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quarta-feira, 8 de maio de 2019

Freiras fomentam agricultura orgânica e melhoram a vida dos pobres no campo

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 As pessoas compram hortaliças orgânicas em frente a um convento da Congregação da Rainha Maria da Paz, na cidade de Buon Ma Thuot.
As pessoas compram hortaliças orgânicas em frente a
um convento da Congregação da Rainha Maria da Paz,
na cidade de Buon Ma Thuot

*Artigo de Joachim Pham, 
correspondente do Global Sisters Report no Vietnã 



Thu, de 52 anos, usa armadilhas para matar insetos e borboletas à noite e pega lagartas manualmente para evitar que se alimentem das plantações.

Ela faz fertilizantes orgânicos, misturando fezes de porco com folhas secas, restolho de arroz, cascas e cal antes da compostagem.

Thu disse que vende cerca de 100 quilos de espinafre, ervilhas, quiabo, amaranto, centella asiática, houttuynia, cabaças, batata-doce e cogumelos para as populações locais e creches todos os dias. Seus vegetais custam de 6.000 a 12.000 dong (R$1 a R$1,99) por quilo.

As pessoas preferem nossos produtos orgânicos porque não usamos pesticidas e fertilizantes artificiais para vegetais’, diz ela.

Estamos felizes que nós pagamos 25 milhões de dongs (R$ 4.146) que emprestamos do banco para construir nossa casa’, disse Thu.

Como católicos, cultivamos produtos orgânicos frescos para o bem comum em vez de interesses privados’, diz ela, acrescentando que eles têm que trabalhar mais do que outros agricultores da região que usam produtos químicos para plantar verduras para clientes de varejo.

Ela também cria aves e suínos e os alimenta com arroz, mandioca (semelhante àquela da qual se extrai a tapioca), pedaços de tronco da bananeira e vegetais. Vende uma dúzia de porcos por ano.

Qui está entre as 40 agricultoras que fornecem hortaliças limpas para as creches locais. Elas são da paróquia de Thanh Trung no distrito de Quang Dien da Província de Thua Thien Hue, no Vietnã.

As Filhas de Nossa Senhora da Visitação na pessoa da irmã Mary Elizabeth Duong Thu Huong, que criou um grupo de agricultores em 2015, disse que eles ‘pretendem cultivar vegetais, raízes, feijões e frutas sem o uso de inseticidas e produtos químicos para proteger o ambiente da poluição por meio dessas substâncias tóxicas e cuidar da saúde das pessoas’.

Huong disse que ensina como fazer fertilizantes naturais de lama, folhas, restos e excremento de animais, a controlar pragas de insetos e a escolher vegetais adequados para o clima e os solos da região.

O Vietnã usa 100.000 toneladas de herbicidas e pesticidas para agricultura por ano, informou o ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Nguyen Xuan Cuong, em maio passado. Os agricultores abusam agressivamente desses agrotóxicos, causando um desequilíbrio na ecologia e envenenando fontes de água e solos.

Em 2018, o país registrou 164.670 novos casos de câncer e 114.870 mortes por câncer, de acordo com o banco de dados Globocan sobre mortalidade por câncer no mundo. Uma das principais causas é o alimento contaminado pelo uso excessivo de produtos químicos.

A irmã Marie Nguyen Thi Hiep, das Filles de Marie Immaculée, no convento de Phuong Tay, diz que sua congregação também oferece às mulheres locais formas de cultivar vegetais em barris de plástico ou espuma em locais afetados pela mudança climática.

Também pedimos aos benfeitores que ofereçam o capital que precisam 20 famílias locais, 5 milhões de dong [215 dólares] cada um, a fim de que elas possam criar aves e gado e cultivar vegetais para ganhar a vida’, diz.

A irmã Mary Tran Thi Hien, também Filles de Marie Immaculée, que reuniu 26 agricultores para cultivar verduras limpas na paróquia de Xuan Thien em 2014, diz que os encorajou a seguir os métodos tradicionais de agricultura orgânica, dando a cada agregado familiar sementes de legumes e dois leitões.

Hien diz que os fazendeiros locais levam uma vida de escassez. Então, quando têm colheitas ruins, endividam-se, deixando casas e fazendas para coletar itens usados e trabalhar em canteiros de obras para ganhar a vida.

Muitas pessoas melhoram suas vidas graças aos produtos orgânicos que os consumidores adoram comprar’, diz ela. Eles fornecem cultivo orgânico, aves e suínos para creches católicas e moradores locais.

