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sexta-feira, 9 de maio de 2025

A fragilidade e a força de uma comunidade monástica

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Irmão Nicodemos Ohanebo, OSB

Monge de Ewu-Ishan, Nigéria 


‘Numa de suas belas páginas do livro ‘Cartas do Deserto’, Carlos Caretto escrevia : ‘Deus constrói sua Igreja com pedras tão frágeis como nós’. É exatamente o que se passou e continua a acontecer no meu mosteiro. A solidez de tal ou tal casa de Deus, desta ou daquela parte do Corpo de Cristo, não vem da força das virtudes, ou da fraqueza dos pecados deste ou daquele dos seus membros, mas do amor de Deus, que para revelar sua divina vontade, cria tal comunidade, ou estabelece um laço entre tal corpo e o grande Corpo de Cristo. Quer dizer, não são as pedras frágeis que consolidam a Igreja, mas o amor de Deus, no coração das próprias pedras.

Para apresentar minha comunidade, como exige a boa educação, diria que o Mosteiro São Bento, chamado ‘Mosteiro Ewu’, porque está situado sobre uma colina da aldeia Ewu-Esan, é uma comunidade monástica masculina, que vive a vida cenobítica segundo a regra de São Bento de Núrsia (480-547) e faz parte da Congregação Beneditina Católica Romana da Anunciação. Nossas atividades diárias vão da oração ao trabalho, do trabalho ao serviço aos outros e do serviço à partilha essencial da vida comunitária. Mas com que é que se parece a vida no mosteiro de Ewu?

Sem cansar muito a cabeça, e fazer grandes reflexões sobre o que é essa vida, confesso que esta comunidade é um grupo de homens decididos, onde se encontram todas as expressões mais espontâneas e mais normais (às vezes mesmo até mais anormais) da nossa humanidade, sem a mínima moderação. Vivendo concretamente esta vida de homens, tomamos consciência que a conversão e a ascese dos monges têm sentido a cada instante, que os homens devem escutar a palavra de Deus e prestar atenção a ela. Assim como se vê crescer toda espécie de plantas em qualquer canto do mosteiro, vê-se, entre os monges de Ewu, cada um segundo sua graça particular, todo o tipo de flores bem humanas da nossa humanidade. Tentar compreender os irmãos de Ewu, é, às vezes, como escrever versos de um poema muito simples, conforme a inspiração do momento, à medida que os acontecimentos da vida cotidiana se sucedem, pois só se consegue isso vivendo a vida normal, natural, bem real. Os irmãos são, ao mesmo tempo, espontâneos e capazes de refletir em diversos níveis. Nossa comunidade é um contínuo brotar de vida, uma invenção a cada instante.

Para mim a vida em Ewu é uma expressão viva da vida cristã, ao mesmo tempo comum, e fora do comum, numa boa mistura de experiências e de expressões da nossa humanidade. A vida que se vive aqui é praticamente uma descoberta e uma redescoberta de si mesmo, para além do visível. Em Ewu, levando muito a sério a oração, o trabalho e estudos diversos, estamos também atentos à originalidade de cada irmão, como pessoa, pessoa que deve ser salva, esta pessoa com suas imperfeições, e esta pessoa que sabe muito bem como ser ela mesma, como ser eumesmo.

Um exemplo : na ausência de um irmão ancião, um noviço tomou lugar na mesa perto do Prior. Depois da refeição um outro irmão perguntou-lhe o que ele tinha sentido, por estar sentado tão perto do prior. Ele respondeu com voz forte : ‘tive a impressão de quase ser vice-prior’, e todos riram. Se um noviço tivesse dito isso numa outra comunidade, os risos talvez se teriam transformado numa ordem para ir embora, por ter mostrado sua falta de humildade e falta de vocação. Mas é o tipo de coisas que acontecem em Ewu. Isto não quer dizer que se aceitam todos os excessos e extremos, mas mostra que a nossa comunidade não é perfeita, e que os irmãos procuram fazer vibrar, sob o dedo de Deus, a corda que tocará o mais belo canto místico, que ressoa no coração da vida mais simples e mais comum.

