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terça-feira, 17 de novembro de 2020

Informe sobre cardeal predador sexual assombra reunião do episcopado dos EUA

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)        

 
*Artigo publicado pela Agence France-Press (AFP)


‘O relatório que documenta como um predador sexual – o cardeal americano expulso do sacerdócio Theodore McCarrick – conseguiu fazer uma carreira de prestígio, revela a indiferença da hierarquia católica para com os jovens padres agredidos e é um desastre para a Igreja americana que se reúne nesta segunda-feira (16).

Divulgado na semana passada pela Santa Sé, o relatório de 450 páginas ressoa como uma advertência à Conferência Americana dos Bispos Católicos, que se reunirá por videoconferência até terça-feira.

O documento detalha uma série de denúncias de jovens padres e seminaristas adultos submetidos à violência sexual, crime que vários bispos dos EUA não levaram a sério, nem abriram uma investigação.

No contexto atual de vigilância extrema, esses bispos seriam afastados’, disse o padre americano James Martin, editorialista da revista jesuíta ‘América’.

O relatório alerta o episcopado dos Estados Unidos de que sua correspondência pode ser tornada pública no futuro’, acrescenta, referindo-se ao fato – inédito – de a Santa Sé ter reproduzido correspondências na íntegra.

O documento também é uma viagem pelo processo de seleção de bispos, uma máquina para evitar escândalos públicos, onde prevalece a defesa da hierarquia sobre a de um padre, ou de um fiel.

Nele, o papa Francisco usa o termo ‘clericalismo’ para denunciar o que é, segundo ele, a primeira causa dos abusos sexuais.

Recentemente, o movimento MeToo contribuiu para falar de abusos sexuais contra adultos de todas as esferas’, apontou o padre alemão Hans Zollner, assessor do papa Francisco para a proteção de menores contra os abusos.

O professor universitário e psicoterapeuta recorda que o novo arsenal legislativo contra os abusos adotado pela Santa Sé há dois anos também afeta os ‘adultos vulneráveis’.

Já Theodore McCarrick, nascido em 1930 e que se tornou bispo em Nova York em 1977, duas vezes promovido em Nova Jersey (em Metuchen, em 1981, e em Newark, em 1986), superou sem problemas as supostas investigações exigidas por cada nomeação.

Convites para sua cama

Já havia rumores sobre seu ‘modus operandi’ em Nova Jersey. Ele organizava encontros nos finais de semana em sua casa no litoral com jovens seminaristas, ou padres, vários ao mesmo tempo. O bispo McCarrick então convidava um jovem para sua cama e exigia uma massagem nas costas antes de passar para o contato físico e sexual.

Vários jovens, com medo e intimidados por um homem que poderia prejudicar sua ordenação sacerdotal, denunciariam essas práticas à sua hierarquia nas décadas de 1980 e 1990.

Uma vez consagrado, um deles relata o ocorrido, por exemplo, ao monsenhor Edward Hugues, que está à frente da diocese de Metuchen. O prelado fica vermelho, promete que fará algo, mas não voltará a tocar no assunto.

Esse mesmo bispo receberá outras vítimas, inclusive um brasileiro que afirma ter sido agredido três vezes. O monsenhor lhe teria recomendado perdoar ‘pelo bem da Igreja’.

Vários bispos testemunham a mão de McCarrick pousada, sob a mesa de um restaurante, em um jovem padre visivelmente aterrorizado. Enojados, muitos simplesmente deixam o local.

No início da década de 1990, o prelado também é mencionado em cartas anônimas enviadas ao embaixador do Vaticano, ou a cardeais americanos.

É sempre a palavra de McCarrick que vence’, lamenta James Martin, ‘horrorizado’ por um relatório que mostra os prelados ‘muito desconfortáveis com questões sexuais e temerosos do poder’.

Queda após denúncia de um menor

Será preciso esperar a denúncia, em 2017, de uma primeira vítima ‘menor’ à época dos fatos (anos 1970), para afastar o influente cardeal aposentado da Igreja.

