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segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Encíclica do papa é traduzida para o russo por iniciativa de muçulmanos

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)        

 
Papa Francisco, o Primeiro-Ministro Al Maktoum e o presidente do Pontifício Conselho Inter-religioso Dom Ayuso Guixot em Abu Dabhi, fevereiro de 2019

*Artigo do jornal Sete Margens

 

‘A tradução em língua russa da última encíclica do papa Francisco, Fratelli Tutti, acaba de ser publicada, segundo. A surpresa é ela ter sido feita e editada por instituições muçulmanas e ter surgido antes mesmo da tradução que estava a ser preparada pela Igreja Católica na Rússia.

A editora Medina e o Fórum Muçulmano Internacional foram as entidades que se encarregaram deste trabalho, publicado na véspera de Natal, coincidindo com o início da festa muçulmana de Eid al-Milad (Natividade de Isa ibn Maryam, ou seja Jesus, filho de Maria, que o Alcorão apresenta como um grande profeta).

No prefácio da edição, Damir Hazrat Mukhetdinov, secretário executivo do Fórum Muçulmano, escreve :

‘Como pode a tradução de um documento da Igreja Católica Romana ser importante para um muçulmano? A resposta é simples : além das próprias reflexões do papa Francisco (…) há a possibilidade de compreender melhor a própria religião, de vê-la de lados inesperados. A libertação do preconceito sobre os outros promove maior liberdade de pensamento, o que inevitavelmente leva à libertação do preconceito sobre si mesmo. Uma melhor compreensão de nós mesmos não passará despercebida pela forma como os outros nos entendem. Esse entendimento mútuo (não só do outro, mas sobretudo de si mesmo) ocorre durante o encontro. E o encontro é a principal mensagem da Fratelli tutti’.

Na apresentação feita na página da editora, sublinha-se ainda :

A encíclica Fratelli tutti é uma etapa sem precedentes no diálogo inter-religioso. Esta etapa é marcada pelo problema da convivência, o problema da sociabilidade. A base da interação social deve ser a ideia de abraçar a misericórdia de Deus e o amor ao próximo. A encíclica do papa Francisco fala sobre misericórdia social e amor. Qualquer pessoa que se preocupa com o amor e a misericórdia dialoga. O convite para esse diálogo foi a encíclica Fratelli tutti . A difusão da mensagem do papa em russo servirá à causa do diálogo, da amizade social, da fraternidade universal. Isso fortalecerá a cultura da reunião. A tradução é dirigida a todas as pessoas de boa vontade’.

A tradução da encíclica em língua russa não estava prevista no plano de traduções oficiais da Santa Sé, razão pela qual a Conferência Episcopal tinha em andamento uma tradução própria. Com esta iniciativa dos muçulmanos, que se antecipou à tradução católica, fica disponível um documento saudado com ‘alegre surpresa’, por parte do presidente da Conferência Episcopal da Rússia, o bispo Paolo Pezzi.

Segundo a agência de notícias SIR, dirigindo-se diretamente ao secretário do Fórum Muçulmano (e também primeiro vice-presidente da direção espiritual dos Muçulmanos da Federação Russa), Damir Mukhetdinov, que promoveu a iniciativa editorial, Paolo Pezzi escreveu :

Como toda a gente, eu sabia que esta encíclica nasce – em grande parte – do histórico encontro entre o papa e o grande imã de Al-Azhar, Ahmed Al-Tayyeb, e apela a renovadas relações fraternas entre os fiéis das nossas tradições religiosas. Mas eu não podia imaginar que esse apelo suscitaria uma resposta tão rápida e generosa nos corações dos muçulmanos russos’.

Em carta ao representante muçulmano, publicada na página da Igreja Católica russa, o arcebispo acrescenta :

A importância deste vosso passo, assim como da própria encíclica do papa, é realmente difícil de sobre-estimar. Parece-me que esse gesto seja incrivelmente relevante neste momento, quando muitas pessoas, infelizmente, acreditam que o diálogo inter-religioso seja uma formalidade vazia que não dá nenhum fruto real e não afeta a vida das pessoas. Mas não é assim : temos muitas provas de como seja importante uma ‘cultura de encontro’, que pode reavivar a esperança e levar à renovação’.

A carta cita neste ponto uma frase da encíclica de Francisco : ‘A verdade é que a violência não encontra nenhuma base nas convicções religiosas fundamentais, mas sim em suas deformações’.

