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segunda-feira, 11 de abril de 2022

Como tornar o Tríduo Pascal mais significativo (e menos estressante) para as crianças

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

*Artigo de Theresa Civanto Barber


‘Ser uma mãe católica na era do Instagram e do Pinterest pode ser difícil. Você vê todas as mães postando materiais especiais para lembrar as festividades, e você se sente inadequada por causa da sua dificuldade em fazer artesanato com temática litúrgica (ou isso é só comigo?).

Mas é aí que eu me lembro que as gerações anteriores criaram crianças católicas sem sinos e apitos. Meus pais, por exemplo, criaram sete filhos, todos ainda católicos praticantes – e não havia nenhum bolo litúrgico para comemorar a Páscoa, por exemplo.

Portanto, gostaria de compartilhar os melhores conselhos que já ouvi sobre como celebrar com as crianças a Semana Santa, Páscoa e outras grandes festas da Igreja.

1.      Certifique-se de que elas conheçam a história

Seus filhos realmente sabem que Deus se tornou homem e morreu por eles e por todos? Eles sabem que Deus fez isso para abrir as portas do céu, a fim de que um dia todos possam se juntar a Ele, porque Ele nos ama mais do que conseguimos imaginar?

Uma dica é ler livros ilustrados sobre a Páscoa com os pequenos. Para as crianças mais velhas, eu gosto de reler as leituras da Missa juntos em casa. Assim as crianças têm algum tempo para pensar e rezar sobre elas em um ambiente calmo e privado.

Estas conversas são especialmente importantes durante o Tríduo Pascal, o mais curto, mas o mais profundo de todos os tempos litúrgicos. Aqui estão algumas coisas que você pode fazer para ajudar seus filhos a entenderem os acontecimentos do Tríduo Pascal.

2.     Quinta-feira Santa

Quinta-feira Santa é o dia em que Cristo instituiu a Santa Eucaristia na Última Ceia. Portanto, este é um dia em que falamos sobre o que significa para nós a Sagrada Comunhão. Aqueles que já a receberam podem mencionar porque são gratos a este sacramento.

Outra atividade significativa é lavar os pés uns dos outros, como Jesus fez na Última Ceia com seus discípulos.

3.     Sexta-feira Santa

Aqui em casa, rezamos as Estações da Cruz todos juntos na Sexta-feira Santa.

Também veneramos um crucifixo. Cada membro da família beija a cruz enquanto reza ‘Nós Te adoramos, ó Cristo, e Te abençoamos porque pela Tua Santa Cruz redimiste o mundo’.

Meus filhos me ajudam a fazer pãezinhos cruzados quentes ou uma coroa de espinhos de chocolate na Sexta-feira Santa.

4.    Sábado Santo

O Sábado Santo parece um longo dia de espera entre a Sexta-feira Santa e o Domingo de Páscoa. Felizmente, há muito o que fazer neste dia.

Estaremos limpando a casa e cozinhando para nos prepararmos para a festa da Páscoa.

Este é o dia em que, tradicionalmente, tingimos os ovos da Páscoa e conversamos sobre o simbolismo dos ovos como um sinal de renascimento.

Também desfrutamos de alguns dos pães cruzados quentes ou da coroa de espinhos de chocolate que fizemos no dia anterior!

À noite, lemos alguns desses livros ilustrados da Páscoa e bradamos alegremente : ‘Aleluia! Ele ressuscitou’ (não vou levar meus filhos para a Missa da Vigília Pascal, mas se o fizerem, eu os aplaudo).

É assim que eu celebro o Tríduo Pascal com meus filhos. Minha abordagem da vida litúrgica exige pouca preparação e nada de estresse. Só me asseguro de fazer o mais importante : ensinar e relembrar à minha família a História da Salvação.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2022/04/11/como-tornar-o-triduo-pascal-mais-significativo-e-menos-estressante-para-as-criancas/

quinta-feira, 9 de abril de 2020

A Noite que rompe o silêncio da morte


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Cruz no Coliseu
Cruz no Coliseu

*Artigo de Debora Donnini, vaticanista,
Silvonei José, jornalista


‘É na Missa da Epifania, no dia 6 de janeiro, que se anuncia a data do Domingo de Páscoa, o ápice do Tríduo da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, e o centro de todo o ano litúrgico. É precisamente a partir da Páscoa que surgem os dias santos. Nos ritmos e acontecimentos do tempo - recorda este anúncio -, vivemos os mistérios da salvação. A Páscoa é, portanto, a festa mais importante, como o próprio Papa Francisco salientou na sua audiência geral em 2018 durante a Semana Santa, exortando todos os cristãos a viverem estes dias como ‘a matriz’ da sua vida pessoal e comunitária. Uma festa que tem as suas raízes na Páscoa judaica, que comemora a passagem da escravidão do Egito para a liberdade, realizada por Deus com o povo de Israel.

