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sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Por que tropeçamos em nossa própria escuridão?

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 *Artigo de Talita Rodrigues

 

‘Andamos como se enxergássemos claramente o caminho, mas na caminhada muitos param, caem ou tropeçam nas escuridões que existem dentro de si.

Muitos julgam, apontam e até ditam regras na vida dos outros, pois é muito mais fácil falar dos ‘tropeços’ dos outros do que cuidar dos seus.

Muitas das escuridões são, inclusive, protegidas de maneira inconsciente. Dessa forma, não são trazidas para o consciente, ou seja, continuam sendo evitadas e ‘desconhecidas’. 

O maior problema de não as tratar é que muitas atitudes do dia a dia são refletidas por conta delas. Enquanto não se busca conhecer e tratá-las, continua o sofrimento – e isso prejudica ainda mais as relações, pois não se conhece a raiz do problema.

Elas são instaladas através de resultados das experiências que temos desde que nascemos ou até mesmo antes disso. A origem dessas escuridões é diferente para cada um de nós, mas, em todos os casos, negar, pular ou ignorá-las não vai trazer a luz para a vida.

A luz, a escuridão, o bem, o mal e o medo estão presentes em cada um de nós. Ao experienciar cada um deles, precisamos conscientemente saber que eles só existem para que possamos evoluir.

Andar na luz é bom, mas é a passagem pela escuridão que nos faz amadurecer e crescer diante das dificuldades que nos acontecem.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2022/10/06/por-que-tropecamos-em-nossa-propria-escuridao/

domingo, 28 de novembro de 2021

O sentido do sofrimento

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Francisco Borba Ribeiro Neto


‘‘Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor. Porque assim como os céus estão mais altos do que a terra, assim estão os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos’ (Is 55, 8-9). De tempos em tempos me dou conta do quanto essas palavras são válidas para nós, que vivemos numa cultura que abandonou em grande parte suas raízes cristãs, de modo tal que frequentemente usamos critérios ‘mundanos’ acreditando estar seguindo a Jesus.

Quando contempladas numa perspectiva cristã, palavras como amor, felicidade e sofrimento têm um sentido radicalmente diferente daquele usado por nós cotidianamente – radical não tanto no sentido de diferente, mas no sentido de brotarem de uma outra origem e produzirem outros tipos de frutos. Ao me deter nesses temas, não tenho o interesse de escrever sobre mística e espiritualidade – coisa que outros em Aleteia fazem muito melhor do que eu – mas sim de chamar a atenção para as características da mentalidade cristã. Minha questão é não nos perdermos no caminho da fé, desorientados por uma falsa compreensão da experiência e dos valores cristãos.

Nossa visão sobre o sofrimento humano é um exemplo típico dessa divergência entre nosso olhar corrente e um olhar cristão. São João Paulo II desenvolve o tema em sua Carta Apostólica Salvifici Doloris, de 1984. Escrita poucos anos depois do Papa ter sofrido uma tentativa de assassinato, com uma dolorosa convalescença, o texto é não apenas uma reflexão teológica sobre o sofrimento, mas recolhe de certa forma a própria experiência humana de sofrimento do pontífice.

Verificar, antes de teorizar

Ninguém deseja sofrer. A busca do sofrimento por si mesmo é um ato masoquista que se choca com a natureza humana. Nada mais compreensível do que a nossa oração ser para que Deus ‘afaste de nós esse cálice’, como o próprio Cristo pediu (cf. Mt 26, 39). Contudo, a lógica de Deus parece ir em sentido contrário ao desejo humano…

Quando o Messias vem ao mundo, não vem livrar os seres humanos do sofrimento, mas sofrer como um deles. A inversão de expectativas chocou todo o mundo antigo, quando os cristãos passaram a pregar sua doutrina. Após séculos, nos acostumamos com essa perspectiva, contudo muitos em nossa sociedade deixam de aderir à fé por causa desse fato. Como pode um Deus onipotente e amoroso não nos livrar do sofrimento?

Os desígnios de Deus são misteriosos. Ele não seria Deus se nós – com nossos parcos recursos intelectuais – pudéssemos compreender a lógica com a qual orienta Sua criação ao longo de toda a eternidade. Mas, apesar disso, podemos nos aproximar dessa lógica se nos propomos a verificar a Sua promessa de amor a nós.

