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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Uma semente de solidariedade lançada no deserto das Arábias

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
  
*Artigo do Padre Olmes Milani,
Missionário Scalabriniano


‘Quando o ser humano se determina para o bem, não há obstáculo intransponível. Até poucas décadas atrás ninguém pensaria que numa desolada região desértica, ao sul da Península Arábica, pudessem surgir jardins, parques, bosques, e até agricultura. Contudo, as limitações impostas pelo clima e as extensas regiões arenosas sem vida se renderam diante da criatividade e capacidade humanas. Assim o deserto árido e inóspito, além da areia e pedras, hospeda muitas variedades de árvores locais e peregrinas. Até mesmo aves migratórias fazem escala aqui antes de chegar ao destino final de sua viagem.

As transformações havidas nesta região fazem despontar uma pergunta.  Se no campo das atividades econômica e urbanística foi possível transformar radicalmente uma região na qual nada se esperava, por que não tentar plantar uma semente que desperte a esperança em dias em que os seres humanos possam unir ideias, crenças e mãos para produzir a solidariedade e a paz?

O terreno para receber a semente da esperança está sendo preparado com amor e unindo as pessoas da Igreja de Santa Maria, em Dubai, como parte das celebrações do Jubileu de Ouro de sua fundação.

Sob a liderança do ‘Grupo Samaritanos’, a comunidade internacional da  Igreja de Santa Maria, foi mais longe. Está sendo organizada a ‘Marcha para a Esperança’ cuja finalidade é angariar fundos para pagar o tratamento de pessoas portadoras de câncer, sem condições de arcar com os altos custos da medicina.   A boa causa atraiu o apoio da ‘Emirates Red Crescent’ do Governo do país, do Governo do Emirado e do Município de Dubai, do Conselho de esportes e empresas comerciais.

Uma caminhada de 5 quilômetros acontecerá no Parque Creek de Dubai, com a participação de alguns milhares de pessoas, no dia 24 de fevereiro.  Participantes e suas famílias passarão o dia no parque onde haverá diversão para as crianças, barracas de comida e espetáculos musicais ao vivo.

A nota diferencial é que essa atividade é organizada pela Igreja num país islâmico, contando com o apoio de suas instituições governamentais. É um fato inédito nos Emirados Árabes Unidos a indicar que, além da convivência pacífica e harmoniosa de que gozam as religiões, é possível fazer projetos em conjunto para uma boa causa. É só começar, afinal, ‘Quem observa o vento, nunca semeará, e o que olha para as nuvens nunca colherá’ (Eclesiastes 11,4). Nós esperamos continuar a semear e colher.’


Fonte :

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Copa : entre o joio e o trigo

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
 
 * Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte


A Copa do Mundo começou e a sorte está lançada. É hora de um jogo que envolve a sociedade inteira e, por isto mesmo, lhe dá a oportunidade de tratar de maneira nova, adequada, a realidade sociopolítica e cultural. Uma ocasião que deve ultrapassar a natural euforia própria e inevitável do futebol, tornando-se força popular para empurrar o país na direção de reformas urgentes. Durante e após a Copa, é preciso cultivar uma nova consciência social e suscitar um desejo mais apurado de participação. As manifestações de junho do ano passado, durante a Copa das Confederações, inauguraram esse momento novo, em que um megaevento esportivo não se limitou ao aspecto futebolístico e aos espetáculos, mas também envolveu suas incidentes dimensões políticas, culturais e sociais.

Está oferecida à sociedade brasileira a oportunidade de exercitar, durante um mês, sua indispensável capacidade de avançar na vivência da cidadania, sem privar-se da alegria, da beleza, da arte e da força própria de um esporte, fugindo das alienações facilmente encobertas por entusiasmos superficiais. Um avanço urgente quando se considera os incontáveis descompassos da sociedade brasileira, que contracenam com conquistas e progressos insuficientes para nos definirmos como nação civilizada.

A parábola do joio e do trigo, contada por Jesus na educação de seus discípulos e narrada pelo evangelista Mateus, deve ser lembrada para que a Copa do Mundo no Brasil se torne, efetivamente, um impulso novo, de ordem política e social. O Mundial evidencia ainda mais as fragilidades da sociedade brasileira e a consequente exigência de respostas adequadas. Esse evento está retratando um Brasil onde crescem juntos o joio e o trigo. Há uma lamentável semeadura de coisas ruins quando se considera a enorme lista de inadequações e contratempos de nossa realidade sociopolítica. A sociedade está emoldurada pelos fracassos de improvisações, de promessas não cumpridas, de gastos exorbitantes, de favorecimentos negociais que prejudicam o povo, particularmente os mais pobres.

