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quinta-feira, 29 de junho de 2023

É preciso cuidar do tempo

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Ana Lydia Sawaya


É preciso cuidar do tempo! Toda coisa é bela no seu tempo devido, diz o Eclesiastes (Coélet). A vida é hevel, um sopro, afirma o texto hebraico deste livro sapiencial, uma tradução melhor que vaidade das vaidades (Prologo,2) do latim vanitas. Hevel – sopro, exprime algo que é evanescente, que não se pode agarrar, nem muito menos governar. Hevel é uma palavra muito usada na Bíblia. São um sopro (hevel) os filhos de Adão, diz o salmo 62,10. O homem é como um sopro, os seus dias são como sombra que passa, recorda-nos o salmo 144,4. Eu me desfaço, não viverei ainda muito. Deixa-me, porque os meus dias são um sopro, lamenta Jó (7,16).

Coélet usa o termo hevel não no sentido moral ou metafísico, mas com uma acepção muito concreta, como a descrever a percepção, o sentido físico, do tempo que passa muito rápido debaixo do sol. Significa o tempo concreto da vida : tudo passa como um sopro. Por isso, preste atenção!

Realista

Coélet não exprime uma visão pessimista da vida. Os exegetas modernos referem que se trata da constatação que na vida terrena, sob o sol, nada é completo, pleno e nem nos sacia totalmente. Por isso, não se pode colocar no lugar de Deus, não se vê tudo e não se compreende a totalidade da realidade. A condição do ser humano aqui na terra é contingente. Coélet é um homem realista, com o pé no chão, que não tem a pretensão de superar os confins da sua humanidade, mas busca refletir sobre a sua existência terrena (capítulos 1 e 2).

O capítulo 3 nos oferece uma esplêndida explicação sobre o tempo. Inicia com 7 palavras em hebraico que querem significar a totalidade e por isso são o resumo do que Coélet quer dizer. Descobrimos que o tempo ali é outro… Nós conhecemos bem o tempo newtoniano (Δt), pois aprendemos a raciocinar de acordo com o implacável e preciso horário do relógio. O relógio é um modo de dar ‘espaço’ ao tempo. O tempo se torna uma ‘coisa’, e assim parece tangível. 

Modernidade

A. Heschel em seu livro O Schabat diz que a modernidade privilegiou o espaço em detrimento do tempo, mas ganhando ‘espaço’, o ser humano diminuiu a si mesmo (Editora Perspectiva, 2018, pg. 9) : 

A civilização técnica é a conquista do espaço pelo homem. É um triunfo frequentemente alcançado pelo sacrifício de um ingrediente essencial da existência, isto é, o tempo. Na civilização técnica nós gastamos tempo para ganhar espaço. Intensificar nosso poder no mundo do espaço é o nosso maior objetivo. No entanto, ter mais não significa ser mais. O poder que alcançamos no mundo do espaço termina abruptamente na fronteira do tempo. Mas o tempo é o coração da existência.

Aprofundando essa constatação, afirma logo em seguida (pgs.11-12) :

Todos nós ficamos enfeitiçados pelo esplendor do espaço, pela grandeza das coisas do espaço. […] Realidade, para nós, é coisidade, e consiste de substâncias que ocupam espaço; mesmo Deus é concebido pela maioria de nós como uma coisa. O resultado de nossa coisificação é nossa cegueira à toda realidade que deixa de se identificar como uma coisa, como um fato real. Isto é óbvio em nosso entendimento do tempo, o qual sendo desprovido de coisa e de substância, nos parece como se não tivesse realidade.

Diferença

Diz que não se trata de desprezar a importância do espaço, do visível, do material, do tocável, mas de denunciar a hipervalorização do espaço em detrimento do tempo (cf. pg. 13). O espaço é mensurável, está sob nosso controle visual, pode ser abrangido pelo nosso olhar. O tempo não. A única maneira de medi-lo é reduzi-lo ao espaço e ao movimento que nele ocorre. Essa diferença se vê ao compararmos o espaço sagrado (necessário e de grande ajuda) com a experiência do sagrado que uma pessoa faz, que é uma experiência interior que se dá num tempo, em um momento, mas que não ocupa um ‘espaço’. 

