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sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Francisco: de malas prontas para a China

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

Papa Francisco cogita ida à China em visita ao Cazaquistão | ANSA

*Artigo de Mirticeli Medeiros,

jornalista e mestre em História da Igreja, uma das poucas brasileiras

credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa da Santa Sé


Não foi a primeira vez que um papa colocou os pés no Cazaquistão. João Paulo II foi para lá em 2011, dias após os atentados de 11 de setembro. Coincidência ou não, os pontífices visitaram o país em momentos cruciais.

Francisco, que concluiu sua visita apostólica a Nur-Sultan na última quinta-feira (15), proferiu mensagens importantes sobre o papel da religião na gestão de conflitos, além de renovar o apelo contra toda forma de fundamentalismo religioso e instrumentalização política da fé.

A ida do santo padre à terra dos cazaques foi articulada por causa do congresso dos chefes das religiões mundiais e tradicionais, que foi sediado na capital do país. O evento quase se tornou palco de mais um encontro histórico entre o pontífice e o patriarca Krill, chefe da Igreja Ortodoxa Russa. Mas o religioso de Moscou cancelou sua ida de última hora. Mesmo assim, a visita, por si só, foi estratégica para a Santa Sé.

O território faz fronteira tanto com a Rússia quanto com a China, dois países que estão na mira do Estado Pontifício por razões óbvias.

Francisco já expressou o desejo de visitar a Rússia para mediar o fim da guerra. E também nutre a esperança de ir à Terra do Dragão para atuar como promotor da liberdade religiosa, haja vista que milhões de católicos (bem como protestantes e outras minorias religiosas), mesmo após as tentativas de reaproximação entre Santa Sé e Pequim, continuam sendo perseguidos. Caso isso se concretize, será o primeiro líder da Igreja Católica a fazê-lo. Os dois Estados cortaram relações em 1951, logo após a expulsão do embaixador vaticano do país, que aconteceu após a ascensão de Mao Tse-Tung.

Francisco, que é jesuíta, se obtiver sucesso nessa empreitada, evocará um episódio que marcou a história da sua congregação. Foram eles, os membros da ordem fundada por Santo Inácio de Loyola, que conseguiram, a duras penas, penetrar no território chinês no século XVI, após tentativas fracassadas de outros missionários católicos em épocas anteriores.

O governo do Papa Francisco, nesta questão, já acumula avanços discretos. O acordo com a China para a nomeação conjunta de bispos, por exemplo, é tido como uma vitória pela diplomacia vaticana.

Desde o pontificado de João Paulo II já se ensaiava uma tratativa desse porte. Sem contar que Francisco foi o primeiro Papa da história a conseguir autorização para sobrevoar o espaço aéreo chinês quando se deslocou de Roma para a Coréia do Sul em 2014. João Paulo II, quando fez o mesmo trajeto, em 1989, teve que fazer um desvio. Uma demonstração de que o ‘estilo franciscano’ tem conseguido quebrar o gelo de alguma forma. Escalar essa ‘grande muralha’ é para poucos. Mas o líder religioso que conseguir, certamente não beneficiará somente os católicos.

A brecha que se abriu, embora pareça contraditória aos olhos do público leigo, é vista com entusiasmo pelo Vaticano porque o regime comunista considera a interferência pontifícia uma ameaça à soberania nacional. Lembrando que, nesse sistema de governo, a religião também se submete ao Estado. A grosso modo, dar autonomia jurídica à Igreja Católica, a única religião cristã do mundo que é amparada por um estado independente, significa conceder a um chefe de Estado estrangeiro (no caso, o Papa) a autonomia para ‘mandar’ naqueles que estão sob sua jurisdição, ainda que isso aconteça só no campo religioso.