Uma vez que as pessoas estejam cientes de fazer produtos agrícolas limpos, estarão cientes de assumir a responsabilidade pela proteção da saúde da comunidade’, diz Hien.

Hien também apontou que muitas pessoas abusam de produtos químicos e pesticidas porque não são educadas sobre os efeitos nocivos que os produtos químicos têm sobre a saúde humana e o meio ambiente, e se concentram em buscar lucros imediatos.

Ela diz que as Irmãs da Congregação das Filhas de Maria Imaculada, também conhecidas como as irmãs marianistas, treinaram 17 paróquias no cultivo de hortaliças orgânicas, preservando bem os alimentos, fornecendo água potável para outras pessoas e prevenindo-as de doenças causadas pela mudança climática.

Hien diz que as irmãs nas áreas rurais cultivam hortaliças limpas no complexo dos conventos para suas próprias necessidades, enquanto as comunidades religiosas nas cidades não têm espaço suficiente para fazê-lo.

A irmã Mary Nguyen Thi Thuan, da Congregação da Maria Rainha da Paz, com sede na cidade de Buon Ma Thuot, diz que as irmãs cultivam hortaliças em fazendas ao redor de seus conventos para fornecer comida e vender 100 quilos ou mais de legumes por dia para lojas e pessoas locais.

Thuan diz que também fornecem vegetais limpos para um negócio na cidade de Ho Chi Minh.

Alguns fazendeiros locais visitam nossas fazendas, aprendem como fazer agricultura orgânica e aplicam esses métodos em suas próprias fazendas’, disse. ‘As pessoas estão interessadas em métodos de agricultura orgânica’.

James Dang Thanh Hoa, da Xuan Thien Parish, diz que cultiva vegetais orgânicos para salvaguardar a saúde de sua família e de outros.

Hoa diz que colhe 150 quilos de vegetais por dia e não tem produtos suficientes para fornecer às lojas locais, mercados ou shoppings, que exigem quantidades mais massivas.

Estamos felizes porque mais e mais pessoas de outros lugares vêm para comprar nossos produtos agrícolas frescos’, disse ele.’


Fonte :

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

As freiras 'escravas sexuais' : um novo capítulo dos abusos sexuais na Igreja

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 A admissão pública do papa Francisco de que sacerdotes e bispos usaram freiras como
*Artigo da AFP



É a primeira vez que o papa e a Igreja como instituição admitem publicamente que esses abusos foram cometidos. Isso é sumariamente importante’, reconheceu, satisfeita, à AFP a diretora do suplemento feminino do jornal ‘L'Osservatore Romano’, Lucetta Scaraffia.

A historiadora e jornalista italiana dedicou a edição de fevereiro do suplemento aos casos de abusos sexuais a religiosas, gerando um novo escândalo dentro da instituição.

A denúncia foi confirmada pelo pontífice argentino, que admitiu que padres e bispos abusaram sexualmente de freiras por décadas.

A admissão do papa surpreendeu os jornalistas que participavam da tradicional coletiva de imprensa concedida por Francisco no voo de retorno à Itália dos Emirados Árabes Unidos.

Houve padres e bispos que fizeram isso’, indicou o papa, que nunca havia abordado esse tema publicamente.

A Igreja ‘suspendeu vários clérigos’ e o Vaticano esteve ‘trabalhando (nesta questão) durante muito tempo’, confessou.

O escândalo se soma à onda de denúncias contra sacerdotes pedófilos em muitos países, do Chile à Irlanda, passando por Estados Unidos e Austrália.

O semanário do Vaticano denunciou, inclusive, o estupro de freiras, que foram forçadas a abortar ou a criar filhos que não foram reconhecidos por seus pais sacerdotes.

Um fenômeno que tem sido pouco denunciado e tem vindo à tona em vários países, como Chile, Itália, Peru e Índia, além da África.

É uma situação muito difícil que tem suas raízes na dependência das freiras. Não são reconhecidas como iguais’, explicou Scaraffia.

Em um comunicado à imprensa divulgado nesta quarta, o porta-voz interino da Santa Sé, Alessandro Gisotti, declarou que quando o Santo Padre falou na véspera da ‘escravidão sexual’ em algumas congregações, se referia também à ‘manipulação e a formas de abuso de poder, que incluem o abuso sexual’.

Desde novembro, a União Internacional das Superioras Gerais (UISG), organismo que representa mais de meio milhão de freiras católicas, assumiu o compromisso de atender todas as religiosas que denunciassem uma agressão sexual.