O Tríduo Pascal, que começa com a Missa in Coena Domini na tarde da Quinta-feira Santa, termina com as Vésperas do domingo e pode, portanto, ser vivido como um único caminho que culmina na Noite das Noites, a noite em que Cristo destruiu a morte e dos mortos ressuscita vitorioso : a noite que, entre sábado e domingo, conheceu a hora em que o Senhor ressuscitou, como recorda o Exultet, o precônio Pascal, cantado precisamente na liturgia da Vigília Pascal.

O Tríduo deste ano será certamente diferente. Com tristeza em muitos países, os fiéis não poderão participar nas liturgias, mas mesmo nas provações e sofrimentos deste 2020, este Tríduo vem ‘procurar’ a vida do homem. A ‘liturgia doméstica’ nos dias do Tríduo Pascal será composta por dois gestos : olhar o Crucifixo e ler o Evangelho, recordou o Papa na audiência geral da Quarta-feira Santa.

A Última Ceia

Na Missa in Coena Domini recordamos a Última Ceia de Jesus com os apóstolos, ‘antecipando no banquete pascal o seu sacrifício no Gólgota’, e a instituição da Eucaristia, recordou o Papa Francisco na sua catequese da quarta-feira da Semana Santa de 2016, no auge do Jubileu da Misericórdia, sublinhando também que ‘para fazer compreender aos discípulos o amor que o anima, lavar-lhes os pés, oferecendo uma vez mais o exemplo em primeira pessoa de como eles devem agir’. E isso com um forte apelo ao serviço. Este ano, o gesto de lavar os pés, já facultativo, é omitido, como estabelecido pelo decreto da Congregação para o Culto Divino, que deu orientações para os países afetados pela pandemia, onde bispos e sacerdotes celebrarão sem a participação do povo.

A Cruz

A Sexta-feira Santa comemora a morte de Jesus. O amor, doado até ao fim, se abandona ao Pai. Nas igrejas de todo o mundo não há celebração eucarística, mas uma ‘ação litúrgica’. Por isso, é central neste dia a celebração da Paixão do Senhor com a adoração da Cruz, mesmo se este ano o beijo se limite apenas ao celebrante. Também as demais liturgias do Tríduo serão celebradas sem a presença dos fiéis. Precisamente para responder às perguntas sobre a presença de Deus neste momento difícil, o Papa quis recordar que Deus se revelou completamente na cruz, que é ‘a cátedra de Deus’. Na audiência de quarta-feira, 8 de abril, dedicada ao Tríduo, exortou-nos a estarmos diante do Crucifixo em silêncio, para ver que o nosso Senhor não aponta o dedo nem mesmo diante daqueles que o crucificam, mas abre os braços a todos, dando a sua vida e tomando sobre si os nossos pecados. Um dos momentos centrais da celebração da Paixão é a oração universal e este ano foi pedida uma intenção especial por aqueles que se encontram numa situação de desânimo, pelos doentes e pelos defuntos. Também este ano, a Via Sacra, tradicionalmente presidida pelo Papa no Coliseu, será realizada na Praça de São Pedro.

Tanto na Quinta-feira Santa como na Sexta-feira Santa, as liturgias se concluem em silêncio porque a bênção final e a despedida serão na Vigília. Foi Pio XII quem retomou a Vigília Pascal, dando vida a uma reforma que prosseguiria até ser completada com o Concílio Vaticano II.

A Noite das Noites

O Sábado Santo é o dia do grande silêncio até à Vigília Pascal, a hora da Mãe, que espera em silêncio, com o seu coração trespassado pela dor de ter visto o seu Filho flagelado e pregado na cruz. Um silêncio que será interrompido pela ‘Mãe de todas as vigílias’, como Santo Agostinho a chamava.

Com a liturgia do fogo, o acendimento do círio pascal marca o início dessa noite das noites em que se celebra o Cristo Ressuscitado, o centro e o fim do cosmos e da história, a noite em que o Aleluia rompe o silêncio da morte e em que as leituras da Liturgia repercorrem a história da salvação desde a criação, não numa concepção cíclica da história, como memória de algo que aconteceu no passado, mas como um evento que todos são chamados a viver entrando na dinâmica dessa passagem da morte para a vida. Uma passagem, já, agora, da escravidão do pecado, da dor e da frustração. Mas também se faz presente, nesta noite, que a nossa vida não termina diante da pedra de um túmulo, porque Cristo desse túmulo ressuscitou. Uma liturgia, a da Vigília Pascal, composta por quatro partes, a liturgia do fogo, da Palavra, dos Batismos e a Eucaristia. Este ano, devido à emergência do Coronavírus, na liturgia batismal apenas se mantém a renovação das promessas batismais.

Com o Domingo de Páscoa tem início o tempo pascal que dura até Pentecostes e que está profundamente unido ao Tríduo pascal. Os primeiros oito dias são a Oitava de Páscoa. Estes 50 dias do período pascal tornam visível esta alegria da Ressurreição, que se faz testemunho. Estes são os dias da alegria, da alegria que só se sente quando se tem a promessa e a certeza de que a última palavra não é a morte e que aquela círio, mesmo na escuridão desta pandemia que envolve o mundo, continua a iluminar.’