Diferentemente do conceito de eterno retorno de Nietzsche que vê o tempo como um fluxo caótico sem objetivo, na Bíblia a temporalidade é valorizada em sua forma linear, dentro de uma dimensão histórica (cf. Giuseppe Savagnone, Il tempo è superiore allo spazio: indicazioni per la pastorale familiare, Tredimensioni 15, 2018, pgs. 48-57). Uma história que caminha para um cumprimento. Por isso, para o mundo bíblico o tempo não representa a inconsistência do ser e seu dissolver-se em um fluxo perene, mas está impregnado com um anseio de completude. 

Plenitude

Papa Francisco dirá, por isso, que o tempo é superior ao espaço (Evangelii Gaudium, 222-225) e afirma que ‘dar prioridade ao tempo significa ocupar-se de iniciar processos mais do que possuir espaços’ (EG 223). Relembra-nos as palavras do Beato Pedro Fabro : ‘O tempo é o mensageiro de Deus’ (EG 171). Por isso, a plenitude da vida de uma pessoa e do mundo todo só pode ser alcançada através de uma gradualidade e de um respeito aos processos que constroem os povos, e precisam ser vividos pouco a pouco e dentro da dimensão da paciência. ‘O espaço cristaliza os processos, o tempo, ao contrário, nos projeta para o futuro e nos impulsiona a caminhar com esperança’ (Lumen Fidei 57). 

De um modo muito belo, A. Heschel explica que o mundo bíblico é um mundo que privilegia o tempo e visa a sua santificação antes de tudo (pgs. 14-15) :

Para Israel, os acontecimentos singulares do tempo histórico foram espiritualmente mais significativos do que os processos repetitivos no ciclo da natureza (para as festividades anuais), muito embora o sustento físico dependesse dessa última. Enquanto as divindades de outros povos estavam associadas aos lugares ou coisas, o Deus de Israel era o Deus dos acontecimentos : o Redentor da escravidão, o Revelador da Torá, manifestando-se a Si Mesmo em acontecimentos da história, mais do que em coisas ou lugares. Assim, a fé no incorpóreo, no inimaginável, nasceu.

Prioridade

Mas voltemos ao capítulo 3 de Coélet : que tempo é esse? Começa-se a perceber a dimensão que perdemos ao desconsiderar a prioridade do tempo, pelo fato que seja no texto hebraico como no grego, há duas palavras para tempo que o qualificam de forma diferente. Há no grego o tempo cronológico (kronos) e o tempo oportuno (kairòs) e que no hebraico são expressos pela palavra zeman e et respectivamente. Se voltarmos outra vez ao texto na língua original, diz Coélet : 

Há um momento (zeman) para tudo e um tempo (oportuno – et) para todo propósito debaixo do sol. Tempo (et) de nascer, e tempo (et) de morrer; tempo (et) de plantar, e tempo (et) de arrancar a planta. Tempo (et) de matar e tempo (et) de curar; tempo (et) de destruir, e tempo (et) de construir […] (cf. Ecl. 3,2-8)

Eternidade

Para cada tempo que se pode medir (zeman) há um tempo (et) adequado, oportuno. São 14 antíteses que englobam todas as circunstâncias às quais somos chamados a aderir e a viver plenamente. Coélet mostra que cada realidade foi feita por Deus com o seu contraste e complementariedade, tudo é dual e tem o seu oposto; esta é a harmonia. No versículo 11 diz : tudo o que ele fez é apropriado ao seu tempo (et). Também colocou no coração do homem o conjunto do tempo (em hebraico olam que significa eternidade, universo), sem que o homem possa atinar com a obra que Deus realiza desde o princípio até o fim.

Não obstante Deus ter feito cada coisa bela e no momento oportuno (pois o instante para Deus é et e não apenas zeman), e embora o coração do ser humano possua essa sombra de eternidade, não conseguimos ter a visão do todo. 

Vivamos, porém, o et com alegria, diz Coélet (v. 12) : …não há felicidade para o homem a não ser a de alegrar-se e fazer o bem durante a vida. O Talmud dirá que nos será cobrado por Deus todas as vezes que tivemos oportunidade de gozar de uma boa comida e uma boa bebida e não soubemos gozar delas bem.