O arcebispo, portanto, agradece a Damir Hazrat, porque a tradução de Fratelli tutti não só torna os conceitos expressos pelo papa Francisco acessíveis aos leitores muçulmanos, mas também permite que ‘os católicos se vejam através dos olhos de nossos interlocutores’. E acrescenta : ‘Seria interessante se, num futuro próximo, pudéssemos realizar juntos um encontro sobre os temas importantes discutidos neste documento’.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1491762/2021/01/enciclica-do-papa-e-traduzida-para-o-russo-por-iniciativa-de-muculmanos/

terça-feira, 5 de abril de 2016

Mosteiro de Mar Elian semi-destruído na reconquista de Qaryatayn

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)



‘No deserto da Síria, os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI) escreveram em um muro ainda em pé do Mosteiro de Mar Elian, ‘os leões do califado vieram para devorá-los’. Mas este fim de semana, eles foram obrigados a fugir diante da ofensiva do Exército sírio, apoiado por russos e membros do Hezbollah libanês.


Símbolo da convivência pacífica entre cristãos e muçulmanos

O mosteiro de Mar Elian está localizado na cidade de Al-Qaryatayn, e era um símbolo da convivência pacífica entre cristãos e muçulmanos na Síria. Erigido no século V, uma das duas igrejas do mosteiro, construída com pedras secas e tijolos de barro, nada mais é hoje do que um amontoado de escombros, constatou uma equipe da AFP, que visitou o local esta segunda-feira, 4. A igreja foi destruída pelo Estado Islâmico em agosto de 2005, com o uso de explosivos e de escavadeiras, ‘sob o pretexto de que as pessoas adoravam ali um outro deus que não o Deus verdadeiro’.


Sarcófago danificado

O crânio e os ossos do Mar Elian, um santo cristão de Homs (centro da Síria, martirizado pelos romanos por ter se recusado a abjurar da sua fé, continuam em um sarcófago de pedra. Mas sua tampa decorada com duas cruzes, foi quebrada.

Trata-se precisamente de seu sarcófago e de seus ossos’, confirmou o Padre Jacques Mourad, responsável pelo mosteiro sírio-católico, entrevistado por telefone na Itália depois de ver as fotos que foram enviadas a ele por AFP via WhatsApp.

O sacerdote havia conseguido escapar das garras de EI em outubro de 2015, depois de passar 84 dias nas mãos desta organização que prometeu matá-lo caso se recusasse a se converter ao Islã.


Silêncio, melhor resposta diante dos fatos

Estou cheio de dor e minha posição é de estar em silêncio, porque diante de tudo isto que acontece, o silêncio é a palavra mais adequada’, afirmou.

A entrada e interior do novo igreja do mosteiro, inaugurada em 9 de setembro de 2006, na presença de líderes religiosos cristãos e muçulmanos, estão totalmente carbonizados. As vigas que sustentam o teto e a pedra que servia de altar estão quebrados.

O mosteiro, com seus 16 quartos, está parcialmente destruído por bombardeios e no refeitório estão amontoadas panelas e pratos utilizados pelos jihadistas para a sua cozinha.

Em uma pequena sala, estão guardados ossos em sacos, encontrados anteriormente por arqueólogos em dois cemitérios mamelucos e otomanos, ligados ao mosteiro, declarou à AFP May Mamarbachi, que participou há dez anos da restauração do local.

De acordo com Padre Mourad, outras duas igrejas no centro da cidade de Al-Qaryatayn, uma sírio-ortodoxa e outra católica, foram queimadas na primeira semana da chegada dos jihadistas.


Localização estratégica

Al-Qaryatayn foi reconquistada pelo exército no último domingo, 3, e era um dos últimos redutos do EI em Homs, a maior província da Síria

Um general no local disse à AFP que a cidade de 30.000 habitantes antes da guerra (incluindo 900 cristãos) era importante por encontrar-se no cruzamento das Províncias de Damasco, Homs e as Montanhas de Qalamoun, que abrangem a Síria e Líbano. ‘Com a captura desta cidade, o exército cortou todas as estradas que o Daesh (acrônimo em árabe para EI) usava para se locomover’, explicou. ‘A batalha foi facilitada após a tomada, há uma semana, de Palmyra’, a 90 km ao leste.

