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quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Deus tem um nome e este é sagrado

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre Luiz Antônio de Araújo Guimarães 

 

‘Na sequência dos mandamentos da lei de Deus, contempla-se o : ‘Não tomar o seu santo nome em vão’. Quando lê essa mensagem, o jovem pensa logo : ‘Deus tem um nome?’. 

Veja bem : o nome é o que há de mais sagrado em alguém, imprime uma identidade e diferencia esse ser humano dos demais. Por exemplo : o José é diferente do Antônio, que consequente é diferente do Cícero e assim por diante. O nome traz consigo um caráter indelével, desde o dia em que aquela pessoa foi batizada. É pelo nome que a pessoa é identificada; também por meio dele a pessoa se apresenta; de igual modo é reconhecida por tal apresentação; a pessoa zela por seu nome, preservando sua identidade em aspecto sociomoral; enfim, o nome está concomitantemente intrínseco a cada pessoa e nem a morte pode apagá-lo. O nome se perpetua na história.

Se cada ser humano tem um nome, aquele que os criou também não o teria? Claro que sim! Diz o Catecismo da Igreja Católica no parágrafo 2143 : ‘Entre todas as palavras da revelação, há uma, singular, que é a revelação do nome de Deus. Deus confia o seu nome aos que creem nele; revela-se-lhes no seu mistério pessoal. O dom do nome é da ordem da confidência e da intimidade’. Nesse sentido, Deus, por ver em Moisés um crente, isto é, um homem que crê verdadeiramente, revela-lhe seu nome : ‘Eu sou aquele que sou!’ (Ex 3,14). Ou seja, Ele é aquele que é, que sempre existiu; não tem início e nem fim. Pelo contrário, tudo tem início e fim no nome dele. Por sua vez, mais tarde, na história da salvação, já no Novo Testamento, Ele se revela em Jesus como sendo o Emanuel, Deus conosco, a saber, conforme a profecia : ‘Eis que a virgem ficará grávida e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa ‘Deus conosco’’ (Mt 1,23). É como se dissesse ‘O ‘Eu sou’ caminha todos os dias com tudo o que existe e que existirá e além do mais conhece a cada um por seu próprio nome ao dizer ‘Não tenhas medo, pois eu te resgatei, chamei-te pelo teu nome, tu és meu!’ (Is 43,1)’. 

Deus, ao se revelar pelo nome, faz isso para aproximar-se do ser humano a fim de fazer com que este o conheça, ame e siga. É uma revelação de amor para com aqueles que foram criados à sua imagem e semelhança. É bem verdade que ao revelar seu nome, que é santíssimo, quer dizer, o maximamente sagrado, o homem não pode dizer o nome dele em vão. Daí que o Catecismo da Igreja Católica, ainda no parágrafo 2143, orienta : ‘O nome do Senhor é santo; por isso, o homem não pode abusar dele. Deve guardá-lo na memória, num silêncio de adoração amorosa. E não o empregará nas suas próprias palavras senão para o bendizer, louvar e glorificar’. É fazer como pede a Sagrada Escritura : ‘Para que, ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda língua confesse ‘Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai’ (Fl 2,10-11).

É bom salientar que, ao dar-se a conhecer e tornar-se próximo, Ele não perde a condição divina. O próprio nome já assegura, é uma revelação, sendo do Céu para a Terra e não da Terra para o Céu; é nome divino, altíssimo. Sagrado, santíssimo, que toca esta pobre humanidade, assumindo a natureza humana em Jesus, o Emanuel, sem perder a sua natureza divina. 

Outra coisa não faça cada ser humano que tem um nome e que quer que este seja preservado, que reconheça o nome de Deus e lhe dê toda honra, glória e poder, pois é o ‘Nome que está acima de todo nome’ (Fl 2,9).’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/deus-tem-um-nome-e-este-e-sagrado.html


sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Arquitetar um mundo aberto

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,

Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, MG

Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil


‘Arquitetar um ‘mundo aberto’ é tarefa missionária, abrangente, que pede o envolvimento de todos os cidadãos, para dissipar as sombras de um ‘mundo fechado’. A expressão ‘As sombras de um mundo fechado’ é titulação do primeiro capítulo da Carta Encíclica Fratelli Tutti, do Papa Francisco, chamando atenção para algumas tendências atuais que dificultam o desenvolvimento da fraternidade universal. Mesmo com avanços e conquistas científicas, há sinais claros de regressão na história da humanidade contemporânea. O Papa Francisco focaliza o reacender de conflitos originados de nacionalismos fechados, ressentidos e agressivos. O sentido social, na contramão dos avanços tecnológicos e científicos, está contaminado por ideologias, egoísmos e atitudes perversas. É preciso investir na qualificação da cidadania : tarefa de cada pessoa, que precisa ter como meta o bem, a justiça e a solidariedade. E o bem, a justiça e a solidariedade não são alcançados ‘de uma vez para sempre’, conforme alerta o Santo Padre. Precisam ser conquistados diariamente, o que exige o esforço incansável e permanente de todas as gerações.