É agora em setembro que Santa Sé e China decidirão se o acordo, que está em fase de experimentação (ad experimentum), se mantém ou não. Já imaginou se formos surpreendidos com o ‘combo’ da ampliação do acordo e um anúncio de uma viagem apostólica do Papa à China? Seria sonhar demais. Ou não, principalmente em tempos de Francisco...

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://domtotal.com/noticias/?id=1588649

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Compreendendo o acordo entre China e Vaticano

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Há uma estimativa de 12 milhões de católicos na China, divididos entre uma associação governamental cujo clero é escolhido pelo Partido Comunista e uma igreja não oficial que jura lealdade ao Vaticano.
Há uma estimativa de 12 milhões de católicos na China,
divididos entre uma associação governamental
cujo clero é escolhido pelo Partido Comunista e
uma igreja não oficial que jura lealdade ao Vaticano.

*Artigo de Mirticeli Dias de Medeiros,
jornalista e mestre em História da Igreja

O acordo sobre a nomeação dos bispos chineses firmado entre Santa Sé e a República Popular da China (RPC), no último dia 22, fez com que Papa Francisco, mais uma vez, fosse alvo de críticas. Consciente disso, ele mesmo esclareceu, em entrevista concedida durante o voo de retorno a Roma, após sua visita apostólica aos países bálticos, finalizada na terça-feira (25), o que essa medida representou e quais serão os critérios estabelecidos por ambas as partes para que ela seja levada a cabo. ‘Será um diálogo (entre China e Vaticano) sobre os eventuais candidatos. Tudo se fará no diálogo. Porém, a nomeação virá de Roma, a nomeação virá do papa. Isso é claro’, ressaltou o pontífice.

O papa argentino assumiu para si toda a responsabilidade do acordo, além de mencionar aqueles que o auxiliaram no processo : os arcebispos Claudio Maria Celli e Gianfranco Rota Graziosi, ambos envolvidos nas negociações há mais de 10 anos, e o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano.

Segundo o Wikileaks, esse acordo sobre a nomeação dos bispos vem sendo ensaiado desde o pontificado de João Paulo II. Há alguns anos, o jornal italiano Le Formiche publicou uma afirmação atribuída ao chanceler italiano Giulio Andreotti, nos anos 90 : ‘A questão da nomeação dos bispos se resolverá a qualquer momento. O problema dos chineses é o poder que envolve essas nomeações, mas isso o Vaticano fará o possível para contornar. É até melhor que haja um acordo, uma vez que é importante para a Igreja Católica encontrar seu espaço na China’, disse.

Em 2003, outro documento publicado pelo Wikileaks, intitulado ‘Holy See and PRC: time for reconciliation?’, revelou o que Rota Graziosi, então responsável pelas relações diplomáticas entre Santa Sé e China, considerava ideal para se chegar a um acordo definitivo : ‘A Igreja deve ser autônoma, mas não pode ser independente da Santa Sé. [...] É possível que essa igreja se autogoverne, mas deve aceitar as direções do papa, exceção concedida à China por causa da estrutura de controle governativo na revisão e na aprovação das ordenações e de outras decisões papais’, reforçou.

Vale salientar que o reconhecimento da Santa Sé em relação a alguns bispos e sacerdotes da igreja patriótica já vinha acontecendo antes dessa recente oficialização. Durante o pontificado de Bento XVI, inclusive, não foram poucos aqueles que entraram com pedido de reconciliação com Roma, algo que não só lhes foi concedido, mas confirmado através da carta ao povo chinês, escrita por Joseph Ratzinger, em 2007 : ‘O Papa, considerando a sinceridade dos seus sentimentos e a complexidade da situação, e levando em conta o parecer dos Bispos mais vizinhos, em virtude da própria responsabilidade de Pastor universal da Igreja, concedeu-lhes o pleno e legítimo exercício da jurisdição episcopal’, escreveu.