Lembremo-nos, portanto, que cada instante de tempo possui a eternidade e que nós habitamos neste instante eterno porque fomos criados por Deus à sua imagem. 

Não sejas o de hoje.

Não suspires por ontens…

Não queiras ser de amanhã.

Faze-te sem limites no tempo.

Vê a tua vida em todas as origens.

Em todas as existências.

Em todas as mortes.

E sabe que serás assim para sempre.

Não queiras marcar a tua passagem.

Ela prossegue :

É a passagem que se continua.

É a tua eternidade…

É a eternidade.

És tu.

(Cecília Meireles, Cânticos, II)

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2023/04/16/e-preciso-cuidar-do-tempo/


quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Tecendo os fios da nossa existência

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

*Artigo d0 Padre Alfredo Sampaio Costa, SJ

  

‘Sempre que iniciamos algo, espontaneamente nosso olhar vai em busca do desfecho. Pois ‘nada dura para sempre’, diz o ditado popular. Não é diverso ao tratarmos da oração. Com muito ânimo, propusemo-nos a viver aquele momento na presença do Senhor. Enfrentamos, confiantes na graça que não falta nunca, os percalços de nos abandonarmos ao querer divino. Penetramos, corajosamente, profundezas inexploradas de nosso ser. 

Os minutos se passaram, em um silêncio cheio de uma presença. O tempo está chegando ao seu final. É preciso concluir nosso momento de oração. A vida nos chama de volta! Eis que é hora do ‘colóquio’, última oportunidade para falar (e escutar) o que ainda não tivemos oportunidade de dizer, ou que reservamos com emoção para o grand finale de nossa oração. São as palavras decisivas, que queremos que fiquem impressas no coração para retornarmos às nossas atividades.

O colóquio deve ser vivido na tranquilidade, é avesso a toda pressa e correria. Poderá inclusive ocupar parte não desprezível do tempo previsto para a oração.

Será nesse período conclusivo da nossa oração, de diálogo improvisado e espontâneo com o Senhor, em que tudo começará a se encaixar na nossa vida : momentos antes experimentados como desconectados do todo da nossa existência, sentimentos até então vividos de forma contraditória ou reprimidos. Rompidos os mecanismos de controle e supervisão, abandonados a uma conversa que vai sendo produzida à medida que acontece, o mundo todo - e dentro dele, nossa vida - vai sendo incluído. Desfilam diante de nossos olhos extasiados rostos de pessoas conhecidas, mas também de desconhecidas, situações vividas ou que desejaríamos viver, e esse caleidoscópio aparentemente desordenado vai ganhando formas e contornos amigáveis, produzindo sentimentos, apelos, questionamentos que nos atingem cada vez mais intensamente.

Ao nos despedirmos desse encontro, por vezes a última palavra virá do Senhor, às vezes será uma expressão de gratidão incontida da nossa parte. O que importa é que seja envolta por um desejo de ‘até breve!’.

O colóquio, ambiente propício para a configuração do nosso desejo primordial

Durante o tempo transcorrido em oração, quantas coisas se passam pela nossa mente e coração : talvez muitas nem sequer nos demos conta quando, furtivamente, ocupavam nossa consciência espiritual. Dentre essas forças potentes, estarão, sem dúvida, nossos desejos. Explica González Buelta :

O desejo tem uma importância decisiva para estruturar nossa afetividade e para tomar as decisões concretas que vão marcando cada dia nossa vida que pretende nascer do amor. O desejo pode ir adiante de nós como um único ponto no horizonte que focaliza nossos interesses, e dentro de nós estruturando sabiamente nossa pessoa para poder alcançar esse objetivo’.

Neste momento de ‘soltar as rédeas’ de nossos controles para saborearmos prazerosamente da Presença amorosa do nosso Deus, nossos desejos mais fundamentais se revelarão na sua potente capacidade de nos mover, fazendo convergir nossos impulsos, preocupações, projetos na direção do que, verdadeiramente, pode nos fazer viver uma vida plena de sentido!