O ponto de partida será sempre o compromisso de cada pessoa cultivar o ‘coração da paz’. Exercício que exige a adequada compreensão a respeito da paz - que é, ao mesmo tempo, dom e missão. Dom que vem de Deus, mas também missão, pois a paz precisa ser cultivada nas relações - entre pessoas, nações, grupos, instituições e segmentos que formam uma civilização. Quando se reconhece que a paz é, acima de tudo, uma dádiva divina, percebe-se grande incoerência naqueles que justificam ações na contramão da paz sob o pretexto de que o fazem ‘em nome de Deus’. Não é possível professar a fé em Deus com ações perversas, que afrontam a dignidade humana, trazendo desordem sociopolítica. Há, pois, uma lógica moral que é inegociável e não pode ser desrespeitada. É justamente essa lógica que pode iluminar a convivência humana, tornando possível o diálogo entre pessoas e povos.

A Doutrina Social da Igreja aponta para a importância de uma gramática transcendente, em referência ao conjunto de regras que precisam balizar a ação individual e o relacionamento entre as pessoas, favorecendo o exercício da solidariedade e a promoção da justiça. Inscreve-se no coração humano uma dimensão sagrada e divina que não pode ser ignorada sob pena de embrutecimento, da perda de racionalidade. Sem dedicar devida atenção a essa dimensão sagrada e divina, tornam-se cada vez mais banalizadas as indiferenças terríveis e comprometedoras, não se reconhece o sentido de pertencimento a uma nação, a um povo, cultura e sociedade. Consequentemente, não se efetiva a arquitetura de um ‘mundo aberto’, pois o ser humano se distancia do mistério do amor de Deus.

A dimensão divina e sagrada que se inscreve no coração humano, uma lei natural, seja base indispensável para o diálogo entre pessoas que se vinculam a diferentes religiões, também entre estas e os não crentes, respeitando ainda a laicidade na organização social e política. Somente se avança na arquitetura da paz por meio da busca pelo encontro dialogal, que, para se efetivar, exige respeito à dignidade de cada ser humano - em cada pessoa se reflete a imagem de Deus-criador. Por isso mesmo, a Igreja Católica sempre defendeu os direitos fundamentais, colocando-se, lealmente, em debate com aqueles que detêm maior poder político, econômico ou tecnológico, mas violam os direitos dos outros, especialmente dos pobres.

Inegociável na arquitetura de um ‘mundo aberto’ é defender, incondicionalmente, o direito à vida, especialmente aquelas ameaçadas por conflitos armados, terrorismos, violências, aborto, fome e por muitas outras situações que geram vítimas. A tarefa de vencer as sombras de um ‘mundo fechado’ inclui investir no entendimento de que a humanidade é uma família, comunidade onde deve prevalecer a paz. Neste horizonte, a Doutrina Social da Igreja Católica lembra : a família natural, enquanto comunhão íntima de vida e amor fundada sobre o matrimônio entre um homem e uma mulher, é o lugar primário da humanização, da pessoa e da sociedade. Uma vida familiar saudável é escola de elementos fundamentais para fortalecer a paz. Importa fortalecer e qualificar a vida em família, para não ocorrer a debilitação da paz na comunidade humana. Buscar a paz é caminho para superar um ‘mundo fechado’ em suas sombras, com atrasos e perdas muito sérias. A poesia da construção de um ‘mundo aberto’ precisa, urgentemente, e de modo contagiante, de cidadãos e cidadãs assumindo a condição de arquitetos da paz para edificar uma civilização alicerçada na justiça e no amor.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://domtotal.com/artigos/?id=10086

terça-feira, 10 de agosto de 2021

Documentário é mergulho profundo no jogo dos seminários

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
Um jogador da Clericus Cup do Collegio Urbaniano em Roma

*Artigo da Irmã Rose Pacatte, membro das Filhas de São Paulo


‘Os documentaristas canadenses Brent Hodge e Chris Kelly gostam de fazer filmes sobre comédia, cultura pop e histórias únicas que revelam ‘mundos obscuros que as pessoas não conhecem’, explicou Hodge em entrevista.

Há cerca de seis anos, os documentaristas ouviram falar de uma partida anual de futebol italiana chamada Clericus Cup, um torneio para seminaristas de todo o mundo que estudam em Roma. É certamente único, por isso decidiram pegar os seus equipamentos e partir para Roma para fazer um documentário esportivo.

Kelly, cujo pai, Kenneth, na época estava estudando para ser um diácono permanente, foi com eles para ajudar a contextualizar o mundo eclesial que estavam prestes a entrar.

A Clericus Cup, fundada em 2007, consiste em duas divisões de equipes de seminaristas, alguns padres e talvez um bispo, de 16 seminários romanos. Inclui jogadores de 66 países e cinco continentes, mas, por acaso, em 2016-17, quando o filme estava sendo rodado, não havia seminaristas canadenses na liga.

