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terça-feira, 12 de setembro de 2023

5 declarações chocantes que desmascaram o racismo e a eugenia por trás da fachada do “planejamento familiar” laico

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Arthur Herlin

 

As 5 declarações reveladoras são de Margaret Sanger, fundadora da rede abortista norte-americana Planned Parenthood


‘Você sabia que por trás do planejamento familiar se esconde uma fervorosa defensora da eugenia ‘negativa’? Margaret Sanger, fundadora da Planned Parenthood (na prática, a maior rede de clínicas de aborto dos EUA, envolvida hoje num escândalo gigantesco de tráfico de órgãos e tecidos fetais para fins de lucro) era favorável a essa doutrina que consiste em restringir os casamentos, promover a esterilização e eliminar fisicamente certos grupos de indivíduos portadores de genes ‘indesejáveis’, a fim de ‘melhorar o ser humano’. Ironicamente, a própria Margaret Sanger foi a sexta de 11 filhos de uma família operária de origem irlandesa.

As 5 citações seguintes refletem as convicções de Margaret Sanger.

1. ‘Não é necessário que circule a ideia de que queremos exterminar a população negra’

Como revela uma de suas cartas ao Dr. Clarence Gambler, datada de 19 de dezembro de 1939, Sanger incentivou a esterilização de pessoas consideradas ‘inaptas’, como os negros, as minorias étnicas, os doentes e os deficientes. De acordo com a organização norte-americana Live Action, o Instituto Guttmacher (antiga divisão de pesquisa pró-aborto do planejamento familiar) estimou que os afro-americanos eram cinco vezes mais propensos a recorrer ao aborto que os brancos. As clínicas de ‘planejamento familiar’ foram estrategicamente implantadas, portanto, nas comunidades de negros e minorias étnicas. Ainda hoje, 37% dos abortos são praticados pelos membros da comunidade negra, que representa, porém, apenas 13% da população dos EUA.

2. ‘Eu aceitei o convite para entrar em contato com o ramo feminino da Ku Klux Klan’

Esta citação vem de um discurso de Margaret Sanger em 1926 durante reunião da Ku Klux Klan em Silver Lake, New Jersey, transcrito em sua autobiografia (A autobiografia de Margaret Sanger). ‘Eu fui escoltada até a tribuna, fui apresentada e então comecei meu discurso… Acho que, no fim, alcancei o meu objetivo por meio de ilustrações simples’.

3. ‘Eles são (…) as ervas daninhas da humanidade’, ‘reprodutores irresponsáveis’, ‘geram (…) seres humanos que jamais deveriam ter vindo ao mundo’

No livro ‘Pivot of Civilization’, Sanger se refere aos pobres e aos imigrantes explicando que, no caso deles, a ‘caridade’ se baseia no erro ideológico.

4. ‘O controle dos nascimentos consiste, nem mais nem menos, na eliminação das pessoas inadequadas’

É em escritos como ‘A ética e o controle dos nascimentos’ e ‘O controle dos nascimentos e a nova raça’ que Sanger afirma que o controle da natalidade procura principalmente produzir uma ‘raça mais própria’, eliminando quem ela considera ‘inadequado’.

5. ‘Acho que o maior de todos os pecados é trazer filhos ao mundo’

Esta citação vem de uma entrevista de 1957 com o jornalista Mike Wallace : ‘Eu acho que o maior de todos os pecados é trazer filhos ao mundo – que têm doenças por causa dos seus pais, que não terão a chance de se tornarem seres humanos dignos desse nome. Delinquentes, prisioneiros, todo tipo de coisa que já está inscrito no nascimento. Esse, para mim, é o maior pecado que se pode fazer’. Como solução, Margaret Sanger preconizou que cada família americana pedisse permissão ao governo para ter um filho. Ela já tinha declarado à revista America Weekly em 1934 : ‘Tornou-se necessário estabelecer um sistema de permissão de nascimentos’!’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2015/10/28/5-declaracoes-chocantes-que-desmascaram-o-racismo-e-a-eugenia-por-tras-da-fachada-do-planejamento-familiar-laico/

domingo, 1 de agosto de 2021

O magistério de Francisco e a questão racial

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo do Padre Manoel Godoy, SJ

 

