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quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Uma nova síntese entre Evangelho e culturas

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

*Artigo de Roberto Maier


‘Creio que uma nova síntese entre o Evangelho e as culturas só pode ser realizada, hoje, por um cristianismo autenticamente secular. Este adjetivo, secular — que usamos muito menos do que o seu referente negativo ‘secularizado’ — tem uma etimologia bastante complexa. A mais comumente partilhada liga-o ao léxico da sementeira (da raiz sa-) : secular é a semente lançada, é o ciclo vital; não é por acaso que, em latim, saeculum indicava uma geração, cerca de trinta anos, ou seja, o ciclo vital do ser humano. Curiosamente, a palavra passou a significar duas coisas : um período de tempo (o século composto por cem anos) e aquilo que se opõe ao espiritual. Em síntese, secular indica algo que passa, que não pertence à ordem do eterno, que está sujeito a um ciclo vital de nascimento, crescimento e morte, sujeito à história e às suas mudanças.

Parece-me que o cristianismo europeu deste tempo, o tempo do seu aparente ocaso, do aparente ocaso da própria Europa, pode propor uma nova síntese entre o Evangelho e as culturas precisamente a partir desta necessidade, abraçando a sua forma secular, mutável, exposta ao fim e à finitude. Não à sua derrota, não necessariamente (é exatamente este o ponto), mas, sem dúvida, à sua finitude, ao seu possível ocaso. Dizer que o cristianismo se expõe à possibilidade do seu ocaso é considerar na ordem do possível que, dentro de um tempo mais ou menos longo, o cristianismo, tal como o conhecemos, está realmente destinado a tornar-se um momento da história, que acabará por ser estudado da mesma forma que hoje se estudam os deuses do Olimpo ou a epopeia de Gilgamesh ou a Odisseia de Homero. É possível que passemos a visitar as catedrais góticas tal como entramos no Pártenon de Atenas ou nas pirâmides do Egito. Não quero dizer que isto vai acontecer, nem desejo que aconteça, nem quero lançar todos na frustração ou na ansiedade — já temos o suficiente disto com o fim do Ocidente ou o fim do mundo — mas quero procurar explorar mais esta hipótese.

Afinal, a finitude é o que acompanha o ser humano na idade adulta, como quando, aos cinquenta ou sessenta anos, começamos a perceber a possibilidade de um fim.

Se procurássemos aceitar esta eventualidade, analisando-a mais de perto, notaríamos que se abrem energias relevantes. Por exemplo, há muitos filósofos laicos, em particular europeus, que falam do cristianismo desta forma há já algum tempo. Massimo Cacciari, Giorgio Agamben, Jean-Luc Nancy, Bruno Latour, mas também, em certa medida, Massimo Recalcati e Salvatore Natoli — para citar apenas alguns — propuseram uma leitura secular do cristianismo. É surpreendente que estes pensadores, precisamente por se declararem não-crentes, descobriram no cristianismo laico fontes de uma profundidade singular, tornaram acessível uma riqueza que nós próprios não conhecíamos e, sobretudo, reconheceram uma capacidade de síntese cultural e humana não só no Evangelho de Jesus, mas na própria parábola do cristianismo, nas suas instituições e teologias. Isto, a geração anterior (que facilmente afirmava ‘Cristo sim, Igreja não’), não foi capaz de o fazer. Um olhar sobre o cristianismo como realidade secular, talvez como realidade finita, escancara verdades que de outra forma seriam inacessíveis na sua história.

No entanto, a força destas sínteses realizadas por filósofos abertamente laicos confronta-se com um limite inevitável : o da celebração dos defuntos. Um elogio fúnebre, afinal, não se nega a ninguém. Em suma — para usar uma expressão com que um grande historiador da arte, Didi-Huberman, descreveu o que o Renascimento representou para a cultura clássica — quando se faz o elogio de um querido defunto, liberta-se o seu fantasma. E os fantasmas, como todos sabemos, são perigosos. Basta pensar na história de Hamlet, o pobre príncipe da Dinamarca que já não sabe escolher nada, porque sobre ele incumbe o fantasma do pai. Clive Staple Lewis escreve, a tal propósito, que «a definição de Hamlet não é ‘um homem que deve vingar o seu pai’, mas ‘um homem a quem um fantasma confiou uma tarefa’».

Contudo, imaginemos por um momento que esta profecia, este olhar secular, provenha não daqueles que ainda estão fechados ao cristianismo : não daqueles que escrevem o seu epitáfio, mas do próprio coração de um cristianismo vivo, dos crentes desta época, deste século. O que aconteceria se fosse o próprio cristianismo a apresentar-se entre as coisas seculares, se deixasse de lidar com o próprio fantasma e começasse simplesmente a anunciar-se como uma realidade que passou pela história, concluindo um ciclo vital? O que aconteceria se, em vez de nos preocuparmos com a falta de sacerdotes e com celebrações desertas, nos preocupássemos em abrir o nosso tesouro, o nosso tesouro milenar, o tesouro milenar de teologias e símbolos, de formas artísticas e imaginários, em propiciar uma entrega, simplesmente para que os seres humanos de hoje, as culturas atuais possam viver, respirar, descobrir a sua verdade, sem contrair qualquer dívida em relação ao nosso fantasma? O que aconteceria se, para que outros pudessem viver o seu século, o seu ciclo vital, renunciássemos a perpetuar o nosso e abraçássemos a figura da nossa passagem?