Houve um problema na interpretação desse acordo porque muitas pessoas que não acompanharam o desenrolar das tratativas acabaram considerando-o uma espécie de concordata. Basta que estudemos a fundo o que foram esses tratados pontifícios ao longo de toda a construção da rede diplomática vaticana para derrubarmos essa definição. Não dá para comparar o presente acordo à concordata de Napoleão, de 1801, nem mesmo com aquela estabelecida com o Império austro-húngaro, em 1855, por exemplo. Outros, fazendo referência à fase colonizadora de Espanha e Portugal, o enquadraram dentro da lógica do padroado como se, de repente, o Vaticano passasse a aceitar tudo aquilo que é ditado pela RPC. Não se trata disso nem de longe.

O que se deve levar em consideração é que o acordo sobre a nomeação dos bispos é algo bem pontual e ainda não representa o estabelecimento das relações diplomáticas entre Santa Sé e China, o que implicaria na abertura de uma nunciatura - embaixada vaticana - no país asiático e em uma série de outras medidas de caráter jurídico. Além disso, o acordo é bilateral, portanto, da mesma forma que o Vaticano ‘cede’ ao permitir uma mínima interferência do regime na nomeação dos membros do episcopado, Pequim também ‘cede’ ao conceder ao papa a autoridade na nomeação desses prelados. Algo que, se analisarmos bem, é previsto dentro de qualquer ação diplomática.’


Fonte :

quarta-feira, 19 de julho de 2017

China : Exército de terracota de Xian

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
  
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‘Em 1974, um grupo de agricultores começou a escavar um poço à procura de água em Xian, no distrito de Lintong, da província de Shaanxi, a 1200 quilômetros de Pequim, na China. Depararam, então, com uma imensidão de esculturas de terracota que formavam um exército em coluna nas proximidades do mausoléu do primeiro imperador da China, Qin Shi Huang.

As escavações que se seguiram, e que ainda decorrem, desenterraram, até ao presente, 8.099 guerreiros, 670 cavalos, 130 carruagens e armas. As figuras formam filas em três trincheiras. Os soldados variam em altura de acordo com as suas funções, de 1,72 a 2 metros, sendo os generais os mais altos. Todos são retratados em poses naturais e portam armas correspondentes, como lanças, arcos ou espadas de bronze. As armas são reais. Acredita-se que tenham sido feitas antes de 228 a. C. e usadas na guerra. As carruagens são recriadas com grande precisão.

Outras esculturas de terracota não militares foram encontradas noutras valas e representam funcionários, acrobatas e músicos.


Às ordens do imperador

O imperador Qin Shi Huang (260 a. C.-210 a. C.) foi o unificador dos reinos chineses e iniciador da primeira dinastia imperial da China, no ano 221 antes de Cristo. Caracterizou-se por um reinado despótico e sobreviveu a três tentativas de homicídio.

No seu governo, mandou publicar um código penal severo, ordenou obras grandiosas, como o reforço de uma parte da Grande Muralha, a abertura de novas estradas, a construção de palácios e a criação de sistemas de irrigação, e unificou pesos, medidas e moedas (foi ele que mandou cunhar a famosa moedinha chinesa com um buraco no centro).

No ano 246 antes de Cristo, logo depois de chegar ao trono, com apenas 13 anos, Qin chamou artesãos de todos os reinos para construir o seu mausoléu e recriar os seus exércitos em figuras de terracota em tamanho real. Esta arte funerária era expressão na sua crença de que o protegeriam no seu túmulo quando falecesse e o defenderiam dos seus inimigos no Além. Pensa-se que trabalharam nesta obra setecentos mil operários e artesãos.

O mausoléu constava de uma pirâmide de terra com 47 metros de altura e 2180 metros quadrados de área. Este complexo serviu também como palácio e corte imperial. Estava dividido em vários ambientes, salas e estruturas de apoio, e cercado por uma muralha com diversos portões. Toda a obra ficou pronta antes da morte do imperador, em 210 a. C. No decorrer das cerimônias fúnebres, as figuras do exército de terracota foram enterradas nas proximidades do mausoléu, ocupando um imenso retângulo de 62 metros de largura por 230 de comprimento. Estão viradas para leste, de onde se presumia que surgissem os ataques.