O torneio ocorre de março a maio de cada ano. O North American College já venceu três vezes, mas o Collegio Urbaniano, com alunos da África e da Ásia, venceu quatro vezes, o máximo de qualquer equipe.

Em O jogo sagrado, depois de alguns comentários dos seminaristas sobre o sacerdócio ser para toda a vida, seu propósito de se tornar uma melhor pessoa, de buscar a perfeição e a necessidade do trabalho em equipe, encontramos o jovial Felice Alborghetti, da assessoria de imprensa do Centro Esportivo Italiano chegando em seu escritório em uma scooter. Alborghetti é o organizador do torneio e está especialmente interessado em promover a Clericus Cup por causa de seu foco explícito no cenário esportivo na Itália.

De acordo com Kelly, ‘Nós não roteirizamos o que aconteceu. Apenas o deixamos ser ele mesmo. Ele é um personagem extremamente hilário com uma arrogância italiana peculiar. Ele é ótimo’.

Após uma introdução de como o torneio foi fundado em 2017, os jogadores são apresentados e começamos a ver alguma ação. Meu jogador favorito é Eric Atta Gyasi, de Gana, que estuda no Collegio Urbaniano. Gyasi é desafiado academicamente (levou mais de 12 anos para terminar seus estudos antes da ordenação), mas é o melhor jogador de todas as equipes e tem um espírito verdadeiramente brilhante, apresentado no filme, por causa de seu senso de humor e entusiasmo.

Entrevistei Hodge e Kelly separadamente por telefone, e os dois admitiram imediatamente que o filme que concluíram não é o que pretendiam fazer.

Conhecemos esses homens e personagens’, disse Kelly, ‘e eles mudaram o curso do filme. Suas histórias eram fascinantes e uma curiosidade genuína nos dominou. O que os seminaristas nos contaram foi mais interessante do que a história do futebol, que, reconhecemos, é limitada’.

Logo a ênfase no futebol é substituída por entrevistas com seminaristas : Grayson Heenan de Detroit, Mike Zimmerman de Boston, Duarte Rosado, um jesuíta de Lisboa e, claro, Eric de Gana. ‘Quando você tem quatro caras incríveis prestes a assumir esse compromisso’, disse Kelly, ‘especialmente nos dias de hoje, quando as pessoas nem mesmo se comprometem com planos de telefone, e esses homens querem se comprometer com o sacerdócio, isso realmente chama sua atenção’.

No início, eles entrevistaram o padre Óscar Turrión, reitor do Pontifício Colégio Internacional Maria Mater Ecclesia e membro dos Legionários de Cristo. Turrión é generoso com seus comentários sobre o sacerdócio e os desafios que os seminaristas enfrentam.

Enquanto assistia ao filme, lembrei-me do padre mais velho, o padre Havel (Milos Forman), que ensinou o padre Brian (Edward Norton) num filme de 2000, Mantendo a fé. O padre Brian pede o conselho do padre Havel quando é tentado pelo reaparecimento de uma antiga namorada, Anna Riley (Jenna Elfman).

Padre Brian diz : ‘Fico pensando no que você disse no seminário, que a vida de um padre é difícil e se você se vê feliz fazendo qualquer outra coisa, deveria fazer isso’.

O padre Havel responde : ‘Esse foi o meu discurso de recrutamento, o que não é ruim quando você está começando, porque faz você se sentir como um fuzileiro naval. A verdade é que você não pode dizer a si mesmo que há apenas uma coisa que você pode ser, seja como padre ou casado com uma mulher, é o mesmo desafio. Você não pode assumir um compromisso real a menos que aceite que é uma escolha que você continuará fazendo repetidas vezes’.

Os cineastas se sentiram sortudos quando Turrión concordou em conversar com eles. ‘Mas não tínhamos ideia de onde sua história estava indo’, Hodge me disse. ‘Ele era mais velho, e reitor do colégio, estava feliz e tinha uma alegria de viver nele, foi o primeiro neste mundo de códigos sagrados da Igreja pelo qual nos sentimos bem-vindos. Nosso filme foi feito no estilo verité e sem agenda. Apenas deixamos a história se desenrolar’.

‘Fiquei chocado, mas não queria julgar’. Kelly disse : ‘Terminamos as filmagens em junho de 2017 e a notícia de que o padre Óscar Turrión tinha dois filhos e vivia uma vida dupla foi publicada em outubro’.

Perguntei a Kelly como se sentia a respeito disso e disse : ‘Foi um desafio. Adiamos o filme por três anos porque queríamos acompanhá-lo depois que foi demitido de seu cargo de reitor e de sua congregação’. Turrión disse no filme, ‘Deus não quer um padre feliz, quer um homem feliz’, então tinha isso. Ele estava sendo enganoso, mas acho que tinha que ser dessa forma nessas circunstâncias; ele sabia quando estava falando com a gente que a história ia sair à luz.

Os diretores perseguiram Turrión por três anos e finalmente se conectaram por meio da mídia social. Duas breves entrevistas em Zoom estão no filme. Kelly disse : ‘Parece que está em um lugar melhor agora’.