Antes de tudo, aconteceria o seguinte : teríamos, pela primeira vez, em cena uma religião que afirma em voz alta que o Eterno, o Fundamento, a verdade de Deus, não pertence a ela, não depende dela, não está à sua disposição. Um cristianismo totalmente secular seria um cristianismo capaz de proclamar a verdade de Deus, do cosmos, da complexa trama da experiência humana como aquilo que não pode ser produzido nem disposto por ninguém. Mas não o faria de forma irreligiosa, fá-lo-ia de modo pleno e precisamente religioso. Afinal de contas, a experiência do cristianismo sempre afirmou que apenas um século — um ciclo vital, o de Jesus — disse plenamente aquilo que não está disponível para nenhum outro século. É exatamente a tarefa do religioso, de forma mais geral, proclamar uma existência excêntrica, isto é, uma existência que não tem o seu centro em si mesma, a plenamente religiosa é precisamente a proclamação que reafirma : ‘Deus não sou eu’.

Há uma iconografia particularmente presente no românico medieval : a traditio legis, em que Cristo entrega a Pedro as chaves e a Paulo o rolo da Palavra. A cena tem uma história longa e gloriosa : encontra-se, por exemplo, no sarcófago de Estilicão, que provavelmente esteve na basílica de Santo Ambrósio desde o seu início e é atualmente está na base do grande ambão medieval. Nas montanhas da região de Lecco, acima de Civate, existe uma joia absoluta, São Pedro ‘al Monte’. Na iconografia da antiga igreja monástica, a traditio legis é representada duas vezes : primeiro num afresco no exterior da igreja, por cima do portal de entrada, e depois no cibório, acima do altar. Pois numa arte como a medieval, que é arte feita de repetições — as variações são significativas — não passa despercebido que, na traditio legis do exterior da igreja, os dois apóstolos estão com as mãos veladas, enquanto no espaço sagrado do cibório recebem o que lhes é confiado com as mãos nuas. Em síntese, ad extra os apóstolos declaram-se indignos, ad intra recebem o mandato sem mediação. Não vou entrar no mérito da interpretação, mas parece-me que hoje a figura merece ser reavivada. Representa precisamente o oposto do que costumamos fazer : no seio da Igreja, ou pelo menos em nós próprios, sabemos muito bem que não estamos à altura da missão; aceitamos também de bastante — talvez demasiado — bom grado que as nossas mãos não são dignas da tarefa que nos foi confiada. Sabemo-lo de modo resignado ou cínico (às vezes absolvendo-nos a nós mesmos); de qualquer forma, sabemo-lo. No entanto, exteriormente, esforçamo-nos por exibir o nosso melhor aspecto, como se estivéssemos perfeitamente à altura da tarefa, como se a Palavra e a Comunhão (o rolo e as chaves) fossem questões das quais pudéssemos serenamente ser garantes diante do mundo. A iconografia monástica sugere outra coisa : a indignidade da comunidade, a impossibilidade de coincidir com o Mestre é a forma ordinária, a maneira necessária da missão ad extra. A garantia, pelo contrário, é a tarefa do Espírito, que fala no íntimo.

Anunciar-se como secular, expor a própria inadequação, é uma figura intrínseca, original e sobretudo fecunda do anúncio cristão. É a mesma tarefa que os discípulos de Jesus assumiram, expondo nos Evangelhos a sua incapacidade de compreender o Mestre, a própria mediocridade, ao mesmo tempo que proclamavam a necessidade do seu anúncio. Numa perícope evangélica, Simão é referido como a pedra sobre a qual se funda a Igreja e como o Satanás que deve pôr-se no seguimento de Mestre.

Mas aconteceria uma segunda coisa com um cristianismo secular. E esta é, talvez, a oportunidade que o Evangelho tem de propor uma síntese entre ele mesmo e as culturas. Anunciar-se como secular significaria também convidar as culturas, qualquer cultura, a pôr-se no mesmo caminho. Significaria pedir às culturas que se encontram na cena mundial que se pensem a si próprias na sua secularidade e que o façam durante o seu processo vital, durante o seu século, sem libertar o próprio fantasma.

Parece-me que os dois grandes males que atravessam todas as culturas são as tentações identitárias e a indiferença. As primeiras exploraram durante muito tempo os sinais religiosos como instrumentos de uma coesão esvaziada de qualquer conteúdo; por sua vez, a indiferença imagina que as verdades podem simplesmente estar umas ao lado das outras, como se fossem universos independentes, tal como nas histórias desenhadas do multiverso. Para superar ambas, seria útil lembrar a cada cultura a sua secularidade, reafirmando que ela, tal como o cristianismo, é gerada por uma verdade que não lhe pertence. Mas — juntos, num único ato cultural — poderíamos também lembrar a cada cultura a sua necessidade imprescindível, na cena do século. Nenhum de nós é o Absoluto, mas cada um de nós é necessário para a sua revelação.

