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domingo, 26 de novembro de 2023

Como saber se tenho vocação sacerdotal ou religiosa?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

*Artigo de Felipe Aquino,

professor 


‘Jesus chamou para apóstolos ‘aqueles que Ele quis’, depois de passar a noite em oração. A Igreja viu nisso o chamado ao sacerdócio e também às outras formas de vida religiosa.

É Jesus quem chama o jovem à vida sacerdotal, o que não é fácil. A vida religiosa exige muitas renúncias para ser ‘todo de Deus’, estar a serviço do Seu Reino para a edificação da Igreja e a salvação das almas.

A palavra ‘vocação’ vem do latim vocare, que quer dizer ‘chamar’. Deus põe no coração do jovem esse desejo de servi-lo radicalmente, em tempo integral, sem divisão.


Alguns sinais indicativos da vocação

Para discernir esse chamado divino, o jovem precisa, sem dúvida, de um bom orientador espiritual, um padre ou um leigo experiente para ajudá-lo. Penso que alguns sinais indicativos da vocação de um jovem ao sacerdócio ou à vida religiosa sejam esses :

1. Ter vontade de entregar a vida totalmente a Deus sem guardar nada para si; ser como Jesus, totalmente disponível ao Reino de Deus. Ser um outro Cristo – alter Christus. Abraçar o celibato com gosto, oferecendo a Deus a renúncia de não ter esposa, filhos, netos, vontade própria etc. É um casamento com Jesus. Ele disse que receberá o cêntuplo nesta vida e a vida eterna depois quem deixar tudo por causa d’Ele e do Seu Reino. Jesus disse que as raposas têm seus ninhos, mas que Ele não tinha nem mesmo onde reclinar a cabeça. Isso é sinal de uma vida despojada de tudo. Nada era d’Ele, nem a gruta onde nasceu, nem o burrinho que O levou a Jerusalém. O barco de onde pregava e viajava, o manto que os soldados sortearam também não eram d’Ele. Nem a casa onde vivia em Cafarnaum pertencia ao Senhor. Tudo Lhe foi emprestado. Cristo era despojado de tudo; a Ele só pertencia a cruz.

Dom Bosco disse que não pode haver graça maior para uma família do que ter um filho sacerdote. É verdade. O padre faz o que os anjos não podem fazer : perdoar os pecados, realizar o milagre da Eucaristia, tornar presente o Calvário em cada Missa para a salvação do mundo.

2. A vocação religiosa exige que o candidato tenha o desejo de trabalhar como Jesus pela salvação das almas, sem pensar em um projeto para a sua vida. Exige entrega total nas mãos de Deus, desejo de viver mergulhado no Senhor. Tem de gostar de rezar, de estar com Deus, de meditar sua Palavra e participar da liturgia, pois sem isso não se sustenta uma vocação sacerdotal.

O demônio tem muitas razões para tentar um sacerdote ou um religioso, pois este lhe arrebata as almas. Então, o religioso consagrado tem de viver uma vida de extrema vigilância, muita oração e mortificação, como disse Jesus.

3. Amar a Igreja de todo o coração, tê-la como Mãe e Mestra, ser submisso aos ensinamentos do seu Magistério. Ser fiel à Igreja e a seus pastores, nunca ensinando algo que não esteja de acordo com o Sagrado Magistério da Igreja. Viver o que diziam o Santos Padres : sentire cum Ecclesia. Amar o Papa, os bispos, Nossa Senhora, os anjos e santos, os sacramentos, a liturgia e tudo o que faz parte da nossa fé católica. Amar a Bíblia e gostar de meditá-la todos os dias. Desejar estudar Teologia, Filosofia e tudo o mais que o Magistério Sagrado da Igreja nos recomenda e ensina. Gostar de fazer meditações, retiros espirituais e uma busca permanente de santidade. Almejar, como disse São Paulo, atingir a estatura adulta de Cristo; ser um bom pastor para as ovelhas.

4. Desejar viver uma vida de penitência, na simplicidade, na pobreza evangélica, na obediência irrestrita aos superiores, aberto a todos por um diálogo franco. Ser tudo para todos. Estar disposto a obedecer sempre o seu bispo ou seu superior a vida toda, qualquer que seja a decisão dele sobre você.

5. Estar disposto a dar até a vida pela Igreja, pelas almas e por Jesus Cristo.

Talvez eu tenha sido um pouco exigente, mas para aquele que deseja ser um ‘sacerdote do Deus Altíssimo’, creio que não se pode pedir menos do que isso. Quem opta pela vida sacerdotal deve se entregar de corpo e alma a ela; não pode ser mais ou menos sacerdote ou religioso. Seria uma frustração para a pessoa e para Deus. É melhor ser um bom leigo do que um mal religioso.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2018/08/08/como-saber-se-tenho-vocacao-sacerdotal-ou-religiosa/

segunda-feira, 16 de maio de 2022

Sete dicas para um sacerdócio mais alegre

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Padres colocam as mãos na cabeça de padres recém-ordenados durante uma missa de ordenação celebrada pelo Papa Francisco na Basílica de São Pedro, no Vaticano, em 12 de maio de 2019
 

*Artigo do Padre Damian J. Ference,

Diocese de Cleveland, Ohio (USA)

Tradução  : Ramón Lara


‘Entre 2013 e 2019 na paróquia de Santa Maria em Hudson, Ohio, sete homens foram ordenados ao sacerdócio, em sete anos consecutivos. Esta paróquia foi minha primeira missão sacerdotal, por isso conheci cada um desses homens e vi como sua formação na fé era um verdadeiro esforço comunitário. Durante meus anos na paróquia, de 2003 a 2007, trabalhei lado a lado com um ministro de jovens incrivelmente talentoso e fiel e sua equipe central altruísta, tive o apoio de um pastor baby boomer maravilhoso e de mente aberta e experimentei o empenho orante e zeloso de toda uma paróquia para fazer jovens discípulos e ajudá-los a encontrar suas missões no mundo.