Em Ewu, disputas, reconciliações, incompreensões e brigas acabam por harmonizar-se numa visão comum, que faz as diferenças desaparecerem; cometem-se erros, e se alguns são corrigidos, outros permanecem visíveis, como uma cicatriz no rosto da comunidade, um rosto, ou melhor como um espelho aonde uma pessoa se olha e vê os efeitos de uma má escolha feita, mesmo como comunidade. Quando olho a vida que se leva em Ewu, através dos olhos de minhas fraquezas, vejo cada irmão com alguns limites (até mesmo com todos os seus limites) e que, no entanto, é um santo em potencial, ou mesmo já um santo. Nosso modo de viver me faz pensar que precisaríamos de ajuda, e ao mesmo tempo que poderíamos ajudar outros, quer seja no plano espiritual, material ou psicológico e até médico, emocional, ou mesmo sexual, no domínio do desconhecido, do concreto e até do místico.

Quando alguém se contenta em ser menos do que deveria, torna-se menos capaz de mudar na verdade, e em profundidade. E é porque em Ewu somos imperfeitos, que devemos antes de mais nada, segundo meu sentido espiritual, tocar com o dedo as nossas imperfeições, reconhecer nossas zonas de sombra, dar-lhe um nome, e pô-las na luz, oferecendo-as a Deus no tipo de vida que levamos. Procuramos Deus, o Pai de Jesus, é evidente. O que significa que se procuramos uma comunidade de monges perfeitos, é melhor não entrar em Ewu, mas apesar de tudo, você corre o risco de descobrir aí santos.

Por fim, não digo isto porque sou membro da comunidade, mas porque constato o seguinte : os irmãos de Ewu estão a caminho do centro, ou seja do coração, o centro de uma vida verdadeiramente vivida em Deus. Alguns passam ainda certas crises, como é normal em todo grupo humano, mas se continuarem a viver sua vida diária e sua experiência, com toda a simplicidade e espontaneidade consciente, farão vibrar a corda da nota que Deus, o Absoluto, está cantando, e o que eles são fará ressoar perfeitamente uma harmonia com o que é o grande Corpo de Cristo. Nós rezamos para atingir esse cume, para que o Cristo seja glorificado em tudo e que ‘possa nos levar todos juntos para a vida eterna’ (RB 72,12).’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.aimintl.org/pt/communication/report/117


quarta-feira, 9 de abril de 2025

Venerar os mais velhos, amar os mais moços

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Dom Jean-Pierre Longeat, OSB

ex-Presidente da AIM


‘Num primeiro tempo acolhemos o que nos diz São Bento sobre o tema. São Bento está muito atento ao bom equilíbrio, no interior da comunidade, entre a presença dos irmãos jovens e dos mais velhos. No cap. 4 dos Instrumentos das Boas Obras ele diz : ‘Venerar os mais velhos, amar os mais moços’ (4,70-71). Trata-se de colocar as reações de ambos numa atenção recíproca.

No começo da regra de São Bento, o monge aparece como um filho à escuta de seu Pai. Como se sabe, isto é uma referência ao livro dos Provérbios (Prov 1,8), mas mais ainda é uma disposição evangélica. Jesus situa-se numa relação filial com seu Pai, que é também nosso Pai, e assim, convida-nos a ser filhos muito queridos deste Pai que nos ama. Qualquer que seja a idade do monge, ou da monja, de um discípulo de Cristo, ele é sempre como um filho, uma filha à escuta daquele de quem recebe tudo.

O cap. 7, sobre a humildade, volta a este assunto. Define o monge como uma criança que repousa com confiança no colo de sua mãe, tal como o discípulo à escuta do seu Deus (cf. Sal. 130). É uma definição do monge estranha, se pensarmos bem. Trata-se de repousar em Deus, como uma criancinha de regaço de sua mãe, sem ter o coração orgulhoso, ou um olhar ambicioso, sem seguir projetos autônomos, de autoconfiança. Com tal atitude de fé, de confiança, adquire-se progressivamente uma maturidade e, como diz o 12º grau da humildade : ‘O monge chegará, em breve, àquele amor de Deus, que sendo perfeito, expulsa o temor’ (Rb 7,67). Está aqui, verdadeiramente, o caminho de toda a vida monástica.

