Mostrando postagens com marcador São Paulo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador São Paulo. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

A conversão de São Paulo

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Bartolomé Esteban Murillo (1617–1682), domínio público

*Artigo do livro ‘O Evangelho de Paulo’, 

de José Maria González Ruiz, 

publicado pela Editora Vozes.


‘Eu sou judeu, de Tarso da Cilícia, cidadão de uma cidade de renome (At 21,39), circuncidado ao oitavo dia, da raça de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu, filho de hebreus. Segundo a Lei, fariseu… Pela justiça da Lei, considerado irrepreensível (Fl 3,5-6).

Esta é a ficha que faz Saulo Paulo de si mesmo.

Como quase todos os judeus que viviam no mundo grego, acrescentara ao próprio nome judeu – Saulo ou Saul – outro nome grego que, quanto possível, se lhe assemelhasse foneticamente : Paulos, ou seja, Paulo.

Tarso era uma cidade culta, mas é de se supor que seus pais, fariseus recém-emigrados da Palestina, continuaram a estrita observância judia, abstendo-se de enviar seu filho às escolas gregas. O certo é que, tão logo completados os quatorze anos, Paulo foi enviado a Jerusalém, para fazer estudos rabínicos na escola mais ilustre da época : Aos pés de Gamaliel (At 22,3).

Alguns autores, deixando-se levar por uma fantasia completamente infundada, supuseram que Paulo, em sua juventude, tenha levado vida licenciosa e, para isto, aduzem a trágica descrição que, na primeira pessoa, ele mesmo faz, no capítulo 7 da ‘Carta aos Romanos’.

Todavia, parece que o que Paulo quer destacar ali não é sua vivência pessoal e individual, mas a trágica situação do próprio ‘eu’ humano, envolto na desgraça coletiva de uma pecaminosidade estrutural.

Por outro lado, temos em suas próprias cartas afirmações sinceras e humildes sobre a conduta irreprovável que o jovem israelita observou sempre, em sua boa fé. Fariseu desde jovem (At 26, 3-5), observador das tradições judaicas (Gl 1,14), irrepreensível em sua conduta (Fl 3,6).

O fariseu de direita – Hoje, graças às recentes descobertas de Qumrân, estamos em melhores condições de enfocar histórica e ideologicamente os acontecimentos que deram origem ao surgimento do cristianismo.

Através da numerosa literatura religiosa, encontrada às margens do Mar Morto, conhecemos o estado religioso daquela interessante época.

A ‘direita’ constituíam-na os fariseus, conservadores das velhas tradições de Israel, inclusive das mais significativas minúcias rituais. Eram integristas e se consideravam os expoentes autênticos e indiscutíveis das mais puras essências religiosas e nacionais. Para isto, a ordem religiosa se identificava com a situação sociológica. Seu sistema se podia qualificar de ‘nacional-judaísmo’.

Não obstante, apesar de seu alardeado nacionalismo, haviam chegado a um status quo em suas relações com o poder romano, regendo-se por um equilibrado modus vivendi que lhes permitia certa estabilidade e flexibilidade de movimentos.

Todavia, os fariseus eram somente minoria, ainda que numerosa, do povo israelita. E é isto que o sensacional achado de Qumrân veio iluminar.

Completamente à margem da fração farisaica, pululava uma multidão de seitas, uma das quais denominada, por Flávio Josefo e por Plínio, ‘essênia’.

O núcleo central deste tipo de seita era constituído por um grupo de homens célibes, que se retiravam para o deserto, para se dedicarem à vida de oração e de estudo da Lei. Eram autênticos monges, cujas regras e modos de vida influíram, sem dúvida, na própria organização do monacato cristão, que nasceu exatamente naqueles mesmos desertos palestinos e egípcios.

Em redor dos mosteiros, e espiritualmente ligados a eles, havia numerosos assistidos, que bem podiam ser comparados às ‘ordens terceiras’ de nossas grandes ordens mendicantes ou aos ‘sócios benfeitores’ de congregações e institutos religiosos. Nem sempre viviam ali; iam e vinham fazendo uma espécie de exercícios espirituais, que vivenciavam no resto do ano.

Pelas descobertas de Qumrãn, sabemos que ali existiu um grande mosteiro, talvez o mais importante de todos, e do qual encontramos uma espécie de sucursal em Damasco, constituída por alguns monges fugidos de Qumrân em época de perseguição.

A espiritualidade ‘qumrânica’ era diferente da farisaica. Sem serem abertamente cismáticos, afastavam-se do legalismo ritual e estreito do culto do templo de Jerusalém, sobre o qual se encontram finas e veladas críticas em suas regras e livros ascéticos.

Diante do orgulho farisaico, professavam uma humildade desconfiada de si mesmos e fortemente baseada num sentimento de absoluta dependência do Criador. Finalmente, eram de tendência universalista e aberta aos demais povos não israelitas.

Saulo militava abertamente na ala extrema do farisaísmo mais estreito e ortodoxo e, no círculo intelectual hierosolimitano, assistira mais de uma vez às ásperas críticas que se faziam freqüentemente àqueles inovadores populares, perigosos para a ortodoxia.