Podemos facilmente concordar que o coração de cada cultura é a sua língua. Ora, a língua é uma realidade que não pertence a ninguém, é um instrumento de que ninguém é senhor : felizmente, porque de outro modo cada ser humano deveria inventar uma a partir de zero. Qualquer cultura existe em virtude da nossa aceitação de não nos apoderarmos da língua e de utilizarmos um instrumento muito poderoso, sem que ele nos pertença. E, no entanto, este instrumento que não pertence a ninguém, se não o utilizarmos, se já não soubermos decliná-lo, não passa de um objeto morto : uma língua existe porque ninguém se apodera dela, mas está viva porque todos a articulam incessantemente.

Talvez alguém se lembre da parábola dos três anéis, contida na peça teatral Nathan, o Sábio, escrita por um dos grandes filósofos do Iluminismo, Gotthold Ephraim Lessing. Conta a história de um país longínquo cujos governantes possuíam um anel mágico, capaz de os tornar agradáveis a Deus e aos homens : passava de geração em geração para o filho mais amado. Mas um rei, incapaz de escolher entre os seus três filhos, decidiu recorrer a um artifício : mandou forjar dois outros anéis idênticos àquele; tendo-se tornado incapaz de distinguir o anel mágico, deu um anel a cada um dos seus filhos. Lessing conclui : ‘Que cada um tenha a certeza de que o anel é autêntico, (...) que cada um concorra para demonstrar o poder do seu anel à luz do dia, com a doçura, paciência, caridade e profunda devoção a Deus’. A parábola é interessante, mas descreve um estratagema, um engano para o bem, mas mesmo assim um engano : há ainda o fantasma de um pai que incumbe sobre a cena. O que o cristianismo secular poderia anunciar é o fim dos enganos : só há anéis verdadeiros. É uma sorte : podemos contar com tantos anéis mágicos e valorizar a autenticidade que torna os outros, como nós, agradáveis a Deus e aos homens. As culturas não são um artifício : todas elas são eternas precisamente por serem seculares.

Se compete a nós fazê-lo, é porque o cristianismo sempre o anunciou : esta realidade mais secular do que qualquer outra, o nosso corpo, com as suas feridas, as suas rugas, as suas misérias, está destinado a ressuscitar. O cristianismo intui que não é apenas nosso direito, mas um nosso dever concreto acreditar na eternidade do que é secular.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.osservatoreromano.va/pt/news/2024-07/por-030/uma-nova-sintese-entre-evangelho-e-culturas.html

quarta-feira, 28 de julho de 2021

Não falar da vida eterna é um erro: uma tentação deste mundo de imediatismos

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo do Padre Márcio Arielton

 

‘Não falar da vida eterna é um erro : uma tentação deste mundo de imediatismos.

Continuar vivendo no planeta Terra não significa salvar-se! Salvação e Vida Plena são realidades que só alcançamos por meio de Jesus Cristo. O papa Francisco, em seu pontificado, por diversas vezes alerta aos cristãos que não falar da vida eterna, da beleza da eternidade, é um erro, uma tentação diante deste mundo de imediatismos e fuga da transcendência.

A busca da justiça, do direito e da paz, não deve ofuscar o principal chamamento de Jesus para a humanidade : ‘Convertei-vos e crede no Evangelho’; pelo contrário, as sementes do Reino que espalhamos com as pequenas e grandes ações sócio-transformadoras devem apontar para o fim último de toda a criação do universo : o Juízo Final e o Reinado Eterno da Santíssima Trindade ‘sobre tudo aquilo que foi criado, o que há no céus e o que existe sobre a terra, o visível e também o invisível’.

Por isso as teorias e ideologias materialistas, que se apresentam sob tantas formas e máscaras, oferecem aos crentes o grande risco de esquecerem-se da sua vocação mais sublime, que o Concílio Vaticano II nos apresenta na constituição dogmática Lumen Gentium (39-42) : a vocação universal à santidade’.

Não falar da vida eterna é um erro

O padre prosseguiu :

Voltemos nossos olhares e atenção a este assunto tão pertinente. A finalidade das teorias materialistas que seduzem a muitos até dentro das Igrejas e das famílias cristãs é a extinção do espírito das virtudes da fé, esperança e caridade no seu ápice : a santidade dos cristãos.

É preciso que o cristão não se esqueça, acima de tudo, das urgências evangélicas de apelo à conversão e transformação de vida que o anúncio do querigma realiza na vida pessoal daquele que se encontrou e foi chamado por Jesus Cristo, Crucificado e Ressuscitado, e assuma assim uma inserção gradual e progressiva na Vida Nova’.

A ótica do olhar amoroso de Deus

Também se faz necessário que o seguidor de Jesus cuide de nutrir cotidianamente o seu encontro e vivência com o Senhor, que se traduz em intimidade, na vida de oração e conhecimento de Cristo e da fé. A consequência operante e constante desta experiência de encontro transformativo com o Senhor é percebida no discípulo que se lança numa verdadeira atuação nas realidades do mundo, onde o cristão passa a escolher, andar e transformar as realidades que toca – não mais a partir de si mesmo, como experiência de troca egoísta, mas a partir do critério de Jesus Cristo. Sob a ótica do olhar amoroso de Deus, esta atuação se traduz em agir nas diversas periferias existenciais deste mundo, tendo como pano de fundo o testemunho, ou seja, a vivência, na própria vida, do martírio : homens e mulheres que se tornam sacrifícios vivos de louvor, hóstias agradáveis oferecidas no altar do cotidiano, agindo e vivendo entre os homens deste tempo na justiça e santidade.

