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terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Irmã Simona Brambilla é a primeira mulher prefeita no Vaticano

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo da Vatican News

 

‘Irmã Simona Brambilla, ex-superiora geral das Missionárias da Consolata, completará 60 anos no próximo dia 27 de março. Esta segunda-feira, 6 de janeiro, o Papa a nomeou prefeita do Dicastério para a Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, do qual foi secretária a partir de 7 de outubro de 2023; foi a segunda mulher a ocupar esse cargo na Cúria Romana, após a nomeação em 2021 da irmã Alessandra Smerilli para o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. Francisco escolheu como pró-prefeito do dicastério Ángel Fernández Artime, 65 anos, criado cardeal no Consistório de 30 de setembro de 2023.

Irmã Simona Brambilla, a primeira mulher prefeita no Vaticano, traz em seu currículo uma experiência missionária em Moçambique depois de se formar como enfermeira profissional e ingressar nas Irmãs Missionárias do Instituto da Consolata, que guiou de 2011 a 2023. Em 8 de julho de 2019, o Papa nomeou sete mulheres membros do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica pela primeira vez. Em seguida, a irmã Brambilla foi escolhida primeiro como secretária do Dicastério e agora como prefeita.

Desde o início do magistério do Papa Francisco, a presença de mulheres aumentou significativamente. De acordo com os dados gerais referentes tanto à Santa Sé quanto ao Estado da Cidade do Vaticano e que vão de 2013 a 2023, a porcentagem de mulheres aumentou de quase 19,2% para 23,4%. Em um caminho traçado com a Constituição Apostólica Praedicate Evangelium de 2022, Francisco tornou possível que, no futuro, também os leigos e, portanto, inclusive as mulheres, pudessem chefiar um dicastério e se tornar prefeitos, uma posição anteriormente reservada a cardeais e arcebispos.

No Estado da Cidade do Vaticano, o Papa Francisco nomeou duas mulheres para cargos importantes nos dez anos de seu pontificado : em 2016, Barbara Jatta, diretora dos Museus Vaticanos, que sempre foram dirigidos por leigos. Em 2022, a nomeação da irmã Raffaella Petrini, secretária-geral do Governatorato, uma função normalmente atribuída a um bispo.

Há várias subsecretárias, como Gabriella Gambino e Lina Ghisoni no Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, enquanto no Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, a irmã Carmen Ros Nortes, das Irmãs de Nossa Senhora da Consolação, é subsecretária. Emilce Cuda é secretária da Pontifícia Comissão para a América Latina; Nataša Govekar conduz a direção teológico-pastoral do Dicastério para a Comunicação; Cristiane Murray é vice-diretora da Sala de Imprensa da Santa Sé, e Charlotte Kreuter-Kirchof é vice-coordenadora do Conselho para a Economia. A Secretaria Geral do Sínodo também tem uma subsecretária, a religiosa francesa Nathalie Becquart.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2025-01/papa-francisco-irma-brambilla-primeira-mulher-prefeita-vaticano.html

terça-feira, 24 de novembro de 2020

O Vaticano de Francisco é casa dos pobres

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)        

 
Papa Francisco inaugura centro de acolhida 'Palazzo Migliori', em 2019, destinado às populações carentes de Roma

*Artigo de Mirticeli Dias de Medeiros,

jornalista e mestre em História da Igreja, uma das poucas brasileiras

credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa da Santa Sé


‘Quando olhamos para a suntuosa basílica de São Pedro, do século 16, considerada uma das obras barrocas mais impressionantes do período, vem à nossa mente o papa, os concílios e a genialidade dos artistas Michelangelo e Lorenzo Bernini. É quase impossível não associar a esses elementos. A Igreja, rodeada pelos edifícios que compõem o complexo do Estado do Vaticano, abriga, em seu subsolo, os restos mortais de São Pedro, o apóstolo que fora escolhido por Jesus para ser o chefe da Igreja Católica.

A casa de Pedro

A bíblia narra que, na casa de Pedro, em Cafarnaum, habitava um hóspede ilustre : Jesus Cristo. O Messias morou ali por um período para que pudesse exercer sua missão, que começou oficialmente quando ele completou 30 anos, de acordo com os evangelhos.

