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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

O maior mal na Igreja é o 'mundanismo espiritual', diz o Papa Francisco

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

 *Artigo de Elise Ann Allen

Tradução  : Ramón Lara


Em uma nova entrevista a uma rede de transmissão italiana, o Papa Francisco alertou contra males espirituais, como fofocas e mundanismo espiritual, dizendo que este último causa o maior dano à Igreja porque alimenta o clericalismo.

Questionado sobre sua visão para o futuro da Igreja Católica e o maior problema com que ela enfrenta hoje, o papa disse que imagina a Igreja futura como foi descrita pelo Papa Paulo VI em sua encíclica de 1975, Evangelii Nuntiandi, como ‘uma Igreja em peregrinação.’

Quanto ao maior problema da Igreja, Francisco disse que ‘o maior mal da Igreja é o mundanismo espiritual. É a pior coisa que pode acontecer à Igreja, pior do que os papas libertinos’, muitos dos quais eram culpados de várias formas de corrupção.

O mundanismo espiritual, disse o papa, ‘faz crescer o clericalismo’, e o clericalismo, disse, é ‘uma perversão da Igreja’ que leva a diferentes formas de ‘rigidez’.

O clericalismo gera rigidez, e sob toda rigidez há algo pútrido. O mundanismo espiritual gera o clericalismo que leva a posições rígidas e ideológicas, onde a ideologia toma o lugar do Evangelho’, apontou.

O Papa Francisco falou durante uma entrevista gravada que foi exibida durante o programa Che Tempo Che Fa da emissora estatal italiana RaiTre, exibido na noite de domingo.

Na entrevista, o papa abordou vários tópicos sobre os quais se manifestou abertamente, incluindo os migrantes, o meio ambiente, os perigos da fofoca e a proximidade com aqueles que sofrem.

A nível pessoal, admitiu ao apresentador Fabio Fazio que o seu primeiro trabalho de sonho de infância foi ser açougueiro, e que a sua música favorita são os clássicos e o tango, que também dançou quando jovem.

Brincando sobre ser portenho, que significa ‘pessoa da cidade portuária’ geralmente se referindo a alguém de Buenos Aires, disse que ‘um portenho que não dança tango não é um portenho’.

Questionado sobre os 12 migrantes encontrados recentemente congelados até a morte perto da fronteira Turquia-Grécia, Francisco disse que isso é ‘um sinal da cultura da indiferença’, que é uma doença da qual ‘estamos padecendo’.

Esta indiferença, disse, começa com o ‘problema da categorização’ e o fato de, para muitos, ‘as crianças, os migrantes, os pobres, os que não têm o que comer, não contam, são as categorias inferiores, eles não estão em primeiro lugar.

Na imaginação universal o que conta é a guerra. Com um ano sem fabricar armas, o mundo poderia ser alimentado e educado livremente, mas isso está em segundo lugar’, disse, e instou os países europeus a fazer uma avaliação honesta e um compromisso de quantos migrantes podem receber.

A Itália e outros países precisam de pessoas’, disse o papa, acrescentando que ‘um migrante integrado ajuda esse país’.

Sobre o meio ambiente, o papa lamentou que a humanidade muitas vezes se veja como ‘onipotente diante da terra’.

Devemos cuidar da Mãe Terra’, apontou, lembrando que o pescador de San Benedetto del Tronto uma vez o procurou dizendo que havia limpado várias toneladas de plástico daquela parte do mar.

Jogar plástico no mar é criminoso, mata’, disse o Papa Francisco.

O Santo Padre exortou os fiéis a estarem perto daqueles que sofrem, e novamente expressou tristeza pelo sofrimento das crianças, que é algo que disse que pediu a Deus, mas ainda não consegue entender. Sem resposta para uma pergunta tão preocupante, Francisco falou que a única coisa a fazer neste ponto ‘é sofrer com eles’.

Sobre o tema da fofoca, que muitas vezes condenou e exortou os fiéis a se absterem, o papa disse que é aqui que começam as divisões e até as guerras, enraizadas em uma ‘agressão destrutiva’ tão característica da sociedade moderna.

‘A agressão destrutiva é um problema social’, disse, observando que a agressão social tem sido amplamente estudada por psicólogos.

O Papa Francisco se absteve de fazer mais comentários sobre o assunto, por não ser um especialista, mas apontou para o crescente número de suicídios de jovens e o problema do bullying nas escolas, seja online ou pessoalmente, dizendo que ‘a agressão deve ser educada’.

Existe uma agressão positiva e destrutiva’, disse. ‘Começa com uma coisinha, com a língua, com a fofoca. Fofocar em famílias, entre pessoas, destrói a identidade. Não à fofoca, se você tem algo contra o outro, ou você conta ou vai contar na cara deles, é preciso coragem.

