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segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Por que os católicos inclinam a cabeça ao nome de Jesus

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 HARLEM,NEW YORK,BURKINA FASO,CORPUS CHRISTI
*Artigo de Philip Kosloski,
escritor e designer gráfico


‘Há muitos gestos corporais que os católicos realizam na missa, e um deles, que foi amplamente praticado há séculos, é o costume de inclinar a cabeça diante da menção do nome de Jesus.

Embora não tenha sido muito enfatizado nas últimas décadas, ainda é honrado por muitos dos fiéis leigos e por alguns sacerdotes.

A origem desse costume é inspirada principalmente pelas seguintes palavras de São Paulo em sua carta aos Filipenses :

Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, no céu, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai. (Filipenses 2, 9-11)

Pensando de forma prática, ajoelhar-se toda vez que o nome de Jesus é mencionado é bastante difícil. Diante disso, o Papa Gregório X encontrou uma solução. Ele escreveu sobre isso para a Ordem Dominicana em 1274, expressando seu desejo de que algum gesto físico fosse feito para honrar o nome de Jesus.

A seguinte parte de sua carta foi impressa no livro With God : A Book of Prayers and Reflections, de Francis Xavier Lasance.

Recentemente, durante o Concílio realizado em Lyon, consideramos útil recomendar aos fiéis entrar na casa de Deus com humildade e devoção, e se comportar adequadamente enquanto ali estão, de modo a merecer a graça divina.

Também julgamos apropriado convencer os fiéis a demonstrar mais reverência por este Nome acima de todos os nomes, o único Nome pelo qual reivindicamos a salvação – o Nome de Jesus Cristo, que nos redimiu da escravidão do pecado.

Consequentemente, em obediência a este preceito apostólico : ‘Em nome de Jesus, todo joelho seja dobrado’, desejamos que, ao pronunciar esse nome, principalmente no Santo Sacrifício, todos inclinem a cabeça em sinal de que, interiormente, está-se ajoelhando de coração.

O Papa Gregório queria que todos não apenas honrassem o nome de Jesus, mas se submetessem interiormente a Deus com um ato simples de amor.

Os dominicanos levaram a sério o pedido do Papa e se tornaram os principais promotores do Santo Nome de Jesus na Igreja Católica, pregando sobre o Santo Nome, formando sociedades do Santo Nome, além de colocar altares em suas igrejas dedicadas ao Santo Nome de Jesus.

O costume é simples e deve refletir um desejo interior de honrar Jesus, o único nome pelo qual somos salvos.’


Fonte :

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Festa da Exaltação da Santa, Venerável e Vivificante Cruz

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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‘A Igreja celebra a festa da Exaltação da Santa Cruz. É uma festa que se liga à dedicação de duas importantes basílicas construídas em Jerusalém por ordem de Constantino, filho de Santa Helena. Uma foi construída sobre o Monte do Gólgota; por isso, se chama Basílica do Martyrium ou Ad Crucem. A outra foi construída no lugar em que Cristo Jesus foi sepultado pelos discípulos e foi ressuscitado pelo poder de Deus; por isto é chamada Basílica Anástasis, ou seja, Basílica da Ressurreição.

A dedicação destas duas basílicas remonta ao ano 335, quando a Santa Cruz foi exaltada ou apresentada aos fiéis. Encontrada por Santa Helena, foi roubada pelos persas e resgatada pelo imperador Heráclio. Segundo contam, o imperador levou a Santa Cruz às costas desde Tiberíades até Jerusalém, onde a entregou ao Patriarca Zacarias, no dia 3 de Maio de 630. Tal festividade lembra aos cristãos o triunfo de Jesus, vencedor da morte e ressuscitado pelo poder de Deus.