Quando, mais tarde, Saulo volta a Jerusalém e se defronta com o problema da nascente comunidade judeu-cristã, sua indignação chega ao paroxismo. Exatamente os judeu-cristãos, procedentes do movimento ‘qumrânico’, que, de algum modo, coincidiam com os que Lucas denominava ‘helenistas’ (At 6,1), foram os que diretamente se converteram em alvo de suas iras.

Seu chefe era o jovem levita Estêvão. O discurso do protomártir, que Lucas nos refere (At 7, 2-53), é farto das idéias centrais do ‘qumranismo’, sublimadas e superadas numa esplêndida e originalíssima versão cristã.

Decididamente, Estêvão era um elemento demasiado perigoso e, nas reuniões conciliares da ‘direita’ farisaica, chegou a tomar a decisão de que a própria sobrevivência de Israel estava gravemente ameaçada e que, por conseguinte, era preciso eliminar, pela violência, quem assim minava sua própria existência.

Definitivamente, Estêvão foi apedrejado : única pena que as autoridades nacionalistas podiam infligir, quando se tratava de um caso declarado de ‘blasfêmia’.

Durante a macabra execução, os apedrejadores, para ficarem mais livres, puseram suas vestes aos pés de um jovem chamado Saulo (At 7, 58). O próprio Paulo orava, mais tarde,

Senhor enquanto era derramado o sangue de tua testemunha,
Estêvão, eu estava presente, de acordo com eles, e guardava as vestes daqueles que o matavam (At 22,20).

Saulo se converteu na peça-chave da primeira perseguição à Igreja nascente, persegui de morte esta doutrina, acorrentando e encarcerando homens e mulheres (At 22,4). Isto, naturalmente, produziu uma fuga dos cristãos, sobretudo dos da ‘ala esquerda’, que se refugiaram em Damasco, onde haveria, certamente, cristãos de tipo ‘qumraniano’. Saulo lutava inteligentemente e dirigiu seus ataques a Damasco : era preciso impedir decididamente que rebrotasse aquela semente envenenada. O resto dos judeu-cristãos não foi molestado e pôde permanecer em Jerusalém.

Caminho de Damasco – O que aconteceu no caminho de Jerusalém a Damasco, conta-o o próprio Paulo, simplesmente assim :

Recebi cartas do Sumo Sacerdote e de todo o colégio dos anciãos para os irmãos de Damasco, aonde fui com o fim de prender os que lá se achassem e trazê-los acorrentados para Jerusalém, onde seriam castigados. Ora, estando eu a caminho e aproximando-me de Damasco, pelo meio-dia, de repente me cercou uma intensa luz do céu. Caí por terra e ouvi uma voz, que me dizia : ‘Saulo, Saulo, por que me persegues’? Respondi : ‘Quem és, Senhor?’E ele me disse : ‘Sou Jesus Nazareno, a quem persegues’. Os meus companheiros viram a luz, mas não ouviram a voz daquele que me falava. Eu disse : ‘O que hei de fazer Senhor?’ O Senhor me disse : ‘Levanta-te e entra em Damasco, que ali te será dito o que deverás fazer ‘(At 22,5-10).

Saulo obedeceu. Era muito difícil o que se lhe exigia. Convertendo-se ao cristianismo, teria preferido ser recebido pela ‘ala direita’ da ‘seita’, ou seja, por aqueles que ficaram em Jerusalém e foram tolerados pelo tribunal fariseu de depuração, de que ele era parte principal. Mas, agora, ordenava-se-lhe receber o ingresso da ‘seita’ naquele ambiente de Damasco, plenamente solidário com os ‘helenistas’ (At 6,1), que comandara o odiado Estêvão. A esta dura renúncia se refere, sem dúvida, quando, depois de fazer sua própria ficha, acrescenta, cheio de nostalgia pegajosa : Mas tudo isto, que para mim era vantagem, considero desvantagem por amor de Cristo (FI 3,7).

Esta transformação dolorosa de sua postura mental constitui indubitavelmente a infra-estrutura psíquica daquela atitude combativa, às vezes violenta, que teve que adotar, no seio da comunidade cristã, contra seus antigos correligionários fariseus, que pretendiam manter, dentro do cristianismo, uma posição integrista, sufocando a novidade expansiva do Evangelho.

O noviciado do apóstolo – A princípio, Paulo começou a experimentar sua vocação apostólica pregando a Jesus nas próprias sinagogas de Damasco. Mas, pouco depois, se retirou para o deserto, para ali se preparar, na oração, e quem sabe se uniu a algum grupo monástico judeu-cristão, procedente da ‘Seita da Aliança’, intimamente aparentada como movimento ‘qumrânico’.

Daqueles primeiros anos, narra-nos Lucas alguns fatos cruciais do novel apóstolo. Ao fim de três anos de conversão, subiu a Jerusalém para ‘visitar’ o chefe da Igreja, Pedro (GI 1,18).

Dali, voltou a sua cidade natal de Tarso, de onde teve que sair, finalmente, para se defender de uma conjura, tramada pelos judeus contra ele.