Perguntado se há algo pelo qual uma pessoa não pode ser perdoada, o papa disse que não, observando que Deus deu à humanidade o livre arbítrio e que cada pessoa é capaz de fazer o bem ou o mal.

Somos livres e mestres para tomar nossas próprias decisões, mesmo as erradas’, apontou, mas enfatizou que ‘a capacidade de ser perdoado é um direito humano, todos temos o direito de ser perdoados se pedirmos perdão’.

O Papa Francisco na entrevista também falou sobre o que significa rezar, suas amizades, e disse que não assiste TV.

Sobre seus amigos, o papa disse que tem ‘poucos amigos, mas verdadeiros. Eu gosto de estar com eles. Eu preciso de amigos. Por isso não morei no palácio pontifício’.

Francisco também disse que seus antecessores ‘eram santos’, mas brincou que ‘não sou tão santo assim, não poderia ter feito isso… gosto de viver com as pessoas, é mais fácil’.'


Fonte : *Artigo na íntegra

https://domtotal.com/noticia/1564200/2022/02/o-maior-mal-na-igreja-e-o-mundanismo-espiritual-diz-o-papa-francisco/

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Os bobos da corte da Igreja

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
'Buffone di Corte', de Cesare Augusto Detti

*Artigo de Mirticeli Medeiros,

jornalista e mestre em História da Igreja, uma das poucas brasileiras

credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa da Santa Sé


‘O sínodo sobre a sinodalidade, que o Papa Francisco convocou, é a 'prova de fogo'. Através de uma assembleia única, que envolve representantes da Igreja no mundo todo (clero, religiosos e laicado), o pontífice conseguirá averiguar se seu espírito de reforma conseguiu chegar aos centros e às periferias.

Embora o santo padre tenha focado numa 'reforma da Cúria Romana', a verdade é que a sua intenção era fazê-la urbi et orbi - de Roma para o mundo - desde o início. Do contrário, não faria sentido falar de uma ‘reforma do coração’ ou promover uma revolução pastoral a partir das estruturas.

A ideia, na verdade, foi concebida universalmente. É mais uma tentativa de abater o clericalismo enraizado nas paróquias, nas comunidades e nas dioceses que, na visão de Francisco, é a raiz de todos os males. E não estamos falando só de padres que instrumentalizam a batina, mas também de leigos clericalizados, que se sentem os 'alfandegários da fé'.

Mas o que impediria o sucesso desse sínodo? Existe uma maioria esmagadora contrária a esse projeto? A verdade é que não. No entanto, existe uma minoria, muito barulhenta, que consegue ocupar os espaços virtuais para compartilhar suas ideias toscas sobre uma realidade que sequer dominam.

São os bobos da corte da Igreja, que fazem piruetas nas redes sociais para agradar seu público alienado. Se sentem os príncipes da Igreja, através de suas posturas soberbas e discursos pedantes, mas não passam de bufões de um império católico caricaturado. Em vez de roupas coloridas, são os efeitos visuais e o grande investimento em aparato técnico para a produção de vídeos (de)formativos que conseguem maquiar muito bem a ignorância.

O problema é que tentam frear um Papa o qual ninguém consegue parar mais. De maneira excepcional, Francisco já colhe os frutos da sua ousadia, à revelia de todas essas investidas para acabar com seu pontificado. O sínodo é a coroação de algo que já deu certo. O choro é livre. O riso também (no nosso caso).

Os próximos três anos, tempo de duração desse sínodo, serão cruciais - tanto para a Igreja quanto para os católicos em geral.

Francisco aposta muito nessa assembleia e acredita que ela será um meio para movimentar a Igreja, de modo que ela possa refletir sobre como vem sendo aplicado o Concílio Vaticano II, para além das ideologias ou das interpretações 'partidárias'. E quem ainda estiver querendo 'anular' o concílio vai ter que decidir : ou se une a Roma de vez ou vai ter que procurar uma outra instituição fora da Igreja Católica.

Francisco realiza uma 'revolução institucional' que dificilmente seus sucessores conseguirão impedir. O papel do Papa, do bispo, do padre e dos leigos é revisto. E não é uma revolução, no melhor sentido da palavra, que visa acabar com a hierarquia, mas impulsiona cada membro da Igreja a viver da forma mais coerente possível, segundo o que é próprio da sua função. Enxergar um cargo na perspectiva do serviço, não do status.

A Igreja sequer foi concebida como uma monarquia. Isso é resquício da Idade Média, que via no poder régio a forma de governo perfeita. Era a mentalidade da época e não podemos insistir nesse anacronismo.

O Concílio Vaticano II, ao reforçar a eclesiologia do povo de Deus, retorna à própria essência do catolicismo, das primeiras comunidades cristãs, da fé popular que sustentou gerações. Em outras palavras, foi uma tentativa de romper com aquele mundanismo institucional que transformou os padres em 'micromangements', os bispos em príncipes e o Papa num monarca, que antepunha essa função a de vigário de Cristo.