Os cineastas não queriam que o filme se tornasse apenas sobre o padre. A história de Turrión, e de fato não é, embora as páginas da Bíblia apresentando Gênesis 3 (A queda) formem um pano de fundo que é ao mesmo tempo uma mensagem e seu próprio comentário.

O filme está repleto de entrevistas com os quatro seminaristas mencionados, e eles parecem estar bem cientes dos desafios de se tornarem sacerdotes no século 21. Suas reflexões sobre o compromisso sacerdotal que estão prestes a assumir, desde a prática da pastoral aos enfermos até a celebração da Eucaristia e a resposta aos fiéis sobre a crise dos abusos do clero, são profundas, sinceras e atrativas.

Perguntei aos diretores por que sentiram a necessidade de incluir a crise no filme. Hodge, que não é católico e cresceu sem nenhuma prática religiosa, disse que sempre que dizia a alguém que estava fazendo um filme sobre padres católicos, eles perguntavam : ‘Você vai cobrir o assunto dos abusos do clero?’, disse, acrescentando : ‘Você teria que ser surdo para não mencionar esse problema’.

Kelly disse que agora com a revelação sobre os túmulos de crianças indígenas em antigos internatos, muitos administrados pela Igreja Católica, as coisas negativas tiveram que ser mencionadas no filme, complexo, inspirador e divertido.

O filme é para dois públicos’, explicou Kelly. ‘Minha esposa é uma das produtoras do filme e é judia. Ela ficava pedindo esclarecimentos, o que foi de grande ajuda. Embora não tenhamos conseguido explicar todos os detalhes, como a diferença entre um padre diocesano que faz os votos de celibato e obediência ao seu bispo, e um jesuíta como o agora padre Duarte, que faz votos de pobreza, castidade e obediência numa congregação religiosa, mas há suficientes referentes para católicos e não há muitos detalhes que possam atrapalhar os não católicos’.

Embora eu admita que queria ver mais futebol no filme, há muita humanidade e graça em O jogo sagrado.

Hodge disse que achava que este seria um filme de 90% de futebol, enquanto Kelly disse que o filme teria sido 30% sobre os seminaristas e 70% sobre futebol – agora é 70% sobre os seminaristas e suas jornadas.

O futebol é um jogo sagrado’, disse Hodge, que prefere a comédia ao espiritual. ‘Este filme é um mergulho profundo na vida do seminário, outro jogo sagrado, se você quiser, com regras e estruturas. Conhecemos alguns humanos que foram muito honestos conosco e encontramos indivíduos que serão nossos amigos para o resto da vida’.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1531492/2021/08/documentario-e-mergulho-profundo-no-jogo-dos-seminarios/

sábado, 7 de dezembro de 2019

Uma capelinha dentro do coração

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo de Marta Arrais,
cronista


‘Há qualquer coisa de sagrado no coração de cada um. É como se todos tivéssemos uma capela interna para onde podemos correr quando tudo nos desarma.

Ali, onde todas as nossas histórias, lutas, verdades e mágoas se guardam é terreno movediço. Nem todos nós podemos orgulhar do que guardamos dentro do peito. Há finais felizes e sonhos cumpridos, mas também dramas por chorar, episódios que ainda precisam do carimbo do perdão ou raivas que acordariam qualquer monstro.

Quando deixamos que alguém reze a sua vida na nossa, estamos a permitir que entrem no nosso espaço mais precioso. Estamos a permitir que entrem na nossa capelinha privada.

No entanto, apercebo-me da nossa falta de querer deixar que os outros nos conheçam, nos invadam, nos desarrumem. Preferimos uma capelinha limpa de presenças, mas segura e sem riscos. Achamos que sabemos sempre quem vem por Bem ou por Mal, mas não. Não sabemos. E a alternativa a isso não poderá ser : fechar as portas a todos.

No mês de desembrulhar o presépio e de o trazer à luz das coisas com importância, valerá a pena varrer a nossa capelinha de medos, orgulhos, arrogâncias ou superioridades e semear espaço para o que o Céu nos quiser dar.’


Fonte :

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Como Deus age através dos sinais sagrados

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 GOD THE FATHER
*Artigo de Fábio Nunes, 


‘Muitos são os significados para a palavra sinal. Se procurarmos em um dicionário o que significa o verbete sinal, tem-se como definição ‘coisa que chama outra à memória, que recorda, que faz lembrar’, obtém-se também o sentido de ‘indício’; ‘vestígio’; ‘rastro’; ‘traço’; além disso, pode significar uma ‘marca distintiva’. Então, partindo desses conceitos de cunho secular, veremos que sinal sagrado vai além de uma representação.

No ambiente religioso, o sinal sagrado também pode ser utilizado de várias formas e em diversas situações, como, por exemplo, os sinais no Antigo Testamento, os símbolos litúrgicos, os Sacramentos e os sinais que expressam as realidades espirituais.