De Tarso, dirigiu-se Paulo a Antioquia, cuja comunidade florescia, devido, em parte, à própria perseguição do ex-fariseu. Na verdade, em conseqüência da rajada de vento anticristã, provocada por Saulo em Jerusalém, muitos cristãos ‘helenistas’ se dispersaram pela Fenícia, Chipre e Antioquia. Estes começaram a pregar a fé. Posteriormente, os apóstolos de Jerusalém enviaram Barnabé, como delegado oficial, e este, seguindo uma inspiração do Espírito, associou-se a Paulo, em sua tarefa apostólica. Por um ano inteiro, Paulo colheu uma messe tão abundante que o fato transcendeu o grande público e este começou a chamar os fiéis pelo nome de ‘cristãos’, como eram chamados ‘pompeanos’ ou ‘cesarianos’ os partidários de algum dos dois rivais do Império.

A carreira apostólica de Paulo chegara a seu ponto culminante e nele se realizariam os projetos de Deus, manifestados desde o primeiro momento de sua conversão : Vai, porque este homem é para mim um instrumento escolhido, a fim de levar meu nome perante as nações, os reis e os israelitas (At 9,15).

Um dia, na assembléia litúrgica de Antioquia, o Espírito falou por meio da mesma comunidade de oração : Separai-me Barnabé e Saulo, para a obra a que os chamei (At 13,2).’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://franciscanos.org.br/vidacrista/especiais/a-conversao-de-sao-paulo-2/#gsc.tab=0

sábado, 27 de junho de 2020

Pedro e Paulo : duas referências inspiradoras no seguimento de Jesus

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)        

 Simão e Saulo passaram por uma profunda transformação a partir do encontro com a pessoa de Jesus Cristo, tornado-se Pedro e Paulo

Simão e Saulo passaram por uma profunda transformação a partir do encontro com a pessoa de Jesus Cristo, tornado-se Pedro e Paulo

*Artigo d0 Padre Adroaldo Palaoro, SJ

‘Os acontecimentos e, sobretudo, as pessoas que encontramos ao longo da existência, são os que vão nos fazendo passar por contínuas transformações. Por isso, quando narramos nossa história de vida, quase sempre mencionamos alguém em particular que nos marcou profundamente. Já não somos mais os mesmos depois de ter conhecido certas pessoas que se tornaram especiais. Nosso olhar e nossa memória retornam a elas frequentemente, por sua constante inspiração e companhia. 

Por isso, a pergunta que Jesus dirige aos discípulos não é superficial : ‘E vós, quem dizeis que eu sou?’. Esta é a questão, a grande pergunta de Jesus que continua ressoando em todos nós, seus(suas) seguidores(as). Dependendo da resposta que damos, isso terá implicações profundas em nossa existência : a centralidade do modo de ser e de agir de Jesus em nossos compromissos, a ressonância de suas palavras em nossa vida, a sintonia com suas grandes opções, a sensibilidade diante dos mais pobres e excluídos, a nova relação com o Pai... Em outras palavras, o encontro com a identidade de Jesus desvela nossa verdadeira identidade e, por isso mesmo, nosso modo de ser e de agir serão cristificados. 

Segundo o Evangelho deste domingo, só reconhecendo a identidade de Jesus estaremos capacitados para escutar o que ele tem a nos dizer. Por isso, quando Pedro declarou quem era de verdade aquele a quem tinham seguido, o Senhor mudou seu nome – ‘tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja’. Só Jesus conhece bem quem somos e o que podemos realizar. 

O ser humano é um ser chamado. Chegamos a ser nós mesmos graças ao chamado, ao olhar, à palavra de outro. E na palavra e no chamado que vem de Jesus, vamos percebendo que o mistério de Deus, totalmente outro e absolutamente íntimo, nos envolve e nos fundamenta. 

Não podemos definir Jesus com dogmas e doutrinas, mas também não podemos deixar de nos perguntar : ‘quem é este homem Jesus?’. Toda tentativa de responder com fórmulas fechadas não solucionará o problema. A resposta deve ser vivencial, não teórica : ‘quê dizes tua vida de mim?’, pergunta Jesus. 

Nossa vida, enquanto seguidores(as), é a que deve dizer quem é Jesus para nós. Do esforço dos primeiros cristãos por compreender Jesus devemos fazer nossas as perguntas que foram feitas, não as respostas que deram. Por mais informações que recebamos sobre ele, por mais normas morais e ritos que aprendamos e pratiquemos, se ninguém nos convida, com sua vida, a prolongar o estilo de vida de Jesus, tudo permanecerá superficial e em nada nos enriquece. 

Dar por definitivas as respostas dos primeiros concílios acabam nos afundando na rotina da repetição de fórmulas. O decisivo é descobrir a qualidade humana de Jesus e deixar que ele desvele o que há de mais humano em cada um de nós. Afinal, o centro da missão do Mestre de Nazaré está em ajudar a sermos um pouco mais humanos, sobretudo nas relações com os outros e com o Pai. 

Se cremos que o importante é a resposta, que já está dada, todos permanecemos em paz e acomodados – isso é grave. Hoje sabemos que o importante é que continuemos fazendo-nos a pergunta. A resposta nos paralisa; a pergunta nos mantém acesos e criativos, pois esta tem impacto no modo cristificado de viver. 

Uma fé, vivida sem perguntas, acaba se esvaziando daquele mesmo impulso vital de Jesus. Somos seguidores(as) de uma Pessoa (Jesus Cristo) e não de respostas teológicas. 