A escola que São Bento quer formar para todos os que se colocam nesta disposição, permite ver uma corrida no caminho dos mandamentos : ‘com o progresso da vida monástica e da fé, dilata-se o coração (torna-se sempre mais jovem…) com inenarrável doçura de amor’ (Prol. 49). Não é seguro que isto se verifique sempre e aconteça com todos, mas em todo o caso é a perspectiva aberta por São Bento… Seja como for ninguém pode avaliar de fora o que se passa no íntimo do coração de cada um : só Deus sabe.

No prolongamento de uma tal proposta, São Bento apresenta os monges cenobitas como principiantes (RB 1 e RB 73) que se adestram nas fileiras de um exército fraterno. Progressivamente afastam-se do fervor simples dos começos, para entrar na provação de um combate contra a adversidade interior, até se tornarem sempre mais autônomos, com a idade. Alguns podem até querer ser eremitas. Pode-se constatar até nos nossos mosteiros, que alguns dos anciãos acabam seus dias nesta forma de solidão, quer seja no quadro de uma enfermaria, ou até na vida corrente. Os mais velhos, mesmo estando presentes na vida comunitária, adquirem uma certa distância em relação às coisas que passam, e ajudam a comunidade, especialmente os mais jovens a ter certo recuo em relação às brigas, aos confrontos, ou às discussões necessárias, mas muito relativas, na vida cotidiana. Esta liberdade dá também aos mais velhos uma certa cumplicidade com os mais jovens, pois no fundo, os primeiros já nada têm a perder, e os outros ainda não têm nada a perder.

São Bento está muito consciente do que velhos e novos dão à vida da comunidade, é por isso que faz questão que todo mundo seja consultado, quando se trata de um assunto importante no quadro do mosteiro (RB 3,1). Diz o seguinte : ‘Dissemos que todos fossem chamados a conselho, porque muitas vezes o Senhor revela ao mais moço o que é melhor’ (3,3). Como é bom ouvir isto da parte de um homem com tal experiência, como São Bento.

Longe de considerar o fato de se reconhecer filho, filho de Deus, como condição de uma dependência irresponsável, o autor da Regra diz, ao contrário, que ser jovem numa comunidade é um apelo a viver isso com sua característica própria. Como estamos longe de modos de ser infantis, que tantas vezes vemos nas nossas santas instituições! Acontece nas nossas comunidades, sobretudo no hemisfério Norte, que mesmo depois dos 50 anos é-se considerado como um jovem, que não tem o direito de dar sua opinião diferente. Isto chama-se infantilismo, e deve ser combatido vigorosamente. Tanto mais que ‘os jovens’, ‘os novos’ que entram nas nossas comunidades, podem ser adultos de 30, 40, ou mais e cheios de experiências múltiplas.

Depois de seu tratado espiritual nos primeiros capítulos da Regra, São Bento trata de questões práticas, aonde, justamente, apresenta as grandes orientações que colocou no começo.

É o caso do capítulo 22, onde São Bento sublinha a importância de misturar as gerações ao falar… do sono dos monges : ‘Que os irmãos mais jovens não tenham leitos juntos, mas intercalados com os dos mais velhos’ numa época em que se dormia ainda num dormitório. Concretamente, trata-se de evitar relações ambíguas entre irmãos jovens, e de aproveitar o encorajamento dos mais experimentados em relação aos principiantes, e igualmente ajudar os mais velhos a manter o elã da juventude. Tais medidas parecem estranhas num mundo em que se teme mais os abusos por parte de pessoas mais velhas em relação a mais jovens. Mas será que temos de ler tudo à luz de um tal medo? O encorajamento mútuo das gerações deve passar por mediações. Estas podem todas ter perigos abusivos. No quadro dos mosteiros, à parte os que têm estruturas educativas, o abuso poderia ser mais na linha da homossexualidade. A vigilância e a correção impõem-se, evidentemente, mas não devem por isso impedir a troca de riquezas no interior da comunidade.