Aqui tocamos algo central na nossa vida de oração : o tema do ‘desejo de Deus’. Quem procura, acha, diz o Evangelho. A quem bate, lhe será aberto. A atitude de busca é fundamental na vida cristã.

Podemos considerar nossa vida de oração como uma grande ‘escola de educação dos nossos desejos’. Como Inácio mandou registrar na sua Autobiografia, com relação ao tempo em Manresa, onde receberia inúmeras graças espirituais :

Neste tempo, Deus tratava-o como um mestre-escola trata uma criança, ensinando-o. E quer isto fosse pela sua rudeza e fraca inteligência, ou porque não tinha quem lhe ensinasse, ou pela firme vontade que Deus lhe tinha dado de O servir, via claramente e sempre pensou que Deus o tratava desta maneira. Pelo contrário, se duvidasse disto, pensaria ofender sua Divina Majestade’ (Aut. 27).

Creio que jamais terminaremos de aprender, pois o Senhor sempre quer se comunicar a nós de maneiras novas.

Aqueles que trilharam, em alguma de suas modalidades, a experiência espiritual dos Exercícios, já experimentaram como tudo acontece movido pela ótica do desejo : ‘No começo dos Exercícios Espirituais, acende-se o desejo, com o princípio e fundamento, para que vivamos a nossa existência ‘somente desejando e escolhendo o que mais nos conduz para o fim para o que somos criados’ (EE 23)’.

Desejando’ é o verbo escolhido por Inácio, para falar do ‘Magis’, do desejo infinito que se acende e não se apaga mais! Esse desejo central e único, vivido com a maior generosidade será o único eixo ao redor do qual irá se orquestrando com harmonia qualquer outro desejo.

A contemplação dos mistérios da vida de Cristo irá nos ajudando a filtrar nossas motivações e a descobrirmos a alegria de sermos livres no seguimento de Jesus, o homem livre por excelência :

Para conseguir esse fim, teremos que centrar o desejo na pessoa de Jesus, oferecendo-nos incondicionalmente para tudo o que ele vá suscitando dentro de nós, ao contemplar cada mistério da sua vida, em uma intensa relação pessoal com ele e com os olhos bem abertos sobre a realidade do mundo em que vivemos. O desejo vai então se purificando de falsas motivações e vai-se afinando cada vez mais, ao nos encontrar com o Jesus pobre e humilde do evangelho, inteiramente original e livre’.

O desejo não pode se consumir em seu próprio ardor como uma labareda passageira e inútil. À medida em que vamos amadurecendo na liberdade, cresce em nós o desejo de um compromisso, que Inácio chama de ‘eleição de um estado de vida’ na Igreja. O que começou como um desejo interior ganhará contornos e expressões estáveis, institucionais e visíveis.

Uma vez tomada a decisão movido pela graça de Deus, o papel do desejo não termina. Antes, tornar-se-á sempre mais necessário, uma vez que o seguimento de Jesus humilhado e despojado de tudo até a cruz, com quem queremos nos identificar (EE 165 : três maneiras de humildade) pode nos colocar em situações muito duras, onde seremos arrastados até o limite de nossa capacidade de resistência; por isso é necessário fortalecer o desejo, acompanhando livremente a Jesus na sua paixão dolorosa na qual desce até o fundo do sofrimento humano, e sintonizando com sua dor pessoal e a de seu povo, que carrega a cruz espoliado hoje no meio de nós (EE 193). Rezando e contemplando a Paixão de Nosso Senhor, será esse desejo de identificação que nos permitirá ir até o fim e não desanimarmos diante das dificuldades e sofrimentos decorrentes da nossa opção por Cristo.

Na vitória de Cristo sobre a morte, o desejo finalmente se transfigura com o gozo da ressurreição que o Senhor partilha gratuitamente com seus amigos, consolando-os (Cf. EE 221). Santo Inácio dava enorme importância ao desejo. Ao escrever as Constituições da Companhia de Jesus, em um parágrafo iluminador, Inácio insistia que é realmente decisivo, para ir estruturando a pessoa em conhecer internamente a Jesus e segui-lo, ‘desejar com todas as forças possíveis quanto Cristo N.S. amou e abraçou (Constituições nº 101).