Somos chamados a viver com o pés no chão, mas com os ‘corações ao alto’, sabendo que a finalidade de todas as nossas orações, trabalhos, alegrias e sofrimentos é a Vida Eterna. Este tema é tão caro ao anúncio de Jesus Cristo que o Papa Francisco faz questão de nos recordar a sua grande importância e necessidade e as tristes consequências que a omissão da pregação da Vida Eterna tem ocasionado hoje : ‘É justamente o fechamento dos horizontes transcendentes, o fechar-se em si mesmo, o apego quase exclusivo ao presente, esquecendo ou censurando as dimensões do passado e, sobretudo, do futuro, sentido especialmente pelos jovens como obscuro e cheio de incertezas. O futuro além da morte aparece, nesse contexto, inevitavelmente ainda mais distante, indecifrável ou completamente inexistente’’.

Nosso fim não é aqui, mas já podemos avistá-lo

Portanto, no meio das estradas desta vida, apontemos aos peregrinos, muitas vezes perdidos nos desertos da existência humana na difícil peregrinação terrestre, o caminho do Céu, a Terra Prometida. O fim último de nossa existência ainda não é aqui, mas aqui já podemos avistá-lo. Para alcançá-lo, olhemos para Cristo, meta de todas as aspirações humanas, e, seguindo seus passos e as direções que Ele nos aponta por meio da Sua Igreja, confiemos, buscando, entre as coisas que passam, alcançar um dia as que não passam.

A Virgem Maria, modelo dos santos, que trilhou este caminho com coração cheio de Fé, Esperança e Caridade, nos ajude com sua poderosa intercessão a viver em Justiça e Santidade.’’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://pt.aleteia.org/2021/07/28/nao-falar-da-vida-eterna-e-um-erro-uma-tentacao-deste-mundo-de-imediatismos/

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Reflexão para o Dia de Finados

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo do Padre Cesar Augusto dos Santos


‘...Todos nós fomos criados para vivermos eternamente a felicidade, amando a Deus e sendo amados por Ele. É um momento de reflexão sobre o sentido da existência humana, de onde vem e para onde vai.
É uma ocasião em que a arrogância e a prepotência devem ceder lugar à humildade e o ser humano reconhecer que, apesar de sua grandiosidade é finito. Teve início e terá fim, basta olhar para aqueles que nos cercavam e agora não mais estão ao nosso lado. Também, deveremos pensar em nós, em nosso futuro, em nosso destino definitivo. Mais cedo ou mais tarde, isso acontecerá.
Exatamente por causa dessa certeza, devemos viver bem, em harmonia com todos e preparando nossa morada definitiva. Se a morte é certa, quando ela ocorrerá e de que modo, é uma incerteza. Com ela acabam disputas, vanglórias, riquezas, partidarismos políticos, idelogias, classes sociais, tudo. Só permanece aquilo que foi realizado por amor e com amor porque o amor é eterno, o Amor é Deus, Deus é Amor! Mesmo o homem mais inteligente e mais rico só levará para o além túmulo aquilo que fez por causa do Amor. O mais se tornará cinzas e irá, com o passar do tempo, para o esquecimento, como nos mostra o que restou de tantos que se julgavam influentes e que até o nome esquecemos.
Mas o dia de finados é um dos marcados pela saudade, pela presença da ausência de tantos entes queridos. Mas essa saudade é um sentimento doce, sofrido, mas doce. Recordamos, isto é, trazemos ao coração, a lembrança de pais, filhos, irmãos, avós, amigos, vizinhos, colegas, conhecidos que marcaram com suas presenças nossa vida, nosso dia-a-dia. Se o nosso relacionamento com eles foi bom, dentro do amor, do carinho, dentro da compreensão e do perdão, o dia de hoje será consolador. Será grato fazer essa recordação. Sofremos a saudade, é verdade, mas não nos desesperamos, porque não desperdiçamos a oportunidade de bem conviver e de amar.
Sabemos que um dia nos reencontraremos e juntos, viveremos a eternidade com Deus. O Céu é o local de encontro, onde nossos entes queridos nos aguardam para a vida feliz, em Deus, para sempre amando e sendo amado!
Continuemos fazendo o bem, vivendo os ensinamentos cristãos. Eles são o passaporte para chegarmos à Pátria definitiva. Jesus Cristo, Maria e os nossos queridos que já nos precederam, aguardam por nós. Não os decepcionemos!’

Fonte :


sábado, 1 de novembro de 2014

A solidariedade e comunhão com os irmãos finados

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Dom Roberto Francisco Ferreria Paz,
Bispo de Campos - RJ
  
‘Neste domingo oficiamos em todas as Igrejas a Comemoração anual de todos os fiéis finados. Celebração da saudade e da esperança cristã que nos torna conscientes da misteriosa comunhão dos santos que conecta a Igreja peregrinante, com a padecente e a triunfante.

Esta liturgia apresenta, desde suas origens no Mosteiro de Cluny, a importância de aplicar missas em sufrágio dos falecidos e de rezar pelo seu descanso. A morte na perspectiva cristã embora tenha um aspecto doloroso de desmontar a tenda do corpo na nossa travessia terrestre e signifique a separação física dos seres queridos e dos amigos, é apenas um passamento, uma passagem para a vida eterna de felicidade que nos aguarda na Casa do Pai, se formos justos e misericordiosos.