Havia também no mosteiro de São Bento, crianças que eram confiadas aos monges pelas famílias, para que recebessem uma boa instrução (Cf RB 59). Eram tratadas da mesma maneira que os monges se cometessem erros ou faltas. Aplicava-se-lhes primeiro o castigo de ficar à parte, por um tempo, e se não compreendessem a gravidade do castigo eram submetidos a medidas mais rudes. São Bento acredita na capacidade espiritual desta juventude que povoava os mosteiros, e que nem sempre era fácil de acompanhar (RB 30).

O capítulo 58 sobre o modo de receber um novo membro, é sem dúvida, o que melhor nos ensina sobre o que São Bento deseja para os jovens monges. Antes de mais, a entrada na comunidade não é facilitada : ‘É preciso experimentar os espíritos para ver se são de Deus’ (RB 58,2). Isto é o oposto da atitude tantas vezes encontrada, a facilidade com que se recebe na vida monástica. É uma experiência exigente que leva a pôr à prova, para ajudar a tomar consciência da seriedade do que se quer.

No tempo de São Bento, para aquele que batia à porta, havia uma estadia na hospedaria, depois, se perseverasse, a entrada no lugar aonde viviam os noviços; ficavam verdadeiramente à parte, aí dormiam e tomavam as refeições, vivendo as diversas práticas espirituais.

Um ancião experimentado, ‘capaz de ganhar as almas’ era designado para os acompanhar. Três critérios são dados para este acompanhamento : examinar se o jovem procura a Deus, se é fervoroso para o Ofício divino, se vive a obediência e as contrariedades que nunca faltam.

Pode-se reconhecer ao mesmo tempo que os jovens não são o centro de tudo, no mosteiro de São Bento, mas que se leva em conta suas necessidades : é por isso que são formados à parte, sob a conduta de um ancião. Há uma entrada progressiva na comunidade, dando atenção à caminhada interior. Isto também é o oposto da nossa sensibilidade atual, que procura integrar os novos, o mais possível, na vida da comunidade valorizando o que eles podem dar à comunidade. É preciso encontrar o equilíbrio entre estas duas posições. É sério para a vida monástica de hoje. Mede-se mal a distância de mentalidade entre as gerações no mundo contemporâneo; distância que aumenta sempre mais, e que exige etapas de aproximação para permitir um diálogo sadio entre as pessoas de idades diferentes, e às vezes de culturas diferentes, à volta da mesma Regra.

Esta integração progressiva é tanto mais importante, quanto mais o valor do engajamento é relativizado, hoje em dia. Não é raro ver monges ou irmãs, que depois de terem feito profissão solene, põem em causa sua palavra dada, sem nenhum escrúpulo. Podem até deixar o mosteiro sem pré aviso de qualquer tipo, prática inadmissível no meio profissional.

O compromisso monástico é olhado como do foro privado, a exemplo do que acontece no contexto da família, podendo desfazer-se mais ou menos facilmente.

São Bento evoca a ordem da comunidade (RB 63). Determina que esta ordem dependa da data da entrada na comunidade, e não da data de nascimento, ou distinções sociais. Assim, ‘aquele que tiver entrado no mosteiro à segunda hora, se reconhecerá mais moço do que o que chegar à primeira hora do dia, seja qual for a idade ou a dignidade’ (63,8). Do mesmo modo São Bento lembra que ‘em qualquer lugar que seja, que a idade não distinga ou prejudique aquela ordem, porque Samuel e Daniel, meninos, julgaram anciãos’ (63,5-6). No mesmo capítulo, além do que diz no cap.4, São Bento volta a dizer que os jovens honrem os mais velhos e os mais velhos amem aos irmãos mais moços. E lembra algumas regras de conduta fraterna importantes para a vida de cada dia : o fato, por exemplo, de chamar os jovens de ‘irmão’ ou ‘irmã’ ou os mais velhos ‘nonnus, nonna’, que deu o substantivo ‘nonne’ e que significa ainda em italiano ‘avô, ou avó’. O primeiro termo mostra, da parte dos anciãos um reconhecimento de fraternidade em Cristo e não de superioridade paterna ou materna. O segundo manifesta ao mesmo tempo respeito e uma certa familiaridade. Poderia interpretar-se ‘paizinho ou mãezinha’ Talvez não seja o ideal hoje, mas isso convida a encontrar algo equivalente.

