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sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Dons e talentos a serviço dos demais

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Ronaldh Oliveira


Cada ser humano carrega consigo diversos dons e talentos. É certo que ao longo da vida uns vão se dando com mais evidência e outros, menos. Os inúmeros ciclos do desenvolvimento do indivíduo vão aperfeiçoando esses aspectos que podem nascer com cada um ou podem ser aprendidos durante a existência. 

As Sagradas Escrituras já apontam na famosa parábola dos talentos (cf. Mt 25,14-31) que eles devem ser encarados com responsabilidade, caridade e criatividade, investindo bem a vida e os dons que são concedidos. Uma vez que são dados por Deus, não devem parar nos sujeitos; pelo contrário, devem chegar aos demais, oportunizando que os outros sejam mais dignos. 

Um lugar propício para a boa vivência e partilha dos dons e talentos é a comunidade eclesial, que contribui com o crescimento em estatura, sabedoria e graça daqueles que se deixam acompanhar. As pastorais e movimentos são espaços fecundos de desenvolvimento da aptidão dos talentos recebidos e percebidos porque são traduzidos em serviço aos outros. Não se trata de poderio ou de graça especial ter esse ou aquele dom quando se compreende que todos fazem parte de um único corpo cuja cabeça é o próprio Cristo (cf. 1Cor 12,27). 

Quando cada cristão se coloca a serviço da comunidade eclesial, vivencia o seu Batismo na prática e na experiência concreta de ser sacerdote, profeta e rei. As aptidões, quando exercidas na construção diária e anônima da civilização do amor, ganham sua importância para a dimensão da fé e colocam cada ser humano no caminho do Espírito que sopra onde quer. 

Os dons e talentos não devem ser fim, mas meios para a construção da plenitude pessoal e coletiva que elevam cada um ao estado daquele que serve e que, portanto, torna-se o maior no Reino de Deus (cf Mt 18,1-5.10.12-24). Todos podem servir na comunidade: há aqueles que sabem tocar, proclamar, sorrir, organizar e tantos outros verbos que elencam ações que tornam o cristão, de fato, seguidor do Cristo, servidor de todos. 

O amor que é afetivo e efetivo faz com que cada um se comprometa com o outro a partir do que tem a oferecer. Colocar os dons a serviço na Igreja e na sociedade oportuniza a cada cristão permanecer no exercício de uma fidelidade ativa e criativa diante de Deus. 

Em tempos em que, ao que parece, o cristianismo de muitos chegou a um ponto em que o primordial é ‘conservar’ e não tanto procurar com coragem a partir dos dons e talentos que se tem novos itinerários para acolher, viver e anunciar o projeto de Jesus, que é o Reino Deus, olhar para a parábola dos talentos deve ser novamente evidenciado. 

Se o cristão não se sente chamado a seguir as exigências de Cristo além do que sempre é ensinado e ordenado, se não se arrisca em nada para fazer uma Igreja mais fiel a Jesus, se o cristão se mantém indiferente a qualquer conversão que pode colocar em xeque sua condição de vida, se não assumir a responsabilidade da civilização do amor, como fez Jesus, procurando ‘vinho novo em odres novos’ (cf. Mt 9,14-17), é que não entendeu com clareza a oração proposta por Santo Inácio de Loyola : ‘Todos os dons que me destes com gratidão vos devolvo. Disponde deles, Senhor, segundo a vossa vontade. Dai-me somente o vosso amor, vossa graça, isso me basta, nada mais quero pedir’.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/dons-e-talentos-a-servico-dos-demais.html


quarta-feira, 2 de setembro de 2015

A criação foi feita para ser contemplada e não possuída

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

‘O ‘domínio’ do homem sobre as criaturas de Deus não é ‘destinado a seu próprio interesse’, mas ‘ao das criaturas que ele cria e conserva’. Disse o o Padre Raniero Cantalamessa, Pregador da Casa Pontifícia, em sua homilia durante a Liturgia da Palavra, celebrada ontem à tarde na basílica de São Pedro, por ocasião da Jornada Mundial para o Cuidado da Criação.

Para a Bíblia, o modelo final do dominus, do senhor, não é o soberano político que explora seus súditos, mas o próprio Deus, Senhor e Pai’, disse Cantalamessa, acrescentando que ‘a fé em um Deus criador e no homem feito à imagem de Deus, não é, portanto, uma ameaça, mas sim uma garantia para a criação, e a mais forte de todas’.

Não só o homem não é o ‘senhor absoluto das outras criaturas’, mas deve ‘dar conta’ dos talentos recebidos, antes de todos, a ‘terra’.

A Bíblia não incentiva ‘o abuso do homem sobre a criação’. Tanto é assim que ‘o mapa da poluição não coincide com o da difusão da religião bíblica ou de outras religiões, mas coincide com a de uma industrialização selvagem, que busca só o lucro, e com aquela corrupção que fecha a boca de todos os protestos e resiste a todos os poderes’, continuou o Pregador da Casa Pontifícia.