‘Por tudo o que o papa Francisco faz e fala, podemos considerá-lo um aliado importante na luta contra o racismo. Essa perspectiva precisa ser enquadrada num campo maior, não somente nas falas diretas contra o racismo. Ele vem insistindo na cultura do ‘encuentro y cercania’. Com esta cultura, crê Francisco que teremos condições de entabular diálogos construtivos rumo a uma sociedade mais fraterna.

Na sua mais recente encíclica, o papa Francisco fez uma análise da conjuntura mundial onde ele destaca elementos que dificultam essa cultura. No primeiro capítulo, sob o nome de ‘Sombras de um Mundo Fechado’ ele elenca os principais sinais dos tempos, que configuram um cenário sombrio contrário à fraternidade. O papa constata que a conjuntura histórica vem dando passos à atrás, contrários o que se sonhou de um mundo globalizado e fraterno. Esperava-se um mundo mais integrado, superando conflitos antigos e criando base para um mundo onde o diálogo marcaria o concerto entre as nações, porém, o que se vê é o ressurgimento de nacionalismos fechados, exasperados, ressentidos e agressivos. Neste cenário, o descarte de seres humanos, a obsessão de cortar custos trabalhistas, a globalização sem rumo humano, a pandemia, a cruel exploração dos migrantes e o racismo são as constantes.

Francisco chama a atenção para a perda da consciência histórica. Diz : uma maneira eficaz de dissolver a consciência histórica, o pensamento crítico, o empenho pela justiça e os percursos de integração é esvaziar de sentido ou manipular grandes palavras, tais como democracia, liberdade, justiça, unidade. Critica a falta de um projeto que alcance a todos e não somente a alguns privilegiados. Vê como grande ameaça à fraternidade e à amizade social o mecanismo político em voga de exasperar, exacerbar e polarizar. Tal política suscita um clima de todos contra todos, onde o vencer é sinônimo de destruir. Hoje, um projeto com grandes objetivos para o desenvolvimento de toda a humanidade soa como um delírio. Lembra do projeto do cuidado da casa comum e do desinteresse por ele da parte dos poderosos do mundo.

Alerta também para a cultura e política do descarte mundial, onde não só os alimentos ou os bens supérfluos são objetos de descarte, mas muitas vezes os próprios seres humanos. Nesse mundo dominado por interesses econômicos, aumentou a riqueza, mas não a equidade e assim nascem novas formas de pobrezas. E nessa perspectiva, denuncia que os direitos humanos não são suficientemente universais.

Importante constatação do papa Francisco também de que a solidão, os medos e a insegurança de tantas pessoas que se sentem abandonadas pelo sistema, fazem com que se crie um terreno fértil para o crime organizado. Este se apresenta como protetor dos esquecidos, cria uma rede que gera dependências de todo o tipo e fomenta uma sociedade marcada pela violência sistêmica. Na verdade, multiplicam-se cruelmente situações de violência em muitas regiões do mundo, a ponto de assumir os contornos daquele se poderia chamar uma terceira guerra mundial em pedaços. Nosso mundo avança em uma dicotomia sem sentido, pretendendo garantir a estabilidade e a paz com base em uma falsa segurança sustentada por uma mentalidade de medo e desconfiança.

Sobre a pandemia da covid-19, o papa diz que por algum tempo ela fez perceber que todos estamos no mesmo barco; que temos um destino comum; que ninguém se salva sozinho. A corrida para um mundo onde o eixo é o mercado e onde tudo deve estar submetido aos seus ditames, de repente, com a pandemia teve um pequeno freio. Num parágrafo extremamente metafórico, Francisco descreve essa situação da seguinte maneira : alimentamo-nos com sonhos de esplendor e grandeza, e acabamos por comer distração, fechamento e solidão; empanturramo-nos de conexões e perdemos o gosto da fraternidade. Buscamos o resultado rápido e seguro, e nos encontramos oprimidos pela impaciência e a ansiedade. Prisioneiros da virtualidade, perdemos o gosto e o sabor da realidade. A pandemia poderia fazer-nos repensar nosso estilo de vida, nossas relações, a organização de nossas sociedades e, sobretudo, o sentido de nossa existência. Francisco retoma um conceito tão caro a ele e já desenvolvido na Laudato Sí – tudo está interligado. Crê que ele se aplique bem nessa realidade pandêmica.