Dos 900 cristãos, 277 permaneceram na cidade apesar da chegada do EI. Entre eles, um foi executado, 10 foram mortos no bombardeio e cinco ainda estão presos. O resto conseguiu escapar ao final de 2015, segundo Padre  Mourad.

Al-Qaryatayn (‘as duas aldeias em árabe’) era o símbolo da coexistência entre cristãos e muçulmanos.


Fonte :
* Artigo na íntegra


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

País muçulmano financia restauração de catacumbas

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)



Afrescos extraordinários das Catacumbas romanas dos Santos Marcelino e Pedro, num vasto sítio arqueológico aberto recentemente ao público, recuperaram seu antigo esplendor. Na sede do Pontifício Conselho da Cultura foram apresentados na manhã desta terça-feira os resultados da complexa obra de restauração, cujos custos foram cobertos em parte pela Fundação ‘Heydar Aliyev’, presidida pela Sra. Mehriban Aliyeva, esposa do Presidente muçulmano do Azerbaijão.

As Catacumbas dos Santos Marcelino e Pedro, na Via Casilina, 641, são uma extraordinária pinacoteca subterrânea. Terceiras catacumbas em Roma em extensão, abrigam em uma área de mais de 18 mil m² pinturas paleocristãs únicas no mundo, dentro do complexo arqueológico ‘Ad duas lauros’. O recente e precioso trabalho de restauração permite contemplar excepcionais afrescos em suas cores originais. Estas Catacumbas, ligadas ao martírio dos Santos Marcelino e Pedro, foram por séculos, assim como neste Ano Santo da Misericórdia, metas privilegiadas de peregrinação.


Os Santos Marcelino e Pedro

Pedro era um jovem exorcista que recusou-se abjurar da própria fé e de adorar outros deuses. Por isto foi torturado e encarcerado. Entre os carcereiros havia um homem especial, Artêmio, que profundamente tocado pela fé de Pedro, converteu-se ao cristianismo. Converteram-se também muitos outros detentos, carcereiros e famílias inteiras. Pedro não podia administrar o batismo e um sacerdote, Marcelino, foi até a prisão para batizar.


O martírio dos Santos Marcellino e Pedro

Marcelino e Pedro foram condenados à morte, sendo mortos em 304 d.C. por ordem do Imperador Diocleciano, que considerava o cristianismo um obstáculo para o desenvolvimento econômico e social do Império. Os dois mártires foram obrigados, antes da decapitação, a escavar o próprio túmulo com as mãos em uma densa floresta, conhecida como Floresta Negra, para que o local em que haviam sido enterrados permanecesse ignorado.


Restos mortais transferidos para o cemitério ‘Ad duas lauros’

Uma romana chamada Lucila, conseguiu transferir os restos mortais daquela área – que atualmente é chamada de Floresta Candida, em honra aos dois mártires – para um Cemitério cristão na Via Casilina, na localidade de ‘Ad duas lauros’. O lugar, mais tarde dedicado à memória dos dois Santos, tornou-se meta de peregrinação. No período carolíngio, as relíquias dos dois Santos foram levadas à Alemanha, na cidade de Seligenstadt, onde são guardados até hoje.


Os afrescos salvos pelas obras de restauração

A vinda dos recursos da Fundação ‘Heydar Aliyev’, foi possível graças aos acordos firmados em 2012, o que permitiu, com o uso de avançadas técnicas de conservação, a restauração de extraordinários monumentos pictóricos, como o Cubículo de Susana e o coveiro; o nicho de Daniele; o Arcosolium de Sabina; o Arcosolium de Orfeu; o Cubículo de Nossa Senhora com os dois Magos; o Cubículo da dama orante, que mostra uma mulher com a cabeça velada e os braços abertos. Uma joia pictórica que antecipa a iconografia medieval das Nossas Senhoras da Misericórdia.


Prevista restauração das Catacumbas de São Sebastião

A colaboração entre a Santa Sé e o Azerbaijão prosseguirá com outros importantes projetos. Hoje, em particular, foi selado um protocolo de intenção para obras de restauração e a valorização do complexo monumental de São Sebastião fora dos Muros, na Via Apia Antiga. O acordo diz respeito, entre outros, a uma extraordinária coleção de sarcófagos.