São Bento lembra também alguns modos elementares de educação no saudar-se, quando nos cruzamos, cabendo ao mais novo a iniciativa. Na Regra isto traduz-se pedindo a bênção de Deus por intermédio do ancião. São Bento também lembra que o mais novo deve levantar-se, quando passa o mais velho, e lhe dará o lugar para ele se assentar. Todos estes pequenos gestos do dia a dia são sinal de uma atitude de respeito, maneira concreta de pôr em prática o ‘honrar-se mutuamente’.

Nas sociedades ocidentais em que os mais velhos são muitas vezes colocados em casas especializadas, o exemplo dos mosteiros, aonde convivem gerações diferentes, pode ser um testemunho; com a condição de que os mais velhos, que são a maioria, não usarem para si o serviço dos mais jovens, que às vezes são em número reduzido, às vezes um só. Isto também vale para a ideia de fazer vir do estrangeiro jovens monges ou monjas com a mesma finalidade, embora sem o confessar.

São Bento, aliás, tem a preocupação que dois membros da mesma família (um dos quais é mais jovem) não tomem a defesa um do outro, porque isso gera escândalos que desequilibram o grupo. Pede também que os mais jovens e os anciãos (por causa de sua fragilidade) não sejam repreendidos a todo o momento, de modo desordenado, como se descarregassem sobre eles.

No final da Regra, o seu autor diz que ela foi escrita para principiantes. Assim, no mosteiro, todos devem ter a preocupação de guardar um coração de criança, desejosos de avançar no caminho do mandamento do amor. Encorajando-se mutuamente, o coração de cada um pode dilatar-se e todos correrem com alegria para a meta, que é a união com Deus. Esta meta guarda todos no dinamismo daqueles que vivem a novidade e a criatividade de Deus. Aqui a idade importa pouco!’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.aimintl.org/pt/communication/report/117


terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Sudão: maior número de crianças deslocadas do mundo

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Rosa Martins


Cerca de 3, 5 milhões de crianças foram forçadas a fugir de suas casas no Sudão : é a maior crise de deslocamento de menores no mundo. Precisamente 253 bebês e crianças foram evacuados com segurança neste mês dos centros de trânsito em Wad Madani, principal cidade de Aljazira, para um local mais seguro no país.

O deslocamento desses menores se deu após o início dos combates no Estado de Aljazira. Muitas dessas crianças estão migrando pela segunda vez, após terem sido retiradas dos orfanatos de Mygoma, em Cartum, no início deste ano, com o início da guerra em abril.

De acordo com o representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) no Sudão, Mandeep O'Brien, ‘a recente escalada do conflito e o fato de que essas crianças tiveram que se deslocar de áreas anteriormente consideradas mais seguras, é um lembrete cruel do preço contínuo que a guerra está cobrando das crianças’.

Para O’brien, a passagem segura foi possível graças à cooperação e à facilitação de ambos os lados do conflito e ao apoio de parceiros importantes. ‘No entanto, enquanto os combates continuarem, nenhuma criança no Sudão estará verdadeiramente segura’, enfatiza.

Uma força-tarefa entre o Ministério do Desenvolvimento Social, o Unicef e parceiros está sendo realizada a fim de fornecer às crianças cuidados médicos, alimentação e nutrição, apoio psicossocial. Soma-se ainda, a estas atividades momentos lúdicos e educacionais, ajuda aos cuidadores e o trabalho com autoridades afins e parceiros relevantes na busca de famílias adotivas para as crianças.