A pregação da Cruz é uma necessidade para os que se perdem; mas para os que se salvam – para nós – é força de Deus. Por que diz a Escritura : «Destruirei a sabedoria dos sábios, e inutilizarei a inteligência dos inteligentes. Onde está o sábio? Onde o douto? Onde o sofista deste mundo? De fato, como o mundo através de sua própria sabedoria não conheceu Deus na divina sabedoria, quis Deus salvar os crentes através da necessidade da pregação». Assim, enquanto os judeus pedem sinais e os gregos buscam sabedoria, nós pregamos a Cristo crucificado : escândalo para os judeus e loucura para os pagãos, mas para os chamados, tanto judeus quanto gregos, um Cristo, força de Deus e sabedoria de Deus. As palavras do apóstolo Paulo, lidas na solenidade da Exaltação da veneranda e santificadora Cruz, marcam o sentido inequívoco que, desde o princípio, tivera para os cristãos o patíbulo dos malfeitores, que era a cruz. Por que, pois, estranhar-se que a Igreja a tenha considerado objeto de culto particular?

Romano o Melode, imaginando um diálogo entre o diabo e o inferno, põe na boca do primeiro as palavras : «Belial, é tempo de abrires o ouvido. A hora presente far-te-á ver o império da Cruz, e o grande poder do Crucificado. Para ti, a Cruz não é senão loucura; porém toda a Criação a considera como um trono desde que, nela cravado, escuta Cristo como juiz em atividade».

A forma de cruz das igrejas antigas, inclusive hoje nas de tradição bizantina, evoca a virtude ou força da ação redentora desse sinal. A Cruz defende a todos do maligno e de seus ataques. Os marcados com o sinal de Cristo têm a esperança confiante de entrar no paraíso. Nas igrejas bizantinas, atrás do altar e no ponto mais alto do Iconostase, destaca-se a Crucifixão, 4 com o objetivo de que, de qualquer ponto do templo e a todo momento, possa atrair o olhar dos fiéis para a Árvore da Vida, plantada no novo paraíso universal, frondosa e muito mais honorável que a do Éden […]’


Fonte :

sábado, 13 de setembro de 2014

Exaltação da Santa Cruz

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Bento XVI, Papa Emérito
  
‘...Gostaria de meditar sobre um Salmo com fortes implicações cristológicas, que sobressai continuamente nas narrações da Paixão de Jesus, com a sua dúplice dimensão de humilhação e glória, de morte e vida. É o Salmo 22 segundo a tradição judaica, 21 segundo a tradição greco-latina, uma oração intensa e comovedora, de uma densidade humana e de uma riqueza teológica que fazem dele um dos Salmos mais recitados e estudados de todo o Saltério. Trata-se de uma longa composição poética, e meditaremos de modo particular sobre a sua primeira parte, centrada na lamentação, para aprofundar algumas dimensões significativas da oração de súplica a Deus.

Este Salmo apresenta a figura de um inocente perseguido e circundado de adversários que desejam a sua morte; e ele recorre a Deus numa lamentação dolorosa que, na certeza da fé, se abre misteriosamente ao louvor. Na sua oração, a realidade angustiante do presente e a memória consoladora do passado alternam-se, numa difícil tomada de consciência acerca da sua situação desesperada que, no entanto, não quer renunciar à esperança. O seu clamor inicial é um apelo dirigido a um Deus que parece distante, que não responde e parece tê-lo abandonado :

Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?
As palavras do meu clamor não são por Vós ouvidas.
Meu Deus, clamo de dia e não me respondeis;
imploro durante a noite, sem conseguir sossegar’ (vv. 2-3).

Deus cala-se, e este silêncio dilacera a alma do orante, que chama incessantemente, mas sem encontrar uma resposta. Os dias e as noites sucedem-se, numa busca incansável de uma palavra, de uma ajuda que não chega; Deus parece tão distante, tão esquecido, tão ausente! A oração pede escuta e resposta, solicita um contacto, procura uma relação que possa conferir conforto e salvação. Mas se Deus não responde, o grito de ajuda perde-se no vazio e a solidão torna-se insustentável. E no entanto o orante do nosso Salmo, no seu brado, chama três vezes o Senhor ‘meu’ Deus, num extremo gesto de confiança e de fé. Não obstante qualquer aparência, o Salmista não pode acreditar que o vínculo com o Senhor se tenha interrompido totalmente; e enquanto pergunta o porquê do presumível abandono incompreensível, afirma que o ‘seu’ Deus não o pode abandonar.