Ao ser questionada sobre o por quê de uma fundação de um país muçulmano financiar a restauração de patrimônios cristãos, a Sra. Mehriban Aliyeva explicou :

O Azerbaijão é um país entre a Europa e Ásia, entre o Ocidente e Oriente, e esta posição geográfica influenciou a profunda diversidade que caracteriza o país. A amizade e a fraternidade sempre acompanharam os povos que viveram no país. A nossa grande riqueza também é constituída pela presença de múltiplas confissões religiosas. Em particular, a restauração das Catacumbas dos Santos Marcelino e Pedro insere-se neste projeto de uma colaboração entre a Santa Sé e o Azerbaijão. No futuro, a nossa Fundação estará sempre pronta a prosseguir com esta cooperação’.


Cardeal Ravasi fala da ampla colaboração

A colaboração entre a Santa Sé e o Azerbaijão tem uma ampla abrangência, sublinha o Cardeal Gianfranco Ravasi, Presidente do Pontifício Conselho da Cultura e da Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra :

A colaboração tem o seu cerne principal nas Catacumbas dos Santos Marcelino e Pedro e agora na de São Sebastião. Mas o compromisso da Fundação ‘Aliyev’ e, em particular da sua presidente, ampliou-se também para a Biblioteca Apostólica Vaticana, com a restauração de muitos manuscritos azeris, e aos Museus Vaticanos, onde tiveram início  trabalhos de restauração, sobretudo de uma imponente estátua de Júpter. A segunda consideração diz respeito ao fato de que eu mesmo, certa vez, visitei o Azerbaijão e tive  a oportunidade de lá encontrar várias comunidades religiosas. Portanto, trata-se de uma rede de colaboração muito difundida.’’


Fonte :


terça-feira, 28 de julho de 2015

Missionário nas Arábias : os portugueses estiveram aqui

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 *Artigo de Padre Olmes Milani,
Missionário Scalabriniano
  
‘...Hoje mergulharemos um pouco na História da chegada dos nossos irmãos portugueses na região Sudoeste da Península da Arábia.

Em 1506 a Coroa Portuguesa conferiu ao capitão Alfonso Albuquerque a missão de traçar a rota ao redor da África e  Arábia para chegar à Índia. Deveria criar bases no Mar da Arábia e do Golfo para atracar as caravelas lusitanas, durante suas viagens entre a Indonésia e a Europa.

Naquele tempo, os árabes da parte sul do Golfo conheciam pouco ou nada da Europa. A frota de cinco navios, sob o comando de Albuquerque, apareceu no horizonte como a primeira visita importante dos europeus. Assim os portugueses tiveram o privilégio único de ter introduzido a civilização europeia no Golfo. Não importa o que Albuquerque fez, o comportamento dos cristãos europeus será lembrado por séculos.

Infelizmente, Albuquerque deixou sua marca indelével. Contornando a África e chegando à Arábia, deixou navios árabes destruídos por todos os lugares onde passou. Quando os omanis lhe negaram permissão de atracar, saqueou sua cidade. Ao chegar a Khor Fakhan, a primeira parada na região que hoje forma os Emirados Árabes Unidos, encontrou a multidão rufando tambores, posicionando-se em lugares elevados, montando cavalos ao longo da costa para ver europeus pela primeira vez.

Albuquerque e seus navegadores observavam tudo do convés. Interpretaram que aquele espetáculo não era suficientemente submisso. Desembainharam as espadas. Impiedosamente investiram contra as pessoas, decepando-lhes narizes e orelhas, abaionetando homens, capturando ou matando mulheres e crianças e ateando fogo em  suas casas, suas plantas cítricas e estábulos.

Essa barbárie dos portugueses significaria que o século seguinte não seria prazeroso para quem tentasse chegar em terras árabes. A aversão aos europeus cresceu ainda mais quando Vasco da Gama queimou um navio com destino a Meca com centenas de peregrinos a bordo.

Enquanto os habitantes do remoto Golfo nada conheciam sobre os europeus,  os portugueses e seus primos espanhóis eram experientes em lidar com árabes.  Exatamente uma década antes de chegar em Khor Fhakan, Portugal e Espanha puseram um fim aos sete séculos de governo islâmico em suas terras. A queda de Granada em 1492 significava a reconquista completa. Agora os ibéricos chegavam com a ideia de conquistar e colonizar. Viam a civilização muçulmana e árabe como inimigos odiosos. Eles matavam e mutilavam sem piedade quando uma cidade portuária não acolhia suas caravelas.