Sendo assim, podemos dizer que casa de Pedro, hoje, é o Vaticano. Entre idas e vindas ao longo da história, foi lá que o sumo pontífice, na pessoa de Pio IX, resolveu se estabelecer definitivamente em 1870. Desde então, o local tem sido palco de inúmeros eventos históricos. Foi lá que Pio XII, durante a Segunda Guerra Mundial, escondeu dezenas de judeus romanos que estavam na mira dos oficiais nazistas.

Para o papa Francisco, o local não é somente um centro administrativo ou espiritual. É casa de Jesus e de Pedro. O lugar onde ambos dividem o mesmo teto. Só que, desta vez, o ‘Pedro’ é argentino e o Jesus é o pobre abandonado, de várias nacionalidades, que passa fome e frio nas ruas de Roma.

O papa abriu, nas imediações de seu pequeno Estado, vizinho às famosas ‘colunatas de Bernini’, um posto de saúde para atender as populações carentes da capital. No local, também funciona uma barbearia e foram instaladas duchas com água quente, que ficam à disposição de quem precisa. E é justamente nesse prédio onde são distribuídos, desde a semana passada, testes de Covid-19 gratuitamente. Até agora, foram beneficiados não só os desabrigados da cidade, mas também os italianos que, por causa da pandemia, acabaram ficando desempregados.

Um hotel de luxo para os pobres

E quanto à mansão que o pontífice transformou em dormitório? Foi isso mesmo que você leu. Se chama Palazzo Migliori, um prédio histórico do século 18, cujo chão é todo em mármore e possui paredes repletas de afrescos. O local fica a poucos metros do Vaticano e estava destinado a se tornar um hotel de luxo.

A propriedade, que pertencia a uma família nobre da capital, foi doada à Santa Sé na década de 1930. Francisco suspendeu a venda e o transformou num dormitório com capacidade para abrigar 50 pessoas. O dinheiro arrecadado com a venda dos famosos pergaminhos que contêm a bênção apostólica pontifícia financiou todo o trabalho de reestruturação do prédio. Quem procura refúgio nesse centro de acolhida, tem direito a café da manhã, jantar, acesso à internet e pode consultar uma biblioteca repleta de livros interessantes.

O bispo de Roma em ação

Só na semana passada, o Vaticano, em parceria com alguns supermercados de Roma, distribuiu 5 mil cestas básicas às famílias de 60 paróquias romanas que se encontram em situação de dificuldade. Na ‘caixa de alimentos do papa’ um bilhete assinado pelo pontífice e algumas máscaras de proteção. Além disso, foram distribuídas outras 350 mil máscaras aos estudantes da rede pública de ensino que vivem na periferia da capital.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1484162/2020/11/o-vaticano-de-francisco-e-casa-dos-pobres/

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

“O homem mais puro que pisou no Vaticano desde São Pedro”

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)        

 POPE PIUS X

*Artigo da Redação da Aleteia

 

‘São Pio X presidiu a Igreja como Sumo Pontífice de 1903 a 1914 e ficou conhecido como ‘o Papa da Eucaristia’, tanto pelo seu amor pessoal a Jesus Sacramentado quanto por ter incentivado a comunhão diária de todos os fiéis, além de ter permitido que as crianças comunguem – desde que entendam Quem está na Hóstia Consagrada, é claro.

Batizado Giuseppe Sarto, ele nasceu em Risse, nas proximidades de Veneza, em 1835. Órfão de pai desde bem cedo, o pequeno Giuseppe quis abandonar os estudos para ajudar a mãe, mas ela quis que o filho continuasse estudando.

Graças a uma bolsa, ele entrou no seminário e, depois de ordenado sacerdote, foi exercendo ministérios, pastorais e cargos eclesiásticos marcados por uma curiosa coincidência : ele ficou nove anos em cada um deles. Nove anos vigário, nove anos pároco, nove anos cônego, nove anos bispo de Mântua e nove anos Cardeal Patriarca de Veneza. Ele até brincava dizendo que só lhe faltavam nove anos de Papa!