O que eu trouxe para essa mistura não foi perfeição sacerdotal, elegância litúrgica ou gênio administrativo, mas a alegria de um pecador que o Senhor olhou. Eu nunca diria que sou a única razão pela qual esses sete homens são padres hoje – é claro que todos eles têm suas próprias histórias e influências únicas – mas acho que ajudou a grande alegria que minha própria vocação como padre me deu. Assim, durante meu tempo como vigário paroquial, pude dar um alegre testemunho do sacerdócio que era humano e, portanto, acessível e imitável. Também acho que minha própria alegria ajudou os pais desses jovens a se preocuparem menos com a possibilidade de seus filhos se tornarem padres.

A alegria é um dom, e eu a experimento com frequência. No entanto, admito prontamente que às vezes fico muito cansado, muito fraco, muito preguiçoso ou muito orgulhoso, e perco minha alegria. No entanto, descobri que, se estiver ativa e intencionalmente engajado nas sete práticas a seguir, sou mais capaz de sustentar essa alegria. Essas sete práticas não são exclusivas dos sacerdotes, mas escrevo sobre elas no contexto do sacerdócio porque é o que conheço nos últimos 19 anos. Adapte-os à sua própria vida como achar melhor, porque a maior evangelização que podemos oferecer é uma Igreja alegre.

Rezar

Em sua primeira Carta Apostólica, ‘A Alegria do Evangelho’, escreve o Papa Francisco, ‘convido todos os cristãos, em todos os lugares, neste exato momento, a um encontro pessoal renovado com Jesus Cristo, ou pelo menos uma abertura para deixá-lo encontrá-los. Peço a todos vocês que façam isso infalivelmente todos os dias.’ Este convite é tão básico e tão óbvio que pode ser facilmente ignorado ou esquecido, mesmo (e especialmente) pelos sacerdotes.

Pela nossa ordenação, os sacerdotes são ligados a Cristo de uma forma única e são chamados a liderar pela palavra e pelo exemplo, particularmente no cultivo de uma vida de oração. Mas quando a vocação de alguém é ser um profissional em oração, pode ser tentador de vez em quando – na missa, na oração do Ofício, ou mesmo durante as devoções pessoais – ligar o piloto automático. Escrevo por experiência. As distrações abundam, e se eu não estiver atento para reconhecer essas distrações e intencionalmente rezar com elas ou através delas, esse encontro pessoal diário renovado com Jesus Cristo que é essencial para um sacerdócio alegre se perde.

Orar bem é um trabalho árduo e exige disciplina. Mesmo simplesmente dizer a Jesus : ‘Senhor, estou cansado’ ou ‘Senhor, preciso de você’ e depois ouvir sua resposta exige tenacidade e humildade, cujos frutos são a alegria. Mas um padre que não leva a sério a oração, mesmo a mais simples, não pode esperar seriamente ser alegre.

Mantenha amizades fortes

Aristóteles escreve que todos querem amigos e que ninguém quer ficar sem amigos, e ele está certo. Jesus Cristo, que é como nós em todas as coisas, exceto no pecado, tinha amigos. O Papa Francisco reivindicou o dia 29 de julho como o Dia dos Santos. Marta, Maria e Lázaro, celebrando três dos amigos mais próximos de Jesus. (Por um tempo, era apenas o dia de Santa Marta.) Os Evangelhos nos dizem que Jesus também era íntimo de Pedro, Tiago e João, para não mencionar a grande Maria Madalena.

Como Jesus, um sacerdote alegre terá boas amizades, tanto com irmãos sacerdotes como com leigos e leigas. Os padres precisam de amigos com quem possam compartilhar suas vidas, pessoas em quem possam confiar e que possam confiar neles. Tomás de Aquino observa que os amigos nos ajudam a carregar nossos fardos - eles compartilham nossas cruzes, como Simão de Cirene - e ele acha que a visão de um amigo nos lembra que somos amados. Quão verdadeiro. Meus faleceram, e venho de uma família pequena. Posso dizer sem exagero que não conseguiria ser padre sem meus amigos. Eles me trazem muita alegria.

Abrace sua humanidade

Uma das mudanças mais drásticas na vida é passar de seminarista a padre. Mesmo com a melhor formação do seminário, é difícil se preparar para aquele dia em que você será visto como uma das pessoas mais misteriosas do mundo – vestindo roupas estranhas, escolhendo não se casar, celebrando sacramentos, pregando para companheiros pecadores e ser convidado por pessoas para as partes mais importantes de suas vidas : casamento, nascimento, lutas com o pecado, sofrimento, doença e morte. Algumas pessoas gostam de você porque você é um padre, e outras pessoas o desprezam por causa disso, mas rara é a pessoa que não pensa nisso. É importante lembrar que antes de um homem ser padre, ele é um homem, um ser humano.