Mas, pelo jeito, esse é o modelo ideal de Igreja na cabeça dos bobos da corte. Muita 'teologia' e pouca caridade. Muita estética e falta de experiência concreta com o sagrado. Muito latim, mas pouco Jesus Cristo.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1554673/2021/12/os-bobos-da-corte-da-igreja/

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Informe sobre cardeal predador sexual assombra reunião do episcopado dos EUA

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)        

 
*Artigo publicado pela Agence France-Press (AFP)


‘O relatório que documenta como um predador sexual – o cardeal americano expulso do sacerdócio Theodore McCarrick – conseguiu fazer uma carreira de prestígio, revela a indiferença da hierarquia católica para com os jovens padres agredidos e é um desastre para a Igreja americana que se reúne nesta segunda-feira (16).

Divulgado na semana passada pela Santa Sé, o relatório de 450 páginas ressoa como uma advertência à Conferência Americana dos Bispos Católicos, que se reunirá por videoconferência até terça-feira.

O documento detalha uma série de denúncias de jovens padres e seminaristas adultos submetidos à violência sexual, crime que vários bispos dos EUA não levaram a sério, nem abriram uma investigação.

No contexto atual de vigilância extrema, esses bispos seriam afastados’, disse o padre americano James Martin, editorialista da revista jesuíta ‘América’.

O relatório alerta o episcopado dos Estados Unidos de que sua correspondência pode ser tornada pública no futuro’, acrescenta, referindo-se ao fato – inédito – de a Santa Sé ter reproduzido correspondências na íntegra.

O documento também é uma viagem pelo processo de seleção de bispos, uma máquina para evitar escândalos públicos, onde prevalece a defesa da hierarquia sobre a de um padre, ou de um fiel.

Nele, o papa Francisco usa o termo ‘clericalismo’ para denunciar o que é, segundo ele, a primeira causa dos abusos sexuais.

Recentemente, o movimento MeToo contribuiu para falar de abusos sexuais contra adultos de todas as esferas’, apontou o padre alemão Hans Zollner, assessor do papa Francisco para a proteção de menores contra os abusos.

O professor universitário e psicoterapeuta recorda que o novo arsenal legislativo contra os abusos adotado pela Santa Sé há dois anos também afeta os ‘adultos vulneráveis’.

Já Theodore McCarrick, nascido em 1930 e que se tornou bispo em Nova York em 1977, duas vezes promovido em Nova Jersey (em Metuchen, em 1981, e em Newark, em 1986), superou sem problemas as supostas investigações exigidas por cada nomeação.

Convites para sua cama

Já havia rumores sobre seu ‘modus operandi’ em Nova Jersey. Ele organizava encontros nos finais de semana em sua casa no litoral com jovens seminaristas, ou padres, vários ao mesmo tempo. O bispo McCarrick então convidava um jovem para sua cama e exigia uma massagem nas costas antes de passar para o contato físico e sexual.

Vários jovens, com medo e intimidados por um homem que poderia prejudicar sua ordenação sacerdotal, denunciariam essas práticas à sua hierarquia nas décadas de 1980 e 1990.

Uma vez consagrado, um deles relata o ocorrido, por exemplo, ao monsenhor Edward Hugues, que está à frente da diocese de Metuchen. O prelado fica vermelho, promete que fará algo, mas não voltará a tocar no assunto.

Esse mesmo bispo receberá outras vítimas, inclusive um brasileiro que afirma ter sido agredido três vezes. O monsenhor lhe teria recomendado perdoar ‘pelo bem da Igreja’.

Vários bispos testemunham a mão de McCarrick pousada, sob a mesa de um restaurante, em um jovem padre visivelmente aterrorizado. Enojados, muitos simplesmente deixam o local.

No início da década de 1990, o prelado também é mencionado em cartas anônimas enviadas ao embaixador do Vaticano, ou a cardeais americanos.

É sempre a palavra de McCarrick que vence’, lamenta James Martin, ‘horrorizado’ por um relatório que mostra os prelados ‘muito desconfortáveis com questões sexuais e temerosos do poder’.

Queda após denúncia de um menor

Será preciso esperar a denúncia, em 2017, de uma primeira vítima ‘menor’ à época dos fatos (anos 1970), para afastar o influente cardeal aposentado da Igreja.

O fato de compartilhar sua cama com homens, em uma dinâmica de poder, não deveria ter sido o suficiente para derrubá-lo?’, surpreende-se Martin, que descreve uma ‘vergonha imensa para a Igreja americana’.

O cardeal John O'Connor, arcebispo de Nova York, finalmente enviará uma lista de suspeitas, com ares de escândalo, em 1999, para Roma. A pedido de João Paulo II, quatro bispos são interrogados. Eles confirmam que McCarrick compartilhou sua cama, mas omitem algumas vítimas.