Como se sabe, o clamor inicial do Salmo, ‘Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?’, é citado pelos Evangelhos de Mateus e de Marcos como o grito lançado por Jesus agonizante na Cruz (cf. Mt 27, 46; Mc 15, 34). Ele manifesta toda a desolação do Messias, Filho de Deus, que enfrenta o drama da morte, uma realidade totalmente oposta ao Senhor da vida. Abandonado por quase todos os seus, atraiçoado e renegado pelos discípulos, circundado por quantos o insultam, Jesus encontra-se sob o peso esmagador de uma missão que deve passar pela humilhação e o aniquilamento. Por isso, clama ao Pai, e o seu sofrimento assume as palavras dolorosas do Salmo. Mas o seu grito não é desesperado, como o do Salmista, que na sua súplica percorre um caminho atormentado, mas que no final acaba numa perspectiva de louvor, na confiança da vitória divina. E dado que no uso hebraico citar o início de um Salmo implicava uma referência ao poema inteiro, a prece dilacerante de Jesus, embora mantenha a sua carga de sofrimento indizível, abre-se à certeza da glória. ‘Não tinha o Messias de sofrer estas coisas para entrar na sua glória?’, dirá o Ressuscitado aos discípulos de Emaús (Lc 24, 26). Na sua paixão, em obediência ao Pai, o Senhor Jesus atravessa o abandono e a morte para alcançar a vida e para a doar a todos os fiéis.

A este brado inicial de súplica, no nosso Salmo 22, segue-se num contraste doloroso a recordação do passado :

Em Vós confiaram os nossos pais,
confiaram, e Vós os livrastes;
a vós clamaram e foram salvos;
confiaram em Vós e não foram confundidos’ (vv. 5-6).

Aquele Deus que hoje ao Salmista parece tão distante é, no entanto, o Senhor misericordioso que Israel sempre experimentou na sua história. O povo ao qual o orante pertence foi objecto do amor de Deus, e pode dar testemunho da sua fidelidade. A começar pelos Patriarcas, e depois no Egito e durante a longa peregrinação pelo deserto, na permanência na terra prometida em contacto com populações agressivas e inimigas, até ao obscurecimento do exílio, toda a história bíblica foi uma história de clamores de ajuda da parte do povo e de respostas salvíficas da parte de Deus. E o Salmista faz referência à fé inabalável dos seus Pais, que ‘confiaram’ — esta palavra é repetida três vezes — sem jamais permanecer confundidos. Agora, no entanto, parece que esta série de invocações confiantes e de respostas divinas se interrompeu; a situação do Salmista parece desmentir toda a história da salvação, tornando ainda mais dolorosa a realidade presente.

Mas Deus não pode desmentir-se, e eis então que a oração volta a descrever a situação penosa do orante, para induzir o Senhor a ter piedade e a intervir, como sempre tinha feito no passado. O Salmista define-se ‘um verme, não um homem, o opróbrio de todos e a abjecção da plebe’ (v. 7), é escarnecido, zombado (cf. v. 8) e ferido precisamente na fé : ‘Confiou no Senhor, que Ele o livre, que o salve, se o ama’ (v. 9), dizem. Sob os golpes ultrajantes da ironia e do desprezo, parece quase que o perseguido perde as suas conotações humanas, como o Servo sofredor delineado no Livro de Isaías (cf. Is 52, 14; 53, 2b-3). E como o justo oprimido, do Livro da Sabedoria (cf. 2, 12-20), ou como Jesus no Calvário (cf. Mt 27, 39-43), o Salmista vê posta em dúvida a própria relação com o seu Senhor, na evidência cruel e sarcástica daquilo que o faz sofrer : o silêncio de Deus, a sua aparente ausência. E no entanto, Deus esteve presente na existência do orante com uma proximidade e uma ternura inquestionáveis. O Salmista recorda-o ao Senhor : ‘Na verdade, Vós me tirastes do ventre materno, confiastes-me aos seios de minha mãe. Pertenço-vos desde o ventre materno’ (vv. 10-11a). O Senhor é o Deus da vida, que faz nascer e acolher o recém-nascido, e cuida dele com carinho paterno. E se antes recordara a fidelidade de Deus na história do povo, agora o orante volta a evocar a própria história pessoal de relação com o Senhor, remontando ao momento particularmente significativo do início da sua vida. E ali, não obstante a desolação do presente, o Salmista reconhece uma proximidade e um amor divinos tão radicais que agora pode exclamar, numa confissão cheia de fé e geradora de esperança : ‘Desde o seio de minha mãe, Vós sois o meu Deus’ (v. 11b).