Historiadores como Frauke Heard-Bey, acreditam que os sofrimentos infringidos pelos portugueses incendiou o ódio dos árabes para com os europeus e os cristãos, em particular. A crueldade dos portugueses perpetrada entre o Mar Vermelho e a costa pérsica é lembrada como obra dos cristãos.

 No ano de 1631, depois de serem derrotados em batalhas com as marinhas da Holanda e Inglaterra, os portugueses foram-se afastando do Golfo. O legado que os cristãos são cruéis com os árabes ainda está muito presente e atrapalha os movimentos de paz.

Amigas e amigos, a História nos faz lembrar as palavras do Mestre : ‘Tudo o que vocês desejam que os outros façam a vocês, façam vocês também a eles’ MT 7,12.’


Fonte :
* Artigo na íntegra de http://br.radiovaticana.va/news/2015/07/25/mission%C3%A1rio_nas_ar%C3%A1bias_os_portugueses_estiveram_aqui/1160741

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Convergências das religiões

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 *Artigo de Padre Olmes Milani,
Missionário Scalabriniano

‘Amigos e amigas da Rádio Vaticano, estou de volta com uma saudação fraterna das Arábias.

Tenho a impressão de que quando o assunto é religiões, vamos à cata de elementos divergentes para ver como podemos levá-los para um ponto de encontro.  Nessa tentativa, quase sempre enfrentamos as questões ligadas ao poder, dentro das próprias religiões, e ao lado institucional.

No momento em que escrevo este texto, aqui nas Arábias, os seguidores de Maomé estão se preparando tempo forte o Ramadã, - ou seja, os 30 dias de jejum.

Examinando a doutrina do jejum, percebemos que, nesta prática, islamismo e cristianismo convergem. Para entender melhor a convergência, vejamos como é o jejum islâmico nos seus três níveis :

Nível um.  O jejum geral, ou seja, o mais baixo. É a autorrestrição da comida, da bebida e das relações sexuais.

Nível dois.  O jejum especial. Além do que foi mencionado, a pessoa se restringe dos pecados pelo mau uso das mãos, dos pés, da visão, da audição e dos outros órgãos do corpo.

Nível três. O jejum extra-especial. Os muçulmanos praticam o jejum da mente. Procuram pensar somente em Deus, Allah, e na outra vida.  Pensam no mundo com a visão no próximo, uma vez que é o campo de cultivo do futuro.   Alertam que pode haver hipocrisia quanto ao jejum. Algumas pessoas podem preparar o alimento, durante o dia, só para quebrar o jejum à noite.

O jejum especial se baseia em deveres que visam à obtenção da perfeição. Contudo, existem cinco inimigos que destroem o jejum : a mentira, a calúnia, a difamação, o perjúrio, e a paixão sexual.

Por isso manda-se restringir a língua de conversas vãs, da mentira, da difamação, da calúnia, do falso testemunho, da obscenidade, da hipocrisia, da inimizade; adotar o silêncio, guardar a língua ocupada com a lembrança de Allah e a recitação do Alcorão.

Ressalta-se a necessidade de restringir a audição quanto a conversas maldosas, porque o que é ilícito dizer, também é ilícito ouvir O profeta disse : O difamador e quem ouve a difamação são iguais e dividem o pecado.

É preciso também controlar as mãos, os pés e os outros órgãos do corpo dos pecados, das más ações e salvar o estômago das coisas duvidosas, na hora de se quebrar o jejum, porque não há lógica em se restringir das coisas lícitas com o jejum e se quebrar o jejum com coisas ilícitas, como álcool e drogas. O jejum é bonito e valioso quando existe sintonia com a vida diária.

Assim como o melhor amigo do ser humano é o próprio ser humano, ele pode ser também o oposto, seu pior inimigo.

Saber impor-se disciplina é uma das grandes vitórias do ser humano, contra si mesmo.’


Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.news.va/pt/news/cronica-convergencias-das-religioes



quinta-feira, 2 de julho de 2015

Um olhar muçulmano sobre a Laudato Si

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

  

 Transcrevemos a seguir o artigo ‘Um novo terreno comum’, de Abdullah Hamidaddin, publicado na edição do L'Osservatore Romano de 1º de julho. A partir de uma ‘perspectiva muçulmana’ o autor lança um olhar sobre a Encíclica Laudato Si.