McCarrick foi nomeado arcebispo de Washington em 2000 por decisão pessoal do papa polonês, convencido por uma carta do hábil predador. Este novo erro, no nível mais alto, constitui a revelação mais explosiva.

Muitas pessoas intervieram na nomeação de McCarrick, advertidos, e escreveram ao papa’, conta o padre Zollner, que defende a criação de um ‘grupo de assessores independentes’ que seja, no futuro, ‘um antídoto saudável para o clericalismo’.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1483294/2020/11/informe-sobre-cardeal-predador-sexual-assombra-reuniao-do-episcopado-dos-eua/

domingo, 15 de novembro de 2020

Francisco: 'o mestre de obras' de um novo tempo

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)        

Após a divulgação de dossiê sobre o ex-cardeal McCarrick, o mundo inteiro chega à conclusão que o clericalismo está mais vivo que nunca. É o grande desafio de Francisco.

*Artigo de Mirticeli Dias de Medeiros,

jornalista e mestre em História da Igreja, uma das poucas brasileiras

credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa da Santa Sé

 

‘Presenciamos, esta semana, um outro momento histórico. Sem dúvida, você deve ter visto esta frase se repetir várias vezes durante o pontificado de Francisco. O papa ‘da periferia’ faz história no centro da cristandade. E seus opositores não podem mais negar isso. Do contrário, ficará muito feio para eles. Esperneiam, como crianças mimadas, frente a um movimento de transformação que derruba os muros da indiferença, os salões faustosos da corte dos ‘perfeitos’ e as colunas tortas da contradição.

Francisco quer salvar a Igreja ‘das igrejas’ que foram construídas com argamassa partidária e ritualismo estéril. Ele quer destruir os palácios do moralismo que guardam toda sorte de coisa, menos uma religiosidade genuína. Está na hora do catolicismo de muitos voltar a ser cristão.

Militar contra Francisco é atacar ‘um de nós’. Um ‘nós’ feito de católicos, protestantes, ateus e tantas pessoas de boa vontade que reconhecem sua importância. Num mundo que carece de líderes de referência, já dizia o sociólogo Marcos Campos, Francisco se destaca por assumir o cajado do equilíbrio e da coerência em meio às águas turvas do populismo que invadem os átrios dos templos. É pontifex : a ponte que conduz, quem estiver disposto a atravessá-la, a uma vida com sentido, a uma espiritualidade com sentido.

Como ignorar as vítimas de abusos que foram silenciadas por líderes corrompidos, cujo drama foi escancarado pelo dossiê do ex-cardeal McCarrick, publicado esta semana?

Graças a Francisco, o público teve acesso à lista de crimes cometidos por alguém que, por muitos anos, comandou uma das arquidioceses mais importantes dos Estados Unidos e manchou, com sua conduta, as vestes púrpuras de colaborador do papa. Na era moderna, nenhum molestador dentro do catolicismo conseguiu chegar tão alto.

Mesmo sob suspeitas de cometer crimes sexuais, McCarrick conseguiu integrar o grupo seleto de membros da alta hierarquia católica. Foi beneficiado por uma série de acobertamentos feitos por seus colegas de episcopado. Por conta disso, teve força suficiente para burlar as leis rígidas que regem as nomeações episcopais. Mentiu ao papa João Paulo II, dizendo ‘nunca ter praticado sexo na vida nem com homem nem com mulher’. O papa polonês, considerando as denúncias contra ele infundadas, preferiu ficar com sua declaração de inocência. Ao considerar as suspeitas inconsistentes, deu a ele o barrete cardinalício, mesmo depois de ter sido alertado pelo cardeal John O'Connor, que previu a possibilidade de um escândalo mais à frente. Dito e feito.

O corporativismo eclesial, fruto do clericalismo que Francisco, desde o início do pontificado, combate, venceu nessa história. O papa argentino, há muito tempo, havia feito esse diagnóstico. Porém, para variar, foi ignorado e acusado de não se preocupar ‘com os interesses da instituição’. Quem se fecha para essa denúncia profética, comumente acha que Igreja é um principado intocável, o Estado Pontifício medieval que se alia à mentalidade deste mundo e promove disputas para garantir seu território.

Para Francisco, a Igreja são as nossas avós que nos ensinaram a rezar o terço. É feita de trabalhadores que agradecem a Deus pelo sustento de cada dia. Por mulheres que doaram suas vidas ‘pela causa do reino’ e não receberam nenhum reconhecimento. É formada por padres que, por ajudarem os pobres, foram chamados de ‘comunistas’ (pelo povo que não faz nem 1% do que eles fazem, mas passa o dia digitando ofensas e tratados de religiosidade vazia nas redes sociais). E tem também o velho sacerdote de uma paróquia de interior que, no cumprimento de suas tarefas diárias, usando uma batina surrada, mantém a fé das pessoas que não sabem pronunciar nenhuma palavra em latim, mas aprenderam a falar com Deus por causa de seus sermões.