Os sacerdotes mais alegres que conheço abraçam sua humanidade; não fogem disso. Gostam de uma boa refeição, de uma boa bebida, de bons amigos, de boa música, de um bom romance, de uma boa arte, de uma boa caminhada. E riem muito. É verdade que o sacerdócio é um assunto sério, mas também é um assunto humano. Os padres mais alegres parecem ser os caras que falam na mesma voz, quer estejam no colarinho, na academia ou de férias. Eles não lideram com seu ofício, mas com sua humanidade e, por sua vez, levam os outros a considerar a alegria da Encarnação e a beleza e o mistério do sacerdócio.

Faça amizade com pessoas que o deixam desconfortável

Jesus ama os pecadores. Como somos todos pecadores (reconhecemos isso no início de cada Missa) essa realidade deve nos consolar. No entanto, com o tempo, torna-se fácil esquecer. Nós, sacerdotes e leigos, muitas vezes caímos na armadilha de nos cercar principalmente de pessoas que acreditam no que acreditamos e pensam o que pensamos. Essas pessoas nos fazem sentir seguros e confortáveis. Mas os Evangelhos testificam que, embora Jesus tivesse um bom círculo de amigos em quem se confortava, também se confortava em estar com aqueles que estavam à margem da sociedade, incluindo pecadores e cobradores de impostos. Jesus foi até eles porque os amava e sabia que seus corações foram feitos para ele. Ao amar o pecador, Jesus abrandou o coração do pecador para a conversão, que acabou virando alegria. Sacerdotes alegres nunca esquecem que Jesus os amou primeiro como pecadores e continua a fazê-lo. E então eles fazem o mesmo para os outros.

Respeite a dignidade de todas as pessoas

(mesmo, especialmente daquelas que o incomodam). Quando eu era seminarista, compartilhei as mesmas graças do sacerdócio e da mesma diocese com o reitor do meu seminário. Mas nossas visões do mundo e da Igreja eram muito diferentes. Eu nem sempre gostei dele, mas eu o amava. Quando morreu, tive a honra de concelebrar sua missa fúnebre, e acredito que ele teria feito o mesmo por mim. Se o coração está cheio de ódio, não há espaço para alegria. A maioria de nós tem pessoas em nossas vidas que ficam sob nossa pele. Isso está ok. Amar as pessoas de quem nem sempre gostamos é uma maneira de lembrar que todos contam, todos importam, mesmo e especialmente aqueles que são difíceis de amar. A alegria que vem de amar pessoas com quem nem sempre nos damos bem é real e contagiante.

Assuma riscos

Quando fui mandado para estudar o doutorado, imaginei que, ao retornar a Cleveland, lecionaria em nosso pequeno seminário universitário pelos próximos 10 anos, pois esse era o plano original. Alguns meses antes da minha defesa de doutorado, meu novo bispo me surpreendeu ao me pedir para assumir um novo cargo como seu vigário para a evangelização. Eu disse sim, mas realmente não sabia ao que estava dizendo, pois ainda não havia uma descrição do trabalho. Meu bispo me disse para ser imaginativo e criativo e ajudá-lo a concentrar todos os esforços de nossa diocese na evangelização. Sem saber o que estava fazendo, tive grande conforto nas Estações da Cruz, especificamente no fato de Jesus ter caído três vezes no caminho do Calvário. Há muita pressão para que tudo seja perfeito no ministério, mas a Paixão de Jesus fazia parte de seu ministério, e suas três quedas são um lembrete de que nós também cairemos. Nem tudo que tento como padre vai funcionar, mesmo com o melhor planejamento. Mas o Senhor recompensa aqueles que se arriscam pelo seu Reino. A recompensa é um coração alegre.

Deixe Jesus operar a salvação

Talvez a maior ameaça à alegria de um padre seja a tentação de se ver como o Salvador. O Pai deve consertar tudo, melhorar tudo, curar todas as feridas e curar todos os doentes, isso para não falar de equilibrar o orçamento, consertar o telhado e fazer boas homilias. Sacerdotes alegres tiram seu dia de folga, tiram férias, fazem seu retiro anual e reservam tempo para leitura e exercícios. Ao fazê-lo, modelam para seu povo o lugar adequado para oração e lazer na vida humana e lutam contra a tentação do vício em trabalho, que afeta muitos. Um sacerdote alegre lembra que Jesus é Senhor e Salvador.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://domtotal.com/noticia/1578422/2022/05/sete-dicas-para-um-sacerdocio-mais-alegre/

sábado, 26 de fevereiro de 2022

Papa Francisco: os padres precisam ter esses 4 traços no mundo de hoje

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Gerard O'Connell

Tradução  : Ramón Lara


‘Falando em um simpósio sobre sacerdócio, no Vaticano, em 17 de fevereiro, o Papa Francisco ofereceu reflexões que, segundo ele, podem ser consideradas ‘o canto do cisne’ de sua vida sacerdotal, pois são fruto ‘do que o Senhor me ajudou gradualmente realizar’ durante mais de 50 anos no ministério.