Um outro tema muito caro ao papa Francisco é a realidade da migração. Defende o direito dos migrantes de serem tratados fraternalmente, pois são pessoas dotadas de dignidade intrínseca de toda e qualquer pessoa. Critica o desenvolvimento de uma mentalidade xenófoba e lamenta que entre os que praticam esse sentimento haja pessoas que se dizem cristãs. Retoma sua afirmação de que as migrações constituirão uma pedra angular do futuro e do mundo. Por isso, é urgente superar sentimentos racistas e buscar uma convivência integrada entre todos os povos, não deixando que o medo nos prive do desejo e da capacidade de encontrar o outro.

E diretamente sobre o racismo, ele afirma : ‘O descarte do ser humano, que hoje se alastra, exprime-se de variadas maneiras como, por exemplo, na obsessão por reduzir os custos laborais sem se dar conta das graves consequências que provoca, pois, o desemprego daí resultante tem como efeito direto alargar as fronteiras da pobreza. Além disso, o descarte assume formas abjetas, que julgávamos já superadas, como o racismo que se dissimula, mas não cessa de reaparecer. De novo nos envergonham as expressões de racismo, demonstrando assim que os supostos avanços da sociedade não são assim tão reais nem estão garantidos duma vez por todas.

E em outro momento, afirma : ‘Existem periferias que estão próximas de nós, no centro duma cidade ou na própria família. Também há um aspecto da abertura universal do amor que não é geográfico, mas existencial : a capacidade diária de alargar o meu círculo, chegar àqueles que espontaneamente não sinto como parte do meu mundo de interesses, embora se encontrem perto de mim. Por outro lado, cada irmã ou cada irmão que sofre, abandonado ou ignorado pela minha sociedade, é um forasteiro existencial, embora tenha nascido no mesmo país. Pode ser um cidadão com todos os documentos em ordem, mas fazem-no sentir como um estrangeiro na sua própria terra. O racismo é um vírus que muda facilmente e, em vez de desaparecer, dissimula-se, mas está sempre à espreita.

E quando de sua ida a Lampedusa, onde chegam os navios vindos da África, trazendo fugitivos de regime de fome e de tortura de alguns países daquele continente, o papa Francisco denunciou a globalização da indiferença que nos tirou a capacidade de chorar. Afirmou : a cultura do bem-estar, que nos leva a pensar em nós mesmos, torna-nos insensíveis aos gritos dos outros, faz-nos viver como se fôssemos bolas de sabão : estas são bonitas, mas não são nada, são pura ilusão do fútil, do provisório. Esta cultura do bem-estar leva à indiferença a respeito dos outros; antes, leva à globalização da indiferença. Habituamo-nos ao sofrimento do outro, e dizemos não nos diz respeito, não nos interessa, não é responsabilidade nossa!.

E por ocasião dos protestos contra o assassinato de George Floyd, nos EUA, disse : ‘queridos amigos, não podemos tolerar nem fechar os olhos para qualquer tipo de racismo ou de exclusão e pretender defender a sacralidade de cada vida humana.’ E quando da celebração do Dia Internacional para a eliminação da discriminação racial, o papa em um tuíte enfatiza que o racismo é um vírus que se transforma facilmente e, em vez de desaparecer, se esconde, mas está sempre à espreita. As manifestações de racismo renovam em nós a vergonha, demonstrando que os progressos da sociedade não estão assegurados de uma vez por todas.