Curiosamente, trata-se de uma verificação muito semelhante ao método científico. O cientista não deduz como a natureza deve ser e a partir daí faz uma teoria. Ele, em primeiro lugar, observa o que acontece e, a partir da observação, procura entender a natureza. O que Deus pretende nos deixando sofrer? Por que deixou até mesmo seu Filho sofrer? A resposta a essas perguntas são misteriosas, mas estaremos ainda mais distantes de compreendê-las se não mergulharmos na experiência do sofrimento vivido à luz do amor de Deus.

O sentido é mais forte que a dor

O adulto sabe que existe uma experiência ainda mais terrível que sofrer : ver aqueles que muito amamos sofrerem. Objetivamente, a dor não é última palavra sobre a nossa vida. Um individualismo camuflado se introduz em nossa mentalidade quando imaginamos que a pior coisa que pode nos acontecer é sofrermos com algo que nos acontece. O pior é aquilo que faz a pessoa amada sofrer.

A dor vivida sem a perspectiva do amor se torna, de fato, o sofrimento maior. Mas não tanto pela dor em si, mas pela falta de um amor que lhe dê sentido. Os grandes amantes oferecem a própria dor pelo bem dos amados. Com isso, descobrem um sentido para o sofrimento – e esse sentido torna-se mais forte que a própria dor.

Deus quer que seus filhos muito amados descubram a força do amor, descubram que o amor é mais forte que o próprio sofrimento. Mas, só existe um modo de compreender esse fato : sofrendo com amor. O paradoxo do Deus amoroso que não tirou o sofrimento do mundo se revela como uma afirmação da força do amor.

Essa é uma das conclusões da Salvifici Doloris, que reputo como uma das obras mais essenciais do magistério da Igreja : sofrendo por nós, Cristo deu-nos a chance de nos tornarmos ‘coparticipantes’ de sua obra salvífica, ao também nós sofrermos por amor a nossos irmãos. A grandeza do sofrimento é poder ser doado, como gesto de amor. O sofredor – ao doar sua própria dor pelo bem de outros – está mais próximo do coração de Deus e da justa compreensão do Seu amor por nós.

Uma caminhada necessária

No momento mais aflitivo, chega a ser ofensivo dizer essas coisas a alguém. No auge da dor, todo sofredor acredita que seu sofrimento é incomparável ao dos demais. Um dos efeitos da dor é justamente entorpecer nossa racionalidade e dificultar uma abordagem objetiva dos problemas.

Por isso, a compreensão do sentido do sofrimento é uma questão que temos de enfrentar quando não estamos sofrendo. quando chegar o momento da angústia, os termos têm que estar claros, para que possamos fazer uma justa verificação do ‘significado salvífico da dor’.

Ser capaz de olhar o sofrimento com um olhar cristão não nos livrará da dor, nem nos colocará num conformismo resignado, mas nos abrirá cada vez mais para os horizontes ilimitados do amor.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://pt.aleteia.org/2021/11/28/o-sentido-do-sofrimento/

domingo, 10 de janeiro de 2021

A fé é uma caminhada e não um sistema religioso

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)        

 

*Artigo do Padre José Antonio Pagola

 

‘Não são poucos os cristãos praticantes que entendem a sua fé apenas como uma ‘obrigação’. Há um conjunto de crenças que se ‘devem’ aceitar, mesmo que não conheçamos o seu conteúdo ou se saiba o interesse que podem ter para a vida; há também um código de leis que se ‘deve’ observar, mesmo que não se compreenda bem tanta exigência de Deus; finalmente, há umas práticas religiosas que se ‘devem’ cumprir, mesmo que de forma rotineira.

Esta forma de compreender e viver a fé gera uma espécie de cristão aborrecido, sem desejo de Deus e sem criatividade ou paixão alguma para espalhar a sua fé. Basta ‘cumprir’. Esta religião não tem atrativo algum; converte-se num peso difícil de suportar; a não poucos produz alergia. Não estava errada Simone Weil quando escreveu que onde falta o desejo de encontrar-se com Deus, não há crentes, mas sim pobres caricaturas de pessoas que se dirigem a Deus por medo ou interesse.

Nas primeiras comunidades cristãs, viviam-se as coisas de forma diferente. A fé cristã não era entendida como um ‘sistema religioso’. Chamavam-lhe ‘caminho’ e propunham-no como a forma mais acertada de viver com sentido e esperança. Diz-se que é um ‘caminho novo e vivo’ que ‘foi inaugurado por Jesus para nós’, um caminho que se percorre ‘com os olhos fixos Nele’ (Hebreus 10,20; 12,2).