Em 1903, morreu o grande Papa Leão XIII e, no conclave, a fumaça branca anunciou ao mundo que o novo Papa de Roma se chamaria Pio X. Era ele, o cardeal Giuseppe Sarto. Mas ele não seria Papa durante nove anos, e sim durante onze!

Independência entre Igreja e poderes civis

Uma das primeiras medidas do seu pontificado foi acabar com o suposto ‘direito’ do poder civil de interferir nas eleições papais. De fato, o próprio conclave que o elegera tinha sofrido ingerência do imperador austro-húngaro Francisco José, que vetou o nome do cardeal Mariano Rampolla del Tíndaro, até então considerado um dos favoritos ao papado. Aquela foi a última vez, de fato, que um governante exerceu o poder de veto em um conclave da Igreja.

A separação entre Igreja e Estado prosseguiu também na França, favorecendo que a Santa Sé pudesse nomear diretamente os bispos daquele país. Até 1905, as nomeações episcopais precisavam passar pelo crivo dos poderes civis franceses.

São Pio X defendeu com ênfase os oprimidos, como no famoso episódio em denunciou os maus tratos impostos aos índios nos seringais da Amazônia peruana. Ele mesmo visitava as redondezas do Vaticano para conversar com as pessoas, tocando sempre no tema do Evangelho do dia.

Fama de santidade ainda em vida

Quando alguém o chamava de ‘santo’, ele respondia bem-humorado : ‘Não é santo, é Sarto’, em referência ao próprio sobrenome.

No entanto, a fama de santidade crescia a olhos vistos, envolvendo inclusive prodígios como o caso de um homem que, durante uma audiência pública, lhe mostrou seu braço paralisado e pediu a graça da cura. O Papa se aproximou, tocou no braço sorrindo e disse : ‘Sim, sim’. O homem recuperou os movimentos do braço.

São Pio X ainda profetizou a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914. ‘Esta será a última aflição que o Senhor me envia. Com gosto eu daria a vida para salvar os meus pobres filhos desta calamidade terrível’, declarou poucos dias antes de falecer em 20 de agosto daquele mesmo ano, tão trágico para a história da humanidade.

Papa da Eucaristia e do Catecismo

Mas a sua grande fama é mesmo ligada ao seu intenso amor eucarístico. São Pio X escreveu vários decretos sobre o Sacramento da Eucaristia, recomendando e louvando a comunhão diária e promovendo a primeira comunhão das crianças que já entendessem que a Santa Hóstia é o próprio Jesus.

A propósito dessa compreensão, ele também fez grandes esforços para que os católicos em geral conhecessem melhor a própria fé. Por sua iniciativa, foi desenvolvida uma versão em linguagem muito simples de todos os conteúdos do Catecismo, ricamente ilustrada e até hoje conhecida como ‘o Catecismo de São Pio X’.

Canonização

São Pio X, que deixara escrito em seu testamento ‘Nasci pobre, vivi na pobreza e quero morrer pobre’, foi canonizado em 1954 pelo Papa Pio XII.

Fazia quase 250 anos que um Papa não era elevado aos altares : o último tinha sido São Pio V, canonizado em 1712.

Sua festa litúrgica é celebrada em 21 de agosto.

Outro grande santo do século XX chamado Pio, o Padre Pio de Pietrelcina, se referiu a São Pio X de modo impactante : ‘o homem mais puro que já pisou no Vaticano desde São Pedro’.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://pt.aleteia.org/2020/08/20/o-homem-mais-puro-que-pisou-no-vaticano-desde-sao-pedro/

segunda-feira, 29 de junho de 2020

Astrônomo do Vaticano se torna o 11º jesuíta que dá nome a um asteroide

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)        

  O padre jesuíta Chris Corbally, astrônomo do Observatório do Vaticano, celebra a missa para os membros da Oficina de Fé e Astronomia da instituição no Centro de Renovação Redentorista 13 de janeiro de 2016, em Tucson, Arizona

O padre jesuíta Chris Corbally, astrônomo do Observatório do Vaticano, celebra a missa para os membros da Oficina de Fé e Astronomia da instituição no Centro de Renovação Redentorista 13 de janeiro de 2016, em Tucson, Arizona

*Artigo de Dennis Sadowski,

publicado originalmente por Crux

Tradução : Ramón Lara

 

‘Mais um jesuíta passou a ter um asteroide com seu nome. O padre Chris Corbally, um astrônomo estelar do Observatório do Vaticano, teve seu nome associado a um corpo rochoso no cinturão de asteroides que orbita o sol em pouco menos de quatro anos. 