Nossa fé cristã hoje é a mesma de Pedro e de Paulo : seguir Jesus Cristo e, em nossa maneira de viver, oferecer o Evangelho a todos. Assim, compreende-se que a Igreja celebre Pedro e Paulo numa única festa. E, por isso, não devemos nos escandalizar se, com frequência, na Igreja aflore o Simão, ao invés de Pedro : as ânsias de triunfalismos, busca de poder, medos na hora da perseguição... Também não podemos nos escandalizar se, com frequência, aflore o Saulo, ao invés de Paulo : fechamento nas próprias ideias e convicções, desembocando na intolerância, no dogmatismo e na violência, inclusive física. 

Estes dois grandes personagens (Simão e Saulo) passaram por uma profunda transformação, a partir do encontro com a pessoa de Jesus Cristo. Foi um processo lento, sendo lapidados pela graça de Deus até redescobrirem uma nova identidade escondida debaixo das cinzas do auto-centramento e da prepotência, identidade que agora se expressa em novos nomes : Pedro e Paulo. 

Como distinguir, na Igreja, Simão de Pedro? Como distinguir Saulo de Paulo? Onde estão as fronteiras, se, ao mesmo tempo, Simão é Pedro e Pedro é Simão? Onde estão os limites, se, ao mesmo tempo, Saulo é Paulo e Paulo é Saulo? 

Estes dois personagens nos fazem ter acesso à nossa condição humana : somos barro, frágeis, inconstantes... mas carregamos um tesouro que nos dignifica. Nas profundezas de nosso ser, há um Pedro e um Paulo escondidos, esperando uma oportunidade para se manifestar. Exteriormente, talvez tenhamos sido muito mais Simão e Saulo, mas, o que decide nossa vida, é a nossa interioridade, morada do Pedro e do Paulo. É ali que a Graça de Deus trabalha em nós, fazendo emergir, junto a estes dois personagens, o que é mais nobre e mais divino em nós. Deus, na sua eterna paciência, espera momentos especiais para dar o seu ‘toque’ em nosso eu profundo, e assim despertar o Pedro e Paulo que ainda dormem. 

Diante de nós está Jesus Cristo para nos dar a ‘chave’ como a deu a Pedro : ela nos facilitará o acesso ao mistério insondável da Vida. Na perspectiva bíblica ?céus? significa vida em profundidade, vida expansiva, vida que nunca se acaba. Como dinamismo humanizador, a chave da interioridade é mola mestra que movimenta grandes intuições e sonhos, retira-nos do individualismo, cultiva a solidariedade, corrige rotas de vida, excita a imaginação, realça o poder criativo... 

Temos em nossas mãos as chaves da vida. O que fazemos com elas? Podemos abrir ou fechar, ligar ou desligar, atar ou desatar... ‘Ter a chave da vida’ : abrir ou fechar as portas do futuro, das relações, dos sonhos, da missão... Dar direção à vida. Atar e desatar os nós que bloqueiam o fluir da vida.... Aqui está o grande desafio : abrir-nos ou fechar-nos; abrir-nos à vida, ao novo, ao outro, ao desafiante ou diferente... ou fechar-nos no medo, no conhecido, no rotineiro. 

Deus confiou e colocou em nossas mãos a ‘chave da vida’. Ele não impõe, não obriga. Corre o risco de nos criar livres. Aqui está nossa grandeza, enquanto seres humanos : optar por uma vida aberta ou fechada, ser nó ou desatar, ligar ou desligar, expandir ou retrair... 

Sempre há o perigo de construir, dentro de nós, um condomínio onde portas se fecham, chaves se perdem, segredos são esquecidos e, com isso, mergulhamos na mais profunda solidão. 

Nossa própria interioridade é a rocha consistente e firme (‘tu és Pedro’), bem talhada e preciosa que cada um de nós tem, para encontrar segurança e caminhar na vida superando os desafios e as inevitáveis resistências na vivência do seguimento de Jesus. 

É no ‘eu mais profundo’ que as forças vitais se acham disponíveis para nos ajudar a crescer no dia-a-dia, tornando-nos aquilo para o qual fomos chamados a ser. Trata-se da dimensão mais verdadeira de nós mesmos, a sede das decisões vitais, o lugar das riquezas pessoais, onde vivemos o melhor de nós mesmos, onde se encontram os dinamismos do nosso crescimento, de onde partem as nossas aspirações e desejos fundamentais, onde percebemos as dimensões do Absoluto e do Infinito da nossa vida. 

Texto bíblico : Mt 16,13-19

Na oração : A oração torna-nos diáfanos (transparentes). Ela deixa transparecer o Simão e o Pedro de nossa interioridade. Ela desvela o Saulo e o Paulo que atuam em nós.

A interioridade é espaço aberto, onde, a intimidade com Deus não anula nossa personalidade, mas nos capacita a fazer uma contínua passagem do Simão para o Pedro, do Saulo para o Paulo?

  • O que tem predominado em sua vida : Simão ou Pedro? Saulo ou Paulo?’