Segundo o historiador Sima Qian (145 a. C.-86 a. C.), na obra Registos do Historiador, o imperador Qin foi enterrado em 210 a. C. com grandes tesouros e objectos artísticos, bem como com uma réplica do mundo, em que pedras preciosas representavam os astros, pérolas simbolizavam os planetas e lagos de mercúrio figuravam os mares.

Xian permanecerá, por mais de mil anos, como capital do império unificado e será a sede de onze dinastias chinesas. A cidade adquirirá importância estratégica por estar situada numa importante encruzilhada da Rota da Seda, entre o Sul da Ásia e a Europa e a África, que muitas caravanas percorrerão a partir do ano 200 a. C., e receberá gente de todas as direções.

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Os guerreiros de terracota

Os soldados de terracota permaneceram enterrados cerca de 2.200 anos. As escavações estão em curso, quarenta anos após a sua descoberta. É um trabalho delicado, devido à fragilidade natural do material e à sua difícil preservação. A terracota é argila cozida em fornos com temperatura relativamente baixa, em torno dos 900 ºC.

Os artesãos que esculpiram o exército de guerreiros de terracota de Xian, depois de cozer cada figura, cobriam-na com uma camada de resina, para aumentar a durabilidade. E coloriam-nas com tinta à base de minerais e fixadores, tais como sangue animal ou clara de ovo, para dar realismo às figuras, às suas roupas e equipamentos.

A disposição das três trincheiras revela intencionalidade. A trincheira maior, com mais de 6.000 figuras de soldados, cavalos e carruagens, representa a armada principal do imperador Qin. A segunda trincheira continha cerca de 1.400 soldados da cavalaria e infantaria, também com cavalos e carros de guerra, que retratavam a guarda militar. Na terceira figurava a unidade de comando, com oficiais de alto nível, oficiais intermediários e um carro de guerra puxado por quatro cavalos, ao todo 68 figuras.

Foi ainda encontrada uma quarta trincheira vazia.

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A arte que produziu este exército

As figuras de terracota não foram esculpidas como uma peça só, mas em partes, que foram unidas depois da cozedura. Eram, depois, colocadas no seu respectivo lugar, em formação militar, de acordo com a sua patente e posto.

O conjunto dos pormenores da obra revelam não só a qualidade dos artesãos, mas, sobretudo, o poder do imperador, que tinha autoridade para ordenar a construção de uma empreitada tão monumental. Cada soldado não só varia em peso, vestuário e armas, de acordo com a patente, mas o pormenor vai até ao penteado e à expressão facial individualizada : alguns sorriem, outros estão sisudos. Uns têm barba, outros bigode. Os cavalos parecem estar vivos e as suas bocas abertas sugerem relinchos.


Patrimônio da Humanidade

Os guerreiros de Xian são hoje um sítio arqueológico patrimônio mundial da Unesco desde 1987. São um ícone do passado distante da China. O seu primeiro imperador, Qin Shi Huang, mandou edificar um túmulo que entrou para a História, pois é tão importante quanto as Pirâmides de Gizé, no Egito, ou o Taj Mahal, na Índia.

Portugal acolhe pela segunda vez 150 réplicas em tamanho real das mais de oito mil figuras do exército de terracota de Xian (China). Depois de passarem pelo Porto, em 2015, estão em exposição na Cordoaria Nacional, em Lisboa, até setembro próximo.

Os guerreiros que podem ser vistos foram criados a partir dos originais, encontrados no mausoléu do primeiro imperador da China, que mandou formar aquele exército para o protegerem na tumba e dos inimigos do Além. Mais informações podem ser obtidas na página da exposição : www.guerreirosdexian.com.’

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Fonte :