O trecho bíblico conta que o dono da colheita rejeitou a proposta dos seus experientes colaboradores de logo arrancar o joio, para que apenas o trigo crescesse. Parece um contrassenso, se for considerado que o joio impede o crescimento saudável do trigo. Mas, na parábola, alerta o dono: “Pode acontecer que, ao retirar o joio, arranqueis também o trigo. Deixai crescer um e outro até a colheita”. Uma simples aplicação da parábola ao contexto da Copa do Mundo, emoldurado pelos acontecimentos políticos e sociais destas últimas décadas, na oportunidade do ano eleitoral, mostra que é hora de colheita e, consequentemente, de esforço desmedido para erradicação do joio. Uma ação forte que precisa do entusiasmo popular.

Essa força do povo se manifestará em cada estádio, com aplausos, vibração, silêncios de protesto, testemunhos de civilidade. Também pelas ruas e em muitos lugares, paróquias e outros ambientes, com gestos concretos de cidadãos, como a adesão efetiva ao abaixo-assinado que possibilitará a tramitação do Projeto de Lei de Iniciativa Popular pela Reforma Política. Demanda que é urgente, mas depara-se com a inércia do Congresso Nacional. Registrar o nome e o título de eleitor no abaixo-assinado é um meio de trabalharmos para a erradicação do joio que se manifesta nos discursos políticos, nas organizações que nadam em cifras bilionárias, nos abismos que separam ricos e pobres. O contexto atual da sociedade brasileira é oportuno para um salto em busca do saneamento das instituições e a construção de um novo país. É hora de qualificar, ainda mais, o “discurso das ruas”, para que a política não seja um balcão de negócios, com inescrupulosas barganhas que tomam bens da coletividade como se fossem particulares ou de segmentos privilegiados. Que a mais significativa vitória nesta Copa seja o fortalecimento de nossa capacidade para mudanças, com a sabedoria para separar o joio do trigo. 


Fonte  :
* Artigo na íntegra de http://www.news.va/pt/news/copa-entre-o-joio-e-o-trigo

sábado, 23 de fevereiro de 2013

QUE NOS TORNEMOS MELHORES

Por Maria Vanda (Ir. Maria Silvia, Obl. OSB)


                                                      

                                  A PERENE VALIDADE DO APELO QUARESMAL


                          O retorno desses dias que os mistérios da salvação humana marcaram de modo mais especial e que precedem imediatamente a festa da Páscoa, exige que nos preparemos com maior cuidado por meio de uma purificação espiritual.


                               Todos os anos, a Igreja, no tempo da Quaresma, convida seus filhos e filhas a acessar a misericórdia divina através de um programa de conversão evangélica. As celebrações litúrgicas desse período nos inserem naquela atmosfera penitencial que, paulatinamente, nos vai conduzindo ao monte santo da Páscoa. Por outras palavras, secundando o que dizia São Leão Magno, nesses quarenta dias dedicados a uma cuidadosa purificação especial, nos preparamos, reverentes, para usufruir os dons pascais.

 
                              UM PROCESSO TERAPÊUTICO

                               Com efeito, a penitência quaresmal se apresenta com um processo terapêutico de cura  do pecado e do mal que, voluntariamente ou não, praticamos. Já São Paulo advertia, na Carta aos Romanos, para essa realidade contraditória e incoerente que habita o ser humano: “Não faço o bem que quero, mas faço o mal que não quero”.   Contudo, longe de nos acomodarmos a um pessimismo estéril, sabemos que a graça de Cristo torna-se força de renovada transformação quando lhe abrimos de par em par as portas do coração. Por isso mesmo, com afetuosa solicitude, a Mãe Igreja propõe a seus filhos esse tempo favorável, exortando-os a não receber em vão a graça divina. Mediante um conjunto de práticas exteriores, queremos dar significado a nossa disposição interior para mudar de vida. Nosso Pai São Bento, ao organizar a programação quaresmal de seus monges, elenca algumas Dessas práticas.

                               Para vivenciar ao inverso a palavra de São Paulo há pouco mencionada, ou seja, fazendo o bem que queremos e evitando o mal que não queremos mais praticar, é necessário, antes de tudo, entrar no próprio íntimo e buscar a conversão do coração, pedindo com o Salmista: Criai em mim, ó Deus, um coração puro, renovai em mim um espírito resoluto. Sem essa “transformação cardíaca”, os atos de penitência, além de desprovidos de qualquer sentido, não passariam de meras formalidades. E contra tais estereótipos inócuos, o Salvador é taxativo no Evangelho: ai de vós...