Fonte :

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Tríduo Pascal

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Imagem relacionada
*Artigo do Padre Vitor Galdino Feller


A Igreja entende por Tríduo Pascal os três dias em que se celebra a Páscoa, isto é, a passagem de Cristo, da morte para a vida, da cruz para a glória. Por isso, já se celebra a Páscoa quando se celebra a morte. Pois não há ressurreição sem morte, não há alegria sem sofrimento. A Páscoa (do hebraico pessach) envolve três momentos : o ponto inicial – a morte; o ponto intermediário – a sepultura; o ponto final – a ressurreição. O Tríduo Pascal começa na celebração da Missa da Ceia do Senhor, na Quinta-feira santa à noite, e termina com o Ofício das Vésperas, no Domingo de Páscoa à tarde. Para entender que há três dias nesse espaço, é preciso contar os dias do mesmo modo que os judeus : de um pôr-do-sol a outro. Assim, temos : o primeiro dia, que vai de Quinta à noite até Sexta no final da tarde: é o dia da morte; o segundo dia, de Sexta à noite até Sábado no final da tarde: é o dia da sepultura, da ausência; o terceiro dia, de Sábado à noite até Domingo no final da tarde : é o dia da ressurreição. Portanto, não são três dias preparatórios e um dia de celebração. Mas, três dias de celebração da Páscoa, em três momentos significativos : a morte, a ausência, a ressurreição!

O primeiro dia : a morte

Não existe ressurreição sem morte. O Cristo vivo, glorioso, ressuscitado, não é um fantasma, uma idéia, uma teoria. É alguém vivo, concreto. É aquele que morreu, que amou até o fim, que foi fiel e obediente ao Pai no projeto de um Reino de vida para todos, a começar com aqueles que são excluídos. O ressuscitado é o crucificado. Por isso, já se celebra a Páscoa, quando se faz memória da morte de Jesus. Também porque aquele que morre não é uma vítima qualquer. Mas é o Senhor da vida, o Senhor que dá a vida.

O primeiro dia começa com a Missa da Ceia do Senhor. A Quaresma vai até Quinta-feira santa à tarde. À noite, começa a Páscoa, com a celebração desses momentos tão significativos do final da vida de Jesus : a ceia de despedida, o lava-pés, as três instituições, do mandamento novo do amor e dos sacramentos da Eucaristia e do Sacerdócio. Celebra-se a entrega de Jesus, sua humilhação e rebaixamento. Pois não há verdadeiro amor sem humildade, sem doação e entrega de si. No ritual desses momentos celebramos a morte de Jesus na forma de entrega, como de um Amigo que se deixa em sacramento de partilha, um Mestre que continua na pequenez do pão comido e do vinho bebido, um Cordeiro que se deixa levar ao matadouro, um Salvador que se deixa trair.

Esse primeiro dia continua pela noite afora, com a memória da traição de Judas, da agonia no Horto, da prisão, da condenação diante do Sinédrio e de Pilatos. E termina na tarde de Sexta-feira, com a Celebração da Paixão do Senhor, quando se recorda a crucifixão, as últimas palavras e o último suspiro de Jesus, quando ele já nos entrega o Espírito Santo. Faz-se a leitura do Servo Sofredor, lê-se o Evangelho de sua Paixão e Morte, adora-se a sua Cruz, recebe-se o sacramento de seu Sacrifício redentor.

Nesse dia, além da Missa da Ceia e da Celebração da Paixão, não há nenhuma celebração litúrgica : missas, batismos, casamentos etc. As manifestações da religiosidade popular, como vias-sacras, caminhadas com a cruz, etc., expressam e dramatizam, na oração e no silêncio, a dor pela morte do Senhor.

O segundo dia : a ausência

A passagem da morte para a vida implica uma ausência. No segundo dia do Tríduo Pascal, que vai de Sexta à noite até Sábado no final da tarde, a Igreja celebra a sepultura de Jesus, a ausência de seu Amigo, a ida do Senhor à mansão dos mortos. É dia de silêncio e recolhimento, para recordar a quênose máxima do Senhor, isto é, seu rebaixamento e humilhação até a morte.

Nesse dia, também não há nenhuma celebração litúrgica : missas, batismos, casamentos etc. As igrejas permanecem fechadas, em sinal de luto. Na noite de Sexta-feira, quando começa esse segundo dia, a religiosidade popular costuma expressar a dor cristã, através da Procissão do Senhor morto e do Encontro com Nossa Senhora das Dores. É um modo simples e profundo de acompanhar o Filho de Deus em sua ida à mansão dos mortos, e sua Mãe Desolada na alegria contida pela vitória de Deus sobre o maior inimigo do ser humano, a morte!