O fato de compartilhar sua cama com homens, em uma dinâmica de poder, não deveria ter sido o suficiente para derrubá-lo?’, surpreende-se Martin, que descreve uma ‘vergonha imensa para a Igreja americana’.

O cardeal John O'Connor, arcebispo de Nova York, finalmente enviará uma lista de suspeitas, com ares de escândalo, em 1999, para Roma. A pedido de João Paulo II, quatro bispos são interrogados. Eles confirmam que McCarrick compartilhou sua cama, mas omitem algumas vítimas.

McCarrick foi nomeado arcebispo de Washington em 2000 por decisão pessoal do papa polonês, convencido por uma carta do hábil predador. Este novo erro, no nível mais alto, constitui a revelação mais explosiva.

Muitas pessoas intervieram na nomeação de McCarrick, advertidos, e escreveram ao papa’, conta o padre Zollner, que defende a criação de um ‘grupo de assessores independentes’ que seja, no futuro, ‘um antídoto saudável para o clericalismo’.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1483294/2020/11/informe-sobre-cardeal-predador-sexual-assombra-reuniao-do-episcopado-dos-eua/

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Tráfico : aliciamento de menores em debate no Vaticano

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)



‘O tráfico de seres humanos volta a ser tema de debate no Vaticano.

Depois da recente Plenária da Pontifícia Academia das Ciências Sociais dedicada ao assunto, especialistas e autoridades se reúnem nesta segunda-feira (27/04) para analisar o envolvimento de menores no tráfico. O evento foi organizado em parceria com a Embaixada da Suécia junto à Santa Sé, com a participação da Rainha Silvia.


A injustiça na raiz do problema

Em seu pronunciamento, o Presidente do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz, Cardeal Peter Turkson, recordou que as crianças e os jovens continuam sendo vítimas de inúmeras formas de violência e escravidão, e são traficados para vários fins. Este fenômeno persiste não obstante programas e estratégias de ação nacionais e internacionais.

Isto porque persistem pobreza e subdesenvolvimento, aliados à falta de acesso à educação e à escassa oportunidade de trabalho. Além do mais, notou o Cardeal ganês, os conflitos armados e outras situações de violência e terrorismo são terreno fértil para o tráfico de menores. O resultado deste cenário é o envolvimento de crianças e adolescentes em prostituição, pornografia, drogas, casamentos forçados, recrutamento de soldados e trabalho escravo.

O Cardeal Turkson ressaltou os esforços da Santa Sé em criar redes para denunciar e debelar o tráfico e fez votos de que este Seminário siga o caminho já empreendido.


Tráfico de órgãos

Um aspecto em debate é também o do tráfico de órgãos, em que os menores também são envolvidos. O Programa Brasileiro contatou a Dra. Nancy Scheper-Hughes, especialista no assunto. Professora de Antropologia da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, a Dra. Nancy também morou no Brasil, um dos países exportadores de órgãos.

Ela afirma que se trata de um crime em evolução. Antigamente, quadrilhas internacionais movimentavam grupos de até 40 homens de um país a outro para a retirada dos órgãos. Hoje, o fenômeno se tornou mais sofisticado, sem que o dono do órgão traficado tenha que sair do país e, principalmente, de acordo com a demanda, para não atrair a atenção das autoridades.

  
Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.news.va/pt/news/trafico-aliciamento-de-menores-em-debate-no-vatica


quarta-feira, 25 de abril de 2012

A Cruz, Sinal dos Cristãos

  Por Maria Vanda (Ir. Maria Silvia, Obl. OSB)


            Este artigo foi gentilmente cedido por Dom João Evangelista Kovas, OSB,
monge beneditino do Mosteiro de São Bento de São Paulo.