Considerando que o papa Francisco, na época Cardeal Jorge Bergoglio, coordenava a equipe de redação das conclusões de Aparecida, podemos assumir a perspectiva da Quinta Conferência neste texto em que destacamos a questão do racismo e o papa Francisco. ‘A Igreja denuncia a prática da discriminação e do racismo em suas diferentes expressões, pois ofende no mais profundo a dignidade humana criada a ‘imagem e semelhança de Deus’. Preocupa-nos que poucos afro-americanos cheguem à educação superior, sem a qual se torna mais difícil seu acesso às esferas de decisão na sociedade. Em sua missão de advogada da justiça e dos pobres a Igreja se faz solidária aos afro-americanos nas reivindicações pela defesa de seus territórios, na afirmação de seus direitos, na cidadania, nos projetos próprios de desenvolvimento e consciência de negritude. A Igreja apoia o diálogo entre cultura negra e fé cristã e suas lutas pela justiça social, e incentiva a participação ativa dos afro-americanos nas ações pastorais de nossas Igrejas e do Celam. A Igreja com sua pregação, vida sacramental e pastoral precisará ajudar para que as feridas culturais injustamente sofridas na história dos afro-americanos, não absorvam, nem paralisem a partir do seu interior, o dinamismo de sua personalidade humana, de sua identidade étnica, de sua memória cultural, de seu desenvolvimento social nos novos cenários que se apresentam’ (533).

Por tudo isso, podemos considerar o papa Francisco em um grande aliado na luta pela superação do racismo e de todas as desigualdades e preconceitos que marcam a sociedade atual.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1530447/2021/07/o-magisterio-de-francisco-e-a-questao-racial/

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Se Saint Louis é o 'novo Selma' qual o papel dos católicos na reconciliação racial?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Frente: Irmã Antona Ebo e Irmã Anne Christopher marcham em Selma. Médio: o arcebispo Robert J. Carlson fala em um serviço de oração inter-religioso depois que o agente Jason Stockley foi absolvido. Atrás: jornais locais cobrem a homilia de Heithaus.
Frente: Irmã Antona Ebo e Irmã Anne Christopher marcham em Selma.
Meio: o arcebispo Robert J. Carlson fala em um serviço de oração
inter-religioso depois que o agente Jason Stockley foi absolvido.
Atrás: jornais locais cobrem a homilia de Heithaus.

*Artigo de Colleen Dulle


‘O padre jesuíta Chris Collins dirigiu-se apressadamente para a faculdade de direito da Universidade de St. Louis quando ouviu que um veredito seria divulgado no dia 15 de setembro referente ao julgamento do assassinato de Jason Stockley, o policial branco que matou Anthony Lamar Smith, um jovem negro de 24 anos, em 2011.
O julgamento foi controverso : Stockley foi acusado de assassinato premeditado depois de ser gravado dizendo que ele iria matar ‘esse filho da p***’ enquanto perseguia o Smith no seu carro pelo norte de St. Louis. Os advogados no processo também argumentaram que Stockley tinha plantado a arma que foi recuperada do carro do jovem Smith : especialistas descobriram o DNA do Stockley na arma, mas não de Smith.
Apesar desta evidência, Stockley foi absolvido, e os manifestantes imediatamente começaram a protestar frente à decisão na rua entre o tribunal e a escola de direito dos jesuítas.
Não importava qual fosse o veredito, sabíamos que haveria protestos’, disse o padre Collins à revista América. Ele sabia que o clero católico não era visto normalmente nos protestos e queria estar lá como ‘uma presença pastoral’.
Na calçada fora da faculdade de direito, o padre Collins encontrou-se com um ministro que conhecia e alguns outros membros do clero de várias denominações religiosas que se reuniram em torno do acontecido. Eles começaram a orar juntos e, enquanto oravam, alguém puxou o grupo para a rua.
Padre Collins disse que um dos ministros que iniciou a oração, uma negra, cujo nome não conseguiu lembrar, segurou-o firmemente. ‘Ela não me soltaria, um padre católico, branco e lá’, disse padre Collins. ‘Isso foi potente para mim... De alguma forma, isso pareceu um gesto muito significativo’.
Isto é significativo porque em St. Louis as comunidades afro-americanas e brancas permanecem completamente divididas. Os mapas demográficos da cidade mostram o que foi apelidado de ‘A Divisão Delmar’ : grande parte dos pretos de St. Louis vivem ao norte de Delmar Boulevard e grande parte dos brancos de St. Louis vivem ao sul.
Além de simplesmente superar essa divisão física, quando o padre Collins apoiou a ministra negra, representou o que os católicos brancos de St. Louis historicamente fizeram melhor na luta pela justiça racial : apoiar e trabalhar com seus colegas cristãos negros.