A honra foi uma surpresa, disse Corbally. ‘Eu não sou o tipo de asteroide’, como outros dos seus colegas do observatório, disse . ‘Para mim, foi uma completa surpresa. É uma maravilha’. 

O asteroide em particular, designado com o código 119248 Corbally, tem mais de 1,6 metros. Foi descoberto em 10 de setembro de 2001 por Roy Tucker, um engenheiro sênior recém-aposentado do Imaging Technology Laboratory da Universidade do Arizona. 

Tucker trabalhou extensivamente com os astrônomos do Vaticano. Seu trabalho incluiu a construção e manutenção de câmeras de dispositivos acoplados a carga, usadas para imagens digitais de objetos celestes no Laboratório de Tecnologia Avançada do Vaticano, bem como em telescópios usados por Corbally no Observatório Steward da Universidade do Arizona. 

Nomear um asteroide requer a aprovação de um comitê da União Astronômica Internacional (IAU). Uma vez nomeado, uma breve citação sobre a pessoa que está sendo homenageada é publicada em uma circular do Minor Planet Center da IAU. 

Os asteroides são pequenos corpos rochosos que orbitam o sol. Milhares deles estão localizados no cinturão de asteroides entre as órbitas de Marte e Júpiter. Mas alguns têm órbitas que os levam a outros locais do sistema solar. 

Nascido em Londres, Corbally, 74 anos, trabalha na equipe do Observatório do Vaticano desde 1983. Ele ingressou no observatório após concluir o doutorado em astronomia pela Universidade de Toronto. Foi vice-diretor do Grupo de Pesquisa do Observatório do Vaticano até 2012. 

Corbally tem uma ampla gama de interesses de pesquisa. Eles abrangem vários sistemas estelares, classificação espectral estelar, atividade em estrelas do tipo solar, estrutura galáctica e regiões de formação estelar e tecnologia de telescópios. 

Eu sou um homem muito das estrelas. Mas percebendo que as estrelas estão em nossa galáxia, também estou interessado na estrutura da galáxia e na história das populações de estrelas nela. Minha maneira de investigar tudo isso é através das estrelas individuais’, disse o astrônomo. 

A pesquisa atual do jesuíta concentra-se nas características da senciência humana no contexto da evolução. [A senciência é a capacidade de sentir, de entender ou de perceber algo por meio dos sentidos. Alguns biólogos acreditam na senciência dos golfinhos]. 

Uma pesquisa do Observatório do Vaticano descobriu pelo menos 10 asteroides com nomes de jesuítas, incluindo Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus.  

Outros asteroides foram nomeados com os nomes de jesuítas contemporâneos de Corbally : o irmão Guy Consolmagno, diretor do Observatório do Vaticano e presidente de sua fundação, o padre Richard Boyle e o padre Jean Baptiste Kikwaya, astrônomos do observatório, e o padre Robert Macke, cientista pesquisador e curador de meteoritos do observatório.  

Além disso, outros asteroides foram nomeados pelo padre George Coyne, o diretor do observatório que morreu no dia 11 de fevereiro deste ano; o padre Christopher Claviu, cujas medidas matemáticas ajudaram a desenvolver o calendário gregoriano; o padre Roggiero Boscovich, um matemático do século 18; o padre Maximilian Hell, que determinou o paralaxe solar a partir das observações de Vênus enquanto transitava em frente ao sol em 1769; e o padre Angelo Secchi, diretor do observatório do Colégio Romano durante o século 19.’ 