O terceiro dia : a ressurreição

Com a celebração da Vigília Pascal, na noite de Sábado santo, começa o terceiro dia, o dia da glória, da luz, da vida, da ressurreição. O Senhor vence o poder da morte. Ele ressuscita glorioso sobre o poder do mal. Ele paga o mal com o bem, o ódio com o amor, a vingança com o perdão. Com isso, propõe uma reviravolta em nosso modo de pensar e agir. Chama-nos a fazer, também nós, a passagem: do pecado para a graça, do egoísmo para a comunhão, da indiferença para a solidariedade, da escravidão dos vícios para a liberdade da virtude cristã.

Com a Missa da Vigília Pascal, na noite de Sábado, e as missas do Domingo de Páscoa, a Igreja celebra a vida em abundância que jorra do sacrifício redentor de Cristo. Na Liturgia da Luz, com a bênção do Fogo Novo e a procissão do Círio Pascal, caminhamos nas trevas seguindo o Cristo, a nuvem luminosa de nossa salvação. Na Liturgia da Palavra, ouvimos as leituras da história da salvação, como alguém que do final do túnel olha para trás e vê que todo o passado ganha uma nova compreensão. Na Liturgia Batismal, festejamos nosso batismo, quando morremos para o pecado e ressuscitamos para a vida nova de filhos de Deus. Na Liturgia Eucarística, fazemos memória do mistério pascal, isto é, da morte e da ressurreição do Senhor.

Depois, durante todo o ano, em cada domingo, em cada missa e em qualquer outro sacramento, voltamos sempre ao Tríduo Pascal. E gritamos vitoriosos : ‘O Senhor morreu, o Senhor ressuscitou, o Senhor vem!’’


Fonte :

quinta-feira, 2 de abril de 2015

O Tríduo Pascal

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)



‘A palavra tríduo na prática devocional católica sugere a idéia de preparação. Às vezes nos preparamos para a festa de um santo com três dias de oração em sua honra, ou pedimos uma graça especial mediante um tríduo de preces de intercessão.

O tríduo pascal se considerava como três dias de preparação para a festa de Páscoa; compreendia a quinta-feira, a sexta-feira e o sábado da Semana Santa. Era um tríduo da paixão.

No novo calendário e nas normas litúrgicas para a Semana Santa, o enfoque é diferente. O tríduo se apresenta não como um tempo de preparação, mas sim como uma só coisa com a Páscoa. É um tríduo da paixão e ressurreição, que abrange a totalidade do mistério pascal. Assim se expressa no calendário :

Cristo redimiu ao gênero humano e deu perfeita glória a Deus principalmente através de seu mistério pascal : morrendo destruiu a morte e ressuscitando restaurou a vida. O tríduo pascal da paixão e ressurreição de Cristo é, portanto, a culminação de todo o ano litúrgico.

Logo estabelece a duração exata do tríduo :

O tríduo começa com a missa vespertina da Ceia do Senhor, alcança seu cume na Vigília Pascal e se fecha com as vésperas do Domingo de Páscoa.

Esta unificação da celebração pascal é mais acorde com o espírito do Novo Testamento e com a tradição cristã primitiva. O mesmo Cristo, quando aludia a sua paixão e morte, nunca as dissociava de sua ressurreição. No evangelho da quarta-feira da segunda semana de quaresma (Mt 20,17-28) fala delas em conjunto : ‘O condenarão à morte e o entregarão aos gentis para que d'Ele façam escarnio, o açoitem e o crucifiquem, e ao terceiro dia ressuscitará’.

É significativo que os pais da Igreja, tanto Santo Ambrosio como Santo Agostinho, concebam o tríduo pascal como um todo que inclui o sofrimento do Jesus e também sua glorificação. O bispo de Milão, em um dos seus escritos, refere-se aos três Santos dias (triduum illud sacrum) como aos três dias nos quais sofreu, esteve no túmulo e ressuscitou, os três dias aos que se referiu quando disse : ‘Destruam este templo e em três dias o reedificarei’. Santo Agostinho, em uma de suas cartas, refere-se a eles como ‘os três sacratíssimos dias da crucificação, sepultura e ressurreição de Cristo’.

Esses três dias, que começam com a missa vespertina da quinta-feira santa e concluem com a oração de vésperas do domingo de páscoa, formam uma unidade, e como tal devem ser considerados. Por conseguinte, a páscoa cristã consiste essencialmente em uma celebração de três dias, que compreende as partes sombrias e as facetas brilhantes do mistério salvífico de Cristo. As diferentes fases do mistério pascal se estendem ao longo dos três dias como em um tríptico : cada um dos três quadros ilustra uma parte da cena; juntos formam um tudo. Cada quadro é em si completo, mas deve ser visto em relação com os outros dois.

Interessa saber que tanto na sexta-feira como na sábado santo, oficialmente, não formam parte da quaresma. Segundo o novo calendário, a quaresma começa na quarta-feira de cinza e conclui na quinta-feira santa, excluindo a missa do jantar do Senhor na sexta-feira e na sábado da semana Santa não são os últimos dois dias de quaresma, mas sim os primeiros dois dias do ‘sagrado tríduo’.