  

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1454639/2020/06/pedro-e-paulo-duas-referencias-inspiradoras-no-seguimento-de-jesus/


quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

DEFINIÇÃO DE SÃO PAULO

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Dom João Baptista Barbosa Neto, OSB
Monge do Mosteiro de São Bento de São Paulo


PIRATININGA, ÍNDIOS, TIBIRIÇÁ, BARTIRA, CAIUBI, TABA, ARCO, FLECHA, JESUÍTAS.

MANUEL DA NÓBREGA, JOSÉ DE ANCHIETA, BATINA, CRUZ, PORTUGUESES.

JOÃO RAMALHO, AMADOR BUENO, COROA, PIRES, CAMARGO, BRIGA, POSSE.

FERNÃO DIAS, RAPOSO TAVARES, BANDEIRANTES, VILA.

PÁTEO DO COLÉGIO, SÃO BENTO, SÃO FRANCISCO, SANTO ANTÔNIO, IGREJA, CATEDRAL.

SÉ, PRAÇA, PESSOAS, PAULISTA, BATATA, CHÁ, PROTESTO, MANIFESTAÇÃO.

PICHAÇÃO, GRAFITI, RUA, BECO, EXPRESSÃO, VOZ.

LIBERDADE, PARAÍSO, DO SOCORRO, CONSOLAÇÃO, CEMITÉRIO.

NOITE, RONDA, IPIRANGA, SÃO JOÃO, ESQUINA, CAETANO.

MPB, HIP HOP, CAIPIRA, FUNK, SERTANEJO, FORRÓ, REGGAE, ROCK.

GALERIA, PUNK, METAL, POP, TRIBO, JOVENS, DIREITOS, REIVINDICAÇÃO, RAP.

NEGRA LI, CRIOLO, RACIONAIS, EMICIDA, INCLUSÃO, SOCIAL, POLÍTICA.

REPÚBLICA, AROUCHE, PATRIARCA, RAMOS, MEMÓRIA, CHAFARIZ, ÁGUA.

FRIA, RASA, FUNDA, BRANCA, SUJA, RIO.

TAMANDUATEÍ, TIETÊ, PINHEIROS, ANHANGABAÚ, VALE, PICO.

JARAGUÁ, CANTAREIRA, HORTO, FLORESTA, ÁRVORE, PARQUE.

IBIRAPUERA, ACLIMAÇÃO, VILA-LOBOS, DO CARMO, DA JUVENTUDE, DO POVO.

CORINTHIANS, PORTUGUESA, PALMEIRAS, JUVENTUS, ESTÁDIO.

PACAEMBU, CANINDÉ, MORUMBI, PALESTRA, ITAQUERA, PERIFERIA.

JARDIM ÂNGELA, PARAISÓPOLIS, CAPÃO, GRAJAÚ, PERUS, NORTE.

SUL, LESTE, OESTE, ZONA, CENTRO.

25 DE MARÇO, SANTA IFIGÊNIA, BOM RETIRO, LARGO 13, BRÁS.

BIXIGA, BARRA FUNDA, ALCÂNTARA MACHADO, LITERATURA.

ERAMOS SEIS, SAUDADE, POESIA, PAULO BOMFIM, IMORTAL.

ACADEMIA DE LETRAS, VIEIRA DE CARVALHO, DR. ARNALDO, SANTA CASA, CLÍNICAS.

OSCAR FREIRE, HIGIENÓPOLIS, IGUATEMI, JK, CIDADE JARDIM, GRIFE.

GRAVATA, SALTO ALTO, BERRINI. ITAIM BIBI, FARIA LIMA, BRIGADEIRO.

LUIS ANTÔNIO, VIADUTO, PONTE, ELEVADO.

MINHOCÃO, PISTA, MARGINAL, AVENIDA, ANGÉLICA, SAPOPEMBA, JABAQUARA.

SÃO MIGUEL, SANTANA, PENHA, DO Ó, SANTO AMARO, SÃO MATEUS, CAPELINHA, ORATÓRIO.

CRISTÃOS, JUDEUS, MUÇULMANOS, DEUS, LOUVOR, FLORES.

MANACÁ, QUARESMEIRA, IPÊ, CEREJEIRA, CAMBUCI, ARAÇÁ, PÁSSAROS.

BEM-TE-VI, SABIÁ, MARITACA, ROLINHA, POMBO.

CALÇADÃO, PEDESTRES, PASSEATA, DESFILE.

PARADA, VIRADA, ANHEMBI, CARNAVAL, FOLIA, BLOQUINHO, ALEGRIA, FALATÓRIO.

ITÁLIA, JAPÃO, CHINA, HAITI, MOÇAMBIQUE, NORDESTE, IMIGRANTES, TRABALHADORES.

METRÔ, TREM, ÔNIBUS, CARRÃO, MOTO, BICICLETA, PATINETE, SKATE, TATUAPÉ, MOVIMENTO.

TRANSITO, SEMÁFORO, SINALIZAÇÃO, MARRONZINHO, CET, MULTA.

LOUCURA, CAOS, CORRERIA, PRESSA, DEIXE A ESQUERDA LIVRE, POUPA TEMPO, RELÓGIO.

MOSTEIRO, COPAN, FIESP, BANESPA, MARTINELLI, ARQUITETURA.

PRÉDIO, ESCRITÓRIO, ESTÚDIO, CRIATIVIDADE.

TRAMPO, OPORTUNIDADE, CRESCIMENTO, ECONOMIA.