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1456067/2020/06/astronomo-do-vaticano-se-torna-o-11-jesuita-que-da-nome-a-um-asteroide/


terça-feira, 12 de março de 2019

O segredo do arquivo secreto do Vaticano

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Manuscrito do arquivo secreto do Vaticano.
*Artigo de Mirticeli Dias de Medeiros,
jornalista e mestre em História da Igreja, uma das poucas brasileiras
credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa da Santa Sé



Tardiamente, no século XIX, o papa Leão XIII chegou à conclusão de que limitar o acesso ao arquivo histórico da Santa Sé prejudicaria a própria Igreja enquanto instituição, uma vez que cada qual poderia hipotisar os acontecimentos do passado pela falta de contato com os documentos. A historiografia pontifícia o considera um papa humanista por ter sido o primeiro líder máximo da Igreja Católica a publicar uma encíclica de cunho social, a Rerum Novarum, mas também por permitir que os estudiosos explorassem o famoso arquivo histórico da Santa Sé, cujas portas se abriram a todos os pesquisadores do mundo em 1881. Desde então, cabe ao papa autorizar a abertura de determinados fundos arquivísticos, os quais são divididos por pontificados e distribuídos em outras seções. No total, a Santa Sé possui 650 fundos arquivísticos que correspondem a 85 km de prateleiras repletas de papiros, pergaminhos e livros.

Como vimos recentemente, a última autorização oficial de abertura aconteceu no dia 4 de março deste ano, quando Papa Francisco anunciou que, a partir de 2020, os estudiosos poderão ter acesso a todos os documentos relacionados ao governo e à atividade pastoral de Pio XII, famoso por causa do seu suposto silêncio diante do Holocausto. Muitos historiadores aguardam respostas mais precisas a respeito da atuação da Igreja Católica durante a Segunda Guerra mundial, de modo a confirmar os reais motivos que levaram à omissão pública desse pontífice. Por outro lado, será possível oficializar, de uma vez por todas, que houve uma atuação concreta da Igreja Católica no salvamento de judeus, algo já confirmado por diversas fontes históricas do período.

Esse tom de mistério em torno do Archivum Secretum Apostolicum Vaticanum - Arquivo secreto apostólico vaticano -, protagonizado muitas vezes pela ficção, é exagerado, ouso dizer. A começar pelo nome ‘arquivo secreto’, que na tradução para a língua portuguesa transmitiu a ideia de ‘secreto’ ou de ‘segredo’. A verdade é que, no latim medieval, ‘secretum’ refere-se a privado ou pessoal. Portanto, se trata do arquivo pessoal ou privado do Romano Pontífice, na linguagem oficial. Sendo assim, na atualidade, não é justo interpretarmos que haja uma intenção de reter informação por parte da Santa Sé (como no passado), mas de uma certa lentidão na divulgação desses documentos, o que dificulta o trabalho de muitos pesquisadores. Para se ter uma ideia, em se tratando de acesso ao arquivo vaticano, teremos, a partir do ano que vem, dados até 1958, ano da morte de Pio XII. Depois disso, não teremos previsão a respeito do acesso ao fundo arquivístico de João XXIII, o sucessor do ‘pastor angélico’.

Tudo depende do estilo de governo do papa atual e se aquela determinada figura histórica, cujo legado será explorado pelo público acadêmico, de certa forma atenderá aos anseios do papado no presente. Abrir o arquivo de Pio XII, em um momento no qual Francisco almeja uma aproximação mais concreta com a comunidade judaica, sem dúvida alguma é bastante oportuno. Em 2006, Bento XVI já havia colocado à disposição dos historiadores o fundo arquivístico de Pio XI, com o intuito de mostrar ao mundo que esse pontífice, apesar das controvérsias a respeito de sua relação com o fascismo, foi um opositor ferrenho do nazismo e símbolo da autonomia e da soberania do Estado da cidade do Vaticano, criado em 1929 a partir do Tratado de Latrão.  De certa forma, a Santa Sé acaba seguindo a tendência de todas as instituições : abre os arquivos cuja memória histórica já não possa ser manipulada pelos jogos políticos da atualidade.’