Pensamentos para o tríduo

A unidade do mistério pascal tem algo importante que nos ensinar. Diz-nos que a dor não somente é seguida pelo gozo, senão que já o contém em si. Jesus expressou isto de diferentes maneiras. Por exemplo, no último jantar disse a seus apóstolos : ‘Se entristecerão, mas sua tristeza se trocará em alegria’ (Jn 16,20). Parece como se a dor fosse um dos ingredientes imprescindíveis para forjar a alegria. A metáfora da mulher com dores de parto o expressa maravilhosamente. Sua dor, efetivamente, engendra alegria, a alegria ‘de que ao mundo lhe nasceu um homem’.

Outras imagens vão à memória. Todo o ciclo da natureza fala de vida que sai da morte : ‘Se o grão de trigo, que cai na terra, não morre, fica sozinho; mas se morrer, produz muito fruto’ (Jn 12,24).

A ressurreição é nossa páscoa; é um passo da morte à vida, da escuridão à luz, do jejum à festa. O Senhor disse : ‘Você, pelo contrário, quando jejuar, unja-se a cabeça e se lave a cara’ (MT 6,17). O jejum é o começo da festa.

O sofrimento não é bom em si mesmo; portanto, não devemos buscá-lo como tal. A postura cristã referente a ele é positiva e realista. Na vida de Cristo, e sobre tudo na sua cruz, vemos seu valor redentor. O crucifixo não deve reduzir-se a uma dolorosa lembrança do muito que Jesus sofreu por nós. É um objeto no que podemos nos glorificar porque está transfigurado pela glória da ressurreição.

Nossas vidas estão entretecidas de gozo e de dor. Fugir da dor e as penas a toda costa e procurar gozo e prazer por si mesmos são atitudes erradas. O caminho cristão é o caminho iluminado pelos ensinos e exemplos do Jesus. É o caminho da cruz, que é também o da ressurreição; é esquecimento de si, é perder-se por Cristo, é vida que brota da morte. O mistério pascal que celebramos nos dias do sagrado tríduo é a pauta e o programa que devemos seguir em nossas vidas.


Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.acidigital.com/fiestas/pascoa/triduo.htm

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Sacerdotes, arautos da caridade

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 * Artigo de Dom Orani João Tempesta, O. Cist.,
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
  

‘Sempre ouvimos o termo sacerdote e seria muito bom, aproveitando o Tríduo Pascal, refletirmos sobre isso em vista das celebrações da Quinta-feira Santa, com a Instituição do Sacerdócio Ministerial.

Nenhum de nós – que recebemos o sacramento da Ordem em seu segundo ou terceiro graus – tem um sacerdócio próprio, mas somos participantes do único sacerdócio de Cristo, Nosso Senhor (cf. Hb 5,10; 6,20), que é o mediador por excelência entre Deus e os homens (cf. 1Tm 2,5). Ele santo, inocente e imaculado (cf. Hb 7,16), com sua única oferenda, levou à perfeição, de uma vez por todas, os que Ele santifica (Hb 10,14) pelo sacrifício de sua cruz.

Assim como o sacrifício de Cristo é único – o da cruz –, mas torna-se presente no sacrifício da Igreja pela Santa Missa, o único sacerdócio de Cristo torna-se também presente pelo sacerdócio ministerial sem em nada diminuir a unicidade do sacerdócio de Cristo. Daí, ensinar São Tomás de Aquino que ‘somente Cristo é o verdadeiro sacerdote; os outros são seus ministros’ (Comentário aos Hebreus 7,4, citado pelo Catecismo da Igreja Católica n. 1545).

Se cada cristão batizado, por meio de seu sacerdócio comum ou batismal, tem a missão de exercitar a diaconia da caridade, muito mais nós, ministros ordenados, devemos exercer, de acordo com o nosso estado de vida, o amor fraterno para com os mais necessitados que se encontram à nossa volta e clamam por nossa ajuda, pois veem em nós, apesar de nossas misérias humanas, homens de Deus e distribuidores de Seu amor.

Aliás, o amor é a tônica ou o diferencial da vida cristã. Foi o próprio Senhor Jesus quem nos disse : ‘Amai-vos uns aos outros como eu vos amei’, pois ‘ninguém tem maior prova de amor do que aquele que dá a vida por seus amigos’ (Jo 15,12-13). Esse amor imperava nas primeiras comunidades cristãs, de modo que não havia necessitados entre eles (At. 2,42-47) e, assim, eram um só coração e uma só alma (cf. At 4,32).

O Apóstolo João exalta tanto a prática do amor que afirma que Deus é amor (cf. 1 Jo 4,16) e aquele que diz amar a Deus a quem não vê, mas não ama seu irmão a quem vê é mentiroso (cf. 1Jo 4,20). São Paulo escreve o belo hino da caridade e diz que sem amor somos como o sino que não faz barulho (cf. 1Cor 13), ou seja, não servimos para nada.