Toda nossa vida de oração se resume nisso. Uma configuração do desejo ao desejo de Jesus : ‘No centro da vida cristã, segundo a vocação de cada pessoa, iremos configurando um desejo evangelicamente lúcido e apaixonado, que é tanto mais autenticamente nosso, quanto mais é entregue ao desejo de Jesus’.

A consolação gratuitamente dada

Na oração vamos contemplando a Jesus e tentamos nos sintonizar com seu universo afetivo. ‘Tenham entre vocês os mesmos sentimentos de Cristo Jesus’ (Fl 2,5). Esta transformação não se realiza imediatamente. É um presente lento de Deus. Dentro de nós a ambiguidade se esconde nas zonas escuras do coração e às vezes resiste aos mais exigentes discernimentos. Por isso mesmo, os mestres espirituais insistem tanto na formação do coração. O processo de purificação do coração nem sempre é agradável. Como nos desprender das ambiguidades sem dor quando estão aderidas a dimensões muito sensíveis de nossa pessoa e de nossas relações? Como caminhar para um futuro desconhecido sem sentir o medo de nos desgarrarmos daquilo que é seguro?

O que vai acontecendo em nosso coração? Esta pergunta é fundamental para poder discernir os sentimentos que se movem dentro de nós, dar-lhes nome, saber de onde vêm e aonde nos levam. Ordenar o coração, alcançar a liberdade afetiva é a condição para poder ordenar toda a pessoa ‘somente’ em torno das sempre novas propostas de Deus.

A finalidade desse conversar com o Senhor na oração é ir nos conduzindo a uma cada vez maior sintonia com o coração de Jesus, ao mesmo tempo que vamos conhecendo interiormente o nosso próprio coração. Queremos ir alcançando uma maior liberdade afetiva que nos possibilitará focar somente em Deus a nossa vida.

Uma oração decidida

Uma oração que ficasse somente em uma troca de sentimentos entre nós e o Senhor, sem nenhuma incidência na nossa vida concreta, não seria uma oração cristã. Todo encontro autêntico com o Senhor pede de nós uma tomada de decisão : acolher, rejeitar, cumprir, realizar, mudar, transformar... Cada um destes verbos denota com sua força expressiva um dinamismo transformador, uma atitude diante da realidade do mundo em que nos encontramos. Se queremos verificar até que ponto nossa oração está sendo vivida de forma autêntica, basta tomar cada um destes verbos e aplicá-los à nossa experiência vivida. Colocando em forma de perguntas, seria algo como :

- O que é preciso acolher da minha oração como expressão da Vontade de Deus?

- O que devo rejeitar terminantemente e, portanto, excluir da minha vida espiritual, pois percebo que é impedimento para viver minha fé?

- O que me sinto impelido a realizar concretamente, a partir do que experimentei na minha oração?

- Que atitudes necessito reformular, reelaborar, reconstruir?

Respondendo, ainda que provisoriamente, tais questões, nossa oração revela toda sua força transformadora!’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1547654/2021/10/tecendo-os-fios-da-nossa-existencia/

segunda-feira, 12 de julho de 2021

Os 5 argumentos que indicam a existência de Deus, segundo S. Tomás de Aquino

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo da redação da Aleteia


‘Em seu famoso livro ‘Deus, um delírio’, o ateu proselitista Richard Dawkins afirma que a questão da existência de Deus depende de evidências científicas e não pode ser provada. Ele considera que algum dia talvez saibamos a resposta, mas, enquanto isso, podemos afirmar a forte probabilidade de que Deus não existe.

Um primeiro ponto de atenção neste processo de raciocínio está no perigo de facilmente extrapolá-lo para a falácia de pensar que, se algo ainda não foi provado, é sinal de que não existe. A vida extraterrestre, por exemplo, nunca foi provada, mas desta premissa não é válido afirmar como conclusão que ela não exista.

Mas há outro ponto de atenção muito mais sutil nesse terreno de mistura entre suposta argumentação científica e especulações baseadas em opinião pessoal : a discussão sobre as provas. Que tipo de ‘prova científica’ é razoável pretender que exista a respeito da existência de um Ser que não tem natureza material?