Fonte :

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Compreendendo o acordo entre China e Vaticano

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Há uma estimativa de 12 milhões de católicos na China, divididos entre uma associação governamental cujo clero é escolhido pelo Partido Comunista e uma igreja não oficial que jura lealdade ao Vaticano.
Há uma estimativa de 12 milhões de católicos na China,
divididos entre uma associação governamental
cujo clero é escolhido pelo Partido Comunista e
uma igreja não oficial que jura lealdade ao Vaticano.

*Artigo de Mirticeli Dias de Medeiros,
jornalista e mestre em História da Igreja

O acordo sobre a nomeação dos bispos chineses firmado entre Santa Sé e a República Popular da China (RPC), no último dia 22, fez com que Papa Francisco, mais uma vez, fosse alvo de críticas. Consciente disso, ele mesmo esclareceu, em entrevista concedida durante o voo de retorno a Roma, após sua visita apostólica aos países bálticos, finalizada na terça-feira (25), o que essa medida representou e quais serão os critérios estabelecidos por ambas as partes para que ela seja levada a cabo. ‘Será um diálogo (entre China e Vaticano) sobre os eventuais candidatos. Tudo se fará no diálogo. Porém, a nomeação virá de Roma, a nomeação virá do papa. Isso é claro’, ressaltou o pontífice.

O papa argentino assumiu para si toda a responsabilidade do acordo, além de mencionar aqueles que o auxiliaram no processo : os arcebispos Claudio Maria Celli e Gianfranco Rota Graziosi, ambos envolvidos nas negociações há mais de 10 anos, e o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano.

Segundo o Wikileaks, esse acordo sobre a nomeação dos bispos vem sendo ensaiado desde o pontificado de João Paulo II. Há alguns anos, o jornal italiano Le Formiche publicou uma afirmação atribuída ao chanceler italiano Giulio Andreotti, nos anos 90 : ‘A questão da nomeação dos bispos se resolverá a qualquer momento. O problema dos chineses é o poder que envolve essas nomeações, mas isso o Vaticano fará o possível para contornar. É até melhor que haja um acordo, uma vez que é importante para a Igreja Católica encontrar seu espaço na China’, disse.

Em 2003, outro documento publicado pelo Wikileaks, intitulado ‘Holy See and PRC: time for reconciliation?’, revelou o que Rota Graziosi, então responsável pelas relações diplomáticas entre Santa Sé e China, considerava ideal para se chegar a um acordo definitivo : ‘A Igreja deve ser autônoma, mas não pode ser independente da Santa Sé. [...] É possível que essa igreja se autogoverne, mas deve aceitar as direções do papa, exceção concedida à China por causa da estrutura de controle governativo na revisão e na aprovação das ordenações e de outras decisões papais’, reforçou.

Vale salientar que o reconhecimento da Santa Sé em relação a alguns bispos e sacerdotes da igreja patriótica já vinha acontecendo antes dessa recente oficialização. Durante o pontificado de Bento XVI, inclusive, não foram poucos aqueles que entraram com pedido de reconciliação com Roma, algo que não só lhes foi concedido, mas confirmado através da carta ao povo chinês, escrita por Joseph Ratzinger, em 2007 : ‘O Papa, considerando a sinceridade dos seus sentimentos e a complexidade da situação, e levando em conta o parecer dos Bispos mais vizinhos, em virtude da própria responsabilidade de Pastor universal da Igreja, concedeu-lhes o pleno e legítimo exercício da jurisdição episcopal’, escreveu.

Houve um problema na interpretação desse acordo porque muitas pessoas que não acompanharam o desenrolar das tratativas acabaram considerando-o uma espécie de concordata. Basta que estudemos a fundo o que foram esses tratados pontifícios ao longo de toda a construção da rede diplomática vaticana para derrubarmos essa definição. Não dá para comparar o presente acordo à concordata de Napoleão, de 1801, nem mesmo com aquela estabelecida com o Império austro-húngaro, em 1855, por exemplo. Outros, fazendo referência à fase colonizadora de Espanha e Portugal, o enquadraram dentro da lógica do padroado como se, de repente, o Vaticano passasse a aceitar tudo aquilo que é ditado pela RPC. Não se trata disso nem de longe.