Como nem todos alcançam a perfeição evangélica em vida, a doutrina católica fundamentada na solidariedade da comunhão dos santos e no tesouro infinito da paixão e morte do Redentor, socorre com orações, indulgências e as intenções das missas pelos irmãos que precisam de purificação e limpar seu coração para entrar no paraíso.

A morte não nos separa daqueles que morrem em Cristo, ao contrário os ganhamos para sempre porque ao lado de nosso Advogado e Mediador operam pela intercessão, graças e dons para nossa salvação. Mas também a morte dos outros nos leva a pensar na própria, eu gostaria ou não de rever meus seres queridos e amados, vale pena ou não, pensar no céu, neste estado maravilhoso de comunhão total com Deus, os irmãos e o universo inteiro?

Isto significa que devemos estar vigilantes e preparados, que onde a morte nos encontrar e possamos oferecer sempre um coração cheio de amor, ternura, perdão e misericórdia, e que nossas mãos estejam gastas de dar e servir aos outros. Só assim compreenderemos que a morte é como São Francisco a chamou : uma irmã, pois vem para nos levar ao Pai, encerrando de forma serena e plácida a nossa caminhada terrestre.

Que Nossa Senhora da Boa Morte e São José o patrono dos moribundos nos ajude a bem morrer nas mãos do Senhor Jesus Cristo, nosso querido Irmão e Salvador. Deus seja louvado!’


Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.cnbb.org.br/artigos-dos-bispos-1/dom-roberto-francisco-ferreria-paz-1/15238-a-solidariedade-e-comunhao-com-os-irmaos-finados


terça-feira, 28 de outubro de 2014

Uma abóbora, mesmo que de moda, será sempre uma abóbora

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)




Nesta reportagem da ZENIT, o cardeal Mauro Piacenza, 
Penitenciário-Mor do Tribunal da Penitenciaria Apostólica
explica o significado litúrgico e religioso da 
Festa de Todos os Santos e a Comemoração dos Finados.


ZENIT : Eminência, nos próximos dias, vamos celebrar a Festa de Todos os Santos e a Comemoração dos Finados. O Povo de Deus sente muito esses dias, que são também ocasião para refletir e rezar. Ainda é válida a prática das indulgências para os defuntos?

Cardeal Mauro Piacenza : Claro que sim! No dia 02 de novembro, visitando um cemitério e tendo cumprido as condições habituais (confissão, comunhão, recitar o Credo e rezar pelas intenções do Santo Padre) é possível obter a indulgência plenária, aplicável a um fiel defunto.


ZENIT : Só naquele dia é possível conseguir?

Cardeal Mauro Piacenza : Não. Naquele dia é possível fazê-lo de uma maneira particular e visitando um cemitério, mas em qualquer outro dia do ano é possível obter a indulgência plenária em conformidade com as várias obras de piedade contidas no Enchiridion Indulgentiarium (a coleção das modalidades em que é possível obter o cancelamento das penas devidas pelos pecados), e optar por aplicá-la a si mesmo, ou a um fiel defunto. A única ‘limitação’ a esta prática piedosa é que só pode ser adquirida uma vez por dia; ou seja, só é possível obter uma só indulgência plenária por dia, aplicável a si mesmo ou a um fiel defunto.


ZENIT : Às vezes, em alguns santinhos, há orações com o título: 100 dias de indulgência, 300 dias de indulgência. Como se deve interpretar isso?

Cardeal Mauro Piacenza : Até a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II era possível encontrar essas reivindicações. O correto aprofundamento teológico nos leva a crer que, estando a eternidade fora do tempo e não sendo um ‘tempo prolongado’, não seja propriamente oportuna a indicação específica da pena temporal e da relativa indulgência. Portanto, hoje se fala unicamente de dois tipos de indulgência: plenária, quando todas as penas devidas aos pecados foram canceladas, ou parciais, quando só em parte são perdoadas.


ZENIT : Mas não basta só a absolvição sacramental? Não basta ir à confissão?

Cardeal Mauro Piacenza : É claro que a primeira grande Reconciliação é o acontecimento da morte e ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo! Em Cristo, todas as promessas do Pai se tornaram um ‘sim’ (2 Cor 1,20). Ele é a fonte da misericórdia, o propósito da misericórdia e a própria misericórdia. O Papa Francisco nunca deixa de lembrar à Igreja como esta realidade da misericórdia seja crucial para o anúncio e para o discipulado cristão. Em retrospectiva, o aviso: ‘Não tenham medo’ de São João Paulo II está na mesma linha da misericórdia. Também porque, como poderia o homem não ter medo, se houvesse a possibilidade da misericórdia? E como a misericórdia poderia ser real experiência vivida, e não somente palavra proclamada, se não determinasse, na concreta existência de cada um, a efetiva possibilidade de vencer todo medo graças à certeza da verdade, da serenidade do bem e, ultimamente, da vitória de Cristo sobre todas as feiúras da história humana? Como todo ato humano, até os pecados têm conseqüências. O Sacramento da Reconciliação absolve os pecados, mas não elimina todas as suas consequências. Através das indulgências, a Igreja mãe alcança generosamente o tesouro da divina misericórdia, dando aos fiéis a possibilidade da remissão não só das culpas, mas também das penas anexas. Por exemplo, se um homem bate em outro homem, os dois podem se reconciliar, mas nada poderá apagar a dor e a marca da bofetada no rosto. As indulgências apagam também esta marca. Assim se entende bem como o tesouro do qual a Igreja se alimenta constitua a sua mais verdadeira e preciosa riqueza. Esse é o banco mais seguro e consolador que existe e os seus acionistas são realmente de sorte!