RESTAURANTE, PIZZARIA, GASTRONOMIA, ENCONTRO, ROLÊ.

AUGUSTA, BALADA, DIVERSÃO, AMIGOS.

NAMORADOS, CASADOS, COMPANHEIROS.

MORADIA, APARTAMENTO, QUITINETE, SOFÁ, CAMA, DESCANSO.

DESCASO, MORADOR DE RUA, RICO, POBRE, QUATROCENTÃO, EMERGENTE, GENTE, ROSTO, MÁSCARA, TEATRO.

MUNICIPAL, OFICINA, PARLAPATÕES, IMPRENSA, CULTURA ARTÍSTICA, ARTE.

MODERNA, VANGUARDA, TARSILA, ANITA, OSWALD, MÁRIO, DESVAIRADA, SAUDOSA.

MALOCA, ADONIRAN, TREM DAS 11, JAÇANÃ, DEMÔNIOS DA GAROA.

CHUVA, TEMPORAL, CASARÃO É 10, ALAGAMENTO, VERÃO.

INVERNO, FRIO, CALOR, CAMISETA, CASACO, CAPUZ, BERMUDA, BONÉ, MOCHILA, CADERNO.

ESCOLA, UNIVERSIDADE, USP, PUC, MACKENZIE, CASPER LÍBERO, JORNALISTA, JORNAL.

FOLHA, ESTADÃO, AGORA, NOTÍCIA, RIQUEZA.

INDUSTRIA, ENGRENAGEM, SINDICATO, PROGRESSO, COMÉRCIO.

LOJA, ACADEMIA, PADOCA, CAFÉ, AÇÚCAR, MORRO DOCE.

SONHO, PASSADO, ANTIGA, CENTRO HISTÓRICO, SUSTENTÁVEL, LOCAÇÃO, GRAVAÇÃO.

FILME, SÉRIE, NOVELA, COMERCIAL, LUZ, CÂMERA, AÇÃO, FICÇÃO.

REALIDADE, CPF NA NOTA, MERCADÃO, SANDUÍCHE DE MORTADELA, PASTEL, FEIRA, BAIRRO.

ORRA MEU, FICA SUSSA, TIPO ASSIM, FOI MAL, MÓ TRETA, FIRMEZA, TEM AS MORAL, TAMO JUNTO, OCUPAÇÃO, CASA, CULTURA.

DAS ROSAS, DE DONA YAYÁ, DO BANDEIRANTE, DO GRITO, MODERNISTA.

MASP, MAC, PINACOTECA, DE ARTE SACRA, DA CASA BRASILEIRA, DA LÍNGUA PORTUGUESA, DO FUTEBOL, ESPORTE.

FÓRMULA 1, AUTÓDROMO, INTERLAGOS, AÍRTON SENNA, CORRIDA.

SÃO SILVESTRE, MARATONA, MEDALHA, 31 DE DEZEMBRO, REVEILLON, FOGOS.

VIBRANTE, COLORIDA, VERDE, CINZA, GIGANTE, ATRAENTE, ENGAJADA.

REVOLUÇÃO, 32, MMDC, 9 DE JULHO, PRESTES.

ESTAÇÃO, ESTRADA DE FERRO, ORQUESTRA, MÚSICA, SALA SÃO PAULO, SP, CGH, 011, PAULICEIA, SAMPA, PIRATININGA.


sábado, 28 de junho de 2014

São Pedro e São Paulo, Apóstolos

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


A Liturgia das Horas e a reflexão no dia de 
São Pedro e São Paulo, Apóstolos :

Ofício das Leituras

Segunda leitura
Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo
(Sermo 295,1-2.4.7-8 :PL38,1348-1352)       (Séc.V)

Estes mártires viram o que pregaram
O martírio dos santos apóstolos Pedro e Paulo consagrou para nós este dia. Não falamos de mártires desconhecidos. Sua voz ressoa e se espalha em toda a terra, chega aos confins do mundo a sua palavra (Sl 18,5). Estes mártires viram o que pregaram, seguiram a justiça, proclamaram a verdade, morreram pela verdade.

São Pedro, o primeiro dos apóstolos, que amava Cristo ardentemente, mereceu escutar : Por isso eu te digo que tu és Pedro (Mt 16,19). Antes, ele havia dito : Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo (Mt 16,16). E Cristo retorquiu : Por isso eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra construirei minha Igreja (Mt 16,18). Sobre esta pedra construirei a fé que haverás de proclamar. Sobre a afirmação que fizeste : Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo, construirei a minha Igreja. Porque tu és Pedro. Pedro vem de pedra; não é pedra que vem de Pedro. Pedro vem de pedra, como cristão vem de Cristo.

Como sabeis, o Senhor Jesus, antes de sua paixão, escolheu alguns discípulos, aos quais deu o nome de apóstolos. Dentre estes, somente Pedro mereceu representar em toda parte a personalidade da Igreja inteira. Porque sozinho representava a Igreja inteira, mereceu ouvir estas palavras : Eu te darei as chaves do Reino dos Céus (Mt 16,19). Na verdade, quem recebeu estas chaves não foi um único homem, mas a Igreja una. Assim manifesta-se a superioridade de Pedro, que representava a universalidade e a unidade da Igreja, quando lhe foi dito : Eu te darei. A ele era atribuído pessoalmente o que a todos foi dado. Com efeito, para que saibais que a Igreja recebeu as chaves do Reino dos Céus, ouvi o que, em outra passagem, o Senhor diz a todos os seus apóstolos : Recebei o Espírito Santo. E em seguida : A quem perdoardes os pecados, eles serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos (Jo 20,22-23).

