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quinta-feira, 12 de março de 2020

A beleza e os benefícios de buscar mais silêncio na vida

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo do Padre Michael Rennier,
sacerdote católico ordenado através da Provisão Pastoral para 
ex-clérigos episcopais que foi criado pelo Papa São João Paulo II


‘Vi recentemente um vídeo produzido pelo The New York Times sobre um ecologista chamado Gordon Hempton.

O vídeo segue-o enquanto ele procura lugares no fundo da floresta, livres de ruídos artificiais.

Hempton não está buscando o silêncio como meio de fuga. Em vez disso, ele está tentando fazer uma conexão.

O silêncio não é a ausência de algo, mas a presença de tudo, diz ele.

Se ficamos em silêncio e ouvimos, se realmente ouvimos verdadeiramente os sons sutis do mundo natural ou as palavras de outra pessoa, somos atraídos para uma experiência mais completa da realidade que, de outra forma, teria passado por nós.

É a chance de sair de nossas próprias cabeças, longe dos pensamentos que se agitam naquele monólogo interno incessante que carregamos todos os dias.

É também a chance de nos removermos dos ruídos que nos cercam diariamente. Estamos nos afogando em barulho e, por isso, perdemos a capacidade de ouvir.

Hempton, no final do vídeo, diz : ‘o que mais gosto é que, quando ouço, desapareço. Eu desapareço.’

Para ouvir, o ego deve ser deixado de lado. Pense nisso : quantos de nós não estão realmente ouvindo um ao outro?

Quantos de nós estão apenas esperando a outra pessoa parar de falar para que possa ser a nossa vez? Estamos tão ansiosos por nos ouvir falar que não ouvimos mais; simplesmente esperamos até a nossa vez de falar novamente.

Pense em quanto estamos perdendo – a chance de nos acalmarmos e encontrar a calma interior, a chance de aprender algo novo, a chance de fazer uma conexão humana genuína.

Acima de tudo, parece-me, devemos dedicar um tempo para ouvir porque amamos. Eu ouço minha esposa me contar sobre o dia dela, porque quero compartilhar nossas vidas. Eu ouço um amigo tomando café, porque essa é minha oferta para ele. Faço uma pausa e ouço os passarinhos cantando, porque amo todos os dias da vida que tenho o privilégio de experimentar nesta linda terra.

Um dos presentes reais da Quaresma é que ela nos obriga a ouvir. É uma época de contemplação silenciosa, marcada por oração e sacrifícios extras que nos tiram da nossa rotina normal. Cada Quaresma, ao pensar em como quero dar um passo à frente em minha disciplina espiritual, acho que é vital dedicar um tempo ao silêncio para que eu possa realmente ouvir.

Sou padre de uma paróquia e, muitas vezes, ao fechar a igreja à noite, apago as luzes até que tudo o que é visível na escuridão seja o brilho vermelho da vela do tabernáculo. Então eu me sento. Fico quieto. Eu escuto a poesia do espaço. Todo lugar tem um som próprio. Qual é o som de uma igreja à noite? É o som do braço de uma mãe em volta de uma criança.

Um som pode transformar uma vida. Quando sento na minha igreja e ouço, sinto uma sensação de paz que raramente sinto em outro lugar. Mas poderia ser qualquer som, realmente.

Poderia ser o som de trovões colidindo com colinas, gotas de chuva atingindo o telhado, o rangido dos aviões quando eles alcançam o céu.

Pode ser a respiração de um bebê no meio da soneca, ou uma pisada na neve, ou o som de crianças rindo no quintal. Porque é como ler um poema, há uma verdadeira arte em ouvir.

O filósofo Erich Fromm acredita nisso, e em seu livro Art of Listening ele fala sobre como toda arte tem princípios e técnicas racionais. Aqui estão suas regras para se tornar um ouvinte melhor :

– Concentre-se completamente.

– Não pense em nada além de ouvir.

– Aplique sua imaginação ao que você está ouvindo.

– Crie empatia com o que você está ouvindo.

– Descubra alguma forma de amor pela pessoa ou coisa a quem você está ouvindo.

Seguindo essas diretrizes, cada um de nós pode praticar a arte de ouvir. É um hábito que recompensará quem pratica.

Não é apenas um ato de amor que os outros notarão com apreço, não apenas melhorará nossos relacionamentos e nos ajudará a ter conversas melhores e mais proveitosas, mas sempre que ouvirmos atentamente, ouviremos a presença de um grande mistério, um antigo nutrir a presença embutida na criação. É a voz mansa e delicada de Deus sussurrando.

É hora de começarmos a ouvir.’


Fonte :

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Tríduo Pascal

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Imagem relacionada
*Artigo do Padre Vitor Galdino Feller


A Igreja entende por Tríduo Pascal os três dias em que se celebra a Páscoa, isto é, a passagem de Cristo, da morte para a vida, da cruz para a glória. Por isso, já se celebra a Páscoa quando se celebra a morte. Pois não há ressurreição sem morte, não há alegria sem sofrimento. A Páscoa (do hebraico pessach) envolve três momentos : o ponto inicial – a morte; o ponto intermediário – a sepultura; o ponto final – a ressurreição. O Tríduo Pascal começa na celebração da Missa da Ceia do Senhor, na Quinta-feira santa à noite, e termina com o Ofício das Vésperas, no Domingo de Páscoa à tarde. Para entender que há três dias nesse espaço, é preciso contar os dias do mesmo modo que os judeus : de um pôr-do-sol a outro. Assim, temos : o primeiro dia, que vai de Quinta à noite até Sexta no final da tarde: é o dia da morte; o segundo dia, de Sexta à noite até Sábado no final da tarde: é o dia da sepultura, da ausência; o terceiro dia, de Sábado à noite até Domingo no final da tarde : é o dia da ressurreição. Portanto, não são três dias preparatórios e um dia de celebração. Mas, três dias de celebração da Páscoa, em três momentos significativos : a morte, a ausência, a ressurreição!