                              Na verdade, o Senhor está sempre esperando de nós aquilo que, com tanta justeza, o Salmista também exprime: Sacrifício para Deus é um espírito contrito; não desprezais, ó Deus um coração contrito e humilhado Só um coração assim, convertido e restaurado, será capaz de produzir frutos de autêntica santidade. Análogo ensinamento vamos encontrar no Catecismo da Igreja Católica: Este esforço de conversão não é apenas uma obra humana. É o movimento do “coração contrito” atraído e movido pela graça a responder ao amor misericordioso de Deus que nos amou primeiro”10.
 

                                UM CORAÇÃO CONTRITO

                               Falamos de coração contrito. O profeta Ezequiel trata, em seu livro, da remoção de um coração de pedra que será substituído por um coração de carne: Eu vos darei um coração novo e porei em vós um espírito novo. Removerei de vosso corpo o coração de pedra e vos darei um coração de carne11. Através da palavra profética, Deus nos convida a uma mudança de atitudes que consiste no “amolecimento” do coração contaminado pelo pecado e pelo orgulho. A contrição é a etapa de passagem do coração de pedra para o coração de carne, ou seja, do coração ferido pelo mal, pesado e enrijecido, para o coração purificado, renovado e recuperado na ordem da graça.

                              A contrição que converte e, sem dúvida, conseqüência da penitência interior, que justificasse as práticas penitenciais exteriores. Melhor explicando: os sinais visíveis de penitência expressam seus movimentos interiores.

                            E o que é penitência interior? É uma orientação radical de toda a vida, um retorno, uma conversão para Deus de todo o nosso coração, uma ruptura com o pecado, uma aversão ao mal e repugnância às obras más que cometemos. Ao mesmo tempo, é o desejo e a resolução de mudar de vida com a esperança da misericórdia divina e a confiança na ajuda de sua  graça.
 
                          Sabendo de tudo isso, nada mais resta senão por em prática, no cotidiano da vida, o que o Senhor está, aqui e agora, pedindo, a cada um de nós: Precisais deixar a vossa antiga maneira de viver e despojar-vos do homem velho, que vai se corrompendo ao sabor das paixões enganadoras. Por outro lado, precisais renovar-vos, pela transformação espiritual das vossas mente, e vestir-vos do homem novo, criado à imagem de Deus, na verdadeira justiça e santidade.



                          UMA VIDA QUARESMAL

                          É costume nos mosteiros beneditinos que, no início da Quaresma, os monges entregam ao Abade uma cédula na qual escrevem algumas penitências que se propõem a praticar, durante a sagrada quarentena, com o propósito de se corrigirem das faltas cometidas. Pretendem assim não apenas celebrar a Santa Páscoa com o coração purificado de todas elas, mas também melhorar daí por diante a qualidade e prática de sua vida espiritual e humana. Concretamente, é o esforço que cada um realiza, buscando a transformação da própria mente a fim de tornar-se um homem novo, isto é, viver com o auxílio de graça, na verdadeira justiça e santidade.

 
                        Embora a Regra de São Bento trate da observância da Quaresma em capítulo específico, contudo, em muitas de suas passagens, o tema da conversão está sempre presente. No mencionado capítulo quando se afirma que a vida do monge deve ser, em todo o tempo, uma observância da Quaresma, claro está que o inteiro viver do monge é um processo gradual e permanente de renovação interior. Neste sentido, uma passagem do Prólogo da mesma Regra é bastante significativa: Espera o Senhor todos os dias que nos empenhemos em responder com atos às suas santas exortações. Por essa razão, os dias desta vida nos são prolongados como tréguas para a emenda dos nossos vícios, conforme diz o Apóstolo: então ignoras que a paciência de Deus te conduz à penitência? Pois diz o bom Senhor: “Não quero a morte do pecador, mas sim que se converta e viva.

                       Portanto, o processo terapêutico de cura do pecado, já aludido, não se restringe apenas ao tempo quaresmal, que devemos guardar com toda pureza, mas é diário e perdura a vida inteira. Todos têm de se renovar a cada dia para evitar a ferrugem inerente à condição mortal, e não há ninguém que não deva se esforçar para progredir no caminho da perfeição,

                       A quem deseja se converter, Deus concede bom tempo. E, porque é bom, espera sempre que nos tornemos melhores. Tornar-se melhor significa deixar a graça divina operar em nosso íntimo, consentir que ela aja. É o que faz São Bento dizer: O que achar de bem em si, atribuí-lo a Deus e não a si mesmo.

                        Para efetivar essa terapia penitencial é preciso tomar as devidas providências. Quais?