Agora, a lamentação torna-se uma súplica intensa : ‘Não vos afasteis de mim, porque estou atribulado; não há quem me ajude’ (v. 12). A única proximidade que o Salmista sente e que o amedronta é a dos seus inimigos. Portanto, é necessário que Deus se aproxime e que o socorra, porque os inimigos circundam e rodeiam o orante, e são como touros poderosos, como leões que abrem as fauces para rugir e despedaçar (cf. vv. 13-14). A angústia altera a percepção do perigo, aumentando-o. Os adversários parecem invencíveis, tornaram-se animais ferozes e extremamente perigosos, enquanto o Salmista é como um pequeno verme, impotente, sem qualquer defesa. Mas estas imagens utilizadas no Salmo servem também para dizer que quando o homem se torna brutal e agride o irmão, algo de animalesco prevalece sobre ele, que parece perder qualquer semblante humano; a violência tem sempre em si algo de bestial, e só a intervenção salvífica de Deus pode restituir o homem à sua humanidade. Agora, para o Salmista, objecto de uma agressão tão feroz, parece que não existe mais salvação, e a morte começa a tomar posse dele : ‘Sou como água que se derrama, todos os meus ossos se desconjuntam [...] A minha garganta secou-se como barro cozido; a minha língua pegou-se ao meu paladar [...] repartem entre si as minhas vestes, e lançam sorte sobre a minha túnica’ (vv. 15.16.19). Com imagens dramáticas, que voltamos a encontrar nas narrações da Paixão de Cristo, descreve-se a decomposição do corpo do condenado, o calor insuportável que atormenta o moribundo e que encontra eco no pedido de Jesus : ‘Tenho sede’ (cf. Jo 19, 28), para chegar ao gesto definitivo dos algozes que, como os soldados aos pés da Cruz, repartem entre si as vestes da vítima, já considerada morta (cf. Mt 27, 35; Mc 15, 24; Lc 23, 34; Jo 19, 23-24).

Eis então, imperioso, novamente o pedido de socorro : ‘Mas Vós, Senhor, não vos afasteis de mim; sois o meu auxílio, apressai-vos a ajudar-me [...] Salvai-me!’ (vv. 20.22a). Trata-se de um grito que descerra os céus, porque proclama uma fé, uma certeza que vai mais além de toda a dúvida, de toda a escuridão e de toda a desolação. E a lamentação transforma-se, deixando espaço ao louvor no acolhimento da salvação : ‘Vós respondestes-me. Então, anunciarei o vosso Nome aos meus irmãos, e louvar-vos-ei no meio da assembleia’ (vv. 22c-23). Assim, o Salmo abre-se à ação de graças, ao grande hino final que abrange todo o povo, os fiéis do Senhor, a assembleia litúrgica e as gerações vindouras (cf. vv. 24-32). O Senhor acorreu em ajuda, salvou o pobre e mostrou o seu rosto de misericórdia. Morte e vida cruzaram-se num mistério inseparável, e a vida triunfou; o Deus da salvação manifestou-se como Senhor incontestado, que todos os confins da terra celebrarão e diante do qual todas as famílias dos povos se prostrarão. É a vitória da fé, que pode transformar a morte em dom da vida, o abismo da dor em fonte de esperança.

Caríssimos irmãos e irmãs, este Salmo levou-nos ao Gólgota, aos pés da Cruz de Jesus, para reviver a sua paixão e compartilhar a alegria fecunda da Ressurreição. Portanto, deixemo-nos invadir pela luz do mistério pascal, mesmo na aparente ausência de Deus, também no silêncio de Deus e, como os discípulos de Emaús, aprendamos a discernir a verdadeira realidade, para além das aparências, reconhecendo o caminho da exaltação precisamente na humilhação, e a plena manifestação da vida na morte, na cruz. Assim, depositando toda a nossa confiança e a nossa esperança em Deus Pai, em cada angústia também nós O poderemos suplicar com fé, e o nosso grito de ajuda transformar-se-á em cântico de louvor.’