                     Em muitos lugares deste nosso imenso Brasil, encontramos uma grande variedade de representações artísticas da cruz de Jesus. Assim que a vemos, logo reconhecemos nela um sinal cristão dos mais fortes. Quando vemos a cruz ostentada sobre o peito de uma pessoa, ela nos indica sua consagração pessoal a Cristo; quando ela alteia o cimo de uma torre, reconhecemos que aquela edificação é uma igreja cristã; quando ela está entronizada em um recinto, é invocado sobre nós o sentimento de proteção divina e de profundo respeito pelas pessoas que ali estão presentes. O que faz da cruz um sinal tão forte para os cristãos, e mesmo para quem não é cristão, um sinal especial de respeito?

                  No dia 14 de setembro, celebramos o dia da Exaltação da Santa Cruz. Uma festa do calendário litúrgico que nos lembra o significado maior da cruz de Cristo.
                        
                   Antes de tudo ela é um sinal, um sinal eficaz de salvação. Por isso, merece ser lembrado e celebrado na liturgia.

                  É conhecida a história do imperador romano Constantino no início do século IV. Certa noite, ele teve um sonho, no qual visualizava a cruz dos cristãos e ouvia uma voz que lhe dizia: “com esse sinal vencerás” (in hoc signo vinces). Ele sabia que se tratava da batalha que ele travaria contras as legiões romanas que se opunham à sua sucessão ao trono. No dia seguinte, ele ordena que os escudos de seus guerreiros fossem pintados com o sinal da cruz. Eles partiram para a batalha e venceram. Sua mãe Santa Helena alguns anos mais tarde vai à Terra Santa juntamente com uma comitiva de peritos, com o intuito de localizar os lugares santos, ou seja, as localidades onde Jesus nasceu, realizou seus mais celebres feitos, foi morto e sepultado. Até hoje é reconhecida a precisão com que Helena e seus peritos localizaram tais lugares. Dentre suas façanhas na Terra Santa, está a localização de uma cruz romana, a qual foi atribuída ser o objeto de suplício de Jesus Cristo. É difícil atribuir-lhe autenticidade histórica, porém o fato foi significativo, despertando ainda mais os fiéis cristãos ao reconhecimento da importância da cruz, como já salientavam amplamente as Sagradas Escrituras. A partir desse fato, a celebração da Exaltação da Cruz não tardou a entrar no calendário litúrgico.

                   A história acima narrada ilustra algo do significado da cruz de Jesus. Paulo diz à comunidade dos coríntios que ele não anunciou a sabedoria segundo a filosofia dos gregos, nem os grandes sinais de Deus segundo a piedade judaica, mas Cristo crucificado: “loucura para os gregos e escândalo para os judeus” (I Cor 1,23).

                  O Cristo crucificado é a expressão maior da sabedoria de Deus e o maior sinal de Deus para a humanidade. Em sua cruz, Jesus “crucifica” todos os procedimentos embusteiros do mundo: sua injustiça, seu apego às aparências falsas, sua segurança nas riquezas materiais.

                  A denúncia da cruz de Jesus é, ao mesmo tempo, denúncia do pecado do mundo e anúncio do amor de Deus em favor de todos aqueles que desejam viver conforme a justiça de Deus. Para nós cristãos, a cruz é um sinal eficaz a nos lembrar que não queremos fazer parte das obras desse mundo mundano e do príncipe desse mundo, o demônio.

                  Mas, livres do pecado, vivemos na alegria dos filhos de Deus, os quais sabem separar o bem do mal, ficar com o bem e renunciar ao mal. Assumimos a missão com Jesus de promover a justiça e a paz, desterrar toda injustiça e abrir o caminho para a verdadeira caridade. Continuar a anunciar o Cristo crucificado, escândalo para muitos, porém salvação para todos os que reconhecem em Jesus a maior dádiva de Deus Pai para todos os povos.

                   Por isso, não nos enganemos! A cruz é sinal de suplício de Jesus, sua morte injusta. Isso é o resultado das ações dos homens, quando a vaidade e a falta de amor mandam em nós. Contudo, aqueles que reconhecem e meditam no sinal da cruz, descobrem o sinal da ação silenciosa de Deus a nos redimir de todo esse mal.

                   Aqueles que impõem a cruz sobre si são merecedores de participar da ressurreição de Jesus: poder salvador de Deus em favor de todos os seres humanos.