ZENIT : Eminência, você disse que as indulgências podem ser aplicadas a si mesmos, ou a um fiel defunto. Por que não a um outro fiel vivo, por quem se reza? Por exemplo, pelo próprio marido, esposa, filhos?

Cardeal Mauro Piacenza : Isso não é possível por causa do grande mistério da liberdade, que nos faz imagem e semelhança de Deus e que Deus mesmo respeita profundamente. Cada um, enquanto está vivo, ou seja, enquanto está no tempo, pode mudar as próprias escolhas existenciais, pode decidir pessoalmente converter-se e nisso ninguém pode substituir-se à liberdade do outro. Portanto, cada um pode lucrar as indulgências e aplica-las a si mesmo. Certamente é possível orar pela conversão dos irmãos, pela conversão dos pecadores, mas a indulgência, pela sua natureza, já é um exercício, e para cumprí-la são necessários verdadeiros atos de conversão, primeiro de todos a Reconciliação sacramental. No que diz respeito os defuntos, eles, com a morte saíram do tempo e o dom da liberdade acabou para eles. Por esta razão, é sempre importante que a nossa liberdade esteja orientada ao bem e não é nem um pouco prudente permanecer por muito tempo em estado de pecado mortal. Não podendo as almas dos defuntos fazer nada mais pela própria purificação, em força da comunhão dos santos, ou seja, da unidade profunda de todos os batizados em Cristo, nós, que ainda estamos a caminho, podemos fazer a extraordinária obra da misericórdia espiritual em sufrágio das almas, e isso em benefício delas, e ao mesmo, também em benefício nosso.


ZENIT : Esta é a razão pela qual a Solenidade de Todos os Santos e a Comemoração de todos os fiéis defuntos estão tão próximas, n0s dias 1 e 2 de novembro?

Cardeal Mauro Piacenza : Certamente, a Igreja, desde o início, orou pelos fieis defuntos pertencentes às primeiras comunidades cristãs. Que eles fossem mártires, ou fieis comuns mortos de morte natural, a comunidade entendeu rapidamente o sufrágio pelos defuntos como uma dimensão estrutural da própria vida, da própria oração e, especialmente, da celebração Eucarística. Como forma de significar a unidade profunda com Cristo e em Cristo, criadas com o Batismo, e a partilha da mesma Eucaristia, vivida na comunidade cristã, não podia ser rompida nem mesmo com a morte. Por outro lado, pensando bem, se a morte foi vencida por Cristo, quem renasceu em Cristo não pode mais ser separado de nada, nem sequer daquela morte que Cristo já venceu! A Solenidade de todos os Santos evidencia a verdade da comunhão dos santos, da união de todos os batizados. Como nos lembrou em várias ocasiões o Papa Francisco: ‘o tempo prevalece sobre o espaço’. Portanto, a união no tempo de todos os batizados, desde os primeiros cristãos, até aqueles que amanhã de manhã receberão o Batismo e até o fim dos tempos, é uma união que nada poderá jamais arranhar e que determina a caminhada da Igreja no tempo que é real antecipação, aqui na terra, do Reino dos Céus. Nós pertencemos ao único Corpo eclesial que, sem interrupção, desde Jesus Cristo, da Virgem Maria e dos Apóstolos, chegou a nós, e é por esta razão que a Igreja celeste é muito mais numerosa, muito mais interessante, muito mais douta e muito mais ‘influente’ do que a Igreja na Terra.


ZENIT : Na noite que precede a Solenidade dos Santos, há uma década mais ou menos, se difundiu também na Europa a moda do Halloween. Qual a causa desse fenômeno? Qual a sua opinião?

Cardeal Mauro Piacenza : Como você bem disse, trata-se de uma moda que, no entanto, tem sérias implicações não apenas no âmbito consumístico. Acredito que posso deduzir que a grande maioria dos jovens, que organizam festas a fantasia naquela ocasião, são vítimas inconscientes tanto da moda quanto daqueles que, a todo custo, devem vender produtos comerciais manipulando realidades espirituais. Vejo que o fenômeno é tão irracional que se torna a real cifra da sociedade contemporânea: quen não acredita na verdade termina por acreditar em alguma coisa, até mesmo nas abóboras! Estou ciente, no entanto, que em alguns casos estes tipos de manifestações tenham origens espíritas e até mesmo satânicas e, portanto, alimentá-las e não corrigí-las pode transformar-nos em inconscientes alimentadores daquela ‘fumaça de satanás’, que já intoxica muito o mundo. Todos devemos ter cuidado para não respirar fumaças tóxicas; as vezes isso acontece quase inadvertidamente. Lembremos que uma abóbora, ainda que abençoada, sempre será uma abóbora. Aquelas do dia das Bruxas nem sequer são abençoadas!’