Mais que gestos, reviravoltas pastorais e revolução comunicativa, o governo do papa argentino é feito de ousadia. O pontífice entra no jogo do perder para ganhar. Mesmo que, por um momento, a instituição receba golpes que põem em risco sua credibilidade, é o cristianismo quem vence. Francisco trabalha, a duras penas, para construir essa consciência : cristianismo é encontro com Deus e com o outro. Se estiver fora disso, é só uma confraria de homens e mulheres que discutem teologia. Ele manda o recado para aqueles que se acham santos demais, mas têm vidas que não passam de culto à religião do eu.

Você pode até não gostar do papa, mas negar que ele é necessário para este tempo, demonstra de que lado você resolveu ficar. O católico mais devoto deveria ser o primeiro a defender, com unhas e dentes, o seu próprio líder. É, no mínimo, incoerente assumir uma postura contrária. Tradicionalismo que afronta a Tradição (a de dois mil anos, que inclui o papa no pacote) é o que mais vemos por aí. Não passa de moda, esteticismo espiritual : não é a fé dos apóstolos.

Desde quando o papa assumiu o governo da Igreja, em 2013, deixou claro que não focaria nas questões de sempre. Sua missão era pôr ordem na casa. Também prometeu agir com transparência; porém, não imaginávamos que chegaria a tanto. Francisco revisita uma das páginas mais dolorosas da história da instituição sem medo de mostrar para todos onde estão as maçãs podres. Afirmação forte, não? Tão forte quanto verdadeira. Não pare, santo padre!’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1482851/2020/11/francisco-o-mestre-de-obras-de-um-novo-tempo/

sábado, 15 de junho de 2019

Confiança quebrada em um sistema clerical quebrado

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

E estado atual do sacerdócio e do episcopado parece estar em frangalhos.
*Artigo de Robert Mickens,
colunista da La Croix International
Tradução : Ramón Lara


‘‘Se você quer ser padre, minta!’ Isso era para ser uma piada em Mass appeal, uma comédia dramática escrita pelo dramaturgo católico americano Bill C. Davis. Encenada pela primeira vez em 1980, foi transformada em filme quatro anos depois.

Na versão para a tela, Jack Lemmon estrela no personagem do padre Tim Farley, um pastor popular de uma paróquia rica em Connecticut. Ele é um tipo de padre amigável e de bon vivant, cujas homilias são cuidadosamente planejadas para evitar desafiar ou perturbar seus generosos paroquianos.

O padre Farley dirige um Mercedes-Benz de último tipo, adora seu vinho e uísque e passa o dia na pista de corrida. Ele é ‘considerado um dos melhores padres’ da diocese.

Um dia, é convidado a ser mentor de Mark Dolson (Zeljko Ivanek), um jovem diácono altamente idealista, que corre o risco de ser impedido de ser ordenado sacerdote por não ter lidado bem com algumas situações no seminário. A principal ofensa de Mark é que ele defendeu fortemente dois seminaristas expulsos por um relacionamento homossexual suspeito.

O reitor do seminário (Charles Durning) suspeita que Mark também seja gay. Então, o padre Farley, que conta mentirinhas  ‘inocentes’ o tempo todo para ‘o bem de sua paróquia’, aconselha Mark evitar de contar a verdade sobre sua sexualidade para que ele possa se tornar um padre, algo que o jovem deseja com todo o seu ser. ‘Se você pode se dar ao luxo de não ser padre’, Farley o adverte – ‘diga a verdade. Mas se você quer ser padre, minta!

Mendicidade na casta clerical

Nos últimos meses, e até mesmo nestes últimos dias, essas linhas me vieram várias e várias vezes. De fato, somos tentados a alterá-las e dizer : ‘Se você quer ser um bispo e, especialmente, um cardeal, então minta’.

Os crimes sexuais perpetrados por padres e bispos, e o encobrimento criminal por membros de todas as classes do clero mostraram que não poucos homens nas Ordens Sagradas disseram mentiras. Alguns, como Theodore McCarrick, parecem ter construído uma carreira inteira baseada em não dizer a verdade, pelo menos não toda a verdade.

Especialmente naqueles países onde a ‘crise de abuso’ ainda está se desdobrando (ou seja, na maioria dos lugares), os católicos estão perplexos e indignados. Eles se perguntam : quanto mais de sujeira vai sair e mais quantos clérigos de alto escalão serão expostos como abusadores e mentirosos.

O último soco no estômago foi uma série de revelações sobre Michael Bransfield, o ex-bispo completamente desonrado da única diocese católica no pobre estado de West Virginia.