Integração pioneira
Em fevereiro de 1944, St. Louis era uma cidade legalmente segregada. Crianças pretas e brancas iam para diferentes escolas, e o incentivo para empregadores brancos como os do Sudoeste de Bell para contratar afro-americanos estava apenas começando a ganhar força.
A Universidade St. Louis permaneceu segregada. O presidente da escola, o padre Patrick Holloran e o arcebispo (mais tarde Cardeal), John J. Glennon, se opuseram firmemente à integração.
Um dos jesuítas da universidade, o padre Claude Heithaus, viu a segregação da universidade como hipócrita e injusta. Quando descobriu que celebraria a missa estudantil das 8:45 da manhã em St. Francis Xavier College Church em 11 de fevereiro de 1944, o padre Heithaus preparou uma homilia ardente denunciando o preconceito racial e pedindo a integração da universidade.
É um fato surpreendente e bastante desconcertante que, no que diz respeito à justiça para os negros, os muçulmanos e os ateus são mais cristãos do que muitos cristãos’, começa o sermão. ‘Os seguidores de Maomé e Lenin não fazem distinção de cor, mas para alguns seguidores de Cristo, a cor da pele de um homem faz toda a diferença no mundo’.
O padre Heithaus estabeleceu contrastes entre a aprovação do Papa Pio XII dos bispos negros e a desaprovação dos seus paroquianos sobre um organista negro na igreja e entre a alegria de Deus quando qualquer uma das raças recebe a comunhão e o desdém de sua comunidade ajoelhada ao lado de um afro-americano na fila de comunhão.
O padre Heithaus continuou : ‘A Universidade de St. Louis admite protestantes e judeus, mórmons e muçulmanos, budistas e brâmanes, pagãos e ateus, sem sequer olhar para a sua aparência. Você quer que batamos as nossas portas na cara dos católicos porque a sua aparência é escura ou preta?
O padre Heithaus convocou os alunos para se defender e fazer um ato de reparação pelo racismo, e um relatório de notícias daquele dia diz ‘até os bancos se levantaram’. Os alunos pediram desculpas ‘por todos os erros que os homens brancos fizeram com [Deus] às crianças pretas’ e ‘resolveram nunca mais ter qualquer parte neles, e fazer tudo em [seu] poder para evitá-los’.
O arcebispo Glennon repreendeu o padre Heithaus por sua homilia, e o padre Holloran proibiu-o de falar publicamente sobre temas de raça. Ainda assim, poucos meses depois que o padre Heithaus partilhou sua homilia, a universidade tornou-se a primeira faculdade historicamente branca em um antigo estado escravo em admitir estudantes pretos.
Dois anos depois, em 1947, o arcebispo (depois cardeal), Joseph E. Ritter, anunciou que integraria todas as escolas católicas na arquidiocese, uma causa que o padre Heithaus havia defendido silenciosamente depois de ser censurado. Quando alguns católicos brancos na diocese apelaram a integração, esperando pará-la, o Arcebispo Ritter emitiu uma carta para ser lida em voz alta em cada Missa na diocese, ameaçando excomungar qualquer católico que se opusesse a ele. As escolas foram integradas naquele ano, oito anos antes das escolas públicas do país se integrarem seguindo a decisão da Câmara de Educação do Tribunal Supremo.