No mesmo sentido, também depois da ressurreição, o Senhor entregou a Pedro a responsabilidade de apascentar suas ovelhas. Não que dentre os outros discípulos só ele merecesse pastorear as ovelhas do Senhor; mas quando Cristo fala a um só, quer, deste modo, insistir na unidade da Igreja. E dirigiu-se a Pedro, de preferência aos outros, porque, entre os apóstolos, Pedro é o primeiro.

Não fiques triste, ó apóstolo! Responde uma vez, responde uma segunda, responde uma terceira vez. Vença por três vezes a tua profissão de amor, já que por três vezes o temor venceu a tua presunção. Desliga por três vezes o que por três vezes ligaste. Desliga por amor o que ligaste por temor. E assim, o Senhor confiou suas ovelhas a Pedro, uma, duas e três vezes.

Num só dia celebramos o martírio dos dois apóstolos. Na realidade, os dois eram como um só. Embora tenham sido martirizados em dias diferentes, deram o mesmo testemunho. Pedro foi à frente; Paulo o seguiu. Celebramos o dia festivo consagrado para nós pelo sangue dos apóstolos. Amemos a fé, a vida, os trabalhos, os sofrimentos, os testemunhos e as pregações destes dois apóstolos.


Fonte :
‘In Liturgia das Horas III’, 1392, 1394


sábado, 25 de janeiro de 2014

São Timóteo e São Tito, Bispos

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Timóteo e o Apóstolo Paulo

Timóteo e Tito, discípulos e colaboradores do apóstolo Paulo, governaram as Igrejas de Éfeso e de Creta, respectivamente. A eles é que foram dirigidas as Cartas chamadas ‘pastorais’, em que se encontram excelentes recomendações para a formação dos pastores e dos fiéis.


O Apóstolo Paulo instalando Tito como primeiro bispo de Creta

A Liturgia das Horas e a reflexão no dia de São Timóteo e São Tito :

Ofício das Leituras

Segunda leitura
Das Homilias de São João Crisóstomo, bispo
(Hom. 2 de laudibus sancti Pauli: PG 50, 480-484)       (Séc.IV)


Combati o bom combate
Na estreiteza do cárcere, Paulo parecia habitar no céu. Recebia os açoites e feridas com mais alegria do que outros que recebem coroas de triunfo; e não apreciava menos as dores do que prêmios que desejava, e até as chamava de graças. Considerai com atenção o significado disto : premio, para ele, era partir, para estar com Cristo (cf. Fl 1,23), ao passo que viver na carne significava o combate. Mas, por causa de Cristo, sobrepunha ao desejo do premio a vontade de prosseguir o combate, pois considerava ser isto mais necessário.

Estar longe de Cristo, representava para ele o combate e o sofrimento, mais ainda, o máximo combate e a mais intensa dor. Pelo contrário, estar com Cristo era um premio único. Paulo, porém, por amor de Cristo, prefere o combate ao premio.

Talvez algum de vós afirme : Mas ele sempre dizia que tudo lhe era suave por amor de Cristo! Isso também eu afirmo, pois as coisas que são para nós causa de tristeza eram para ele enorme prazer. E por que me refiro aos perigos e tribulações que sofreu? Na verdade, seu profundo desgosto o levava a dizer : Quem é fraco, que eu também não seja fraco com ele? Quem é escandalizado, que eu não fique ardendo de indignação? (2Cor 11, 29).

Rogo-vos, pois, que não vos limiteis a admirar este tão ilustre exemplo de virtude, mas, imitai-o. Só assim poderemos ser participantes da sua glória.

E se algum de vós se admira por eu dizer que quem imita os méritos de Paulo participará da sua recompensa, ouça o que ele mesmo afirma : Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor a sua manifestação gloriosa (2Tm 4, 7-8).

Por conseguinte, já que é oferecida a todos a mesma coroa de glória, esforcemo-nos todos por ser dignos dos bens prometidos.

Não devemos considerar em Paulo apenas a grandeza e a excelência das virtudes, a prontidão de espírito e o propósito firme, pelos quais mereceu tão grande graça, mas pensemos também que a sua natureza era em tudo igual ‘a nossa e assim, também a nós, as coisas que são muito difíceis parecerá fáceis e leves. Suportando-as valorosamente neste breve espaço de tempo em que vivemos, ganharemos aquela coroa incorruptível e imortal, pela graça e misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo. A ele a glória e o poder, agora e sempre, pelos séculos dos séculos. Amém.