‘Devo agradecer ao Twitter por muitas coisas, entre estas a Encíclica do Papa Francisco 'Laudato si, sobre o cuidado da casa comum'. Há uma semana não tinha sequer consciência da palavra ‘encíclica’. E sobre o Twitter que me defrontei com ela, seguindo o Papa e os seus tweeets, que na última semana diziam respeito, entre várias questões sociais, ao ambiente.

Como muçulmano, ouvi falar muito do Islã como religião, quer da vida após a morte como desta vida. E de como cada aspecto de nossa vida tenha uma dimensão religiosa. Esta ideia em si, poderia levar a resultados diversos, mas o que prevalece no mundo muçulmano é a necessidade de implementar a shari'a.

Assim, quando iniciei a ler a encíclica pensei ‘sentir-me em casa, mas num tipo de casa diferente’. Ainda estou procurando cristalizar o significado, mas estava claro de que não se tratava de um convite para aplicar leis religiosas. Aqui o Papa estava discutindo questões que nos dizem respeito como seres humanos com o acréscimo de uma dimensão espiritual. Estava espiritualizando a nossa busca de soluções para os principais problemas que afligem a humanidade.

As ideias expressas na Laudato Si não são uma novidade, nem exclusivas do Papa. Mas a carga espiritual dada por elas é fonte de inspiração, ao menos para mim, também nos casos em que não estava de acordo com ele, como por exemplo sobre o controle dos nascimentos. Me agradou a abordagem, a maneira com que a espiritualidade foi incorporada na minha vida, sem nenhuma menção à legislação.

A Encíclica suscitou muitas polêmicas e debates, e continuará a fazê-lo nos países e nas comunidades com uma herança católica ou cristã. O cuidado com o nosso mundo, a fé na justiça social, a empatia com as preocupações dos pobres e dos oprimidos, além das consequências da tecnologia, não são questões fáceis. São complicadas e profundamente entrecruzadas com o poder e os interesses. Além disto, não são questões na espera de serem reconhecidas ou suscitadas por uma autoridade religiosa. Espiritualizar estes problemas pode ter um forte impacto sobre a individualização e a concretização de soluções.

Nós somos seres racionais, podemos, de fato, discutir as preocupações da humanidade fazendo uma análise custo-benefício; mas somos também morais e portanto podemos discutir as dificuldades dos outros e as obrigações que aqueles que estão melhor têm para com os menos privilegiados. Somos porém, também seres espirituais, ou ao menos muitos de nós acreditam. E é aqui que a autoridade religiosa é importante, porque acrescenta uma dimensão espiritual às discussões sobre seres humanos e o bem estar da humanidade.

O Papa, a meu ver, falou como um racionalista, apresentando as conclusões a que chegou com base em seu pensamento racional, mas falou também como um moralista, sublinhando as obrigações que temos para com o outro e pela terra na qual vivemos. Além disto, falou como autoridade religiosa, insistindo no fato de que as grandes questões da nossa vida devem fazer parte do nosso caminho espiritual.

Estava dizendo que abrir os nossos corações a Deus não diz respeito somente aos rituais, mas é uma questão de empatia, cuidado e salvaguarda das bênçãos que Deus nos deu.

Como muçulmano, acho a sua declaração extremamente confortante. Não importa se partilha a minha fé. Nem me importa se estou de acordo com todas as suas conclusões. O que conta para mim é que o Papa criou um novo terreno comum, a nível espiritual, entre os seguidores de todas as religiões.

Tudo isto poderia parecer um sonho de olhos abertos para muitos. A violência e o terror afligem a nossa vida a tal ponto, que alguns de nós agora acreditam que este seja o nosso destino. Mas existem muitos outros que rejeitam render-se ao terrorismo, que rejeitam uma atitude fatalista sobre o futuro da humanidade, que insistem no querer esperar e celebrar todos os esforços para que entre as pessoas exista paz e empatia pelo outro. Acredito que a Encíclica do Papa seja um destes esforços que deveria ser celebrado e abraçado por pessoas de todas as crenças, e até mesmo por quem não crê’.’


Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.news.va/pt/news/um-olhar-muculmano-sobre-a-laudato-si

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Bartolomeu I : Luta global contra o fundamentalismo

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


‘‘O desaparecimento dos cristãos do Oriente Médio é uma tragédia humana. É uma questão histórica e de civilização ao mesmo tempo. A ameaça de seu desaparecimento é global e romperia as raízes espirituais necessárias para a inspiração de uma época atravessada por profundas mudanças.’