O que se deve levar em consideração é que o acordo sobre a nomeação dos bispos é algo bem pontual e ainda não representa o estabelecimento das relações diplomáticas entre Santa Sé e China, o que implicaria na abertura de uma nunciatura - embaixada vaticana - no país asiático e em uma série de outras medidas de caráter jurídico. Além disso, o acordo é bilateral, portanto, da mesma forma que o Vaticano ‘cede’ ao permitir uma mínima interferência do regime na nomeação dos membros do episcopado, Pequim também ‘cede’ ao conceder ao papa a autoridade na nomeação desses prelados. Algo que, se analisarmos bem, é previsto dentro de qualquer ação diplomática.’


Fonte :

terça-feira, 29 de setembro de 2015

"Patrum", o novo App dos Museus Vaticanos



‘Pouco antes da viagem do Papa Francisco a Cuba e aos Estados Unidos, foi criado o Patrum, o novo aplicativo dos Museus Vaticanos, que já conta com mais de 4 mil downloads. A ideia de Juliana Biondo, dos serviços digitais do escritório dos ‘Patrons of Art’, poderá representar uma revolução para os projetos de restauração e um atrativo para as gerações jovens. Eis o que ela falou à Rádio Vaticano a respeito desta iniciativa :

A ideia era a de criar um aplicativo que do ponto de vista do conteúdo, do desenho e do uso nos telefones celulares, fosse ‘social’, mas que também facilitasse a compreensão da história da Coleção de arte nos Museus Vaticanos e dos projetos de restauração. O App está configurado como uma barra contínua de atualizações : cada dia um conteúdo novo será publicado no aplicativo e todos ficarão disponíveis; existem ainda histórias divertidas que foram contadas pelos próprios restauradores, por exemplo, sobre a restauração do Perseu de Canova. Ou mesmo a história da Sistina, de Michelangelo e de Rafael. Depois, comentar, partilhar, colocar ‘curtir’; também entrar em contato com outras pessoas que deixam seus comentários; se pode contatar diretamente quem deixou uma mensagem. Acredito que seja uma ideia realmente interessante. Assim, a ideia era criar uma comunidade e induzir as pessoas a falarem de arte. É um App divertido, mas ao mesmo tempo intelectual e muito preciso no que diz respeito à coleção e aos Patrons’.

Os Museus Vaticanos arrecadam em torno de 80 milhões de euros a cada ano, mas bem pouco deste montante é destinado à seção dedicada às restaurações das obras de arte. De fato, a maior parte dos fundos acaba sendo destinada à manutenção do Estado Cidade do Vaticano e no pagamento dos 800 colaboradores dos Museus. Há mais de 30 anos os ‘Patrons of Arts of The Vatican Museums’, têm, portanto, a tarefa de preencher esta lacuna. A Associação se ocupa de salvaguardar e administrar as coleções presentes dentro da histórica estrutura de exposição, frequentemente através de patrocinadores estadunidenses. A cota associativa anual é de um montante de 600 dólares, como explica Juliana:

E em troca, podem vir ao Museu quando quiserem e admirar o trabalho dos restauradores enquanto é executado, podem encontrá-los, participar de eventos e encontros privativos. Poderá, num certo sentido, estar por detrás dos bastidores e o App contempla também isto, porque poderás nos contatar diretamente através do App e nós responderemos...’.

O App dá vida a uma nova rede social entre os membros, mas não somente. A família dos apaixonados pela arte crescerá e cada um, mesmo sem ser um ‘Patron’, pode contribuir discutindo ou fazendo doações a partir de 10 dólares para financiar uma restauração e salvar uma parte da cultura.  Isto deveria atrair sobretudo as gerações mais jovens.

Larry Blanford, há poucas semanas membro da família dos ‘Patrons’, manifesta o seu entusiasmo pela possibilidade de seguir de perto a atividade dos trabalhadores de restauração e de ver o ‘backstage’ artístico :

Não somente pudemos admirar algumas das magníficas obras de arte que são restauradas neste laboratório, mas o que mais me tocou foi a paixão e a energia dos restauradores. De um lado são verdadeiros artistas, por outro tem uma fé muito radicada. Conjugam, portanto, o amor pela arte com o seu amor pela fé. Como novo ‘Patron’ dos Museus foi emocionante ver a paixão e a energia com que trabalham’.

