emprego na indústria incipiente, outros cruzam mares e oceanos em vista de recomeçar a vida nas ‘terras novas’ das Américas, da Austrália e da Nova Zelândia.

Homem da Igreja. Por ser homem de Deus e homem do seu tempo, Scalabrini é ainda homem da Igreja. Suas cartas, homilias e escritos em geral respiram uma preocupação permanente com a doutrina social. De forma toda particular, imprime sua marca no ensino catequético. Ama os demais pastores responsáveis de outras dioceses, ao mesmo tempo que busca manter relações permanentes com o Pontífice e o Vaticano. Como já disse alguém, seu coração era maior que a diocese. Seu amor, coragem e solicitude transbordam das fronteiras diocesanas para seguir os passos dos trabalhadores, especialmente dos que são forçados a deixar sua família e sua terra natal para conseguir o pão em serviços temporários nas carvoarias, nas safras agrícolas!…

Homem dos pobres e migrantes. Por ser homem de Deus, homem da história e homem da Igreja, Scalabrini será por fim um homem voltado para os pobres e os emigrados. Doía-lhe o coração ver tantos fiéis deixarem as paróquias da diocese para aventurar-se pelos mares bravios e terras ignotas. Ícone e inspiração do carisma scalabriniano haverá de se tornar a sua comovida descrição dos emigrantes na estação de Milão. Às centenas esperavam o trem para Gênova, de cujo porto deveriam zarpar para outros continentes, longínquos e desconhecidos. ‘Eram migrantes’ – diz o pastor que viria a ser considerado o ‘pai e apóstolo dos migrantes’.

De acordo com ele, o fenômeno migratório era um dos grandes sinais dos tempos. Marca de sua época cheia de cicatrizes, devido às profundas e rápidas transformações que se espalhavam pelo mundo todo. De acordo com ele, as migrações de massa podiam servir aos desígnios de Deus para o intercâmbio de povos, culturas e valores. Foi dessa maneira que, no decorrer dos séculos, numerosas civilizações se ergueram e se tornaram fortes. Nem sempre, contudo, os emigrantes figuravam como sujeitos, profetas e protagonistas do amanhã. Podiam também servir aos ‘mercadores de carne humana’, os quais, aproveitando-se de sua fraqueza e vulnerabilidade momentâneas, lucravam sobre a pobreza, a miséria e a fome – sobre o desespero.

Da sensibilidade e intuição de semelhante pastor, o Espirito Santo fez estrada para enviar à Igreja novo carisma : a solicitude e o serviço no campo da mobilidade humana. A partir desse carisma, iriam nascer as Congregações dos Missionários (1887) e das Missionárias (1895) de São Carlos – Scalabrinianos/as. Depois o Instituto das Missionárias Seculares (1961), por fim e por toda parte, o Movimento Leigo Scalabriniano – formando a Família Scalabriniana – a serviço dos migrantes.

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://migramundo.com/algumas-palavras-sobre-scalabrini-pai-e-apostolo-dos-migrantes/

terça-feira, 17 de março de 2015

Um missionário brasileiro nas Arábias

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)



Sensação de pluralidade e encontros humanos, culturais e religiosos : assim o sacerdote scalabriniano Padre Olmes Milani define seus primeiros 40 dias nos Emirados Árabes Unidos, onde prestará seu serviço nos portos locais, no âmbito do Apostolado do Mar. Durante anos, o missionário colaborou com o Programa Brasileiro quando atuava no Japão. Desta experiência resultou o livro ‘Do Japão para a Rádio Vaticano’, editado pelas Edições Loyola.

Ao deixar o país nipônico, Padre Olmes foi designado para o Centro de Imigrantes em Cuiabá (MT), onde trabalhou diretamente com os haitianos. Agora, Dubai é a sua nova residência :

‘Já se passaram 40 dias desde que desembarquei em Abu Dhabi, no dia 29 de janeiro de 2015. Confesso que cheguei com espírito calmo e o coração tranquilo. Pessoalmente, com muita vontade de conhecer o desconhecido e de me encontrar com o diferente. Elementos culturais e religiosos sempre me fascinaram e aqui estou para me expor a novas experiências, num ambiente novo.  Nunca parei um momento para descobrir os motivos de ter essa abertura; só sei dizer que me sinto bem de ser desafiado por um ambiente pluralista que me coloca em contato direto com expatriados de dezenas de países. Aqui é onde se dá o encontro de fronteiras.