É o que afirma o Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, na carta enviada aos participantes do encontro internacional ‘Cristãos no Oriente Médio : qual futuro?’ em andamento na cidade italiana de Bari, promovido pela Comunidade Romana de Santo Egídio.

No texto, lido na vigília pela paz realizada na Basílica de São Nicolau, o patriarca recordou que ‘os cristãos do Oriente Médio são sobretudo herdeiros do cristianismo originário modelado na paesagem do Mediterrâneo oriental que soube, com suas tradições espirituais, linguísticas e culturais,  plasmar o que o cristianismo se tornou hoje no mundo’.


A coexistência das comunidades cristãs do Oriente Médio com o mundo muçulmano

Essas comunidades cristãs carregam ‘os traços de uma coexistência com o mundo muçulmano que não é mais aceitável aos olhos dos funtamentalistas’. Para Bartolomeu I, o futuro dos cristãos do Oriente Médio ‘consiste em salvaguardar a sua ação de mediação em relação ao radicalismo de alguns muçulmanos que não reconhecem a vida dos cristãos orientais, o seu sentido profundo de liberdade e sua capacidade de resistência’.


A crise que passa o Oriente Médio pode servir como kairós ecumênico

Uma solução política para o futuro dos cristãos do Oriente Médio’, destaca o patriarca , ‘pode servir-se positivamente do ecumenismo de sangue’ e dos ‘sofrimentos redentores que formam uma nova realidade em nossa busca pela unidade dos cristãos’. ‘A crise que vive Oriente Médio pode servir como kairós ecumênico. Porque no sangue e nas lágrimas se constrói a consciência de um destino comum para aliviar os sofrimentos da separação’, frisou ainda Bartolomeu I.


Uma luta global contra o fundamentalismo garantirá a presença cristã

O Patriarca Bartolomeu I encerra a sua mensagem exortando a comunidade internacional a agir conforme o direito internacional para que os cristãos do Oriente Médio não se tornem somente um capítulo nos manuais de história que contam o seu desaparecimento. ‘Os cristãos do Oriente Médio são as pedras vivas de uma região que plasmou a sua história no pluralismo das trocas e contatos comerciais, mas também intelectuais e espirituais. Hoje, o fundamentalismo se levanta contra essa leitura. Uma luta global contra o fundamentalismo garantirá a sua presença permanente nessa região do mundo onde o nome cristão foi cunhado.’’


Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.news.va/pt/news/bartolomeu-i-luta-global-contra-o-fundamentalismo
  

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Jamaal, o muçulmano que morreu como cristão para não abandonar um amigo

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
  
 
‘Havia também um muçulmano, juntamente com 28 cristãos etíopes mortos na Líbia pelo Estado islâmico e mostrados no último vídeo horrendo divulgado domingo passado pelos jihadistas. O seu nome era Jamaal Rahman, assassinado por se recusar a abandonar o amigo cristão com quem ele estava fazendo uma viagem para a costa da Líbia, com a intenção de chegar à Europa.

A notícia vem diretamente da Etiópia e foi publicada ontem na Itália no site do PIME MissiOnline. Nestes dias, Addis Abeba está trabalhando para dar uma identidade às vítimas mostradas no vídeo. Durantes as investigações apareceu que alguns dos cristãos mortos era, na verdade, de nacionalidade eritreia. A verdadeira surpresa foi a descoberta dentro do grupo do jovem muçulmano, cuja presença foi confirmada por uma fonte ligada aos Shabaab, os fundamentalistas islâmicos que lutam na Somália.

Um jornal online do Somaliland explicou que o homem teria sido ‘convertido’ durante a viagem, enquanto que outra fonte jihadista afirma que Jamaal, em um gesto ‘louco’, teria se oferecido voluntariamente como refém para não deixar sozinho nas mãos da milícia do Estado Islâmico um companheiro de viagem cristão. Talvez esperasse que sua presença iria mudar o destino dos outros reféns.

Depois de confirmada a notícia deste corajoso muçulmano surgiu uma forte onda nas redes sociais, onde muitos muçulmanos etíopes compartilharam a foto que o mostra, identificando-o como a verdadeira face do Islã, por contraste à loucura do Estado Islâmico.


Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.zenit.org/pt/articles/jamaal-o-muculmano-que-morreu-como-cristao-para-nao-abandonar-um-amigo