Francisco foi ordenado sacerdote da Companhia de Jesus em 13 de dezembro de 1969. Em uma palestra profundamente espiritual nesta semana, apresentou o que chamou de ‘quatro pilares’ ou ‘quatro formas de proximidade’ que considera fundamentais para a vida de um sacerdote ‘pois imitam o próprio estilo de Deus de Deus, que é essencialmente um estilo de proximidade’.

Ao contrário das expectativas, Francisco não fez referência direta ao abuso sexual clerical, que causou uma crise tão profunda na Igreja Católica. Seu objetivo, em vez disso, era apresentar as atitudes fundamentais que ele acredita que todo padre deveria ter no século 21.

Muitos observadores também esperavam que Francisco abordasse a questão do celibato para padres em sua palestra, principalmente porque a questão foi o centro das atenções no sínodo da Amazônia sobre a questão da ordenação de homens casados e, mais recentemente, no caminho sinodal alemão. Mas ele optou apenas por fazer alguns comentários sobre o assunto. Falando no contexto da necessidade de proximidade de um padre com outros padres, o papa disse : ‘Sem amigos e sem oração, o celibato pode se tornar um fardo insuportável e um contratestemunho da própria beleza do sacerdócio’.

O simpósio, por outro lado, discutirá o celibato em seu último dia. Não se espera que ela abra novos caminhos, já que seu principal organizador, o cardeal Marc Ouellet, que escolheu os palestrantes, é conhecido por ser um forte defensor do status quo.

O Papa Francisco disse que, ao preparar sua palestra, foi influenciado tanto pela memória dos padres que durante sua infância e vida posterior lhe mostraram ‘o rosto do Bom Pastor’ quanto por sua própria experiência em acompanhar padres ‘que perderam o fogo do primeiro amor.’ Ele também mencionou as provações e dificuldades que experimentou como sacerdote.

Francisco disse que os desafios de nossa época, incluindo a pandemia de Covid-19 em andamento, exigem que os padres encontrem novas maneiras de responder, mas que muitas respostas hoje não têm ‘o sabor do Evangelho’. Também apontou que alguns padres buscam respostas ancoradas no passado que ‘garantam’ proteção contra riscos; mas se refugiam em uma sociedade que não existe mais. Outros adotam uma atitude de ‘otimismo exasperado’ que acaba por ignorar as feridas das pessoas e não reconhece as tensões, complexidades e ambiguidades do tempo presente.

Sinto que Jesus neste momento da história nos convida mais uma vez a 'lançar-nos no abismo' [Lc 5,4], confiando que Ele é o Senhor da história e que, com sua orientação, discerniremos a direção tomar’, apontou.

À luz dessas realidades, o Papa Francisco disse que decidiu ‘falar sobre o que considero decisivo para a vida de um sacerdote hoje’, ou seja, ‘as quatro formas de proximidade’ : proximidade com Deus, proximidade com o bispo, proximidade com os outros sacerdotes e proximidade com o povo de Deus.

Proximidade com Deus

O papa, primeiro sublinhou a importância fundamental da ‘proximidade com o Senhor’ citando as palavras de Jesus : ‘Eu sou a videira, vocês são os ramos. Aquele que permanece em mim e eu nele dá muito fruto, porque sem mim nada podeis fazer’.

Um padre’, disse, ‘é convidado a cultivar antes de tudo essa proximidade, intimidade com Deus, e dessa relação pode alcançar todas as forças necessárias para seu ministério’. Francisco disse que ‘muitas crises no sacerdócio’ têm sua origem na ‘falta de vida de oração, falta de intimidade com o Senhor, redução da vida espiritual a uma mera prática religiosa’.

Lembro-me de momentos importantes da minha vida em que esta proximidade com o Senhor foi decisiva para me sustentar’, falou o Papa.

Sublinhou que ‘sem a intimidade da oração, da vida espiritual, da proximidade concreta de Deus através da escuta da Palavra, da celebração da Eucaristia, do silêncio da adoração, da entrega a Maria, do acompanhamento de um guia, do sacramento da reconciliação… um sacerdote é apenas um mercenário cansado que não tem nenhum dos benefícios dos amigos do Senhor’.

O Santo Padre reconheceu que ‘tudo isso é difícil, a menos que se esteja acostumado a ter espaços de silêncio durante o dia’. É difícil evitar a atividade constante quando não se obtém imediatamente ‘paz’ no coração e, em vez disso, experimenta-se desolação. Mas, disse, ‘é precisamente aceitando a desolação que vem do silêncio, da abstinência da atividade e da palavra, da coragem de se examinar com sinceridade, que tudo ganha uma luz e uma paz que não dependem de nossas próprias forças e nossas capacidades’.

Além disso, apontou, perseverar na oração não significa apenas permanecer fiel a uma prática. Significa não fugir naqueles momentos em que a oração nos leva ao deserto. O caminho do deserto é o caminho que leva à intimidade com Deus.

Proximidade com o bispo

Francisco disse que essa segunda ‘proximidade’, expressa no voto de obediência do padre ao bispo, muitas vezes foi lida de uma maneira que está longe do espírito do Evangelho.