Voltando-nos para os ministros ordenados, dentre os quais eu me incluo, devemos pensar nas palavras do Senhor, em outro contexto, a dizer que a quem mais é dado, mais será pedido (cf. Lc 12,48). Quer dizer : se dos que receberam o sacerdócio comum dos fiéis pelo Batismo serão pedidas contas, quais não serão as cobranças exigidas daqueles que receberam, além do Santo Batismo, a ordenação presbiteral a fim de sermos as mãos estendidas de Cristo ao mundo?

Contudo, o que nos motiva a praticarmos o amor-ágape não é o medo da cobrança divina, mas, sim, a responsabilidade da função que assumimos, de servir a Deus por meio dos irmãos, a começar pelos que mais necessitam. Aliás, Jesus deixa claro que não são os que se acham de saúde que carecem de médicos, mas, sim, os doentes (cf. Mc 2,17).

O Papa Bento XVI recordava, em sua Catequese de 29 de abril de 2010, a vida de São Leonardo Murialdo, enquanto sacerdote exemplar do século XIX, dizendo que ele viveu ‘ressaltando a grandeza da missão do presbítero, que deve continuar a obra da redenção, a grande obra de Jesus Cristo, a obra do Salvador do mundo’, ou seja, de ‘salvar as almas’, São Leonardo recordava sempre a si mesmo e aos irmãos de hábito a responsabilidade de uma vida coerente com o sacramento recebido. Amor de Deus e amor a Deus : foi esta a força do seu caminho de santidade, a lei do seu sacerdócio, o significado mais profundo do seu apostolado entre os jovens pobres e a fonte da sua oração. São Leonardo Murialdo abandonou-se com confiança à Providência, cumprindo generosamente a vontade divina, no contato com Deus e dedicando-se aos jovens pobres. Deste modo, ele uniu o silêncio contemplativo com o ardor incansável da ação, a fidelidade aos deveres de cada dia com a genialidade das iniciativas, a força nas dificuldades com a tranquilidade do espírito. Este é o seu caminho de santidade para viver o mandamento do amor a Deus e ao próximo.

Outro exemplo de caridade sacerdotal, citado por Bento XVI na mesma Catequese, é a de São José de Cottolengo, também santo do século XIX. Este homem de Deus teve sua inspiração para se dedicar mais intensamente à caridade na manhã de domingo, 2 de setembro de 1827, ao encontrar-se, em Turim, com uma família francesa cuja esposa, com cinco filhos, estava em estado de gravidez avançada e com febre alta.

Depois de ter passado por vários hospitais – diz Bento XVI –, a família encontrou alojamento num dormitório público, mas a situação para a mulher foi-se agravando e algumas pessoas puseram-se em busca de um sacerdote. Por um misterioso desígnio, cruzaram-se com Cottolengo e foi precisamente ele, com o coração amargurado e oprimido, que acompanhou essa jovem mãe até à morte, entre a angústia de toda a família.

Depois de ter cumprido este doloroso dever, com o sofrimento no coração, foi diante do Santíssimo Sacramento e rezou : ‘Meu Deus, por quê? Por que quiseste que eu fosse uma testemunha? O que queres de mim? É necessário fazer algo!’ Levantou-se, mandou badalar todos os sinos, acendeu as velas e, recebendo os curiosos na igreja, disse : ‘A graça foi concedida! A graça foi concedida!’ A partir daquele momento, Cottolengo foi transformado : todas as suas capacidades, especialmente a sua habilidade econômica e organizativa, foram utilizadas para dar vida a iniciativas em defesa dos mais necessitados.

Ele soube – continua o Papa – empenhar no seu empreendimento dezenas e dezenas de colaboradores e voluntários. Transferindo-se para a periferia de Turim, a fim de ampliar a sua obra, criou uma espécie de povoado, no qual, a cada edifício que conseguiu construir, atribuiu um nome significativo : ‘casa da fé’, ‘casa da esperança’, ‘casa da caridade’. Pôs em ato o estilo das ‘famílias’, constituindo verdadeiras comunidades de pessoas, voluntários e voluntárias, homens e mulheres, religiosos e leigos, unidos para enfrentar e superar em conjunto as dificuldades que se apresentavam.

Cada um, naquela Pequena Casa da Providência Divina, tinha uma tarefa específica : alguns trabalhavam, outros rezavam, uns serviam, alguns educavam e outros ainda administravam. Pessoas sadias e doentes compartilhavam todas o mesmo peso da vida cotidiana. Também a vida religiosa se definiu no tempo, segundo as necessidades e as exigências particulares. Pensou também num seminário próprio, para uma formação específica dos sacerdotes da Obra. Estava sempre pronto a seguir e a servir a Providência Divina, nunca a interrogá-la. Dizia : ‘Sou inútil e nem sei o que faço.  Porém, a Providência Divina certamente sabe o que quer. Quando a mim, cabe-me apenas secundá-la. Para a frente, in Domino [no Senhor]’. Para os seus pobres e mais necessitados, definir-se-á sempre ‘o operário da Providência Divina’.