É de grande importância tomar consciência de que a fé é uma caminhada e não um sistema religioso. E num percurso há de tudo : marcha alegre e momentos de busca, provas que devem ser superadas e retrocessos, decisões incontornáveis, dúvidas e interrogações. Tudo faz parte do caminho : também as dúvidas, que podem ser mais estimulantes do que não poucas certezas e seguranças detidas de forma rotineira e simplista.

Cada um tem de fazer o seu próprio caminho. Cada um é responsável da ‘aventura’ da sua vida. Cada um tem o seu próprio ritmo. Não há que forçar nada. No caminho cristão há etapas : as pessoas podem viver momentos e situações diferentes. O importante é ‘caminhar’, não parar, escutar a chamada que a todos é feita, de viver de uma forma mais digna e feliz. Este pode ser o melhor modo de ‘preparar o caminho do Senhor’.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1492618/2021/01/a-fe-e-uma-caminhada-e-nao-um-sistema-religioso/

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Caminhar juntos

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo do Padre Fernando Domingues,
Missionário Comboniano


‘Janeiro abre a vida nova. No dia de Ano Novo todos gostamos de pensar que damos início a uma nova caminhada com horizontes de esperança e de otimismo.

Ainda há pouco festejamos o Natal, quando Jesus começou a sua caminhada conosco num ambiente de ternura, simplicidade e pobreza e daqui a pouco já iremos começar a olhar para a Páscoa – festa da morte e ressurreição de Jesus – quando ele se transformou para poder continuar para sempre a caminhar conosco. Como ele mesmo disse, aparecendo aos discípulos algumas semanas depois : «Eu estarei sempre convosco, todos os dias, até ao fim do mundo» (Mt 28,20).

As primeiras a encontrar-se com ele vivo foram um pequeno grupo de mulheres que, no primeiro dia da semana – a seguir ao dia santo de sábado, em que não era permitido ocupar-se dos mortos – foram ao túmulo levando os perfumes necessários para acabar de arranjar o que não tinham tido tempo de fazer na sexta-feira, dia da sua morte e sepultura. Caminharam para lá logo de madrugada, assim que havia alguma luz. À beira do túmulo aberto, Jesus apareceu-lhes vivo e falou com elas, mesmo se não o reconheceram logo. O evangelho de Lucas dá-nos o nome de algumas delas : Maria Madalena, Joana e Maria, a mãe do discípulo Tiago (Lc 24,10).

Elas correram logo a levar a notícia aos outros discípulos, que tinham ficado escondidos em Jerusalém. Pedro arrancou e foi a correr ao túmulo : estava aberto, e lá estavam os lençóis de linho com que tinham embrulhado à pressa o corpo. Mas não encontrou ninguém. Ficou admirado, sem saber para onde se virar.

Alguém podia pensar : claro que Pedro não encontrou ninguém, nem podia; para encontrar Jesus não se vai de corrida, e sobretudo não se vai sozinho!

Foi isso mesmo que aprenderam outros dois discípulos de quem não sabemos o nome. Só sabemos que, nesse mesmo dia, caminhavam juntos, partilhando a tristeza do que tinha acontecido ao mestre que eles tinham seguido, Jesus. De Jerusalém caminhavam para uma povoação chamada Emaús (Lc 24,13).

O próprio Jesus junta-se e caminha com eles todo o dia, incógnito. Aquela caminhada que fizeram juntos acabou por se tornar uma viagem à descoberta de Jesus ressuscitado, que eles reconheceram só à chegada a Emaús quando se sentou com eles à mesa e repetiu o gesto de partir o pão, como tinha feito na Última Ceia.

Cheios de alegria por aquele encontro, voltaram logo a Jerusalém para anunciar aos outros que Jesus estava vivo, que tinha caminhado com eles, e que o tinham reconhecido ao partir do pão.

Os missionários e missionárias consagrados na vida religiosa gostamos de ver nesta caminhada dos dois de Emaús um modelo da maneira como nós vivemos e anunciamos Jesus : também nós fazemos uma longa caminhada. Dedicamos a vida toda à nossa busca de encontro com o Senhor; caminhamos juntos, vivemos em comunidade; quem quer fazer só uma breve corrida, sozinho, para procurar ou anunciar Jesus não serve para o nosso modo de vida; o nosso caminho juntos em busca do Senhor é inseparável do nosso serviço de anunciar o evangelho. Caminhamos juntos e anunciamos juntos. E no nosso caminhar juntos está sempre presente aquele ‘peregrino especial’ que acompanhou os dois de Emaús. Também para nós, o desafio é conseguir reconhecê-lo e partir de novo para O anunciar.’



Fonte :