A Igreja faz uso dos sacramentais que, também, são sinais. E, na Constituição Dogmática Sacrosanctum Concilium, fica claro a sua finalidade : ‘[…] São sinais sagrados, pelos quais, à imitação dos Sacramentos, são significados efeitos principalmente espirituais obtidos pela impetração da Igreja. Pelos sacramentais os homens os homens se dispõem a receber o efeito principal dos sacramentos e são santificados as diversas circunstâncias da vida’ (n. 60).

A seguir, veremos um pouco do que cada realidade quer expressar, mas notar-se-á que em nenhuma deixará de ter um sentido comum, que é levar o homem a Deus.

O homem necessita de sinais e de símbolos

O homem é, ao mesmo tempo, um ser espiritual e um ser corporal, por isso, as necessidades são tanto corporais como espirituais. Da mesma forma que precisamos alimentar o corpo, cuidar da saúde, precisamos cuidar da alma, por meio da oração e da busca de Deus. Os sinais são meios para que possamos manter a comunicação com o corpo e, ao termos o conhecimento do significado espiritual desses sinais, comunicamos também com a nossa alma.

Na vida humana, sinais e símbolos ocupam um lugar importante. O Catecismo da Igreja Católica vai nos falar o que os sinais sensíveis podem realizar na vida do homem : ‘Enquanto criaturas, essas realidades sensíveis podem tornar-se o lugar de expressão da ação de Deus que santifica os homens, e da ação dos homens que prestam seu culto a Deus’ (CIC, 1148). Para o fiel crente, os sinais sagrados são os exercícios da sua fé e auxílio no culto divino.

Símbolos do Antigo Testamento

O povo de Israel era constantemente orientado por sinais que representavam a presença de Deus e a Sua manifestação. O livro do Êxodo narra que ‘Quando Moisés subiu ao monte, a nuvem cobriu o monte. A glória do Senhor pousou sobre o monte Sinai, e a nuvem o cobriu durante seis dias’(cf. Ex 24,15-16). A nuvem era o sinal pelo qual o povo de Israel tinha a certeza de que Deus estava atuando naquele momento, era a presença de Deus no meio deles.

A nuvem ora escura, ora luminosa revela o Deus vivo e salvador. A nuvem, por muitas vezes citada nos textos do Antigo Testamento, representa a presença de Deus, como podemos ver na passagem em que Moisés está sobre o Sinai e a glória de Iahweh pousa sobre o monte, cobrindo toda a montanha (cf. Ex 24,15-18). Também, quando Moisés entrava na Tenda do Encontro e a coluna de nuvem parava na entrada da Tenda, e ali Deus falava com o seu servo faca a face (cf. Ex 33,9-11). Como podemos perceber, muitas são as manifestações de Deus por meio dos sinais para falar com o seu povo.

Símbolos e Sinais litúrgicos

A celebração na qual o cristão participa é repleta de sinais e símbolos que, segundo a pedagogia de Deus, são meios de Deus chegar aos homens, sendo, os homens, seres corporais e espirituais como foi dito anteriormente. Em toda a Liturgia sacramental, os símbolos fazem referência à criação, como a luz, o fogo e a água; referem-se também à vida humana, como lavar, ungir, partir o pão; por fim, representam ao mesmo tempo a história da salvação no rito da Páscoa (CIC 1189).

Estão também, na mesma esfera, as imagens sacras que, assim como os itens da celebração liturgia, são relativos a Cristo. As imagens de Nossa Senhora e dos santos servem de sinais para comunicar ao povo de Deus a ação de Cristo na vida de tantos homens e mulheres, que a Igreja reconheceu como verdadeiros cristãos. Todas essas formas são manifestações de Deus que a Igreja usa para comunicar algo; normalmente, são a graça e a presença do próprio Deus agindo no povo.

Sacramentos como sinais

Os sacramentos são verdadeiramente sinais sagrados, por meio deles o Espírito Santo realiza a santificação. A Igreja, em sua sabedoria, dá todo um sentido espiritual e enriquecem os sinais naturais : ‘Os sacramentos da Igreja não abolem, antes purificam e integram toda a riqueza dos sinais e dos símbolos do cosmos e da vida social’ (CIC 1152).

A Igreja realiza, por meio dos sacramentos, a santificação dos homens e a edificação da própria Igreja, que é corpo místico de Cristo. Deus age por meio dos sacramentos que são sinais eficazes da graça de Deus, instituídos por Cristo e confiados à Sua Igreja, pela qual é dispensada a vida divina (CIC 1131).

Os sinais servem para entender e expressar as realidades espirituais. É Deus quem fala aos homens por meio de sinais visíveis da criação. Deus comunica, por meio do cosmo, para que cada homem veja os vestígios do Seu criador. Esses sinais sensíveis tornam-se o lugar da ação de Deus (CIC 1148).