Ao lado das pequenas cidadelas, quis fundar também cinco mosteiros de irmãs contemplativas e um de eremitas, e ali considerou entre as realizações mais importantes : uma espécie de ‘coração’ que devia pulsar por toda a Obra.

Vê-se que ambos os santos sacerdotes caridosos tudo fizeram pelos mais necessitados, sem, contudo, descuidarem, por mínimo que fosse, da vida espiritual alicerçada na oração. Esta é o centro, o cume da caridade, pois por ela falamos com Deus e nos preparamos para, nas pregações, falar de Deus e, na caridade, agir como Cristo, Deus feito homem por amor de nós, agiria se ali estivesse.

Se olharmos para este nosso imenso Brasil, relembrando as nossas paróquias ou as cidades pelas quais já passamos, também encontraremos exemplos caritativos de velhos párocos que foram, a justo título, chamados de ‘pai dos pobres’, tão grande era o seu cuidado para com todos os que os procuravam. Ninguém saía do mesmo modo que chegou.

Engana-se, no entanto, quem imagina que a caridade é só material. Temos as clássicas obras de misericórdia, sendo que sete delas são materiais (dar de comer a quem tem fome, de beber a quem tem sede, vestir os nus etc.) e sete são espirituais (aconselhar os errantes, corrigir os que erram, consolar os aflitos etc.), de modo que, mesmo sem recursos financeiros, é possível praticar o amor para com o próximo que bate à nossa porta.

Eis um exemplo não muito distante de nós : um jovem entregue ao vício do álcool, em um momento de sobriedade pediu ajuda por e-mail a Dom Estevão Bettencourt, beneditino do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro e que muito fez por esta Arquidiocese, e para o qual celebramos missa no sexto aniversário de seu falecimento na semana passada. O monge lhe respondeu aconselhando-o, caridosamente, a deixar a bebida buscando auxílio de seus pais, voltando a estudar (atividade que ele deixara), procurando apoio em um grupo de AA (Alcoólicos Anônimos) e tentando reencontrar o sentido da vida em Deus e nos valores da fé por meio do apoio de um sacerdote.

Ciente das dificuldades em que o rapaz se encontrava, Dom Estevão lhe falava em certo trecho da mensagem : ‘Dirá você : e como hei de me aproximar de Deus? Como O acharei, a Ele que é invisível? – Respondo : procure um sacerdote ou um amigo firme na fé, alguém que tenha experiência do convívio com Deus e que lhe possa falar do Eterno com conhecimento de causa. A função do padre é servir aos irmãos e fazer tudo para ajudá-los. Se não encontrar alguém nas suas cercanias, disponha do irmão que lhe escreve (...). Use e abuse de quem o passa a ajudar’ (Pergunte e Responderemos n. 448, setembro de 1999, p. 430).

Eis um belo exemplo da caridade sacerdotal que leva ao desprendimento de si para consumir-se, qual chama de uma vela, pelos irmãos que mais carecem de nosso auxílio certo, nas horas incertas de suas vidas a fim de poderem sair de suas ‘periferias existenciais’, como gosta de lembrar o Papa Francisco, e vir para o centro da vida, da família, da comunidade... de onde nunca deveriam ter se afastado.

Como não lembrarmos aqui daquela canção religiosa que diz ‘Quem vive para si empobrece o seu viver, quem doar a própria vida, vida nova há de colher’. Sim, pois o Pai do céu ama quem oferta sem reservas e com alegria (cf. 2Cor 9,7). Este deve ser o caso do sacerdote para quem, a partir do momento de sua entrega vocacional, cujo ápice é a ordenação, nada mais lhe pertence, mas tudo o que Deus lhe deu deve ser colocado a serviço do irmão.

Sem vivermos essa realidade desafiadora, mas, ao mesmo tempo nobre, da nossa missão, corremos o risco de ser como o sino que soa em vão, de nos tornarmos meros ‘funcionários do sagrado, sem fé e nem amor’. Não foi para isso que Cristo chamou e escolheu a nós, seus ministros, mas, sim, para sermos arautos da caridade, uma vez que Ele mesmo deu-nos o exemplo maior, entregando Sua vida por nós quando ainda éramos pecadores (cf. Rm 5,6).

Cientes de tudo isso, peçamos confiantes : Senhor Jesus, dai-nos a graça de viver santamente o meu ministério sacerdotal servindo na caridade os meus irmãos e irmãs, especialmente aqueles que mais necessitam de minha presença junto deles a fim de levar-Vos comigo. Amém!’