Fonte :
‘In Liturgia das Horas III’, pg. 1216, 1218


sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Conversão de São Paulo, Apóstolo

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


A Liturgia das Horas e a reflexão no dia 
da conversão de São Paulo, Apóstolo :

Ofício das Leituras

Segunda leitura
Das Homilias de São João Crisóstomo, bispo
(Hom. 2 de laudibus sancti Pauli: PG 50,447-480)     (Séc.IV)


Por amor de Cristo, Paulo tudo suportou
O que é o homem, quão grande é a dignidade da nossa natureza e de quanta virtude é capaz a criatura humana, Paulo o demonstrou mais do que qualquer outro. Cada dia ele subia mais alto e se tornava mais ardente, cada dia lutava com energia sempre nova contra os perigos que o ameaçavam. É o que depreendemos de suas próprias palavras: Esquecendo o que fica para trás, eu me lanço para o que está na frente (cf. Fl 3,13). Percebendo a morte iminente, convidava os outros a comungarem da sua alegria, dizendo: Alegrai-vos e congratulai-vos comigo (Fl 2,18). Diante dos perigos, injúrias e opróbrios, igualmente se alegra e escreve aos coríntios: Eu me comprazo nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições (2Cor 12,10); porque sendo estas, conforme declarava, as armas da justiça, mostrava que delas lhe vinha um grande proveito.

Realmente, no meio das insídias dos inimigos, conquistava contínuas vitórias triunfando de todos os seus assaltos. E em toda parte, flagelado, coberto de injúrias e maldições, como se desfilasse num cortejo triunfal, erguendo numerosos troféus, gloriava-se e dava graças a Deus, dizendo: Graças sejam dadas a Deus que nos fez sempre triunfar (2Cor 2,14). Por isso, corria ao encontro das humilhações e das ofensas que suportava por causa da pregação, com mais entusiasmo do que nós quando nos apressamos para alcançar o prazer das honrarias; aspirava mais pela morte do que nós pela vida; ansiava mais pela pobreza do que nós pelas riquezas; e desejava muito mais o trabalho sem descanso do que nós o descanso depois do trabalho. Uma só coisa o amedrontava e fazia temer: ofender a Deus. E uma única coisa desejava: agradar a Deus.

Só se alegrava no amor de Cristo, que era para ele o maior de todos os bens; com isto julgava-se o mais feliz dos homens; sem isto, de nada lhe valia ser amigo dos senhores e poderosos. Com este amor preferia ser o último de todos, isto é, ser contado entre os réprobos, do que encontrar-se no meio de homens famosos pela consideração e pela honra, mas privados do amor de Cristo.

Para ele, o maior e único tormento consistia em separar-se de semelhante amor; esta era a sua geena, o seu único castigo, o infinito e intolerável suplício.

Em compensação, gozar do amor de Cristo era para ele a vida, o mundo, o anjo, o presente, o futuro, o reino, a promessa, enfim, todos os bens. Afora isto, nada tinha por triste ou alegre. De tudo o que existe no mundo, nada lhe era agradável ou desagradável.

Não se importava com as coisas que admiramos, como se costuma desprezar a erva apodrecida. Para ele, tanto os tiranos como as multidões enfurecidas eram como mosquitos.

Considerava como brinquedo de crianças os mil suplícios, os tormentos e a própria morte, desde que pudesse sofrer alguma coisa por Cristo.


TE DEUM
 Monges da Abadia Saint-Pierre de Solesmes (França)


HINO TE DEUM 
(A VÓS, Ó DEUS, LOUVAMOS)

A vós, ó Deus, louvamos,
a vós, Senhor, cantamos.
A vós, Eterno Pai,
adora toda a terra.

A vós cantam os anjos,
os céus e seus poderes:
Sois Santo, Santo, Santo,
Senhor, Deus do universo!

Proclamam céus e terra
a vossa imensa glória.
A vós celebra o coro
glorioso dos Apóstolos,

Vos louva dos Profetas
a nobre multidão
e o luminoso exército
dos vossos santos Mártires.

A vós por toda a terra
proclama a Santa Igreja,
ó Pai onipotente,
de imensa majestade,

e adora juntamente
o vosso Filho único,
Deus vivo e verdadeiro,
e ao vosso Santo Espírito.

Ó Cristo, Rei da glória,
do Pai eterno Filho,
nascestes duma Virgem,
a fim de nos salvar.

Sofrendo vós a morte,
da morte triunfastes,
abrindo aos que têm fé
dos céus o reino eterno.

Sentastes à direita
de Deus, do Pai na glória.
Nós cremos que de novo
vireis como juiz.

Portanto, vos pedimos:
salvai os vossos servos,
que vós, Senhor, remistes
com sangue precioso.

Fazei-nos ser contados,
Senhor, vos suplicamos,
em meio a vossos santos
na vossa eterna glória.

(A parte que se segue pode ser omitida, se for oportuno).
Salvai o vosso povo.
Senhor, abençoai-o.
Regei-nos e guardai-nos
até a vida eterna.

Senhor, em cada dia,
fiéis, vos bendizemos,
louvamos vosso nome
agora e pelos séculos.

Dignai-vos, neste dia,
guardar-nos do pecado.
Senhor, tende piedade
de nós, que a vós clamamos.

Que desça sobre nós,
Senhor, a vossa graça,
porque em vós pusemos
a nossa confiança.

Fazei que eu, para sempre,
não seja envergonhado:
Em vós, Senhor, confio,
sois vós minha esperança!

Fonte :
‘In Liturgia das Horas III’, pg. 1208, 1210