Fonte :
* Artigo na íntegra de
http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/audiences/2011/documents/hf_ben-xvi_aud_20110914_po.html


sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Exaltação da Santa Cruz

p/ Maria Vanda A, silva
(Ir. Ma. Silvia - obl.osb-sp)






                                                       " Mysterium Crucis"
                                                             Henri de Lubac


                                Qualquer que seja  o dom[inio aonde a sua reflexão o levou, o cristão é sempre reconduzido, como por um peso natural, à contemplação da Cruz.

                                 Todo o mistério do Cristo é um mistério de ressurreiçào, mas taambém um mistério de morte. Um não vai sem o outro, e uma mesma palavra os exprime: Páscoa.  Páscoa é a "passagem". Alquimia de todo ser, separação de alguém consigo mesmo, a qual ninguém pode ter a pretensão de escapar, Negação de todos os valores naturais em seu ser natural, renúncia àquilo mesmo pelo qual o indivíduo se tinha ultrapassado.

                                 Por mais autêntica e pura que seja a visão de unidade que inspira e orienta a atividade do homem, ela deve, portanto, começar por desaparecer, se quiser tornar-se realidade. A grande sombra da cruz deve recobrí-la

                                 A humanidade não se unirá, senão renunciando a tornar-se a si mesmo como fim. No fundo, o homem não quer e não ama a humanidade, senão segundo o mesmo movimento natural em que ele se quer e se ama a si mesmo.  Ora, Deus é essencialmente Aquele que não  admite partilha. Aquele que devemos amar unicamente, sob pena de não o amar E se é verdade  que ninguém amará a humanidade por ela mesma, e não com amor ainda egoísta, senão à medida em que a ama em Deus unicamente amado, esta verdade não nos aparece de início tão evidente, que ela possa suprimir a realidade do sacrifício. O humanismo cristão dever ser um humanismo convertido. De nenhum amor natural passamos, sem mais nem menos, ao amor sobre natural. é preciso que a gente se perca para se reencontrar. Dialética espiritual cujo rigor se impõe à humanidade e a cada indivíduo, isto é, ao meu amor do homem e dos homens e ao meu amor por mim mesmo.  Lei do "êxodo", lei do "êxtase".  Se ninguém deve evadir-se da humanidade, a humanidade inteira deve morrer a si mesma em cada um dos seus membros, para, assim, viver, transfigurada em Deus. Não há fraternidade definitiva, senão numa comum Adoração. "A glória de Deus é o homem vivo"- mas o homem não tem acesso à Vida na única sociedade total capaz de existir, senão pelo "só a Deus a glória".  Tal é a Páscoa universal, que prepara a Cidade de Deus. Pelo Cristo mortoo na Cruz, a humanidade que ele trazia inteira em si, se renuncia e morre.

                               Mas este mistério é mais profundo ainda. Aquele que carregava em si todos os homens, estava abandonado de todos. O Homem universal morreu só. Plenitude da Kênose, isto é, do "aniquilamento", e perfeição do sacrifício. Era necessário esse abandono - e até esse abandono do Pai - para  realizar a reunião.

                               Mistério de solidão e mistério de dilaceramento, sinal único da reunião e da unidade.  Espada sagrada, que vai até a separar a alma do espírito, mas para aí fazer penetrar a Vida Universal: "Ó Tu, que és só entre os sós, e que és tudo em todos".  "Pelo madeiro da Cruz, conclui S. Irineu, a obra do Verbo de Deus se tornou manifesta a todos, suas mãos ali se estenderam para reunir todos os homens. Duas mãos estendias porque há dois povos disperso sobre a terra. Uma só Cabeça no centro, porque há um só Deus acima de todos, no meio de todos e em todos".


                                                                            "In  Catholicisme, Aubier, pg.322-324".
                                         

quarta-feira, 25 de abril de 2012

A Cruz, Sinal dos Cristãos

  Por Maria Vanda (Ir. Maria Silvia, Obl. OSB)


            Este artigo foi gentilmente cedido por Dom João Evangelista Kovas, OSB,
monge beneditino do Mosteiro de São Bento de São Paulo.