O que, pelo contrário, afirma a Escritura é a ‘hierarquia da vida’, segundo a qual os minerais nutrem os vegetais, estes, os animais, e, por fim, ‘todos os três servem à criatura racional, que é o homem’.

Esta hierarquia, reiterou Cantalamessa, é ‘para a vida, não contra ela’ e é alterada, por exemplo, ‘quando se fazem despesas loucas com os animais’, deixando ‘morrer de fome e de doença milhões de crianças sob os próprios olhos’.

O Pregador da Casa Pontifícia, portanto, criticou aquela ‘ecologia profunda’, que gostaria de ‘abolir totalmente a hierarquia entre os seres, colocada pela Bíblia e inerente à natureza’ e que leva até mesmo a ‘desejar um universo futuro sem mais a presença da espécie humana, vista como nociva para o resto da criação’.

As Escrituras (Salmo 8 e Mt 6,25-34) sugerem que Deus provê às necessidades materiais do homem. Ao mesmo tempo, no entanto, é intolerável que o homem não se preocupe com as necessidades de seus semelhantes, que se entregue ao desperdício dos recursos ou que procure uma ‘riqueza desonesta’.

De acordo com o pregador da Casa Pontifícia, ‘o pecado de fundo contra a criação, que está por acima de todos os demais, é o de não escutar a sua voz, condená-la irremediavelmente, diria São Paulo, à vaidade, à insignificância (cfr. Rom 8:18 seq.)’.

Pelo contrário, todos os homens devem ser ‘parteiras’ da glória de Deus, que - tal como sugerido pelas Escrituras - estão ‘grávidos’ os céus e a terra. São Francisco nos mostra uma ‘mudança radical no nosso relacionamento com a criação’ que consiste em ‘substituir a posse pela contemplação’.

Note-se que Francisco compôs o seu Cântico ‘quando já não conseguia enxergar nenhuma delas e, mais, a simples luz do sol ou do fogo causava-lhe profundas dores! A posse exclui, a contemplação inclui; a posse divide, a contemplação multiplica’, comentou o Cantalamessa.

Só se pode possuir um lago, um parque, e assim todos os outros são excluídos; milhares podem contemplar aquele mesmo lago ou parque, e todos apreciam sem tirá-lo de ninguém’, exemplificou o pregador, observando : ‘Quantos latifundiários pararam para admirar uma flor dos seus campos ou para acariciar uma espiga dos seus grãos? A contemplação permite possuir as coisas sem monopolizá-las’.

Antecipando certas intuições ambientalistas de hoje, Francisco convida a não ser ‘ladrões de recursos, usando-os mais do que o necessário e tirando-o, assim, daqueles que virão depois de mim’.

E a proteção da criação não é responsabilidade só dos poderosos, empresários ou industriais, mas, como também observou o papa Bergoglio, deve começar de ‘si próprio’. Além disso, como afirmava um representante ortodoxo da Assembleia Ecumênica Ortodoxa de Basileia de 1989, sobre Justiça, Paz e Integridade da Criação, ‘sem uma mudança do coração humano, a ecologia não tem esperança de sucesso’.

No final da homilia, Cantalamessa sugeriu um hipotético fim para o Cântic : ‘Louvado sejas, meu Senhor, por todos aqueles que trabalham para proteger a nossa irmã Terra, cientistas, políticos, chefes de todas as religiões e homens de boa vontade. Louvado Sejas, meu Senhor, por todos aqueles que, junto com o meu nome, tomaram também a minha mensagem e a estão levando hoje a todo o mundo!’’

Fonte :
*Artigo na íntegra http://www.zenit.org/pt/articles/cantalamessa-a-criacao-foi-feita-para-ser-contemplada-e-nao-possuida

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Os dons nos foram concedidos não para nossa vaidade, mas para servir e amar a Deus e ao próximo

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Dom Alberto Taveira Corrêa,
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará
  
‘Ao aproximar-se o final do Ano Litúrgico, a Igreja nos brinda com a conhecida Parábola dos Talentos (Cf. Mt 25, 14-30). Aquele que é a Sabedoria de Deus (Cf. 1 Cor 1, 24) nos oferece o caminho para assumir com dignidade a vida que nos foi dada de presente. A partir da parábola, ‘talento’ veio a significar um dom, habilidade ou qualidade. Ao tempo da redação do Evangelho, talento era uma unidade monetária equivalente a cinquenta quilos de prata, correspondente a cerca de seis mil denários, e um denário era a diária de um trabalhador do campo. O servo da parábola que recebeu um talento tinha muito em mãos e podia fazer tanto com o que lhe fora dado.

As parábolas são propostas pelo Senhor para provocar positivamente, suscitando uma resposta de vida. Do dinheiro passamos à nossa história. Os servos somos nós; os talentos são as condições oferecidas por Deus a cada um; o tempo de viagem do proprietário é a vida; a volta inesperada é a morte, nossa páscoa pessoal; a prestação de contas é o juízo e a entrada na festa, o banquete da alegria, oferecido pelo Senhor, o Paraíso. No final de tudo, quando a obra de nossa vida estiver concluída, no tempo certo conhecido pelo Senhor da História, haveremos de entregar os dons que nos foram concedidos não para nossa vaidade, mas para servir e amar a Deus e ao próximo.