Fonte  :

* Artigo na íntegra de http://www.zenit.org/pt/articles/sacerdotes-arautos-da-caridade


sexta-feira, 29 de março de 2013

Tríduo Pascal - Sábado Santo

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


A Liturgia das Horas e a reflexão no Sábado do Tríduo Pascal : 

Ofício das Leituras 

Primeira leitura  

Da Carta aos Hebreus 4,1-13 

Esforcemo-nos por entrar no repouso de Deus  

‘Irmãos: 1Tenhamos cuidado, enquanto nos é oferecida a oportunidade de entrar no repouso de Deus, não aconteça que alguém de vós fique para trás. 2Também nós, como eles, recebemos uma boa-nova. Mas a proclamação da palavra de nada lhes adiantou, por não ter sido acompanhada da fé naqueles que a tinham ouvido, 3enquanto nós, que acreditamos, entramos no seu repouso. É assim como ele falou: “Por isso jurei na minha ira: jamais entrarão no meu repouso.”
Isso, não obstante as obras de Deus estarem terminadas desde a criação do mundo. 4Pois, em certos lugares, assim falou do sétimo dia: “E Deus repousou no sétimo dia de todas as suas obras”, 5e ainda novamente: “Não entrarão no meu repouso.” 6Então, ainda há oportunidade para alguns entrarem nesse repouso. E como os que primeiro receberam o anúncio não entraram por causa de sua incredulidade, 7Deus marca de novo um dia, um “hoje”, falando por Davi, muito tempo depois, como se disse acima: “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações”.

8Ora, se Josué lhes tivesse proporcionado esse repouso, não falaria de outro dia depois. 9Portanto ainda está reservado um repouso sabático para o povo de Deus. 10Pois aquele que entrou no repouso de Deus está descansando de suas obras, assim como Deus descansou das suas.

11Esforcemo-nos, portanto, por entrar neste repouso, para que ninguém repita o acima referido exemplo de desobediência. 12A Palavra de Deus é viva, eficaz e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes. Penetra até dividir alma e espírito, articulações e medulas. Ela julga os pensamentos e as intenções do coração. 13E não há criatura que possa ocultar-se diante dela. Tudo está nu e descoberto aos seus olhos, e é a ela que devemos prestar contas.’  


Segunda leitura   

De uma antiga Homilia no grande Sábado Santo  

(PG43,439.451.462-463)           (Séc.IV)  

A descida do Senhor à mansão dos mortos  

‘Que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há  séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos.  

Ele vai antes de tudo à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos, agora libertos dos sofrimentos.  

O Senhor entrou onde eles estavam, levando em suas mãos a arma da cruz vitoriosa. Quando Adão, nosso primeiro pai, o viu, exclamou para todos os demais, batendo no peito e cheio de admiração: “O meu Senhor está no meio de nós”. E Cristo respondeu a Adão: “E com teu espírito”. E tomando-o pela mão, disse: “Acorda, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará. 

Eu sou o teu Deus, que por tua causa me tornei teu filho; por ti e por aqueles que nascerame ti, agora digo, e com todo o meu poder, ordeno aos que estavam na prisão: ‘Saí!’; e aos que jaziam nas trevas: ‘Vinde para a luz!’; e aos entorpecidos: ‘Levantai-vos!’ 

Eu te ordeno: Acorda, tu que dormes, porque não te criei para permaneceres na mansão dos mortos. Levanta-te dentre os mortos; eu sou a vida dos mortos. Levanta-te, obra das minhas mãos; levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te, saiamos daqui; tu em mim e eu em ti, somos uma só e indivisível pessoa.  

Por ti, eu, o teu Deus, me tornei teu filho; por ti, eu, o Senhor, tomei tua condição de escravo. Por ti, eu, que habito no mais alto dos céus, desci à terra e fui até mesmo sepultado debaixo da terra; por ti, feito homem, tornei-me como alguém sem apoio, abandonado entre os mortos. Por ti, que deixaste o jardim do paraíso, ao sair de um jardim fui entregue aos judeus e num jardim, crucificado. 

Vê em meu rosto os escarros que por ti recebi, para restituir-te o sopro da vida original. Vê na minha face as bofetadas que levei para restaurar, conforme à minha imagem, tua beleza corrompida.  

Vê em minhas costas as marcas dos açoites que suportei por ti para retirar de teus ombros o peso dos pecados. Vê minhas mãos fortemente pregadas à árvore da cruz, por causa de ti, como outrora estendeste levianamente as tuas mãos para a árvore do paraíso.  

Adormeci na cruz e por tua causa a lança penetrou no meu lado, como Eva surgiu do teu, ao adormeceres no paraíso. Meu lado curou a dor do teu lado. Meu sono vai arrancar-te do sono da morte. Minha lança deteve a lança que estava dirigida contra ti.  

Levanta-te, vamos daqui. O inimigo te expulsou da terra do paraíso; eu, porém, já não te coloco no paraíso mas num trono celeste. O inimigo afastou de ti a árvore, símbolo da vida; eu, porém, que sou a vida, estou agora junto de ti. Constituí anjos que, como servos, te guardassem; ordeno agora que eles te adorem como Deus, embora não sejas Deus.  

Está preparado o trono dos querubins, prontos e a postos os mensageiros, construído o leito nupcial, preparado o banquete, as mansões e os tabernáculos eternos adornados, abertos os tesouros de todos os bens e o reino dos céus preparado para ti desde toda a eternidade”.’

Fonte :
‘In Liturgia das Horas II, pg. 437 a 440’