Por fim, após essa explanação de maneiras, situações, meios e ‘artifícios’ que Deus, muitas vezes, usa para comunicar, a nós, a sua graça, fica claro que : o nosso Deus (conhecendo o coração humano e a necessidade do homem) usa dos vários sinais para salvar. Deus conhece a nossa pouca fé, como expressaram os apóstolos : ‘Senhor, aumenta em nós a fé’ (Lc 17,5). Os sinais se fazem necessários para que, com a pouca fé, possamos dar passos em direção a Deus. O homem carece de sensibilidade e, portanto, Deus age pelos muitos sinais para ganhar a todos’.’


Fonte :

terça-feira, 30 de julho de 2019

Igrejas são mais do que lugares de peregrinação na Terra Santa

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
Igreja do Santo Sepulcro. Crédito: Eduardo Berdejo / ACI


‘As igrejas, os santuários e os mosteiros no Oriente Médio não são apenas destinos de peregrinação, mas também lugares de identidade e esperança para os cristãos locais que sofrem ameaças existenciais, manifestaram líderes religiosos locais.

Cristo habitou entre nós em Belém, no Egito, na Galileia e, claro, em Jerusalém. E, por seu Espírito Santo, Ele permaneceu presente ao longo dos séculos em Jerusalém, no Oriente Médio e até os confins da terra’, disse o Patriarca Theophilos III de Jerusalém, que acrescentou que ‘nossos locais sagrados contam as histórias da história de Deus conosco’.

Ninguém pode negar que esta região, o lugar do encontro divino-humano na história sagrada, é de fato o centro da terra’, declarou o Patriarca da Terra Santa em um evento no âmbito de uma reunião mundial sobre liberdade religiosa em Washington, D.C., na semana passada.

Theophilus III se dirigiu aos sacerdotes, líderes civis e religiosos em um evento sobre ‘Locais sagrados cristãos e lugares sagrados no Oriente Médio’, por ocasião da Conferência Ministerial para Promover a Liberdade Religiosa, organizada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos de 15 a 19 de julho em Washington, D.C..

A reunião contou com a participação de líderes religiosos e civis de todo o mundo, além de delegações de 106 países que se reuniram para discutir sobre a perseguição religiosa e estratégias para promover a liberdade religiosa.

O evento ‘Locais Sagrados’ foi patrocinado pela Comunidade Internacional do Santo Sepulcro e pelo Grupo de Trabalho do Instituto Hudson sobre os Cristãos e o Pluralismo Religioso no Oriente Médio.

Os conferencistas se centraram não só no significado espiritual dos locais de peregrinação em todo o Oriente Médio, mas também na importância vital que têm para os cristãos que vivem lá.

Theophilos é o patriarca número 141 da Igreja Ortodoxa Grega em Jerusalém, portanto, o líder cristão mais importante na Terra Santa.

Além disso, afirmou que ‘os atentados dos radicais contra as propriedades da Igreja em Jerusalém continuam’ e que os grupos ‘sabem muito bem que cada ataque contra um lugar sagrado representa outra ameaça à nossa identidade cristã’.

Nesse sentido, comentou que os locais sagrados estão ameaçados em várias frentes, incluindo vandalismo, ‘intimidação de colonos radicais’ e políticas hostis na legislatura do Knesset de Israel.

Segundo o patriarca, essas políticas cobrariam impostos municipais sobre as propriedades da Igreja em Jerusalém, como hospitais e escolas, o que poderia ‘arruinar’ as igrejas. Além disso, outro projeto de lei teria permitido ao Estado confiscar, supostamente em defesa dos inquilinos, terras vendidas por igrejas a compradores privados.

A decisão dos líderes católicos, ortodoxos, gregos e armênios, de fechar temporariamente a Igreja do Santo Sepulcro em fevereiro de 2018, foi por causa destas políticas. ‘Já era suficiente e também a hora de estabelecer os limites’, disse o Patriarca sobre o fechamento, afirmando também que ‘forças fora do nosso controle ameaçavam a santidade e a integridade de nossos lugares sagrados’.

Manter um só peregrino’ fora da igreja ‘é uma tragédia’, disse. No entanto, acrescentou que a solidariedade que milhões de pessoas em todo o mundo mostraram com as Igrejas foi alentadora.

A igreja reabriu depois que Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, interveio nos esforços para impor a política fiscal e a cidade recuou nas propostas. O Patriarca manifestou que, quando a solução foi encontrada, ‘a luz da Ressurreição brilhou’.

Da mesma forma, expressou sua gratidão a Netanyahu e ao presidente israelense Reuven Rivlin por seus esforços para proteger os Lugares Sagrados, assim como ‘a contínua e fiel custódia dos lugares sagrados’ do rei Abdullah II da Jordânia. Do mesmo modo, agradeceu o apoio dos legisladores dos Estados Unidos e do Reino Unido.

Além disso, destacou a vigília de oração de 11 de julho, que contou com a participação de outros patriarcas e líderes da Igreja na Porta de Jaffa, em Jerusalém, após a decisão da Suprema Corte de Israel contra a Igreja Ortodoxa Grega em um controverso acordo de terras que remonta a 2005.