Quebrar o silêncio

O papa recordou que a batalha foi aberta por seu antecessor, Bento XVI (2005-2013), que ‘teve a coragem de dissolver uma congregação’ por escravizar as mulheres, inclusive sexualmente, por parte de seu fundador.

Francisco se referia à congregação francesa das contemplativas Irmãs de São João, cujos superiores foram retirados depois de uma investigação do Vaticano sobre seus excessos, entre eles sexuais.

Por conta das revelações sobre o abuso de crianças por parte de padres e do impacto mundial do movimento #MeToo, as freiras também começaram a quebrar o silêncio.

Na semana passada, um religioso de alto escalão do Vaticano, acusado por uma ex-freira alemã de abusos durante a confissão, renunciou depois de quatro anos e de um julgamento canônico que se limitou a chamar a sua atenção.

Chegaram muitas queixas ao Vaticano, mas não deram prosseguimento’, explicou Scaraffia.

Espero que formem uma comissão para investigar os casos, que participem especialistas religiosos nesse tema, que abram julgamentos, mas, sobretudo, que quebrem o silêncio. Porque o silêncio é que permite que os estupradores continuem estuprando’, acrescentou.

Para as freiras vítimas de abusos não é fácil falar disso, pois temem que a denúncia repercuta contra elas ou contra a congregação.

Scaraffia considera que a Igreja deve se questionar sobre o poder que os sacerdotes exercem sobre as freiras, já que decidem sobre a sua entrada ou não nas ordens religiosas, organizam suas vidas diárias e, inclusive, fixam o salário que recebem.

Esta é uma oportunidade para demonstrar que a mudança está realmente em curso’, sustenta a historiadora, que espera acabar com o tradicional poder do sacerdote homem sobre a freira mulher.’


Fonte :  

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Por que uma mulher moderna se tornaria freira?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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Olalla Oliveros

*Artigo de Rebecca Vitz Cherico 


‘Em 2014, a modelo e atriz espanhola Olalla Oliveros surpreendeu o mundo da moda, desistindo de sua carreira de sucesso e entrando na vida religiosa – ela se tornou freira.

Enquanto Oliveros tomou a decisão real quatro anos antes, ela esperou para discutir sua decisão publicamente e disse que foi uma visita ao santuário de Nossa Senhora de Fátima, em Portugal, que estimulou sua vocação. Em entrevista ao jornal El Diario de Carlos Paz, a modelo explicou que sentia uma crescente insatisfação com a sua vida e experimentou ‘um terremoto interno’ quando estava em Fátima. ‘Deus me deu um papel e me escolheu, e eu não podia dizer não a Ele’, disse ela.

Acontece com muito menos frequência do que décadas atrás as mulheres decidirem entrar nas comunidades religiosas. Catholic World News informou em 2013 que mais de 3.000 mulheres deixam a vida religiosa a cada ano em todo o mundo. No entanto, há sinais de que a maré está virando, especialmente em algumas áreas do mundo, e algumas ordens religiosas estão vendo um crescimento substancial nas vocações. As moças continuam a ter um chamado à vida religiosa, mas o que faz uma mulher jovem e moderna deixar bons amigos, um namorado e uma carreira promissora para entrar em um convento? Como isso acontece?

Em uma palestra do TEDx de 2012 chamada ‘Why Nuns Don’t Have Midlife Crises (Por que as freiras não têm crises de meia-idade)’, a estudante de pós-graduação e pesquisadora J. E. Sigler discutiu os principais elementos do discernimento vocacional. Sigler entrevistou um grande número de mulheres religiosas para entender seus caminhos vocacionais e sua pesquisa mostra que há quatro elementos-chave ou passos comuns aos chamados religiosos, que ela chama de: silêncio (seguido de medo), assombração, salto e finalmente paz e alegria.

Sigler diz que o primeiro passo – o silêncio – é particularmente desafiador em nosso mundo barulhento, distraído e saturado de mídia, mas é necessário para ouvir e entender o próprio coração. Sigler também inclui o medo como parte do primeiro passo, porque inevitavelmente acontece quando uma pessoa sente um chamado à vida religiosa, mesmo que essa não seja a característica primária.

Assombração’ refere-se à experiência de ser incapaz de abandonar a ideia de uma vocação, uma vez que a semente foi plantada, e ‘salto’ é o passo necessário, mas arriscado, de seguir o chamado. ‘Paz e alegria’ são os fenômenos que Sigler têm visto repetidas vezes em suas entrevistas com as irmãs religiosas – uma experiência que muitas delas descrevem vividamente, e parece ser uma consequência inevitável de viver em profunda intimidade com Deus.