Fonte :
  

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

O céu do monginho

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

  *Artigo de Dom Mamerto Menapace, OSB

O monginho achava-se na igreja. Começava a primavera, quando o sol fica mais fraco e lá fora, tudo canta a vida. Era o início da tarde e ele se encontrava sentado num banco da igreja, entre meditando e distraído. Pela janela aberta entrava a luz, o calor e muitos seres pequeninos e vivos moviam-se no ar.

Na realidade não estava distraído, mas absorto. Havia um pensamento que o vinha perseguindo há vários dias. Talvez fosse por causa da primavera que começava. O certo é que há muitos dias vinha se perguntando sobre a eternidade do céu. Sobretudo questionava-o a idéia de uma realidade que nunca teria fim e da qual Deus o convidava a participar também.

Era um monginho ativo, cheio de vida, curioso e inteligente, esperto e sonhador. Não entendia como Deus conseguiria manter o interesse numa realidade que seria eterna. Porque ele não conseguia passar meia hora sem ter de mudar de ocupação ou de lugar. Assustava-se com a idéia de permanecer para sempre em algo eterno.

Estava pensando nisso e, adormecendo, quando de repente um pequeno pássaro que acabava de entrar pela janela chamou sua atenção. Parecia uma avezinha simples e sobretudo mansa.

Depois de um curto vôo, foi colocar-se a dois ou três bancos adiante do monginho. Não pareceu importar-se com sua presença. Após um momento de silêncio, levantou a cabecinha e deu um delicioso gorjeio que encheu de ecos o silêncio da igreja.

Quando o canto repetiu-se novamente o monginho, sem pensar no que fazia, levantou-se e se aproximou do passarinho que não demonstrou medo. Simplesmente deu outro pequeno salto e foi colocar-se no encosto do banco seguinte enquanto gorjeava novamente um trinado. Mas desta vez, o canto era modulado de maneira diferente. Parecia mais belo e mais sonoro. Além disso, ao dar o sol sobre suas penas, havia coloridos que antes não haviam aparecido. Maravilhado, nosso amigo só fez com que a avezinha repetisse seu curto vôo até outro banco mais adiante.

E assim, de vôo em vôo, de trinado em trinado, ambos foram se dirigindo até a porta da igreja. O monginho estava tão entusiasmado que nem se dava conta do que fazia. Simplesmente ia atrás da ave canora, que a cada instante mostrava um novo colorido ou exprimia uma harmonia diferente e sempre mais bela. Atravessaram a porta, cruzaram o jardim, saíram pelo grande portão que dava para o bosque do outeiro vizinho e finalmente se adentraram enel sem se dar conta de que iam se afastando cada vez mais do mosteiro. Quanto tempo transcorreu desde aquele momento não o soube então o monge. Porque, passo a passo, e indo atrás da encantadora ave, foi perdendo a noção das horas e da distância.

Mas, finalmente a avezinha deu um gorjeio como nunca havia dado, e batendo suas pequenas asas, perdeu-se entre a folhagem do bosque.

Então, subitamente, o monginho voltou a si e assustou-se ao ver que já era tarde. Voltou sobre seus passos, amedrontado por não reconhecer o caminho que o havia conduzido até ali. Mas do alto do bosque onde se encontrava, às vezes via entre a folhagem o mosteiro e assim ia se situando. O que no entanto estranhava profundamente era não conseguir encontrar a porta por onde havia saído. Ao entardecer, por mais que procurasse onde ela estaria, não pode achá-la. Contornado o mosteiro, afinal deu com a porta principal. Contudo, o que via parecia-lhe estranho. Nada era agora familiar e sentia-se como de outro mundo.

Tocou a campainha e veio atender um velho irmão porteiro com uma longa barba branca. Não o reconheceu. Inteiramente atrapalhado e temendo um equívoco, perguntou timidamente se aquele era o mosteiro de São Pantaleão. O monge porteiro respondeu-lhe que sim e perguntou, por sua vez o que desejava. Nosso monginho, perplexo, pediu que lhe abrisse a porta para voltar à sua cela e desculpar-se com o mestre de noviços. Está claro que o porteiro não entendeu nada e não sabia o que pensar. Tratar-se-ia de alguma brincadeira de um dos monges disfarçado? Ou então seria algum louco que confundia as coisas?

Não sabendo como proceder, pediu-lhe amavelmente que se assentasse esperasse o abade, a quem ia chamar em seguida. Quando este veio, tampouco reconheceu o monginho nem este o abade. Cumprimentaram-se e começaram a conversar. O noviço, aflito, contou o que lhe havia acontecido aquela tarde ou talvez – não sabia – na tarde anterior. Como abandonara a igreja e o mosteiro indo atrás daquela rara avezinha de canto e plumagem continuamente cambiante que o havia fascinado e levado atrás dela. Também abriu seu coração ao abade confessando que sentia tudo diferente ao seu redor e não conseguira reconhecer nada do que via. Nem podia reconhecer com quem estava falando.

Vocês imaginarão como estaria perplexo o abade diante daquele estranho e desconhecido monginho que contava uma história tão bela e extraordinária. Supôs que se trataria de um jovem desorientado e mentalmente enfermo que estava inventando uma história sobre sua própria vida, ainda que o fazia tão bem que não podia negar a realidade dos fatos que verdadeiramente coincidiam com as daquele velho mosteiro. Como era um homem bom e não queria ferir o jovem com o que pensava interiormente, decidiu tentar convencê-lo mediante o registro dos monges, para lhe mostrar que seu nome nunca estivera inscrito naquele mosteiro.