                        A ATITUDE FUNDAMENTAL: ESCUTAR

                        Primeiramente, escutar. O ato de escuta é condição preliminar para se realizar algo. A palavra escutada pede, exorta: completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede na Boa Nova. Converter-se e crer, dois movimentos que se completam. A voz divina que “in illo tempore”, começava assim sua pregação na Galiléia, continua admoestando os homens e as mulheres de todas as épocas a se transformarem. Por conseguinte, cada um, por semelhante convite mude de conduta e viva!É fundamental, para tanto, nos dispormos ao diálogo com esse Deus paciente, que prolonga com trégua os dias desta vida para a emenda dos nossos vícios: ele é indulgente, é favorável, é paciente, é bondoso e compassivo. Não nos trata como exigem nossas faltas, nem nos pune em proporção às nossas culpas. Vejamos como isso pode acontecer.

                       O penitente começa se dispondo, com um coração filial, a escutar o Filho recomendado pela voz paterna: escuta, filho: este é o meu Filho amado.  Se o Cristo, o Filho amado do Pai, é objeto de amor preferencial do monge: Nada absolutamente anteponham a Cristo,  escutar sua palavra é caminho seguro para quem pretende enveredar pelos caminhos de uma vida santa. Ela nos estimula a fazer, o quanto antes, aquele “transplante cardíaco” anunciado pelo profeta Ezequiel e reavivado pela admoestação do Salmista: Hoje , se ouvirdes a sua voz, não permitais que se endureçam vossos corações.

                       Gregório Magno, em duas passagens de seus escritos, dá a medida exata da importância que tem a Palavra de Deus na vida não só do monge, mas de todo cristão: realmente, o que é a Sagrada Escritura senão uma carta de Deus onipotente a sua criatura?... Procura meditar todos os dias a palavra de teu Criador. Começa a conhecer, na Palavra de Deus, o coração de Deus para desejares, mais ardentemente, os bens eternos, e que teu coração se inflame de desejos ainda maiores pelas alegrias do céu. E: A Palavra de Deus cresce juntamente com quem a lê... Dela tirarás proveito na medida em que progredires.... Melhor se descobre o maravilhoso poder da Palavra de Deus quando o coração de quem está lendo é penetrado de amor pelas coisas vindas do alto.

                       Por isso, a prática da "lectio divina" recomendada pela Regra de São Bento, com maior empenho no tempo quaresmal, ressalta o valor da Sagrada Escritura como única e exclusiva fonte inspiradora da conversão cristã e monástica. Mesmo assim, não basta somente escutá-la. Nossos propósitos e esforços ascéticos só lograrão êxito se forem bem alicerçados pela obediência e pela oração.

                       Pela atitude de obediência ouvem o que digo e me obedecem. o monge responde por atos as interpelações que o Senhor lhe dirige enquanto ouve, coração atento, sua palavra, procurando executar eficazmente tudo o que dela hauriu. Cumprindo - a com fidelidade , ele será feliz: Andai pelos caminhos que vos ordenei para serdes felizes.
 

 
                      AGIR SOBRE SI MESMO

                      Partindo dessa premissa, chegamos ao segundo estágio da terapia penitencial: AGIR.

                     Por outros termos: a escuta amorosa e obediente da Palavra de Deus, que cresce juntamente conosco, nos instiga a responder com atos às santas exortações.  É preciso mudar a nossa maneira de pensa e de agir, dar uma nova orientação à própria vida, deixar o Espírito Santo agir à vontade para, com seu divino cinzel, esculpir na pedra bruta que somos a imagem de Jesus Cristo.

                  
                      Fiéis ao dom da graça que nos converte e santifica, de coração contrito e humilde, perseveremos em nossos propósitos de uma vida nova para que nos tornemos melhores.

                      Concluamos rezando com Balduíno de Cantuária: Arranca de mim Senhor, o coração de pedra. Tira o coração incircunciso; dá-me um coração de novo, coração de carne, coração puro! Tu purificador dos corações e amante dos corações puros, apossa-te do meu coração e nele habita, envolvendo-o e enchendo-o. Tu, superior ao que tenho de mais elevado, interior ao que tenho de mais íntimo! Tu, forma da beleza e selo da santidade, marca meu coração com a tua misericórdia, Deus de meu coração e minha parte, Deus para sempre.

Amém.”.

 
                                                   (Texto escrito por Dom Mathias Fonseca de Medeiros OSB é monge do Mosteiro de São Bento no Rio de Janeiro).    "In Revista Beneditina de Espiritualidade Monástica Ano V – Jan/fev -2008 pg. 3 usque 11".