O encontro, nas fronteiras dos seres humanos, é um espaço de enriquecimento e de confraternização de povos diferentes. Línguas, forma de participar nas celebrações religiosas, ritos litúrgicos, vestuário e religiosidade compõem uma biblioteca viva na qual as pessoas se enriquecem. Este ambiente é ainda mais significativo pelo fato de este canto Oriental do Sul da Arábia estar cercado por países marcados pelas intolerâncias, conflitos, revoluções e movimentos radicais. Os Emirados Árabes Unidos caracterizam-se pela tranquilidade, desenvolvimento e tolerância. Contudo, não podemos falar sempre de flores quando o assunto é a situação dos expatriados, ou seja, das pessoas que vem aqui para trabalhar.

Faz muita diferença morar num edifício onde as pessoas têm pouca ou nenhuma interação e inserir-se numa comunidade na qual os seres humanos de culturas diferentes participam das mesmas atividades. Desde minha chegada em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, fui acolhido na casa Bispo do Vicariato do Sul da Arábia, localizada no complexo da Catedral. Os sacerdotes da Catedral e da casa do Bispo são provenientes de cinco países : Índia, Suíça, Filipinas, Alemanha e Líbano.

Depois de uma semana em Abu Dhabi, viajei para o Emirado de Dubai, meu lugar definitivo no que se refere à moradia e trabalho.  Resido nas dependências da Igreja de Saint Mary´s, administrada pelos frades capuchinhos. Aqui moramos e participamos juntos nas orações, refeições, celebramos missas e reuniões, sacerdotes : da Índia, das Filipinas e do Líbano, (capuchinhos), da Ucrânia, (diocesano), da Irlanda (Missionários para a África) e eu (scalabriniano do Brasil), formando uma comunidade multicultural e institucional.

Dubai é ponto de passagem de missionários, bispos e núncios que vão e voltam do Oriente, ocasionando oportunidades excelentes para conversas enriquecedoras sobre a Igreja nos países da Ásia e Oceania.

A Igreja de Saint Mary`s, onde resido, se constitui num fenômeno interessante. Num final de semana que começa com o feriado de sexta-feira e continua com os dias normais de trabalho de sábado e domingo, recebe de 70 a 80 mil pessoas de mais de 20 países.  O programa de catequese conta com a participação de 8 mil crianças.

Durante o mês, são celebradas missas em 8 línguas e às sextas-feiras podem ser celebradas 15 missas, nas diversas dependências da Paróquia. Quanto a mim, sou escalado para missas em inglês para crianças, jovens e adultos. Havendo necessidade, presido casamentos e celebro batismos em espanhol, português e inglês. Existe a possiblidade de reunir, pelo menos uma vez por mês, as pessoas de língua portuguesa e espanhola.

Atualmente, estou na fase de finalização dos documentos exigidos para ter acesso aos diversos portos dos Emirados Árabes Unidos, onde exercerei a missão do Apostolado do Mar, em conjunto com a Missão para os Marinheiros da Igreja Anglicana, usando dos mesmos escritórios e formulários próprios para a Pastoral dos Marítimos. O trabalho será executado ecumenicamente, cada sacerdote exercendo suas funções de acordo com sua denominação cristã e em colaboração de cada um com os demais. Esse será meu trabalho principal.

Concluindo, posso dizer que estou gostando e me sinto feliz por estar num ambiente onde a característica é o encontro dos seres humanos, das culturas, da religiosidade e das denominações cristãs e religiosas a bordo dos navios e em terra.


Fonte :
* Artigo de http://www.news.va/pt/news/um-missionario-brasileiro-nas-arabias

http://www.diariors.com.br/site/cidades/sarandi/9354-sarandi-padre-olmes-milani-festeja-os-40-anos-de-sacerd%C3%B3cio.html

quarta-feira, 12 de março de 2014

Mercadores de carne humana

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

* Artigo do Padre José Alfredo Gonçalves,
Missionário Scalabriniano

‘A frase do título representa uma denúncia de Monsenhor João Batista Scalabrini, então bispo de Piacenza, norte da Itália, no final do século XIX e início do século XX. Scalabrini – denominado ‘pai e apóstolo dos migrantes’ – referia-se aos intermediários gananciosos e sem piedade que, no fenômeno das grandes migrações históricas da época, traficavam com a abundante mão-de-obra dos emigrados europeus (especialmente italianos) para as Américas, a Austrália e a Nova Zelândia. Segundo historiadores da envergadura de Eric Hobsbawn e Peter Gay, entre 1820 e 1920, mais de 60 milhões de pessoas deixaram o velho continente com o objetivo de reconstruir a vida nas ‘terras novas’ de além-mar. Vítimas da expulsão em massa do campo para a cidade, enquanto certa porcentagem se empregava na indústria nascente, boa parte não conseguia trabalho, tendo de cruzar os oceanos para fugir de um destino de miséria e fome na Europa rápida e recentemente urbanizada.