Esta obediência não deve ser vista como ‘um atributo disciplinar’, apontou, mas sim como ‘o sinal mais profundo dos laços que nos unem em comunhão’. Obedecer significa ‘aprender a ouvir e lembrar que ninguém é ‘dono’ da vontade de Deus, que deve ser compreendida apenas através do discernimento’. A lógica desta proximidade, disse, ‘nos permite vencer todas as tentações da mente fechada, da autojustificação e da vida de 'solteiros' e, em vez disso, nos convida a ouvir os outros para encontrar o caminho que leva à verdade e à vida’.

O bispo, seja ele quem for, representa para cada padre e para cada igreja em particular um vínculo que ajuda a discernir a vontade de Deus’, disse Francisco. Mas, insistiu, um bispo só pode promover o discernimento se ouvir ‘a vida de seus sacerdotes e do povo santo de Deus confiado aos seus cuidados’.

Não é por acaso que o mal, para destruir a fecundidade do trabalho da Igreja, procura minar os laços que estabelecem e preservam a unidade’, disse o Papa. Portanto, defender ‘os vínculos do sacerdote com sua Igreja particular, com o instituto ao qual pertence e com seu bispo torna a vida sacerdotal confiável e segura’.

A obediência ‘é a decisão fundamental para aceitar o que nos é pedido’, disse, e exige que os padres ‘rezem por seus bispos e se sintam livres para expressar suas opiniões com respeito e sinceridade, humildade e com a capacidade de ouvir, de ser autocrítico e de se deixar ajudar’.

Se defendermos esse vínculo, prosseguiremos com segurança em nossa jornada’, concluiu.

Proximidade com outros padres

Comentando a terceira atitude fundamental, a proximidade com os outros sacerdotes, o Papa Francisco recordou as palavras de Jesus : ‘onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles’ (Mt 18,20). ‘A fraternidade, como a obediência, não pode ser uma imposição moral de fora’, disse. ‘Fraternidade significa escolher deliberadamente buscar a santidade junto com os outros, não sozinho’.

Francisco disse que ‘os sinais da fraternidade são os do amor’, como disse São Paulo em sua Primeira Carta aos Coríntios (13,4-7). Mencionou primeiro a paciência, que ‘é a capacidade de se sentir responsável pelos outros, de carregar seus fardos, de sofrer de alguma forma com eles’. A paciência é ‘o oposto da indiferença’, de manter distância dos outros para não se envolver em suas vidas, o que é algo que contribui para a solidão dos sacerdotes em muitos presbitérios. Francisco contrastou paciência com inveja, dizendo que não há necessidade de se vangloriar ou inflar o ego porque ‘se há uma coisa de que um sacerdote pode se gloriar é da misericórdia de Deus’ porque ‘ele conhece seus próprios pecados, sua própria miséria, sua limites.’

O amor fraterno não busca o próprio interesse, não é dado à raiva ou ao ressentimento’, disse. Antes, ‘regozija-se com a verdade’ e considera como pecado grave qualquer ‘ataque contra a verdade e a dignidade dos irmãos por meio de calúnias, falas maldosas e boatos’.

Francisco comentou : ‘Todos sabemos como pode ser difícil viver em comunidade’. Mas, disse ele, ‘o amor fraterno é a grande profecia que somos chamados a incorporar na sociedade descartável de hoje’.

Nesse contexto, Francisco comentou sobre o celibato e disse : ‘Onde funciona a fraternidade sacerdotal e onde há laços de verdadeira amizade, é possível viver com mais serenidade também a escolha do celibato’. Ainda reafirmou que ‘o celibato é um dom que a Igreja latina preserva, mas é um dom que, para ser vivido como meio de santificação, exige relacionamentos saudáveis, de verdadeira estima e verdadeira bondade, profundamente enraizados em Cristo. Sem amigos e sem oração, o celibato pode tornar-se um fardo insuportável e um contratestemunho da própria beleza do sacerdócio’.

Proximidade com as pessoas

Francisco enfatizou que ‘nossa relação [como sacerdotes] com o povo santo de Deus é para cada um de nós não um dever, mas uma graça’.

Amar os outros é uma força espiritual que nos atrai à união com Deus’, disse.

Citando sua encíclica, ‘A Alegria do Evangelho’, disse : ‘Para ser evangelizadores das almas, precisamos desenvolver o gosto espiritual de estar perto da vida das pessoas e descobrir que isso é uma fonte de maior alegria. A missão é ao mesmo tempo uma paixão por Jesus e uma paixão por seu povo’.

O Papa Francisco concluiu dizendo aos sacerdotes que ‘as quatro formas de proximidade que o Senhor exige não são um fardo a mais; são um dom que ele dá para manter viva e fecunda nossa vocação’.

Estou certo de que, para compreender de novo a identidade do sacerdócio hoje, é importante viver em estreita relação com a vida real das pessoas’, disse Francisco. Ainda acrescentou : ‘Jesus quer que toquemos a miséria humana, toquemos a carne sofredora dos outros’.