Washington Post publicou, em 5 de junho, uma reportagem mostrando que o bispo Bransfield, que está sendo investigado por ter assediado sexualmente padres e seminaristas, doou US$ 350 mil de fundos diocesanos em presentes a cardeais de alta patente e aos homens que supostamente assediava.

McCarrick, que foi fundamental na nomeação de Bransfield como bispo em 2004, foi um dos principais beneficiários da generosidade do bispo em desgraça. O ex-cardeal dirigiu a Arquidiocese de Washington, onde Bransfield serviu de 1980 a 2004 no Santuário Nacional da Imaculada Conceição.

Outros beneficiários dos generosos presentes do dinheiro de Bransfield incluíam os cardeais Donald Wuerl (aposentado recentemente) e Timothy Dolan (Nova York), bem como o arcebispo William Lori, de Baltimore.

O bispo também deu dinheiro a três americanos com cargos poderosos em Roma – o cardeal Raymond Burke e os agora falecidos cardeais Bernard Law e Edmund Szoka.

Dois diplomatas do Vaticano também receberam doações monetárias substanciais do bispo quando serviam como núncios papais aos Estados Unidos – o saudoso arcebispo Pietro Sambi e o agora notório arcebispo Carlo Maria Viganò.

Todos os caminhos levam a Roma

Mas uma das revelações mais alarmantes no artigo do Washington Post, que se baseia em documentos legais legitimamente verificados, é que o bispo Bransfield deu dois presentes totalizando o valor de US$ 29 mil ao cardeal Kevin Farrell, prefeito do Dicastério para Leigos, Família e Vida. Farrell conseguiu seu posto no Vaticano em agosto de 2016 depois de cumprir nove anos como bispo de Dallas.

Antes disso, porém, ele era padre em Washington e atuou eventualmente como um dos bispos auxiliares de McCarrick (2001-2007). Bransfield deu a Farrell quase US$ 30 mil para reformar o apartamento do cardeal no Vaticano. Alguns desses cardeais e bispos protestaram contra sua ingenuidade ou inocência em aceitar um suborno.

A maioria não disse nada. E nenhum deles neste momento, exceto o arcebispo Lori, que está supervisionando a investigação das atividades de assédio sexual de Bransfield, condenou o bispo em desgraça ou prometeu devolver os fundos.

Nenhum desses bispos ou cardeais parou para se perguntar de onde Bransfield estava recebendo todo esse dinheiro? Algum deles considerou se ele tinha segundas intenções para lhes enviar dinheiro? Ou que pode ser antiético para eles receberem esse dinheiro?

Alguém pode ser tentado pela caridade a insistir (ou pelo menos desejar fortemente) que as ações de Bransfield fossem apenas as de um bispo solitário – uma espécie de ação única que de modo algum sugere que tais tentativas de comprar favores sejam uma prática comum no sacerdócio e na hierarquia.

Mas a tentação mais forte – apoiada pelos fatos da história e a profunda desconfiança da hierarquia que o abuso sexual e os escândalos de encobrimento geraram – é identificar esse padrão de corrupção e falsidade como mais disseminado e endêmico de um sistema clericalista ruim.

Isso já aconteceu antes

E não se iluda pensando que isso é apenas ‘uma coisa americana’. Você pode apostar que continua acontecendo em todo o mundo. Afinal, as tentativas de adquirir influência e ofício eclesiástico existem desde a fundação da comunidade cristã primitiva (cf. At 8,18-25).

As histórias de cardeais que, acredita-se, teriam ‘comprado’ seus chapéus vermelhos são lendárias em Roma. E aqueles prelados vestidos de escarlate que usaram seu próprio dinheiro ou o dinheiro de outros para encobrir seus delitos são mais conhecidos do que a maioria das pessoas nas ‘províncias’ pode suspeitar.

Um dos casos mais recentes a ganhar as manchetes foi o relativo à reforma da residência do cardeal Tarcisio Bertone, o secretário de Estado do Vaticano sob Bento XVI e brevemente secretário do papa Francisco.

Depois de se aposentar em 2013, o cardeal salesiano desembolsou quase US$ 400 mil para renovar dois apartamentos de cobertura no Vaticano, que ele comprou para ser seu lar de idoso. Tornou-se controverso apenas porque foi descoberto que a construtora faturou duas vezes pelo projeto e dois funcionários do Hospital Infantil Bambino Gesù pagaram a outra metade. Os dois acabaram sendo acusados de apropriação indevida de fundos.

Bertone negou pedir o dinheiro, mas em um gesto de boa vontade doou cerca de US$ 170 mil para o hospital infantil para ajudar a cobrir a perda. O que foi mais surpreendente foi que ninguém parecia se perguntar de onde o cardeal tinha tirado todo esse dinheiro. Ele vem de uma família modesta e passou a maior parte de sua vida em uma ordem religiosa, o que significa que ele fez um voto de pobreza.