O primeiro dia : a morte

Não existe ressurreição sem morte. O Cristo vivo, glorioso, ressuscitado, não é um fantasma, uma idéia, uma teoria. É alguém vivo, concreto. É aquele que morreu, que amou até o fim, que foi fiel e obediente ao Pai no projeto de um Reino de vida para todos, a começar com aqueles que são excluídos. O ressuscitado é o crucificado. Por isso, já se celebra a Páscoa, quando se faz memória da morte de Jesus. Também porque aquele que morre não é uma vítima qualquer. Mas é o Senhor da vida, o Senhor que dá a vida.

O primeiro dia começa com a Missa da Ceia do Senhor. A Quaresma vai até Quinta-feira santa à tarde. À noite, começa a Páscoa, com a celebração desses momentos tão significativos do final da vida de Jesus : a ceia de despedida, o lava-pés, as três instituições, do mandamento novo do amor e dos sacramentos da Eucaristia e do Sacerdócio. Celebra-se a entrega de Jesus, sua humilhação e rebaixamento. Pois não há verdadeiro amor sem humildade, sem doação e entrega de si. No ritual desses momentos celebramos a morte de Jesus na forma de entrega, como de um Amigo que se deixa em sacramento de partilha, um Mestre que continua na pequenez do pão comido e do vinho bebido, um Cordeiro que se deixa levar ao matadouro, um Salvador que se deixa trair.

Esse primeiro dia continua pela noite afora, com a memória da traição de Judas, da agonia no Horto, da prisão, da condenação diante do Sinédrio e de Pilatos. E termina na tarde de Sexta-feira, com a Celebração da Paixão do Senhor, quando se recorda a crucifixão, as últimas palavras e o último suspiro de Jesus, quando ele já nos entrega o Espírito Santo. Faz-se a leitura do Servo Sofredor, lê-se o Evangelho de sua Paixão e Morte, adora-se a sua Cruz, recebe-se o sacramento de seu Sacrifício redentor.

Nesse dia, além da Missa da Ceia e da Celebração da Paixão, não há nenhuma celebração litúrgica : missas, batismos, casamentos etc. As manifestações da religiosidade popular, como vias-sacras, caminhadas com a cruz, etc., expressam e dramatizam, na oração e no silêncio, a dor pela morte do Senhor.

O segundo dia : a ausência

A passagem da morte para a vida implica uma ausência. No segundo dia do Tríduo Pascal, que vai de Sexta à noite até Sábado no final da tarde, a Igreja celebra a sepultura de Jesus, a ausência de seu Amigo, a ida do Senhor à mansão dos mortos. É dia de silêncio e recolhimento, para recordar a quênose máxima do Senhor, isto é, seu rebaixamento e humilhação até a morte.

Nesse dia, também não há nenhuma celebração litúrgica : missas, batismos, casamentos etc. As igrejas permanecem fechadas, em sinal de luto. Na noite de Sexta-feira, quando começa esse segundo dia, a religiosidade popular costuma expressar a dor cristã, através da Procissão do Senhor morto e do Encontro com Nossa Senhora das Dores. É um modo simples e profundo de acompanhar o Filho de Deus em sua ida à mansão dos mortos, e sua Mãe Desolada na alegria contida pela vitória de Deus sobre o maior inimigo do ser humano, a morte!

O terceiro dia : a ressurreição

Com a celebração da Vigília Pascal, na noite de Sábado santo, começa o terceiro dia, o dia da glória, da luz, da vida, da ressurreição. O Senhor vence o poder da morte. Ele ressuscita glorioso sobre o poder do mal. Ele paga o mal com o bem, o ódio com o amor, a vingança com o perdão. Com isso, propõe uma reviravolta em nosso modo de pensar e agir. Chama-nos a fazer, também nós, a passagem: do pecado para a graça, do egoísmo para a comunhão, da indiferença para a solidariedade, da escravidão dos vícios para a liberdade da virtude cristã.

Com a Missa da Vigília Pascal, na noite de Sábado, e as missas do Domingo de Páscoa, a Igreja celebra a vida em abundância que jorra do sacrifício redentor de Cristo. Na Liturgia da Luz, com a bênção do Fogo Novo e a procissão do Círio Pascal, caminhamos nas trevas seguindo o Cristo, a nuvem luminosa de nossa salvação. Na Liturgia da Palavra, ouvimos as leituras da história da salvação, como alguém que do final do túnel olha para trás e vê que todo o passado ganha uma nova compreensão. Na Liturgia Batismal, festejamos nosso batismo, quando morremos para o pecado e ressuscitamos para a vida nova de filhos de Deus. Na Liturgia Eucarística, fazemos memória do mistério pascal, isto é, da morte e da ressurreição do Senhor.

Depois, durante todo o ano, em cada domingo, em cada missa e em qualquer outro sacramento, voltamos sempre ao Tríduo Pascal. E gritamos vitoriosos : ‘O Senhor morreu, o Senhor ressuscitou, o Senhor vem!’’


Fonte :