O Povo de Deus espera encontrar pastores com o estilo de Jesus – não 'funcionários clericais' ou 'profissionais do sagrado' – mas pastores cheios de compaixão, oportunidades, homens corajosos, capazes de parar diante de quem está ferido e mostrar preocupação’, disse o Papa Francisco. ‘Homens de coragem, prontos para se aproximar dos que sofrem e ajudar. Homens contemplativos, cuja proximidade com as pessoas lhes permite proclamar diante do poder da Ressurreição ainda agora em ação’.

Ao estar perto das pessoas, disse Francisco, ‘um pastor torna possível reunir uma comunidade e promover o crescimento desse sentimento de pertença. Pois pertencemos ao povo santo e fiel de Deus, que é chamado a ser um sinal da ruptura do reino de Deus no aqui e agora da história. Mas se o pastor se afastar, as ovelhas também se perderão e ficarão à mercê de todo e qualquer lobo’.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://domtotal.com/noticia/1566419/2022/02/papa-francisco-os-padres-precisam-ter-esses-4-tracos-no-mundo-de-hoje/

sábado, 4 de abril de 2020

Nigéria: Pregar sob o terror do Boko Haram

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo de Xáquin López,
jornalista
  
‘A Igreja Católica da Nigéria é uma das mais castigadas do mundo devido aos ataques do grupo jiadista Boko Haram. O Catolicismo é minoritário na metade norte do país mais populoso da África. O problema acentua-se na região nordeste, onde o grupo étnico predominante, o Kanuri, é cem por cento muçulmano.

Neste contexto de assédio e destruição, qualquer boa notícia da comunidade cristã é celebrada como uma vitória. Por esta razão, o passado dia 16 de Janeiro foi uma data marcante na Catedral de Maiduguri, capital do Estado de Borno. Três jovens foram ordenados padres numa cerimônia solene presidida pelo bispo, Oliver Dashe.

Centenas de pessoas começaram a chegar a Saint Patrick’s no início da manhã. As medidas de segurança postas em prática eram fortes. Um bunker de sacos de terra protegia a única entrada aberta para o recinto. Após dez anos de cerco, os controles de segurança fazem parte do protocolo diário.

A Catedral de Maiduguri é um moderno edifício, presidido por uma torre visível a quilómetros de distância. Ocupa um terreno equivalente a um campo de futebol numa área muito movimentada da cidade.

Todos os ingredientes de uma celebração católica africana estiveram presentes naquele dia no templo. Uma banda tradicional, com tambores e instrumentos de madeira, dividia o espaço com uma orquestra de estilo ocidental acompanhada por um tambor, teclado e saxofone. Cada orquestra era acompanhada por um coro, composto maioritariamente por mulheres uniformizadas com um vestido de estilo nigeriano em tons vermelhos e amarelos.

Um dos momentos mais marcantes da celebração deu-se depois do rito da ordenação. A assembleia aplaudiu com entusiasmo enquanto os coros cantavam hinos religiosos em língua haúça. Espontaneamente, os fiéis organizaram uma procissão festiva e os participantes, dançando, aproximaram-se do altar para receber a bênção dos neo-sacerdotes.

Compromisso contra o terror

A barbárie do Boko Haram contra os católicos começou, precisamente, na cidade de Maiduguri em 2010, poucos meses depois de a Polícia nigeriana ter executado o seu líder, o imã salafita Mohammed Yusuf. Desde essa data até 2016, as estatísticas da Diocese de Maiduguri assinalam cinco mil católicos mortos. É provável que, atualmente, o número tenha duplicado. Deve-se acrescentar ainda a destruição de mais de 350 templos e casas paroquiais, algumas delas em mais de uma ocasião.

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O P. Peter Uchebo (esq.) durante a entrevista com o autor do artigo (Fotos: Sonsoles Meana)

Um relatório da diocese de Maiduguri, que inclui os Estados de Borno, Yobe e o Norte de Adamawa, pormenoriza que 22 das 40 paróquias foram atacadas ou destruídas pelo Boko Haram.

«A minha igreja foi queimada pelo Boko Haram», diz o P.e Peter Uchebo. O ataque realizou-se em Outubro de 2015 na aldeia de Bahuli, a norte do Estado de Adamawa. «Os rebeldes chegaram à noite de mota, bradando a Alá. Ouvi os gritos na casa paroquial. Um funcionário disse-me que tínhamos de correr porque senão seríamos assassinados. Entrei na igreja, tomei o Santíssimo, rezei e fechei o templo. As pessoas já estavam a fugir para as montanhas. As mães corriam com os bebês às costas e dando as mãos às crianças. Quando estávamos a salvo, pudemos ver os insurgentes a invadir o templo e a incendiá-lo. Quatro horas depois, regressamos e a igreja estava em cinzas. As pessoas choravam e diziam que pagariam o trabalho de reconstrução

Hoje, o P.e Uchebo é pároco na Igreja de Saint Mary’s em Maiduguri, que também tem uma escola para mais de 600 alunos.

No domingo seguinte à ordenação sacerdotal, o P.e Clement Yaga presidiu à primeira missa em Saint Hillary, no bairro de Polo, um dos mais perigosos de Maiduguri. Ele saúda-nos na sacristia enquanto um acólito o ajuda a paramentar-se. «Sinto-me como um herói. Há nove anos isto era um sonho para mim. Estou muito nervoso e feliz por poder presidir a minha primeira missa. O Boko Haram não foi capaz de destruir a nossa fé, nem tem a nossa felicidade», sublinha o neo-sacerdote.