No Sudão, 14 milhões de crianças precisam, com urgência, de ajuda humanitária

Em todo o Sudão, mais de 14 milhões de crianças precisam urgentemente de ajuda humanitária para salvar vidas, o maior número já registrado no país. A guerra no Sudão resultou na maior crise de deslocamento de crianças do mundo. Cerca de 3,5 milhões de crianças foram forçadas a fugir de suas casas devido aos combates.

Mais da metade dos Estados do Sudão (10 dos 18), estão agora em conflito ativo.

Esta escalada da violência continua a ameaçar a vida e o futuro de famílias e crianças : muitas instalações fechadas, danificadas ou destruídas. Os serviços básicos de saúde e nutrição, educação, água, saneamento e proteção foram interrompidos.

O UNICEF, continua a pedir um cessar-fogo imediato em todo o Sudão e reitera seu apelo a todas as partes envolvidas no conflito para que respeitem o direito internacional humanitário e os direitos humanos. Pede que seja garantida a proteção das crianças e que facilitem o acesso humanitário imediato, seguro e sem obstáculos às crianças e famílias nas áreas afetadas. Sem esse acesso, as crianças privadas de ajuda humanitária básica e vital, permanecerão ameaçadas e vulneráveis.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/mundo/news/2023-12/sudao-maior-numero-criancas-deslocadas-mundo.html

sábado, 8 de fevereiro de 2020

“Eu te coloquei no deserto para saber o que havia em teu coração”

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo de Talita Rodrigues,
psicóloga


‘Sabemos que todos nós, em alguns momentos, passamos por desertos quase que inexplicáveis. A vontade de viver vai embora, o sentido se vai, não vemos saída alguma para todos os nossos problemas e tudo o que era colorido e cheio de vida passa a ser cinza e sem vida. Para onde quer que vamos não encontramos caminho, água e ar.

Nestes momentos, eu sempre procuro acreditar que Deus permite isso em nossas vidas por um propósito maior. Obviamente. na dor. é difícil compreender e aceitar a vontade de Deus em nossas vidas, é difícil aceitar que se estamos passando por isso é pela permissão de Deus. Afinal, se Deus é um Deus de amor por que nos permitiria sofrer? Nos esquecemos que de tanto que Ele nos ama, assim como um Pai, Ele permite a dor em nossas vidas para que sejamos transformados e para que aprendamos a viver de fato.

Se pararmos para pensar, as maiores curas acontecem em momentos vazios de vida como estes. Nestes momentos, onde toda a vida que temos se vai como num sopro, percebemos que sem Deus não somos absolutamente nada. Descobrimos que não são pessoas, bem materiais e sucesso profissional que devolverão a nós o sentido de viver que foi perdido. Nestes momentos, refletimos e percebemos claramente que a nossa salvação, a cura e o sentido de viver que tanto buscamos, só serão encontrados em Deus.

Em meio ao deserto, passamos a conhecer melhor nossas fragilidades, nossos sentimentos e emoções, e trazemos a consciência, onde nós depositamos e colocamos a nossa confiança.

O deserto e o passar por ele exigem que nos deparemos com tudo aquilo que não queremos ver, sentir ou acreditar. O deserto nos proporciona um maior autoconhecimento e uma maior fé. O deserto só acaba quando a transformação que Deus quer fazer em nossas vidas acontece. Essa transformação, muitas vezes, acontece quando, em meio ao deserto, descobrimos o que verdadeiramente há em nosso coração. Sem ele, cá entre nós, não poderíamos fazê-lo.

Em Deuteronômio, capítulo 8 versículo 2, Deus nos diz : ‘Eu te coloquei no deserto, para saber o que havia em teu coração.’

Se a sua vida está em escala de cinza e você sente como se estivesse no deserto, olhe para o céu e deixe-se conduzir por Aquele que permitiu que você passasse por isso. Perceba e encontre o verdadeiro sentido e significado em sua dor. Deus só consegue nos moldar em nossas maiores fragilidades. Se entendermos isto, passaremos da melhor forma por esse período difícil e dolorosso e veremos a verdadeira tranformação acontecer. Já não seremos mais os mesmos.


Fonte :