Se o próprio conceito de Deus implica a Sua imaterialidade, e, se além disso, Ele próprio é o Criador de toda a natureza e, portanto, é maior que ela, então a suposta prova da Sua existência não pode ser reduzida aos limites da natureza, precisando-se que seja deduzida pela razão.

De fato, um dos maiores filósofos da história, S. Tomás de Aquino, refletiu e escreveu sobre 5 argumentos racionais que apontam para a necessidade da existência de Deus. São eles :

1° argumento : o ‘primeiro motor imóvel’

O movimento existe : isto é evidente aos nossos sentidos. Ora, se aquilo que se move é movido por alguma força, por algum motor, não é intelectualmente satisfatório pensar que cada motor de cada movimento seja movido ele próprio por outro motor, sendo este, por sua vez, movido por outro motor, que seria movido por mais outro, e assim indefinidamente ao infinito : é razoável que exista uma origem primeira do fenômeno do movimento, ou um motor que move sem ser movido. Esse primeiro motor imóvel teria que ser Deus, o Criador de todo movimento.

2° argumento : a ‘causa primeira’

Se todo efeito tem uma causa e cada causa é, por sua vez, o efeito de outra causa, caímos no mesmo ciclo indefinido e infinito do problema anterior, o que não é satisfatório para uma honesta busca intelectual de respostas claras. Qual seria a causa primeira das outras causas, uma causa que não seja causada por nenhuma outra?

3° argumento : o ‘ser necessário’

Se todos os seres são finitos e contingentes, isto é, ‘são e deixam de ser’, então todos os seres deixariam de ser e, em determinado momento, nada existiria, o que é tão absurdo quanto afirmar que aquilo que existe passou a existir a partir do nada, sem qualquer causa primeira e sem qualquer motor não movido. Acontece que a própria existência dos seres contingentes implica a de um Ser necessário, que simplesmente ‘é’ : Deus.

4° argumento : o ‘ser perfeitíssimo’

Podemos claramente perceber que uma coisa é maior ou menor que outra, ou menos ou mais verdadeira que outra, o que significa que somos capazes de compreender que os seres finitos têm algum grau de perfeição, mas nenhum é a perfeição absoluta ou a suma causa de todas as perfeições – esta, no entanto, precisa existir, dado que há seres que a possuem em algum grau. Necessariamente, o grau sumo da perfeição do ser teria que ser Deus.

5° argumento : a ‘inteligência ordenadora’

Todos os seres tendem a uma finalidade que não é obra do mero acaso, mas de uma inteligência que os dirige. Logo, é preciso que exista um ser inteligente que ordene a natureza e a encaminhe para a sua finalidade : esse ser inteligente teria que ser Deus.

Fé e razão andam juntas

O Concílio Vaticano I afirma que a fé e a razão não são apenas compatíveis, mas se apoiam mutuamente, o que também é enfaticamente reiterado pela célebre encíclica Fides et Ratio, de São João Paulo II :

‘A fé e a razão (fides et ratio) constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade’.

É verdade que o que Deus é em si está além da nossa capacidade natural de saber. Fomos criados por Deus, mas não somos iguais a Ele e não podemos conhecê-lo totalmente pelas nossas próprias forças.

O Vaticano I diz que Deus é substância espiritual completamente simples e imutável – pela Sua natureza, Deus é diferente de qualquer coisa criada.

A fé, porém, é um dom de Deus que nos permite conhecê-lo, ainda que imperfeitamente, já que o próprio conceito de Deus supera a nossa capacidade limitada de compreensão.

Além disso, saber quem é Deus é diferente de saber que Ele existe. Nós somos capazes de deduzir que Ele existe a partir da estrutura do mundo criado, usando a nossa racionalidade para descobrir na criação os indícios que apontam para a sua origem : o primeiro motor, a causa primeira, o Ser supremo.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://pt.aleteia.org/2018/05/25/os-5-argumentos-que-indicam-a-existencia-de-deus-segundo-s-tomas-de-aquino/?fbclid=IwAR119jYkzN7VHUYFTqpdtnw4fBZ0kK1RLrczoj-sFULvwDFU_0EYLyzJU2o