Luigi Tanzi, pai de cinco filhos, lembra-se do dia em que sua filha chegou com a surpreendente notícia. Chiara, a mais velha, tinha apenas 22 anos quando lhe contou sobre sua decisão de entrar no convento das Missionárias de São Carlos Borromeo, em Roma, uma ordem missionária. ‘É como se sua filha dissesse que ela está saindo de casa para se casar’, lembra Luigi – um momento naturalmente difícil para qualquer pai. ‘Mas quando ela se casar com Jesus, como você pode se opor ao noivo?’.

Enquanto muitas pessoas de fora acham que as freiras estão fazendo sacrifícios enormes – e insuportáveis ​​, parece muito diferente da perspectiva dessas mulheres. Elas falam de suas vocações como uma alegria e um presente, em vez de um fardo. Há períodos de provações e dificuldades, mas o que ancora seus votos é um amor profundo e permanente.

A Irmã Ann Kateri, 38 anos, é membro da comunidade das  Irmãs Franciscanas da Renovação. Ela foi criada em uma família grande e feliz em Washington, DC, e depois de se formar na Universidade de Harvard, começou a trabalhar com os pobres para a Igreja Católica. Desde quando ela tinha 11 anos, ela sentiu uma forte atração por esse tipo de trabalho, mas também experimentou um grande desejo pelo casamento. Quando seu namorado – um homem católico maravilhoso – pediu-a em casamento, ela disse que sim, mas então uma grande tristeza desceu sobre ela. Pega de surpresa por essa reação, ela procurou as razões de sua tristeza e reconheceu que estava sendo chamada para outra vida, um tipo diferente de relacionamento conjugal, que – apesar da hesitação inicial – lhe trouxe uma tremenda alegria. Ouvir seu coração esclareceu sua ligação. Ela descreve o dia em que professou seus votos finais como ‘de longe o dia mais feliz da minha vida’.

A Irmã Mary Star of Evangelization, 26 anos, com a ordem Servidoras do Senhor e da Virgem de Matará, conhece essa mesma alegria, embora seu caminho fosse diferente. Ela cresceu protestante em Dakota do Norte, e não conheceu uma irmã religiosa até que ela estava na faculdade e já em seu caminho para ser católica. Ela decidiu se converter depois de conhecer uma série de estudantes católicos impressionantes que a ajudaram a ver uma conexão entre a fé e a razão que ela não tinha visto antes, especialmente porque seu pai era um cético. A irmã Star formou-se em engenharia química e alemã, e ansiava por uma vida confortável com um bom emprego e uma família católica feliz. Mas isso não era para ser.

Enquanto trabalhava com a FOCUS (Fellowship of Catholic University Students) após a formatura, ela conheceu uma comunidade de irmãs religiosas e ficou tão comovida com sua santidade que se sentou e chorou no canto a maior parte da noite. Ela não estava inicialmente certa de que ela tinha uma vocação. ‘Ficou claro para mim que eu queria essa santidade’, ela me disse, mas ela ainda via a si mesma se casando, então ela decidiu que ‘apenas iria buscar o casamento da maneira mais sagrada possível’.

Ela começou a direção espiritual e sentiu-se cada vez mais atraída pela vida religiosa. O evento surpreendente que esclareceu sua decisão foi semelhante ao da irmã Ann Kateri – um pedido de casamento. Um homem que ela namorou na faculdade tinha terminado com ela para se tornar padre, mas devido a alguns eventos inesperados, pensou que ele poderia ter cometido um erro e começou a persegui-la novamente. Ela não queria nada mais do que se casar com ele e começar uma família, então quando se viu estranhamente desinteressada, ela sabia que era um sinal. A certeza total não veio imediatamente, mas não demorou muito.

A irmã Star diz que depois de tomar sua decisão final de entrar no convento, ela experimentou uma tremenda felicidade que lhe mostrou que ela havia feito a escolha certa. ‘Toda a minha vida, eu tinha desenhado o meu senso de mim mesma e minha satisfação de ter o amor e a atenção de um homem, mas desta vez, foi o próprio Deus que deu essa felicidade para mim’.