Os outros dois novos sacerdotes, Fidelis Mburema e Moisés Zawa, foram designados para paróquias no interior do Estado de Borno. A sua missão é muito mais arriscada : a nova estratégia do Boko Haram é bloquear as estradas e assaltar os carros que circulam. Os cristãos são raptados de imediato, enquanto os viajantes muçulmanos são autorizados a seguir a sua viagem. Na pior das hipóteses, os reféns são executados depois de um longo e doloroso cativeiro. Foi o que aconteceu a onze cristãos mortos em Dezembro de 2019.

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Grupo de rapazes numa rua de Maiduguri (Foto: Sonsoles Meana)

Passada uma década, Maiduguri permanece sitiada pelos rebeldes do Boko Haram, embora tenha recuperado uma normalidade aparente e frágil. As pessoas que têm de deslocar-se pelo estado continuam a acudir à estação de autocarros da cidade para apanhar uma carrinha da empresa local, a Borno Express. «Não nos vamos esconder», disse-nos um religioso durante a confraternização improvisada no pátio da catedral, depois da ordenação dos novos padres. Muitos dos presentes estavam preocupados com o destino dos novos presbíteros, porque todos estão cientes do perigo, e a única dúvida que tinham era se aquela tinha sido a ordenação de heróis ou de mártires.’


Fonte :

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Cardeal africano recorda missionário falecido que o incentivou a entrar no seminário

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 


‘O Cardeal Robert Sarah, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, recordou de maneira especial o sacerdote missionário que o incentivou a entrar no seminário.

Em memória do Pe. Marcel Bracquemond, missionário espiritano do povoado da minha infância que voltou para Deus ontem. Sempre será o sacerdote que me propôs entrar no seminário menor. Desejo confiá-lo às suas orações’...

Em seu livro ‘Deus ou nada’, o Cardeal Sarah conta como surgiu a sua vocação no povoado de Ourous, na Guiné, na África.

Foi na Eucaristia diária que o padre Bracquemond, descobrindo o meu grande desejo de conhecer a Deus e talvez impressionado com o meu amor pela oração e a minha fidelidade à Missa diária, me perguntou se eu queria entrar no seminário. Com a surpresa e a espontaneidade que caracterizam as crianças, respondi que adoraria, embora não soubesse exatamente com o que estava me comprometendo, porque nunca tinha saído do meu povoado nem conhecia como era a vida em um seminário’.

O Cardeal conta que o sacerdote, falecido aos 93 anos no dia 28 de novembro, explicou que o seminário ‘era uma casa sustentada pela oração e pelo amor de toda a Igreja. Este lugar, disse-me, nos prepararia para ser sacerdotes assim como ele. Com esta pequena explicação, a alegria de tornar-me sacerdote algum dia encheu ainda mais o meu coração de admiração e ‘loucura’’.

Quando Robert Sarah, com apenas 11 anos, conversou com os seus pais Alexandre e Claire, que o sacerdote conhecia bem, nenhum dos dois acreditaram nele e decidiram conversar com o padre Bracquemond para perguntá-lo.

Minha mãe, abrindo os olhos, me disse que havia perdido a cabeça ou que não havia entendido o que o sacerdote me disse. Para ela e para os habitantes do povoado, todos os sacerdotes eram necessariamente brancos. De fato, ela achava impossível que um negro pudesse ser sacerdote! Por isso, era óbvio que havia interpretado mal as palavras do padre Marcel Bracquemond’.

O Cardeal comenta no livro que o sacerdote ‘confirmou aos seus pais que isso não era mentira, que foi ele quem tinha me sugerido a ideia : ser sacerdote, não sem antes entrar no seminário menor para me formar! Meus pais ficaram impressionados’.

Eu tinha apenas onze anos e tinha acabado de terminar o ensino fundamental. Naquela época, os seminaristas guineenses tinham que estudar na Costa do Marfim. Eu estava entusiasmado, feliz, orgulhoso e não sabia nada de como seria a vida no seminário de Santo Agostinho de Bingerville’, escreve o Cardeal.

Robert Sarah nasceu em 15 de junho de 1945, na cidade de Ourous, na Guiné Francesa. Em 1957, aos 12 anos, entrou no Seminário Menor de Santo Agostinho, em Bingerville, na Costa do Marfim, onde estudou durante três anos.

Como em 1960 as relações entre a recém-independente Guiné e a Costa do Marfim ficaram tensas, ele voltou a estudar em Conakri, na Guiné, no Seminário de Dixinn, até que o governo expropriou as propriedades da Igreja em agosto de 1961.

Depois de estudar por um curto tempo em sua casa, a Igreja procurou um lugar para Robert Sarah e outros seminaristas em uma escola pública em Kindia, em março de 1962. Após algumas negociações, conseguiram abrir um seminário, onde Sarah obteve seu bacharelado em 1964.

Em setembro daquele ano, foi enviado ao Seminário Maior de Nancy, na França. E novamente, devido às relações tensas, desta vez entre Guiné e França, Sarah teve que interromper a sua formação. Continuou os seus estudos de Teologia em Sébikotane, Senegal, onde estudou entre outubro de 1967 e junho de 1969.