St. Louis manda irmãs para Selma
Padre Collins, o jesuíta que rezou nas ruas depois do veredicto de Stockley, anunciou que um ministro afro-americano recentemente lhe disse que a marcha dos direitos civis de Selma1 para Montgomery em 1965 não teria sido tão eficaz em chamar a atenção para a discriminação dos eleitores em Alabama, se não fosse pela presença de freiras católicas.
A Irmã Anne Christopher, então Irmã de Loretto morando no centro da cidade de St. Louis, ficou horrorizada com a violência que viu na cobertura de notícias do ‘Domingo sangrento’, quando tropas estatais atacaram violentamente manifestantes pacíficos atravessando a Ponte Edmund Pettus. Quando ela ouviu o apelo do Reverendo Dr. Martin Luther King Jr. para o clero marchar de Selma para Montgomery, pediu permissão para ir. Três dias depois, subiu em um avião para Selma com um grupo de freiras de St. Louis. Antona Ebo, irmã franciscana de Maria, era a única irmã negra na delegação.
‘Descobriu-se que o hábito era o que chamava a atenção de todos, muito rapidamente, porque ninguém tinha visto as freiras fazendo nada assim antes. Eu não tinha percebido que estávamos nos envolvendo em algo histérico e histórico’, disse a irmã Ebo com uma risada. Aos 94 anos, ela permanece tão envolvida quanto pode nos esforços de direitos civis na cidade.
Embora seu impacto exato possa ser impossível de avaliar, a presença das irmãs na linha de frente em Selma chocou e chateou as pessoas, mesmo membros de suas próprias comunidades religiosas, que achavam inapropriado que freiras se envolvessem em tal ativismo.
Eu recebi muitas cartas, como tenho certeza de que todas nós fizemos, dizendo que as freiras não deveriam participar dessas coisas’, disse a irmã Anne Christopher, agora Therese Stawowy, em entrevista à Universidade Webster. ‘Eu não posso contar todas as palavras dessas cartas, mas algumas delas ainda as tenho hoje. Elas me sacudiram. Ficamos perturbadas com as cartas que recebemos e com o fato de que algumas vezes nos pediram para não falar nos eventos depois que fomos convidadas’.
Enquanto as marchas conseguiram obter o apoio à Lei de Direitos de Votação, que foi aprovada no final desse ano, a luta pela justiça racial em St. Louis continua por questões como a violência policial, o encarceramento em massa e a segregação geográfica que é um legado da discriminação habitacional.