                     Em muitos lugares deste nosso imenso Brasil, encontramos uma grande variedade de representações artísticas da cruz de Jesus. Assim que a vemos, logo reconhecemos nela um sinal cristão dos mais fortes. Quando vemos a cruz ostentada sobre o peito de uma pessoa, ela nos indica sua consagração pessoal a Cristo; quando ela alteia o cimo de uma torre, reconhecemos que aquela edificação é uma igreja cristã; quando ela está entronizada em um recinto, é invocado sobre nós o sentimento de proteção divina e de profundo respeito pelas pessoas que ali estão presentes. O que faz da cruz um sinal tão forte para os cristãos, e mesmo para quem não é cristão, um sinal especial de respeito?

                  No dia 14 de setembro, celebramos o dia da Exaltação da Santa Cruz. Uma festa do calendário litúrgico que nos lembra o significado maior da cruz de Cristo.
                        
                   Antes de tudo ela é um sinal, um sinal eficaz de salvação. Por isso, merece ser lembrado e celebrado na liturgia.

                  É conhecida a história do imperador romano Constantino no início do século IV. Certa noite, ele teve um sonho, no qual visualizava a cruz dos cristãos e ouvia uma voz que lhe dizia: “com esse sinal vencerás” (in hoc signo vinces). Ele sabia que se tratava da batalha que ele travaria contras as legiões romanas que se opunham à sua sucessão ao trono. No dia seguinte, ele ordena que os escudos de seus guerreiros fossem pintados com o sinal da cruz. Eles partiram para a batalha e venceram. Sua mãe Santa Helena alguns anos mais tarde vai à Terra Santa juntamente com uma comitiva de peritos, com o intuito de localizar os lugares santos, ou seja, as localidades onde Jesus nasceu, realizou seus mais celebres feitos, foi morto e sepultado. Até hoje é reconhecida a precisão com que Helena e seus peritos localizaram tais lugares. Dentre suas façanhas na Terra Santa, está a localização de uma cruz romana, a qual foi atribuída ser o objeto de suplício de Jesus Cristo. É difícil atribuir-lhe autenticidade histórica, porém o fato foi significativo, despertando ainda mais os fiéis cristãos ao reconhecimento da importância da cruz, como já salientavam amplamente as Sagradas Escrituras. A partir desse fato, a celebração da Exaltação da Cruz não tardou a entrar no calendário litúrgico.

                   A história acima narrada ilustra algo do significado da cruz de Jesus. Paulo diz à comunidade dos coríntios que ele não anunciou a sabedoria segundo a filosofia dos gregos, nem os grandes sinais de Deus segundo a piedade judaica, mas Cristo crucificado: “loucura para os gregos e escândalo para os judeus” (I Cor 1,23).

                  O Cristo crucificado é a expressão maior da sabedoria de Deus e o maior sinal de Deus para a humanidade. Em sua cruz, Jesus “crucifica” todos os procedimentos embusteiros do mundo: sua injustiça, seu apego às aparências falsas, sua segurança nas riquezas materiais.

                  A denúncia da cruz de Jesus é, ao mesmo tempo, denúncia do pecado do mundo e anúncio do amor de Deus em favor de todos aqueles que desejam viver conforme a justiça de Deus. Para nós cristãos, a cruz é um sinal eficaz a nos lembrar que não queremos fazer parte das obras desse mundo mundano e do príncipe desse mundo, o demônio.

                  Mas, livres do pecado, vivemos na alegria dos filhos de Deus, os quais sabem separar o bem do mal, ficar com o bem e renunciar ao mal. Assumimos a missão com Jesus de promover a justiça e a paz, desterrar toda injustiça e abrir o caminho para a verdadeira caridade. Continuar a anunciar o Cristo crucificado, escândalo para muitos, porém salvação para todos os que reconhecem em Jesus a maior dádiva de Deus Pai para todos os povos.

                   Por isso, não nos enganemos! A cruz é sinal de suplício de Jesus, sua morte injusta. Isso é o resultado das ações dos homens, quando a vaidade e a falta de amor mandam em nós. Contudo, aqueles que reconhecem e meditam no sinal da cruz, descobrem o sinal da ação silenciosa de Deus a nos redimir de todo esse mal.

                   Aqueles que impõem a cruz sobre si são merecedores de participar da ressurreição de Jesus: poder salvador de Deus em favor de todos os seres humanos.