Foi ordenado sacerdote em 20 de julho de 1969, aos 24 anos. Foi nomeado Arcebispo de Conakri em 13 de agosto de 1979, com apenas 34 anos. Recebeu a ordenação episcopal em 8 de dezembro do mesmo ano.

Em 1º de outubro de 2001, São João Paulo II o nomeou Secretário da Congregação para a Evangelização dos Povos. Em 7 de outubro de 2010, foi nomeado Presidente do Pontifício Conselho ‘Cor Unum’. Um mês depois, o Papa Bento XVI o criou Cardeal.

Em 23 de novembro de 2014, foi nomeado Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.

O Cardeal Sarah é um dos purpurados mais importantes da África e da Igreja universal. Ele é grande defensor da liturgia, do direito à vida, da família e da liberdade religiosa.

Criticou a ideologia de gênero, uma abordagem que considera que o sexo é uma construção sociocultural em vez de ser algo natural.

Participou do último Sínodo dos Bispos sobre os Jovens por ser chefe de Dicastério da Cúria do Vaticano, onde assinalou que ‘diluir’ a doutrina moral católica no campo da sexualidade não atrairá os jovens.’


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terça-feira, 28 de agosto de 2018

Emigração religiosa da África para a Europa: perigo para as Igrejas locais


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Templo católico em São Tomé e Príncipe
Templo católico em São Tomé e Príncipe  (AFP or licensors)

Ir para a Europa, viver na Europa, abandonar a África tornou-se uma ideologia muito perigosa que destrói os espíritos, dos mais vulneráveis aos mais sólidos como o dos religiosos’, disse à agência missionária Fides o sacerdote da Sociedade Missões Africanas, Padre Donald Zagore.

Crescente número de sacerdotes e religiosos que trocam a África pela Europa

É triste, mas é importante reconhecer que o fenômeno da imigração na Europa diz respeito não somente a nossas sociedades africanas, mas também a numerosas dioceses e comunidades religiosas. Há muitos sacerdotes e religiosos que abandonam o continente africano para servir nos países europeus e americanos. A emigração da África para a Europa, na sua forma religiosa, é um fenômeno que está se tornando cada vez mais importante em nosso continente’, continua o missionário.

Fenômeno já denunciado por vários bispos

No início de 2017, o bispo da Diocese de Daloa, na Costa do Marfim, Dom Marcelin Yao Kouadio, durante uma de suas homilias citou os casos de duas dioceses africanas particularmente atingidas pelo fenômeno.’

Em maio de 2018, também o bispo de Katiola e presidente da Conferência episcopal marfinense, Dom Ignace Bessi Dogbo, durante a abertura da Assembleia plenária dos bispos ebúrneos, denunciou o fenômeno dos ‘padres vagantes’ : sacerdotes que se refutaram voltar para a África após os estudos ou depois de uma missão na Europa.’

Em entrevista concedida ao Lacroix, em 7 de agosto, o arcebispo de Rouen, na França, Dom Dominique Lebrun, ex-presidente do grupo de trabalho sobre ‘Sacerdotes de fora’ (Pretres venus d’ailleurs), reconheceu a existência de tal fenômeno.

Várias razões levam sacerdotes africanos a emigrar

As razões mais clássicas permanecem sendo a busca do bem material e do prestígio, prossegue Padre Zagore. ‘Muitos fogem da África por causa da situação deles de miséria e precariedade em vista de países ricos. Ademais, muitos africanos pensam ser superiores aos outros, especialmente nos âmbitos eclesiásticos, porque vivem, trabalham ou estudam na Europa. Por vezes uma nomeação ou ulteriores estudos na Europa assumem a forma de resgate. É dramático pensar que a essência africana alcance a plenitude de sua realização quando goza do prestígio europeu’, pondera o missionário.

Um grande perigo para a Igreja na África

Este conceito comporta um enorme perigo para a Igreja católica na África, que aos poucos vai se esvaziando devido a falta de sacerdotes além da proliferação de vocações que podem não ser sinceras. Hoje é preciso pensar que não é mais necessário tornar-se sacerdote para servir aos pobres em Cristo. Aquilo que tem valor é a corrida desenfreada pelos bens materiais e a glória, que causam conflitos e divisões em nossas Igrejas na África’, continua Padre Zagore.

Urgentes medidas para conter a emigração de sacerdotes e religiosos da África

Em nossas dioceses, em nossas comunidades religiosas, urgem ações concretas para conter a emigração dos eclesiásticos. Em primeiro lugar, é preciso uma consciência coletiva do perigo representado. Em segundo lugar, as autoridades eclesiásticas precisam avaliar atentamente as motivações que levam a escolher a vida sacerdotal ou religiosa, e examinar também as nomeações.’

Sacerdócio e vida religiosa não podem ser trampolim

Por fim, deve ser dito de modo claro e contundente, citando o bispo Marcelin Kouadio : ‘o sacerdócio e a vida religiosa não podem ser um trampolim para fugir da África porque é pobre’, conclui o religioso da Sociedade Missões Africanas, Padre Zagore.’


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