Trouxeram o livro de registro onde há séculos vinham anotando os monges que ali haviam vivido e, folha por folha, começando pelas últimas, foi mostrando que efetivamente ali não estava seu nome. Mas, de repente, ao folhear ao acaso o livro, seus olhos depararam com algo insólito. Uma página estava metade em branco. E para sua surpresa, ali aparecia o nome do monginho, com todos os seus dados e uma nota em vermelho que dizia simplesmente : ‘Desapareceu numa tarde no bosque sem deixar rastros’. Era uma página escrita 227 anos atrás.

Esta bela história termina assim : ‘O jovem se deu conta que sem o saber, seguira durante todos esses 227 anos a avezinha, sem se cansar nem envelhecer. E experimentou um tal desejo de ir ao céu, que ali mesmo...despertou de seu sono, no banco da igreja, naquele entardecer’.

Já era hora das Vésperas.


Fonte : 
* Dom Mamerto Menapace, OSB, abade emérito de Santa Maria de Los Toldos (Argentina); foi Presidente da Congregação Beneditina da Santa Cruz do Cono Sur.

- Artigo publicado em Cuadernos Monásticos 75 – 1985.
 
Revista Beneditina nrº 11, Julho/Agosto de 2005, traduzido do espanhol e editado pelas monjas beneditinas do Mosteiro da Santa Cruz – Juiz de Fora/Minas Gerais.


segunda-feira, 26 de maio de 2014

São Filipe Néri, Presbítero

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)



Nasceu em Florença (Itália), em 1515. Indo para Roma, aí começou a dedicar-se ao apostolado da juventude, e estabeleceu uma associação em favor dos doentes pobres, levando uma vida de grande perfeição cristã. Foi ordenado presbítero em 1551 e fundou o Oratório que tinha por finalidade dedicar-se à instrução espiritual, ao canto e às obras de caridade. Notabilizou-se sobretudo por seu amor ao próximo, pela sua simplicidade evangélica e pela sua alegria no serviço de Deus. Morreu em 1595.


A Liturgia das Horas e a reflexão no dia de São Filipe Néri, Presbítero :

Ofício das Leituras

Segunda leitura
Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo
(Sermo 171,1-3.5:PL38,933-935)      (Séc. V)

Alegrai-vos sempre no Senhor
O Apóstolo manda que nos alegremos, mas no Senhor, não no mundo. Pois afirma a Escritura : A amizade com o mundo é inimizade com Deus (Tg 4,4). Assim como um Homem não pode servir a dois senhores, da mesma forma ninguém pode alegrar-se ao mesmo tempo no mundo e no Senhor.

Vença, portanto, a alegria no Senhor, até que termine a alegria no mundo. Cresça sempre a alegria no Senhor; a alegria no mundo diminua até acabar totalmente. Não se quer dizer com isso que não devamos alegrar-nos, enquanto estamos neste mundo; mas que, mesmo vivendo nele, já nos alegremos no Senhor.

No entanto, pode alguém observar : “Eu estou no mundo; então, se me alegro, alegro-me onde estou”. E daí? Por estares no mundo, não estás no Senhor? Escuta o mesmo Apóstolo, que falando aos atenienses, nos Atos dos Apóstolos, dizia a respeito de Deus e do Senhor, nosso Criador : Nele vivemos, nos movemos e existimos (At 17,28). Ora, quem está em toda parte, onde é que não está? Não foi para isto que fomos advertidos? O Senhor está próximo! Não vos inquieteis com coisa alguma (Fl 4,5-6).

Eis uma realidade admirável : aquele que subiu acima de todos os céus, está próximo dos que vivem na terra. Quem está tão longe e perto ao mesmo tempo, senão aquele que por misericórdia se tornou tão próximo de nós?

Na verdade, todo o gênero humano está representado naquele homem que jazia semimorto no caminho, abandonado pelos ladrões. Desprezaram-no, ao passar, o sacerdote e o levita; mas o samaritano, que também passava por ali, aproximou-se para tratar dele e prestar-lhe socorro. O Imortal e Justo, embora estivesse longe de nós, mortais e pecadores, desceu até nós. Quem antes estava longe, quis ficar perto de nós.

Ele não nos trata como exigem nossas faltas (Sl 102,10), porque somos filhos. Como podemos provar isto? O Filho único morreu por nós para deixar de ser único. Aquele que morreu só, não quis ficar só. O Unigênito de Deus fez nascer muitos filhos de Deus. Comprou irmãos para si com seu sangue. Quis ser condenado para nos justificar; vendido, para nos resgatar; injuriado, para nos honrar; morto, para nos dar a vida.

Portanto, irmãos, alegrai-vos no Senhor (Fl 4,4) e não no mundo; isto é, alegrai-vos com a verdade, não com a iniqüidade; alegrai-vos na esperança da eternidade, não nas flores da vaidade. Alegrai-vos assim onde quer que estejais e em todo o tempo que viverdes neste mundo. O Senhor está próximo! Não vos inquieteis com coisa alguma.


Fonte :
‘In Liturgia das Horas II’, 1593, 1595