Como Deus não impõe, mas propõe, à sua proposta cabe uma resposta. Temos consciência de não sermos proprietários da própria vida, mas administradores dos dons de Deus. Nenhuma pessoa inventou sua vida, nem a planejou por conta própria. Na maravilhosa criação de Deus, todas as pessoas sejam consideradas como obras primas, a serem aperfeiçoadas no correr dos anos, contando com a inspiração do Espírito Santo, que não abandona qualquer um dos filhos e filhas de Deus. É condição de felicidade identificar o projeto de Deus a respeito de sua própria vida e buscar todos os meios para realizá-lo. Cabe a cada pessoa abraçá-lo, na maravilhosa aventura da liberdade, com a qual todos foram feitos, ao assumir responsavelmente os rumos da existência.

Assumir responsabilidades! Tarefa exigente que pede formação e preparação adequada. O processo educativo na família, na escola e na Igreja pode contribuir para que as crianças, adolescentes e jovens sejam iniciados para ter nas mãos o rumo da própria existência. Para todas as idades, inclusive para nós, adultos, tudo começa com o reconhecimento de que todos têm valor aos olhos de Deus e diante dos outros. Discriminar, humilhar e condenar pessoas não corresponde ao plano do Senhor, que quer todos vivos e felizes. Ninguém seja visto como massa sobrante em qualquer campo da convivência humana.

Constitui-se uma personalidade responsável quando se leva em conta as condições de cada um, considerando idade, formação recebida, condições de saúde, temperamento, ambiente familiar e referências culturais e ambientais. Faz-se necessário muitas vezes exercer o papel de ‘caça-talentos’, para descobrir uma quantidade considerável de tesouros escondidos. Nestes dias, um menino de dez anos me foi apresentado como um dos líderes do projeto de evangelização numa das Paróquias da Arquidiocese de Belém. Como foi significativo ver o brilho dos olhos daquele que se sabe missionário! Sem forçar e exigir mais do que pode oferecer, ele se torna sinal para muita gente crescida!

Responsabilidade se aprende e há de ser assumida pouco a pouco, quando alguém se arrisca, confia e lança o outro para voos mais ousados. Há muita gente aguardando este voto de confiança! O Senhor faz assim conosco, agindo ‘como a águia que incita a ninhada, esvoaçando sobre os filhotes, também ele estendeu as asas e o apanhou e sobre suas penas o carregou’ (Dt 32, 11). Responsabilidade se consolida com dedicação, tempo, preparação das atividades, coragem para rever e recomeçar quando acontecem falhas, superação de julgamentos com os eventuais fracassos, idealismo cultivado com afinco.

Vale a pena até detalhar um caminho de revisão pessoal de vida, a esta altura do ano. Examinemos como aproveitamos o tempo, a pontualidade, a ordem, os deveres familiares, a dedicação ao trabalho. Como temos oferecido as qualidades e talentos recebidos para servir a Deus e ao próximo? Temos olhado ao redor para ver o que é possível fazer pelo bem comum na Paróquia, no bairro em que vivemos, ou, quem sabe, nas associações e organismos aos quais estamos ligados? Outro ponto para uma revisão corajosa da vida é ‘fazer bem feito’. Basta olhar para Deus, que fez tudo e todos como obra de arte, para entender que nossa passagem por este mundo, por sinal, muito breve, pode deixar um rastro de dedicação e amor. Até para o equilíbrio pessoal é importante realizar por inteiro as tarefas! E dentre os dons oferecidos pelo Senhor, venha em relevo o presente da Palavra de Deus. Faz parte da responsabilidade do cristão não reter para si o conhecimento das coisas de Deus, mas oferecê-la aos demais.

A liturgia da Igreja, celebrada neste final de semana, faz preceder a Parábola dos Talentos com um esplêndido texto do livro dos Provérbios :  ‘Uma mulher forte, quem a encontrará? Ela vale muito mais do que as jóias. Seu marido confia nela plenamente, e não terá falta de recursos. Ela lhe dá só alegria e nenhum desgosto, todos os dias de sua vida. Procura lã e linho, e com habilidade trabalham as suas mãos. Estende a mão para a roca e seus dedos seguram o fuso. Abre suas mãos ao necessitado e estende suas mãos ao pobre. O encanto é enganador e a beleza é passageira; a mulher que teme ao Senhor, essa sim, merece louvor. Proclamem o êxito de suas mãos, e na praça louvem-na as suas obras!’ (Pr 31, 10-13. 19-20. 30-31). Fortaleza, confiança, capacidade para oferecer alegria aos outros, trabalho, habilidade, partilha, temor do Senhor. Tais valores continuam atuais e se tornam talentos preciosos a serem postos ‘em circulação’ em nossos dias! Homens e mulheres de todas as idades os assumam com responsabilidade.


Fonte :
* Artigo na íntegra de http : //www.zenit.org/pt/articles/os-dons-nos-foram-concedidos-nao-para-nossa-vaidade-mas-para-servir-e-amar-a-deus-e-ao-proximo