Entre o desemprego, a pobreza e a necessidade, por um lado, e o desafio de ‘far l’America’, por outro, interpunham-se os tais mercadores de carne humana. Mercadores, sim, porque gente sem coração e sem alma diante dos dramas humanos causados pelos efeitos da Revolução Industrial. Ao contrário, aproveitavam-se da condição e das esperanças dos emigrantes que buscava um futuro melhor para a família, comercializando inescrupulosamente os seus sonhos de trabalho e pão, pátria e dignidade. Se é verdade que a mobilidade humana faz parte do direito de ir e vir, também é certo que muitas vezes tais deslocamentos intercontinentais tornavam-se forçados e compulsórios, devido ao êxodo rural em massa e as condições extremamente precárias nos países ou regiões de origem.

Passou-se mais de um século, porém a frase/denúncia de Scalabrini continua viva e atual, como uma chaga aberta em pleno século XXI. O tráfico de seres humanos para a exploração trabalhista ou sexual atualmente atinge milhões de pessoas no mundo inteiro, como mostram os debates em torno da Campanha da Fraternidade deste ano no, promovida pela Conferência Nacional dos bispos do Brasil (CNBB). Juntamente com o tráfico de armas e de drogas, constitui uma das fontes de maior rentabilidade da economia submersa do mundo globalizado. Verdadeira bomba atômica, oculta e letal, que silenciosamente fere, mutila e mata, deixando marcas irreparáveis nas vítimas que sobrevivem e em suas famílias. Os relatos de quem conseguiu escapar de tais ‘infernos humanos’ não deixam margem a dúvidas!

Nos subterrâneos sombrios das relações internacionais (e às vezes em plena luz do dia), a rede mundial do crime organizado não poupa particularmente mulheres e crianças, quando o objetivo e a exploração ao máximo de sua energia. No fim da linha desse comércio ilegal e ilegítimo, grande parte dos sonhos se convertem em pesadelos. Como o continente africano nos tempos da escravidão, o Brasil hoje vem sendo um dos países que fornecem bom número de ‘trabalhadores e trabalhadoras’ para essas transações criminosas. O texto-base da CF/2014 traça um quadro preocupante sobre os pontos nevrálgicos das rotas nacionais e internacionais, bem como da origem e destino das pessoas envolvidas.

As reflexões e orientações da CF/2014, iluminadas pela Palavra de Deus, nos colocam diante de um desafio que interpela a todos e a cada um em particular. Três palavras poderiam resumir nossa solicitude pastoral, como exigência evangélica, e nossas possibilidades de ação social ou política : acolhida, denúncia e informação.

A acolhida constitui, digamos assim, o DNA não somente da Pastoral Migratória, mas da Pastoral Social de toda a ação evangelizadora. No caso dos tráfico de pessoas humanas, a atitude de acolhida requer uma sensibilidade especial diante das feridas profundas das vítimas, na maioria das vezes tão difíceis de serem cicatrizadas. Em nível pessoal ou familiar, eclesial ou social, impõe-se uma solidariedade incondicional para com aqueles e aquelas que sofreram tais abusos. Não cabem aqui a discriminação e o preconceito, nem o racismo e a xenofobia. Tampouco cabem limitações geográficas, eclesiais ou geopolíticas, uma vez que o próprio crime desrespeita fronteiras de qualquer espécie. Em tudo e por tudo, deve prevalecer a defesa do direito e da dignidade da pessoa humana – fundamento, fio condutor e coluna vertebral de toda a Doutrina Social da Igreja.

A denúncia, por sua vez, torna-se a chave para combater o tráfico nacional e internacional. Neste caso, porém, convém utilizar de prudência : não se trata tanto uma denúncia em nível local e personalizado, a qual, embora corajosa e profética, pode acarretar perseguições desnecessárias. Ainda que em determinadas circunstâncias essa postura não possa ser evitada, o mais indicado segue sendo a denúncia em nível institucional, envolvendo movimentos e pastorais sociais, entidades, organizações não governamentais, o conjunto das Igrejas, setores dos governos, da Polícia Federal e do Ministério Público, bem como os organismos internacionais de defesa dos direitos humanos. Novamente aqui a ação dever ser ampla, conjunta e abrangente – isto é, sem fronteiras. Devido ao poder e aos meios inescrupulosos do crime organizado, a proteção das vítimas e das pessoas que defendem sua causa não pode ser desconsiderada, ao contrário, deve tornar-se uma preocupação constante.