O Novo Selma
Em setembro, no primeiro protesto depois de Jason Stockley (que frequentou a Althoff Catholic High School) ser absolvido, o ativista local Tory Russell disse à multidão : ‘St. Louis é o novo Selma. Deixe-me dizer isso novamente : St. Louis é o novo Selma
Para a comunidade católica em St. Louis, os paralelos entre sua cidade e Selma também foram evidentes em 2014. Duas semanas depois, Michael Brown, um adolescente preto desarmado, foi baleado pelo oficial de polícia branco Darren Wilson em Ferguson, Missouri, em um subúrbio do Norte de St. Louis com uma maioria de negros. Neste contexto, o arcebispo Robert Carlson decidiu restabelecer a Comissão de Direitos Humanos da Arquidiocese, o mesmo grupo que organizou a viagem das irmãs a Selma em 1965.
Hoje, a Igreja Católica está novamente em uma posição única com a possibilidade de encorajar esforços de justiça social em St. Louis. É a maior denominação religiosa na área e funcionam com aproximadamente 30 escolas onde seus membros são principalmente brancos. Todavia, após o veredicto de Stockley, a Convenção Batista Missionária do Estado de Missouri, em grande parte, negra, se juntou ao arcebispo Carlson em apoio.
O alcance deles é muito maior’, disse o Reverendo Linden Bowie, presidente da Convenção Batista, ao site National Catholic Reporter.
Em resposta ao pedido do Reverendo Bowie, a arquidiocese organizou um encontro de oração inter-religioso realizado no centro de Kiener Plaza, a poucos passos do Tribunal de Justiça antigo, onde Dred Scott lutou por sua liberdade da escravidão, pedido que foi negado em Dred Scott vs. Sandford, caso da Suprema Corte de 1857.
No encontro inter-religioso, o Padre Ron Mercier, chefe da Província Centro-Sul dos jesuítas, citou o papa Paulo VI :
Aqueles que levantaram a voz em protesto desde o veredito da última sexta-feira, lembram-nos que, para muitas pessoas nesta cidade que amamos, a justiça continua sendo uma realidade inalcançada. O pecado do racismo e a injustiça que ele gera, nos priva de toda a capacidade de estar em casa e apreciar a paz. Como os manifestantes nos lembraram, aqueles que ainda estão sobrecarregados pelo legado da escravidão conhecem de forma profunda e visceral o que é ser estrangeiros em sua própria cidade, vendo que suas vidas importam pouco. Sim, precisamos orar hoje pelo dom da paz, um presente que Deus anseia nos dar, mas também devemos ouvir o convite de Deus para construir a justiça.
Os católicos de St. Louis, liderados de forma mais visível por estruturas oficiais como a Comissão de Paz e Justiça, que foi estabelecida após Ferguson, estão trabalhando silenciosamente para alcançar a justiça.
Após o início da agitação em Ferguson, a arquidiocese se ativou nos esforços de reconciliação racial, realizando uma série de missas e encontros de oração inter-religiosos no condado do Norte e coletando doações para serviços sociais na área.
Os jesuítas continuaram seus esforços de justiça social, operando através de uma escola primária e uma paróquia no norte de St. Louis. Eles também estão tomando medidas para superar seu passado de escravidão. Em 2016, a Universidade de St. Louis renomeou um prédio com o nome de uma das pessoas escravizadas e vendidas pelos jesuítas. A universidade tornou mais fácil para os descendentes desses escravos participarem da universidade. A faculdade de direito é focada no encarceramento em massa e estabeleceu um programa de graduação associada para presos e trabalhadores prisionais. Também está planejando uma feira de carreiras para infratores da lei.
O padre Chris Collins, que trabalha na Comissão de Justiça e Paz, disse que, com algumas empresas em St. Louis que se encontram enfrentando a falta de mão-de-obra, o aumento das oportunidades de trabalho para os ex-presidiários poderia ser uma solução vantajosa para todos.
Pessoas de diferentes cores políticas podem concordar em muitas dessas coisas’, disse padre Collins. ‘Eu tenho esperança’.
Ele também vê potencial no trabalho da arquidiocese para a reconciliação racial com a polícia da cidade e do condado. Muitos dos oficiais, disse, são católicos. Ele perguntou : ‘Como a mediação dentro da comunidade católica pode desempenhar um papel na tentativa de encontrar um terreno comum para trabalhar na reparação das relações entre a comunidade afro-americana e a polícia?
Os católicos brancos de St. Louis aprenderam ao longo da história que desafiar uns aos outros e buscar um terreno comum com grupos marginalizados são as duas estratégias mais eficazes para alcançar a justiça.
O padre Heithaus, o cardeal Ritter e as irmãs desafiaram o racismo de suas comunidades, mesmo que isso significasse enfrentar o ridículo. Eles construíram pontes juntando católicos brancos e negros nas salas de aula da universidade e marchando com os líderes protestantes negros das marchas dos direitos civis no Estado de Alabama.
As divisões raciais da cidade persistem hoje. Se St. Louis é o novo Selma, então os católicos brancos sabem exatamente o que precisam fazer : Desafiar-se uns aos outros e trabalhar lado a lado com seus irmãos e irmãs pretos para alcançar a justiça e, ao fazê-lo, a paz.’

[1] Selma é uma cidade norte-americana que representa particularmente o movimento social em busca de igualdade de direitos para a população afro americana liderado pelo pastor Martin Luther King Jr., através de protestos e marchas da cidade de Selma no interior do Estado de Alabama, até a capital, a cidade Montgomery.

Fonte :