A vertigem inicial desapareceu depois de um tempo, mas a irmã Star diz que é essencial que parte do consolo inicial desapareça para que ela possa ter certeza e escolher sua vocação com total liberdade, em vez de simplesmente em sua euforia. Ela menciona certas tentações que vieram a ela naquele momento, como o medo de perder seu senso de singularidade ao vestir o mesmo hábito e manter a mesma agenda que todas as outras irmãs de seu convento. Porém, a irmã Star diz que descobriu o quão diferentes todas são. Sua realidade ‘externa’ é a mesma, mas seu universo interno é exclusivamente pessoal. Talvez o mais importante, há uma profunda paz e alegria.

Se alguém tivesse me dito o quão incrível seria, eu teria me tornado uma freira há muito tempo’, diz ela.’


Fonte :

terça-feira, 6 de março de 2018

Freiras queixam-se do salário e da forma como são tratadas


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 A editora-chefe diz que quer dar voz a estas irmãs e entende que elas são exploradas pela Igreja Católica.


‘A revista do Vaticano para o público feminino, a Women Church World, expôs, na sua edição de Março, a forma servil como são tratadas algumas freiras pelos cardeais e bispos da Igreja Católica, para quem trabalham e cozinham a troco de quase nada.
O artigo central da revista publicada pelo Osservatore Romano, intitulado ‘O trabalho (quase) gratuito das freiras’, é assinado pela jornalista francesa Marie-Lucile Kubacki, a correspondente em Roma da revista La Vie, do grupo Le Monde. A editora da revista é Lucetta Scaraffia, professora de História da Universidade La Sapienza, em Roma. ‘Até agora ninguém teve a coragem de denunciar estas coisas’ publicamente, disse à AP. Scaraffia contou à AP que o Papa Francisco lhe disse que lê e gosta da revista.
Algumas deles servem nas casas de bispos e cardeais, outras trabalham nas cozinhas das instituições católicas ou ensinam. Há quem, para servir os homens da Igreja, se levante de manhã para fazer o pequeno-almoço e só se deite quando estiver tudo limpo, a roupa lavada e engomada’, diz a irmã Maria, nome fictício. Acrescentou que as freiras servem o clero mas ‘raramente são convidadas a sentar-se nas mesas que servem’.
A falta de salário digno para o trabalho desempenhado não é novidade na Igreja Católica, mas a Women Church World foi pioneira na forma como o abordou. No artigo principal, expõe-se a falta de contratos das mulheres que vão para os prelados. Quando adoecem, as trabalhadoras são enviadas de novo para a congregação e rapidamente substituídas por outras.
A editora diz querer dar voz a estas irmãs, mas conta-se entre as exploradas da Igreja Católica : afinal de contas, os redatores e os editores da revista trabalham gratuitamente. A revista foi fundada com dinheiro dos correios italianos e paga aos seus colaboradores pelos artigos, mas sai todos os meses devido ao esforço gratuito dos editores.
Há freiras com intelectos brilhantes que prosseguem estudos, mas não podem pô-los em prática, uma vez que o avanço em termos pessoais é desencorajado, explicou a irmã Paule (nome fictício) à revista. ‘Por detrás está sempre a ideia infeliz de que as mulheres valem menos do que os homens, e de que os padres são tudo na igreja e de que as irmãs não são nada’, acrescentou.
A razão para o silêncio de muitas freiras é o fato de virem de longe, dos continentes africano, asiático ou sul-americano, fazerem os seus estudos religiosos no Vaticano pagos pelas congregações. Sentem-se em dívida e por isso não se querem queixar do trabalho que desempenham : ‘Elas sentem-se em dívida, amarradas, e por isso mantém-se caladas’, disse a irmã Maria, que também foi de África para Roma para prosseguir os estudos.
A revista tem feito opções editoriais que não agradaram a todos na Igreja Católica. O número de Março de 2016, sobre o tema Mulheres que Pregam, tinha um artigo em que se defendia que as freiras deviam poder dar homilias. A autora do artigo teve de se defender publicamente e dizer que não queria sugerir uma mudança nem na doutrina nem na prática. O número de Dezembro de 2017 explorou o tema O Poder Simbólico do Corpo Feminino e a violação enquanto forma de tortura.
A edição deste mês explora temas como as diferenças salariais de gênero e a falta de mulheres em posições de chefia. O movimento sul-americano Ni Una Menos, contra o femicídio e a violência contra as mulheres, também teve espaço nesta edição da Women Church World.
O Papa Francisco não é alheio a estes temas – na visita ao Peru denunciou o femicídio e a violência contra as mulheres, comum na América do Sul, onde nasceu. Também tem pedido, frequentemente, que se dignifique o trabalho feminino e o salário.’


Fonte :