O acordo envolveu a venda por parte da Igreja, mais tarde disputada, de hotéis dentro do Bairro Cristão da cidade para os colonos israelenses, uma transferência de propriedade que o patriarca disse que poderia afetar a ‘integridade’ do Bairro Cristão de Jerusalém, e possivelmente impedir o acesso de peregrinos a locais sagrados.

Uma declaração conjunta dos patriarcas e dos chefes das igrejas locais em Jerusalém qualificou o acordo de ‘infrutífero’ e disse que ameaçava o acordo de Status Quo da cidade.

Desta forma, Theophilos III disse que pediu aos funcionários locais que se unissem para apoiar Netanyahu e seu trabalho ‘para manter a rota de peregrinação aberta a todos e para manter o tecido histórico, multiétnico, multicultural e multirreligioso de nossa grande cidade, Jerusalém’.

No evento, discutiu-se sobre a preservação dos lugares sagrados na Terra Santa, assim como na Síria, Iraque e Egito.

Pe. Alexi Chehadeh, do Patriarcado Ortodoxo Grego de Antioquia e Todo o Oriente, contou que centenas de igrejas e mosteiros ‘em toda a Síria’ foram total ou parcialmente destruídos durante a guerra civil que afetou o país, e que isso significou bilhões de dólares para a sua reconstrução.

Não se pode ignorar a importância simbólica da reconstrução dos lugares sagrados’, reforçou o Patriarca e outros líderes cristãos.

Segundo Pe. Chehadeh, muitos locais sagrados do Patriarcado são igrejas que datam do século II ou III, e que reconstruí-los é ‘cuidar das raízes do cristianismo’ e ‘sinal de um ambiente pacífico’ que encoraje os cristãos a retornarem à Síria. Cerca de metade das comunidades cristãs sírias deixaram o país durante a guerra civil.

Pe. Salar Kajo, sacerdote em Teleskov, expressou que o Cardeal Louis Raphael I Sako, chefe da Igreja Católica Caldeéia, deu ordens para iniciar o processo de reconstrução na região de Nínive (Iraque), principalmente nas casas dos sobreviventes do genocídio cristão.

No entanto, o presbítero afirmou que ‘as pessoas insistiam em começar com os lugares sagrados, igrejas e mosteiros’. ‘Este é o único sinal de esperança que temos, e vamos voltar a esses lugares’, disse.

Por sua parte, a fundadora do grupo de órfãos coptos, Nermien Riad, comentou que depois da derrubada do presidente Hosni Mubarak, em 2011, no Egito, a Irmandade Muçulmana ‘veio depois das igrejas’.

Por que eles se dirigiram às igrejas? ‘Reconhecemos que há uma redução gradual do espaço público para os cristãos no Egito, porque os extremistas querem eliminar os ícones e as estátuas públicas’, disse Riad.

Também expressou que a exclusão dos cristãos dos espaços públicos possivelmente chegou ao esporte; atletas cristãos denunciaram atos de discriminação ao se associarem a clubes e à seleção nacional de futebol.

Nesse sentido, afirmou que ‘as igrejas se tornaram o centro da comunidade cristã e servem como um centro de apoio vital e um local de refúgio para os cristãos, o que os ajuda a enfrentar as mensagens insidiosas que os chamam ‘cidadãos de segunda classe’’.

O mais importante é o último vestígio de que existimos’, concluiu.


Fonte :

quarta-feira, 20 de março de 2019

Sobre a pressa e a perseverança


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Diante de um mundo tão apressado, torna-se importante atentar para os processos que ocorrem no mundo natural.
*Artigo de Fabrício Veliq,
teólogo protestante


Nas relações interpessoais também é possível perceber o mesmo fenômeno. Não é difícil ouvir relatos de pessoas que dizem demandar do companheiro ou companheira mudanças rápidas e de um dia para o outro, sem levar em conta todo um processo que, muitas vezes, determinadas pessoas necessitam para readaptações e adequações a um novo modo de viver.

As empresas, formadas por pessoas, seguem na mesma toada e, assim, já querem que seus funcionários e funcionárias cheguem prontas para a função que farão. Treinamentos, quando existem, devem ser feitos de maneira ‘rápida e eficiente’, uma vez que ‘tempo é dinheiro’ e, portanto, manter um funcionário ou funcionária em treinamento por mais de um dia, em alguns lugares, chega a ser um desatino para a boa gestão.

Quando se move para a esfera religiosa, é possível perceber também esse tipo de comportamento. Muitas pessoas, quando pensam na relação com Deus e com o sagrado, fazem-no de acordo com os parâmetros da sociedade e urgente na qual se vive. Assim, não é difícil encontrar pessoas que desejam uma intimidade com Deus e com a comunidade, mas sem estarem dispostas a passar tempo com ela, nos círculos de convivência da Igreja ou nos grupos de estudos bíblicos e orações. Diante das inúmeras coisas que precisam ser feitas nesse mundo sempre correndo, a própria construção dos relacionamentos duradouros também são vistos sob essa perspectiva.