Quanto a informação, esta se revela uma condition sine qua non, seja nos pólos e regiões de origem, seja nos lugares de destino. Números, fatos e rotas do crime organizado devem ser divulgadas amplamente entre as famílias, associações, escolas, comunidades, meios de comunicação e em toda a sociedade. A revolução informática em geral e internet em particular podem revelar-se um instrumento eficaz no combate ao tráfico, como de resto o é para os próprios traficantes. Todos os meios devem ser utilizados para desmascarar e desmantelar a cadeia internacional do crime organizado em todas as suas ramificações. A informação atualizada e permanente pode figurar como um verdadeiro antivírus, uma vacina contra a possibilidade de cair na ratoeira do tráfico, não raro um caminho sem retorno. Semelhante rede, como bem sabemos, concentra um duplo caráter de risco : encontra-se ramificada em praticamente todo o mundo e não respeita códigos de conduta, ou pior ainda, segue rigorosamente o princípio radical da eliminação de ‘arquivos’.




Fonte :
* Artigo na íntegra da Web Rádio Migrantes


segunda-feira, 4 de novembro de 2013

São Carlos Borromeu, Bispo

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Patrono dos Missionários Scalabrinianos


A Liturgia da Horas e a reflexão no dia de São Carlos Borromeu :
 
 Ofício das Leituras
 
Segunda leitura

Do Sermão proferido no último sínodo por São Carlos, bispo

 (Acta Eclesiae Mediolanensis, Mediolani 1599,1 177-1178)      (Séc.XVI)

 Não sejas como quem diz uma coisa e faz outra

Somos todos fracos, confesso, mas o Senhor Deus nos entregou meios com que, se quisermos, poderemos ser fortalecidos com facilidade. Tal sacerdote desejaria possuir uma vida íntegra, que dele é exigida, ser continente e ter um comportamento angélico, como convém, mas não se resolve a empregar estes meios: jejuar, orar, fugir das más conversas e de nocivas e perigosas familiaridades.
 
         Queixa-se de que, ao entrar no coro para a salmodia, ao dirigir-se para celebrar a missa, logo mil pensamentos lhe assaltam a mente e o distraem de Deus. Mas, antes de ir ao coro ou à missa, que fez na sacristia, como se preparou, que meios escolheu e empregou para fixar a atenção? 
 
         Queres que te ensine a caminhar de virtude em virtude e como seres mais atento ao ofício, ficando assim teu louvor mais aceito de Deus? Escuta o que digo. Se ao menos uma fagulha do amor divino já se acendeu em ti, não a mostres logo, não a exponhas ao vento! Mantém encoberta a lâmpada, para não se esfriar e perder o calor; isto é, foge, tanto quanto possível, das distrações; fica recolhido junto de Deus, evita as conversas vãs. 
 
Tua missão é pregar e ensinar? Estuda e entrega-te ao necessário para bem exerceres este encargo. Faze, primeiro, por pregar com a vida e o comportamento. Não aconteça que, vendo-te dizer uma coisa e fazer outra, zombem de tuas palavras, abanando a cabeça.

         Exerces cura de almas? Não negligencies por isso o cuidado de ti mesmo, nem dês com tanta liberalidade aos outros que nada sobre para ti. Com efeito, é preciso te lembrares das almas que diriges, sem que isto te faça esquecer da tua. 
 
         Entendei, irmãos, nada mais necessário aos eclesiásticos do que a oração mental que precede, acompanha e segue todos os nossos atos: Salmodiarei, diz o Profeta, e entenderei (cf. Sl 100,1 Vulg.). Se administras os sacramentos, ó irmão, medita no que fazes; se celebras a missa, medita no que ofereces; se salmodias no coro, medita a quem e no que falas; se diriges as almas, medita no sangue que as lavou e, assim,  tudo o que é vosso se faça na caridade (1Cor 16,14). Deste modo, as dificuldades que encontramos todos os dias, inúmeras e necessárias (para isto estamos aqui), serão vencidas com facilidade. Teremos, assim, a força de gerar Cristo em nós e nos outros.
 

Fonte :
‘In Liturgia das Horas IV’, pg. 1436 a 1437