Muitos trabalhos de restauração nos Museus foram possíveis graças ao patrocínio dos ‘Patrons’. Um exemplo por excelência é exatamente o Perseu de Canova, adquirido pelo Papa Pio VII. Atualmente, muitos projetos aguardam um apoio financeiro : das insígnias etruscas (53.680 euros) até os Jardins Vaticanos, ou a necessidade das máquinas de laser para a limpeza das obras de arte (49.680 euros). Em outubro de 2016 os ‘Patrons’ publicarão o novo ‘Wishbook’, no qual todos os Departamentos dos Museus Vaticanos indicarão os trabalhos de restauração mais urgentes.’ 


Fonte :

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

O que significou o Tratado de Latrão?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 1929

‘Neste dia 11 de fevereiro, recordam-se os 85 anos do Tratado de Latrão. Assinado em 1929, o Tratado resolveu de maneira definitiva a "questão romana", ou seja, o conflito aberto em 1870 com a anexação de Roma ao Reino da Itália.

O atual Estado da Cidade do Vaticano ocupa a área conhecida como "Ager Vaticanus", a colina vaticana que não foi ocupada pelas tropas italianas, que tomaram Roma no dia 20 de setembro de 1870, durante o processo de unificação da Itália. Considerado como o menor Estado do mundo, esse território assegura a liberdade da Sé Apostólica e a independência do Papa, para poder realizar sua missão.

O Vaticano tem uma população de pouco mais de mil pessoas. Os habitantes do Estado da Cidade do Vaticano procedem de muitos países, embora na sua maioria sejam italianos. Pelo menos 400 têm cidadania vaticana, entre eles os prelados que são chefes de organismos da Cúria Romana. Todos os Cardeais residentes em Roma obtêm automaticamente cidadania vaticana, mas conservam a original.

O Vaticano emite selos e moeda própria (só metálica) e conta com todos os serviços próprios de um Estado, como uma central telegráfica, estação de rádio (Rádio Vaticano), um jornal (L'Osservatore Romano) e rede ferroviária, conectada com a ferrovia italiana. Além disso, pode dispor, com base na Convenção de Barcelona, de 1921, de uma frota marítima com bandeira própria.

A segurança do Vaticano está confiada ao Corpo de Vigilância, formado por uma centena de efetivos. Além disso, dispõe da Guarda Suíça, único corpo militar que existe no Vaticano, integrado também por uma centena de membros e cuja função é defender o Papa e controlar os portões que dão acesso à Cidade do Vaticano, entre outras coisas.

Sua atual Constituição data de 2001, em substituição da de 1929: reitera que o Papa é o soberano absoluto, que concentra em si os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, os quais, em caso de falecimento do Pontífice, passam ao Colégio Cardinalício até a eleição do sucessor.

Em tal circunstância, o Colégio só pode aprovar normas de caráter de urgência e com eficácia limitada, a não ser que depois sejam confirmadas pelo novo Pontífice.

A "Lei Fundamental da Cidade do Vaticano", nome oficial da Carta Magna, contém 20 artigos. A Constituição estabelece que a bandeira oficial do Vaticano é amarela e branca, em vertical, tendo, ao centro o escudo com as chaves entrecruzadas sobre as quais se encontra a tiara papal.

O Tratado de Latrão estabeleceu o Estado soberano da Cidade do Vaticano, declarando que o Catolicismo era a religião oficial da Itália. O acordo regulamenta as relações entre a Igreja e o Estado. A revisão da Concordata, em 1984, declarou que o Catolicismo não seria mais a religião oficial do Estado italiano.

O Tratado de 1929 fixou também o caráter internacional da Santa Sé, que é reconhecida perante a legislação internacional e mantém relações diplomáticas com outras nações. A esse respeito, o Estado da Cidade do Vaticano foi instituído como "uma realidade jurídico e política, à qual é necessário identificar e garantir a absoluta e visível independência da Sé Apostólica no exercício de sua elevada missão espiritual no mundo".’



Fonte :