Ele não estava mais vinculado a esse voto quando se tornou bispo em 1991. Mas, mesmo assim, os salários do Vaticano não são tão altos – mesmo para os cardeais. Ele obviamente tinha amigos generosos e benfeitores.

Sexo e dinheiro

Um amigo padre previu, há 15 anos ou mais, que o próximo grande escândalo ou crise na Igreja seria de natureza financeira. Mas ele não estava falando sobre coisas como suborno ou compra de favores como vimos no caso Bransfield.

E nem quis dizer peculato ou roubo da cesta das oferendas. Em vez disso, estava falando da inépcia financeira do pároco comum e de um sistema clerical que coloca o ‘padre’ encarregado de tudo – até mesmo das cestas e da bolsa paroquial.

Negligência na supervisão, falam alguns. O padre disse que a forma como os bispos continuam a transferir tais pastores ineptos de uma paróquia para outra poderia ser facilmente documentada.

O padrão típico é que o clérigo seja designado para uma paróquia com dinheiro no banco, apenas para deixá-lo com uma grande dívida quando for transferido para outro lugar, seis ou 12 anos depois. E aí o padrão se repete.

A única coisa que enfurece os católicos quase tanto quanto saber que os bispos protegem os padres predadores que poderiam ter acabado molestando seus próprios filhos, é saber que os bispos estão se arrastando em torno de padres que estão desperdiçando o dinheiro do povo, disse meu amigo padre.

Isso também é uma forma de desonestidade

Mas provavelmente não é devido à malícia, embora o abuso de sexo e dinheiro possa ser uma forte tentação até para os homens de estola. Não, o problema com grande parte do comportamento escandaloso que estamos testemunhando entre os clérigos está enraizado no ‘clericalismo’, como o papa Francisco insiste.

Graças a Deus a Igreja Católica tem tantos sacerdotes bons e honestos quanto ela. Porque, com certeza, o heroísmo é bom em um sistema clericalista muito ruim e quebrado, no qual ‘o pai/padre sabe o que é melhor’, e espera-se que as pessoas façam o que ele diz. Isso, claro, também é mentira. E cada vez menos católicos ainda acreditam nisso.’


Fonte :

segunda-feira, 18 de março de 2019

Crise de identidade clerical: rebanho e pastagem não podem definir quem é o pastor

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 A manifestação de Deus a Jesus em seu batismo aponta para o modelo pretendido por Deus para todos nós.
*Artigo do Padre Mark Slatter,
da Arquidiocese de Ottawa, Canadá
Tradução : Ramón Lara


Contudo, estaríamos errados ao pensar nisso apenas como uma ‘questão da Igreja’. Aristóteles escreveu na Ética a Nicômaco que ‘as pessoas parecem buscar honra para se convencer de sua própria bondade’. Essa necessidade de validação externa explora uma tendência humana perene e está sob dezenas de termos e gradações de necessidade : respeito, deferência, popularidade, prestígio, fama e clandestinamente solícita. ‘Você já ouviu falar de mim?’ É encontrado em clubes de motocicletas e times de futebol, sociedades acadêmicas e da indústria da música, prisões e hierarquias religiosas. A face da moeda muda, a linguagem é diferente, mas a dinâmica subjacente é idêntica. É a exposição mais clara dos mecanismos do ego que leva as pessoas a uma identidade. No vácuo do autoconhecimento, as exibições externas destinadas a obter autoestima são inevitáveis.

Acredito que isso chegue perto da raiz, mas não é sinônimo do que o papa Francisco identificou amplamente como o problema do clericalismo, que descreve como uma ‘cultura da morte’ - esta última frase é chocante dado o fato de alguns católicos categoricamente denunciar os males do mundo.

Uma cultura é uma rede de significado pessoal e valorização dos sujeitos que fazem parte dela. A cultura clerical depende de líderes que atraiam pessoas com disposição semelhante através das leis da atração social, evocadas de maneiras diferentes desde Platão como o princípio de ‘o semelhante busca o semelhante’. A psicologia engendra teias de parentesco entre padres, bispos e grupos leigos igualmente dispostos, bispos e cardeais, leigos ricos e católicos organizados em grupos de poder. Eles sempre se encontram através da semelhança familiar, o que quer que isso seja.

O reconhecimento baseado no mérito e no capital social é uma coisa; um valor pessoal indistinguível da imagem pública é outro. Não apenas o clero, mas qualquer um, incluindo aqueles de nós que ganhamos nosso pão diário na academia, não pode ser menos ferido pelas galerias de retratos de nossos sistemas e pelos rituais protocolados para se comportar e manter a honra.