Dessa forma, deixa-se de lado um dos princípios básicos para conhecimento de qualquer coisa ou pessoa – a dedicação do tempo. Não se criam amigos e amigas sem dedicação, sem esforço e sem perseverança. De maneira análoga, caso se queira ser amigo ou amiga de Deus, é necessário estar disposto a passar tempo com ele e se interessar pelas questões as quais ele também se interessa. Como toda amizade, a amizade com Deus também demanda um caminhar continuo em direção a Ele.

Os próprios Evangelhos, em suas narrativas, mostram como Jesus exorta seus discípulos para o princípio de que aqueles e aquelas que perseverarem até o fim serão salvos/as, o que pressupõe que o Reino de Deus não é alcançado com pressa, mas com constância. Diversas parábolas de Jesus, ao falar a respeito do Reino de Deus, também trazem essa perspectiva. Esse Reino, entre outras metáforas, é comparado tanto à semente de mostarda quanto ao fermento que leveda toda massa. Nos dois casos, é possível perceber tanto a estreita ligação que Jesus faz com os fenômenos naturais do dia a dia das pessoas com quem ele falava quanto a perspectiva da espera necessária para alcançar esse Reino.

Tanto na agricultura quanto nos processos de cozinhar alimentos, a categoria da paciência se torna imprescindível. Não há nada (aqui, considerando de maneira natural), que se possa fazer para que uma planta cresça mais rápido, ou para que determinado alimento chegue ao ponto desejado, a não ser esperar pelo tempo necessário para alcançar o seu termo. Tentar apressá-los pode ser danoso para a comida e danoso para a nova planta que deseja florescer.

Diante de um mundo tão apressado, torna-se importante atentar para os processos que ocorrem no mundo natural e que revelam grande lição para a humanidade : é necessária a perseverança e paciência para se alcançar certas coisas, tais como intimidade e conhecimento.

A perseverança é algo a ser aprendida. Aqueles e aquelas que a aprendem, mesmo em momentos difíceis, conseguem se lembrar de que não chegam ao final de uma corrida longa as que saem em disparada, mas sim as que mantêm a constância de suas passadas.’


Fonte :

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Fumaça sagrada! Por que a Igreja usa incenso na Missa?


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Philip Kosloski,
escritor e designer gráfico



Por essa razão, as formas públicas de culto da Igreja contêm vários elementos que são visíveis e envolvem nossos sentidos corporais. O Catecismo também nos ensina que ‘os sinais e os símbolos ocupam um lugar importante na vida humana. Sendo o homem um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual, exprime e percebe as realidades espirituais através de sinais e símbolos materiais. Como ser social, o homem tem necessidade de sinais e de símbolos para comunicar com o seu semelhante através da linguagem, dos gestos e de ações. O mesmo acontece nas suas relações com Deus’ (Catecismo 1146).

Para ajudar a envolver todos os nossos sentidos durante a celebração da Missa, elevando nossos corpos e almas a Deus, a Igreja, durante séculos, usou o incenso como um sinal exterior importante.

O incenso era uma parte vital da adoração para muitas religiões antigas, incluindo o culto judeu de Deus. No Tabernáculo, assim como no Templo, Deus ordenou que um ‘altar de incenso’ fosse construído. Deus mandou também que Aarão, o sumo sacerdote, queimasse ‘um incenso perpétuo perante o Senhor ao longo de suas gerações’ (Êxodo 30: 8).

A frase mais conhecida que menciona o incenso no Antigo Testamento também está ligada a essa tradição : ‘Suba a minha oração perante a tua face como incenso, e as minhas mãos levantadas sejam como o sacrifício da tarde’ (Salmos 141:2).
Os cristãos rapidamente adotaram o uso do incenso, e isso aparece no livro do Apocalipse, onde São João descreve : ‘A fumaça dos perfumes subiu da mão do anjo com as orações dos santos, diante de Deus’ (Apocalipse 8: 4).

À luz das passagens descritas acima, o significado primário por trás do uso do incenso é simbolizar nossas orações se elevando a Deus. Quando vemos o incenso, lembramos que o sacerdote está lá para reunir nossos pedidos e implorar em nosso nome diante de nosso Deus amoroso e misericordioso.

O incenso também lembra a realidade celestial da Missa. Conecta nossa celebração à liturgia celestial retratada no livro do Apocalipse, e lembra-nos que a Missa é um lugar de encontro entre o céu e a terra.

Por último, a nuvem grossa de incenso geralmente turva nossa visão do altar. Isso é uma coisa boa e nos lembra da natureza misteriosa da Missa. Nossas mentes mortais não podem compreender plenamente o mistério que está sendo celebrado diante de nossos olhos; o incenso torna essa realidade ainda mais tangível.

Enfim, embora o uso de incenso possa parecer estranho, lembre-se de que essa tradição tem raízes espirituais profundas e tem sido parte da adoração divina há milhares de anos.’


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