Uma maneira de melhorar minha autoestima é ocupar um escritório ou ter um título que diga : ‘Eu sou a imagem que você vê’. Essa imagem precisa de cuidado, proteção e promoção estratégica, como um político em campanha, ou um ator de teatro cuja autoestima aumenta e diminui com a conversa sem fundo sobre seu desempenho mais recente. Compromissos morais acontecem quando o sistema religioso ratifica minha identidade. Na pior das hipóteses, eu me torno um viciado em reconhecimento, insaciavelmente inquieto, afastando as qualidades que me fazem único para o refúgio temporário da validação externa no mundo. Jesus era menos poético : ‘Como vocês podem crer, se aceitam glória uns dos outros, mas não procuram a glória que vem do Deus único?’ (João 5,44)? Essa é a paz que o mundo dá... mas que também leva de volta.

A cultura hierárquica é a cenoura de ouro para aqueles predispostos a suas seduções. Em suas formas mais crassas, ela não apenas parece inabalável, mas vem com uma falta de vergonha de tirar o fôlego em relação aos seus grotescos gestos de elegância, ares aristocráticos e ambição cega. Em última análise, é uma escolha ser um certo tipo de ser humano, pois nesse recinto misterioso da liberdade pessoal continua-se a preferir valores menores, como a reputação, a valores superiores como a dignidade. O status de alguém no sistema é percebido como sendo um servo segundo o coração de Deus.

A psicologia torna as pessoas incapazes de despertar-se dos falsos valores que sustentam a autoimagem ilusória; um obstáculo interno é superado onde uma falsa tentação é superada, como algo com o que deveria lutar a pessoa. Depois de várias décadas, muito do eu da pessoa foi investido em um modo específico de ser humano. Não foi deixado nenhum espaço para Deus atuar.

A verdade é que você não pode ser garoto-propaganda do sistema religioso e ao mesmo tempo um homem de Deus.

Em uma elevação perversa de si mesmo, o ministro clerical se esconde por trás da humildade simulada da servidão, no que deve ser uma das mais loucas inversões do Evangelho. O ministério perde a profundidade da investigação que alcança o significado humanizador da doutrina e a moralidade, sua vitalidade interna e relevância ardente, presumindo que a invocação da autoridade - ‘A igreja ensina isso e isso...’ - pode ser fixada a qualquer tábua para ensinar como se as pessoas se submetessem a ela, de coração, mente e alma. Este também é um gancho externo; uma espécie de persuasão presumida por deferência.

Na estrutura de pensamento de Francisco, sua denúncia do clericalismo é frequentemente seguida pela valorização e acompanhamento com os pobres, que, a propósito, não têm propósito para os ministros clericais além de fazer parte de sua estratégia de relações públicas. Eles não têm nada que ele queira.

É uma comunhão com aqueles que estão fora de nossas redes de influência que relativizam as moedas de honra de nosso sistema. Viciados em drogas e idosos solitários não se importam nem um pouco sobre o meu mais recente artigo publicado ou em quais comissões eu me sento. A deferência a que estou acostumado não está próxima, e quando busco reconhecimento, eles não mordem a isca. Esta é uma kenosis que tira meu ego de suas muletas e ilusões. A política de identidade da igreja e sua versão do ‘Game of Thrones’ tornam-se óbvias em sua mesquinhez e paroquialismo. Nesse deserto desorientador há agora um espaço para Deus falar sobre um novo ‘eu’ na existência.

Como o trapista Thomas Merton escreveu certa vez : ‘As pessoas podem passar a vida inteira subindo a escada do sucesso apenas para descobrir, quando chegarem ao topo, que a escada está encostada na parede errada’. A tragédia com o clericalismo não é menor do que o advogado corporativo ou magnata empresarial que conquistou o mundo inteiro, mas perdeu a alma; em outras palavras, perderam quem eles estavam destinados a se tornar.

A manifestação de Deus a Jesus em seu batismo aponta para o modelo pretendido por Deus para todos nós. Como com Jesus, Deus purifica o conteúdo primorosamente pessoal das nossas noções genéricas de dignidade, pressagiadas pela palavra geradora de vida, ‘Você é...’ Se quisermos, o Deus Vivo pode dar a nossa dignidade seu volume e massa, nos libertando - lenta e minuciosamente, como é característico da morte de uma identidade espúria - das ‘honras mundanas’ do materialismo enfrentado por Janus dos sistemas de honra da igreja. Ele crucifica nossos doppelgangers o duplo eu que vivem para o que nos agrada com sistemas de reconhecimento e põe um fim aos compromissos morais que inevitavelmente vêm da necessidade de se encaixar a todo custo.

As leis da terra estão agora se referindo ao que o Evangelho não poderia, e com certeza, o clericalismo não está recebendo, o escrutínio que merece, se não fosse pela crise de acobertamento. Mas a humilhação não produz conversão. A vergonha pública não nos tornará discípulos. Obedecer à lei não pode transformar o superego infantil em uma consciência forte. Agora sabemos que é catastrófico quando o pastor usa suas ovelhas e pastagens para dizer quem ele é. O clericalismo não pode ser mantido até chegar a ser a ponta de lança da igreja.’


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